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sábado, 30 de dezembro de 2023

CAP. 09/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

  capítulo 9/20

 

         Houve a passeata dos estudantes e passando em frente ao Palácio, um estudante ajuntou uma pedra para atirar no Palácio.   Zélia deu um alto lá! E o estudante jogou a pedra fora.   Se jogasse a pedra, formaria tumulto e daria um argumento para a polícia reprimir o movimento e até prender os líderes da passeata que era de protesto mas era pacífica.

         A passeata terminou perto da Reitoria da UFBA Universidade Federal da Bahia.   Terminou com cerco policial, gás lacrimogênio, mas sem prisões nem vandalismo.   Zélia fez valer a experiência do tempo de militância estudantil.

         Ladeiras da Bahia

         Há ladeiras para todo lado em Salvador.    Dadá realiza seu sonho.  Na Ladeira dos Perdões morava Dadá, viúva do cangaceiro Corisco, lugar-tenente de Lampião rei do cangaço.    Dadá tinha quatorze anos quando foi raptada por Corisco no tempo do Bando do Lampião.

         “Fora muito feliz com o cangaceiro e não admitia que falassem mal dele.”.   Dadá não deixou enterrarem Corisco sem a cabeça.  Ele e outros do bando foram fuzilados e depois decapitados.   A cabeça dele e de outros estavam em vidros com conservante na Faculdade de Medicina.

         Dadá guardava os ossos de Corisco por anos debaixo da cama e lutava para ter a cabeça dele de volta para lhe dar um sepultamento digno.

         Mais adiante o governador da Bahia, Luiz Viana Filho, determinou que as cabeças fossem devolvidas às respectivas famílias.   Só então Dadá conseguiu sepultar Corisco da forma que achava mais digna.

         Jorge e Zélia estão entre os que ajudaram na coleta para realizar o sepultamento de Corisco.

         Biografia de Corisco e Dadá

         Um dia um vigarista entrevistou Dadá e depois foi tentar uma “parceria” com Jorge Amado para escrever um livro sobre o casal de cangaceiros.    Jorge logo de cara deu o fora no oportunista, que mesmo depois do não, continuou telefonando para Jorge ainda tentando a tal parceria.

         As campainhas tocam

         Gente na porta de casa ou no telefone pedindo coisas  até inusitadas.  Esta, por telefone:  -É dona Zélia?   Jorge Amado não pode atender?  Então falo com a senhora mesmo.  Sabe o que é?   Minha professora mandou que a gente lesse o livro de Jorge Amado, o Mar Morto.   Eu não tive tempo de ler e preciso falar sobre ele hoje.  Se não souber, tiro zero”.

         Por haver em Salvador o Teatro Jorge Amado em homenagem a ele, muitos pensam que o teatro é dele e costumam pedir ingressos para eventos no local.     Tem até candidatos a ator ou atriz que liga achando que ele pode indicar a pessoa para atuar no teatro.

         Aparece gente querendo contar a história da vida dela para ver se Jorge Amado se interessa em colocar em algum livro.      ...”é um história muito boa, muito forte, vai dar um romance e tanto, com toda certeza” – garante um dos interessados.

         O imperador romano

         O famoso jato Concord fazia voos comerciais entre o Rio de Janeiro e Paris com escala em Dacar na África.  Demorava a metade do tempo dos voos normais de jatos convencionais.     Por essa rapidez, Jorge e Zélia usaram várias vezes o Concord para ir ou vir de Paris.

         Até padre apareceu lá na casa de Jorge  com livros  para ele autografar. 0 leitor começa elogiar Jorge e ele fica encabulado diante de elogios.

         Ao se despedir, o padre ajoelhou diante de Jorge e disse que ele se parecia com um imperador romano.

         Casa pronta, Hóspedes ilustres

         Concluída a reforma da Casa do Rio Vermelho, foi uma sequencia de visitas de amigos ilustres.   Muitos citados nominalmente por Zélia no livro.

         Na ampla casa tem o gabinete que seria para Jorge escrever mas ele não usa o local para isso.  Prefere sempre estar no ambiente social da casa interagindo com as pessoas e querendo saber quem telefonou, quem bateu na porta e assim por diante.   É o jeito dele.

 

         Continua no capítulo       10/20

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

CAP. 8/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 8/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Casa Cheia

         Muitos amigos em Salvador.  Jorge era obá no terreiro Axé Apô Afonjá, de Mãe Senhora.    O amigo que mais entendia de Candomblé era Vivaldo da Costa Lima.    Quando o francês Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir visitaram a Bahia, foi Vivaldo o indicado para repassar explicações sobre candomblé a eles.

         O jovem Emanoel Araujo, artista plástico e uma bela série de telas sobre gatos.    Zélia cita também:   “Luz da Sena, mulher poderosa, tornara-se nossa amiga desde a nossa chegada à Bahia”.

         As velhinhas se encontram

         O casal recebe por uma temporada as mães deles.   Lalu, mãe de Jorge era só elogios aos filhos “sem defeitos”.    Já a mãe de Zélia era mais modesta.   As duas eram “inimigas íntimas”.   Rolava muita prosa entre elas.

