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segunda-feira, 30 de março de 2020

SÍNTESE - GRIPE ESPANHOLA DE 1918 - CURITIBA - BRASIL


FICHAMENTO DO LIVRO – O MEZ DA GRIPPE   
         Autor:   Venâncio Xavier – editora Cia das Letras – SP – 1998
         Fichamento de leitura pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida.      www.resenhaorlando.blogspot.com.br 
         Faço um curso de Patrimônio Histórico do Paraná, no qual se insere inclusive a arte em geral e a literatura em particular.   Foco nos paranaenses natos ou não.
         Numa das aulas no centro histórico de Curitiba no Solar do Rosário, o tema abordou a vida e obra de Venâncio Xavier que tem um trabalho um tanto heterodoxo em TV e mesmo na literatura.   Este livro é mesclado de uma colcha de retalhos de recortes de jornais da época da gripe (1918) , poesias curtas, mórbidas e eróticas anônimas e tudo o mais numa apresentação meio caótica, fora da casinha.     Li um exemplar da Biblioteca Pública do Paraná da qual sou sócio.  Parece que o livro é raro em sebos.
         Esclarecendo que ele coloca foco na gripe espanhola que assolou o mundo e teria matado ao redor de 50 milhões de pessoas e que no Brasil fez um estrago enorme em 1918.   O vírus era uma variação do H1N1 que agora nos assusta e nos dá um toque de recolher.      Só lembrando que o nome da gripe, ironicamente teria vindo da geopolítica, ou seja.   As potências do norte estavam na primeira Guerra mundial e a doença teria chegado lá pelos soldados americanos e se espalhou pelos hospitais de campanha, trincheiras e nas populações.   A Espanha ficou neutra nessa guerra e por ser uma monarquia parlamentarista democrática, divulgava o que lá ocorria pela imprensa enquanto os países em guerra omitiam as notícias inclusive para não desanimar as tropas em combate.     Assim sendo, a gripe de 1918 foi injustamente batizada como gripe espanhola.
         Então vamos voltar aos relatos do Venâncio Xavier sobre a gripe espanhola aqui em Curitiba em 1918.    Ele usou inclusive notícias de jornal da época para coletar dados e relatos.  
         Página 23 – Em 1918 já havia a creolina Pearson como uma opção de desinfetante de ambientes.    Tinha um cheiro forte característico.
         P.24 -  Alemães em guerra capitulando em 1918.
         26 – Curitiba com população perto dos 80.000 habitantes em 1918.
         26 – Além da gripe que matava, também a febre tifoide ainda fazia vítimas fatais por aqui.
         27 – No Rio de Janeiro a gripe espanhola ganhou o apelido de puxa puxa mas o autor não explicou o motivo do apelido.   Se puxava a pessoa para a cova...
         28 – Fim de Primeira Guerra Mundial na Europa e alguns alemães aqui moradores desafiavam as pessoas.    Cantavam, alguns, o hino deles por aqui em plena guerra.   Um dia um grupo foi preso por isso.   Na ocasião eles estavam acompanhados das esposas.   No momento a polícia ficou no imbróglio de como as mulheres deles voltariam para casa.   Ofereceu policiais para acompanha-las.    Elas recusaram a oferta e preferiram ir pra casa sozinhas.     A fonte : o Jornal do Commercio do Paraná.
         28 – Além de mortes por febre tifoide e da gripe espanhola, aqui em Curitiba de 1918 havia morte por tuberculose, lepra.
         29 – Recado do cotidiano de então no jornal da cidade:  Precisa-se de uma mulher para viver com bom homem solteiro.    Rua Saldanha Marinho, 168  (das 5 as 6 h da tarde)
         29 – O autor coletou depoimentos da Dona Lucia (em 1976) que viveu o tempo da gripe espanhola.   Ela narra o que vivenciou.
         32 – Fala da notícia de jornal anunciando a inauguração em 1918 de Majestoso prédio do Hospício em Curitiba.
         33 – A polícia censurou os jornais daqui sobre a gripe e os mortos.
         Depoimento da Dona Lucia:    No começo, caixões e mortalhas.  Depois, levavam com os caixões, enterravam só o corpo e traziam o caixão para outro enterro.
         34 – Na Rua XV – rua das Flores, havia a redação do Jornal do Commercio do Paraná.   Tempo da Guerra e alguns dos alemães daqui afrontando as pessoas.   O jornal cita inclusive o alemão e o livro também.  O alemão Rodolfo André Damm veio até a parta de entrada do jornal na rua XV e fez cocô na porta em protesto.
         35 – 1918 – o presidente do Brasil era Wenceslau Braz.
         43 – Fala dos “elétricos” que seriam os bondes que circulavam em Curitiba.   Pertenciam à South Brazilian Railway.    Os bondes ficaram um tempo sem circular à noite pela cidade por causa da gripe.
         44 – Aqui em Curitiba em 1918 havia jornal clandestino editado em alemão.  Tinham contato por telegrama com grupos da Argentina.    Cita  fonte o Jornal do Commercio de 06-11-1918.
         44 -   No jornal.   Alguém se referindo à gripe espanhola.    ...Mas a senhora espanhola parece que não tem vontade de deixar ninguém em paz.
         45 – O armistício da Primeira Guerra Mundial foi dia 07-11-1918.
         46 – Diz que além da gripe, repressão às notícias pelas autoridades e assim aumentam os boatos.    Os boatos matam mais que a gripe.
         46 – O prefeito de Curitiba em 1918 era o João Antonio Xavier.
         49 – Doutor Nilo Cairo fala dos sintomas da gripe espanhola.
         49 – Reclamações no jornal.   “A cada enterro toca o sino na igreja do Rosário (no Centro Histórico).   Com o cemitério logo acima, o sino tocando seguidamente e irritante...  espalhando a apreensão, a mágoa e a tristeza.”
         55 – Os versinhos obscenos entremeados no livro, destacados do jornal da época da gripe.  Autor anônimo.    Li e são mais fortes que os contos do Dalton Trevisan  ( o do Vampiro de Curitiba).
         64 – Poesias no jornal, apesar da gripe.
         65 – Os bondes, parados no tempo da gripe, voltam a circular em 30-11-1918, num sábado.
         67 – Balanço dos óbitos oficialmente documentados (1918)
         Novembro     295 óbitos
         Dezembro -      89 óbitos
         Total de 384 óbitos em Curitiba com população de 73.000 habitantes.
         Total de doentes em Curitiba pela gripe:    45.249 pessoas.   Mais da metade de toda a população como se pode observar.
         O boletim é assinado pelo médico Dr Trajano Reis, responsável pelo Serviço Sanitário da cidade.
         72 – O episódio do louco no hospício que pegou a muleta de outro paciente e saiu acertando a cabeça dos que encontrava pela frente.   Formou um aranzel no hospício.     (meu pai, paulista do interior, usava o termo “aranzé”).  Um bafafá...
         Fala em certo ponto do uso do pó de arroz pelas mulheres.    Cita em outro trecho o cineasta auto didata que andou fazendo quase sem recursos, alguns filmes aqui em Curitiba.   Ele era conhecido por Maciste.   Chegou a fazer filmes eróticos por aqui.  
         Li este livro em julho de 2019 e tudo parecia tão surreal e agora estamos vivendo em março de 2020 o sufoco do covid 19 que é uma variação do vírus da gripe espanhola.     Naquele tempo, o atrapalho pelos boatos e hoje em dia os nefastos fake News que desinformam e colocam pânico nas pessoas de forma negativa.   O povo precisa de informação e muitos cuidados.     Todos nós esperando por dias melhores.                                             Março de 2020.