         Casa das frutas

         O povo baiano não era de comer verduras.   Frutas até que consumiam.

         Um dia abriu uma frutaria em Salvador.    O motorista do amigo de Jorge tinha a missão de achar a frutaria e ele entendeu putaria e procurou na vizinhança e não achava.   Nem o motorista de taxi da área soube indicar, mas deu um aviso:    Se você achar a tal putaria aqui perto, me avisa!

         Hóspede inesperado

         Um carro parou na casa de Jorge, deixaram lá um cidadão, disseram que era um diretor de cinema tcheco e que pediram para deixa-lo na casa do casal.   O casal no passado tinha vivido um pouco do exílio na Tchecoslováquia e acharam que eles eram fluentes no idioma...

         Foi acolhido e soube-se que ele iria ser homenageado em Salvador pelos cineastas e intelectuais do ramo de cinema local.     O tcheco pediu laranjas e Zélia serviu e ele pediu água, colocou para ferver depois colocou as laranjas dentro para “matar os micróbios” e em seguida consumiu as frutas.    Ele disse que foi recomendação que trouxe da Europa para visitar o Brasil.

         Golpe de estado

         O golpe militar de 1964

         Deposto João Goulart e os militares colocaram na presidência o Marechal Castello Branco.    E começa a perseguição aos militantes da esquerda.   Nos anos Vargas Jorge e Zélia já tinham sido perseguidos e tiveram que ir para o exílio.

         Um casal amigo deles e colega do tempo da faculdade de Direito estava feliz com o que chamaram de revolução.  E veio com conversa e Zélia já foi avisando:   “Olhe, Wilson, não venha falar de revolução nesta casa!  Estamos cansados de sofrer, cansados de golpes militares.   Me admira você, nosso amigo, vir com essa conversa de revolução, revolução fajuta, fascista, que vai acabar com a liberdade, vai botar todo mundo de novo na cadeia...”

         Acabou que o estudante e lider estudantil João Jorge foi preso e o Wilson, pela velha amizade, conseguiu viabilizar a soltura do filho do amigo Jorge Amado.     O jovem participava de passeatas contra o golpe.

         A ditadura de 1964 apreendeu até os livros editados por Jorge Amado.

         Leitores de Jorge sendo taxados de comunistas apenas por lerem os livros dele.    Estava na fase de impressão o livro de Jorge, Os Pastores da Noite.

         Dona Zélia entra na dança

         Os estudantes protestavam contra o acordo do governo militar com os USA, convenio MEC-USAID.    Paloma, filha do casal chega em casa dizendo que iria participar de uma passeata contra o convênio.  Ela era aluna do Colégio de Aplicação ligado à UFBA Universidade Federal da Bahia.

         Ela avisou a mãe que iria participar e achou que a mãe iria colocar obstáculo.    Não só Zélia concordou, como avisou que iria também.  E foi.

         A causa era justa.    Paloma ficou admirada, mas Jorge esclareceu que foi nessa lida de militantes que os dois se conheceram no passado e estão juntos.

         A passeata

 

         Continua no capítulo 9/20       

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

CAP. 7/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 7/20

 

         Maus presságios.   João Goulart na presidência do Brasil e o cenário político se complicando.    Jango teve que passar para a reserva alguns generais com perfil golpista.      Jango fazia um governo um pouco voltado para a esquerda e tinha apoio de vários setores sociais que andavam inclusive fazendo passeatas na ocasião.

         Jorge Amado já tinha sofrido com uma ditadura militar no passado, perseguido, preso e exilado e sentia o desconforto do momento.   Ele e Zélia apreensivos.   Achavam que Jango estava cutucando o leão com vara curta.

         “Com esse espírito de preocupação, viajamos de mudança do Rio para a Bahia no final do ano de 1963”.   (a ditadura que derrubou Jango foi na passagem de março para abril de 1964).

         Antes da mudança do casal, o Coronel João, pai de Jorge Amado faleceu.

         Zélia e uma amiga arrumando as malas para a mudança – a parte que iria de carro.    Livros, presentes etc.

         Jorge foi só para colocar as malas no carro.   No meio da tarefa entrou bravo em casa dizendo que não coube nem a metade das malas.   Deu em choro.     Depois que Zélia se acalmou, ela desceu até o carro, organizou a bagagem e coube tudo certinho.

         A casa começa a funcionar

Na Bahia, decidiram colocar as crianças numa escola pública para elas ficarem mais integradas com as pessoas do povo local, os menos privilegiados.

         “Queremos nossos filhos sem empáfia, eles deveriam conhecer de perto as necessidades do povo”.

         Explosão

         Ligaram ao mesmo tempo na casa nova três geladeiras e um freezer e a sobrecarga na energia deu um estouro no transformador da rua e ficaram sem energia.    Por conta disso, tiveram que pagar caro por um novo transformador bem mais potente na rede elétrica pública.   Saiu cara a fatura.

         O sapo cururu

         “A casa estava pronta e graças ao excelente arquiteto e aos nossos amigos, grandes artistas da Bahia, tínhamos conseguido o que desejávamos: viver numa casa ampla, arejada, agradável, sem requintes de grandeza, combinando com nossa maneira simples de ser, vida simples, sem ostentação”.

         Tinha até sapos coaxando à noite no quintal que tem um laguinho no jardim.   Jorge gostava de ver e ouvir os sapos.

         Carybé apareceu de visita, viu o sapo e adorou.   Brincou com ele até.  Disse que gostaria de ter um sapo em casa também.

         Passam os dias e Zélia gravou o coaxar do sapo e levou a gravação escondida para a casa do Carybé.    No meio da prosa, ela deu uma escapadinha, ligou o gravador no som alto, isto à noite, e Carybé ficou todo eufórico.   Catou uma lanterna e saiu procurando no quintal o tal sapo.

         Era um trote de uma série que vinham pregar na base do chumbo trocado.

         Calasans Neto

         A casa do casal tinha muitos toques artísticos e só a porta de entrada, azul, era sem graça.   Foi então que o artista amigo, Calasans Neto, fez uma porta entalhada com o casal de personagens de Tereza Batista, protagonista de um romance de Jorge Amado.

         O artista destacou que fez o personagem Doutor Emiliano Guedes, amante de Tereza Batista com a feição de Jorge.   E já avisou que Zélia não precisava ter ciúme porque de costas, estava Tereza nua e que ela foi inspirada no corpo de Zélia.    Zélia destacou:   Mas eu estou de costas, não se vê o rosto.   O artista respondeu:    “E quem falou em rosto – riu o malandro – Ela é você de costas, sem tirar nem por”.      Jorge completou:   - “De balaio grande”, rindo e se divertindo com a discussão.

         Nesse tempo entre os artistas do convívio com o casal, tinha inclusive o cineasta Glauber Rocha.  Ela cita inclusive o poeta Carlos Anisio Melhor.

        

         Continua no capítulo 8/20 

domingo, 24 de dezembro de 2023

CAP. 6/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - Autora: ZÉLIA GATTAI

 capítulo 6/20

 

         Jorge num dia na casa de Mãe Senhora e na despedida ela pergunta de amigos dele, conhecidos dela, Paulo e Simone.   Ela estava se referindo ao escritor francês Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir.    Estes que em visita a Jorge Amado, foram conhecer o Candomblé de Mãe Senhora.

         Mãe Senhora na ocasião da visita dos escritores franceses ilustres, indicou quais eram os santos deles, o que os deixou muito impressionados.   Levaram a sério as indicações.    Em ocasião posterior, se reencontraram na Europa e eles tocaram no assunto do Candomblé e os seus santos.

         Stella de Oxossi

         Jovem filha de santo que Mãe Senhora vinha preparando para sucedê-la no futuro.   Mais adiante ficou comprovado.    Quando Stella de Oxossi passou a ser Mãe de Santo com o tempo ela transformou o terreiro Axé Opô Afonjá no maior terreiro da Bahia.

         O misterioso vulto

         “Deviamos fazer o bori uma vez por ano.  O bori inclui lavar a cabeça, pousar uma noite no terreiro com os aparatos determinados, o que limpa o praticante pelo ano todo”.

         Jorge e alguns amigos, dentre eles, Carybé, tinham funções no terreiro.   O bori durava uma noite inteira.    Inclui preces na língua Nagô.    No livro, Zélia dá mais detalhe do rito em si.

         ... Em outro trecho cita o prato galinha à cabidela.

         Zélia publica no livro um trechinho de uma carta escrita no passado pelo pré adolescente Jorge Amado em seu tempo de ginásio dos Jesuitas.   Alguns estudantes criaram um tipo de confraria com regulamento e tudo, visando uma vida casta e coisa e tal.    É bem pitoresco o texto cheio de boas intenções.

         Ikebana

         Uma arte floral oriental.    Zélia e uma amiga iam a vários tipos de cursinhos, desde bordados, até de arranjo de flores.     A Ikebana é um tipo de arranjo de flores com toda uma simbologia na tradição japonesa.

         “Norma só não conseguia uma coisa comigo:  arrastar-me a enterros e velórios”.

         Nosso Jardim

         Plantou árvore de fruta pão e outras mais como pitangueiras, laranjeiras etc.      Plantaram tantas que sombreou todo o terreno e ficou mais difícil as plantas menores tomarem sol.    “Tirou a nossa vista sobre o Rio Vermelho – e o mar, mas ficou lindo”.

         Reminiscência

         O casal, uma vez visitando a fazenda de amigos, viu pés da rara fruta chamada lichia, originária da China, onde conheceram a planta e os frutos.

         Ficou surpresa vendo pés de lichia na fazenda do amigo, coisa rara no Brasil de então.    Levou pra casa uma mudinha de lichia numa lata com todo cuidado e deu recomendação bem especial ao jardineiro da casa.   Todo cuidado!    Ainda mais porque o casal viajava muito, para longe e demoravam a voltar.   Era uma brecha para descuidos do jardineiro.

         Zélia contava com os frutos do pé de lichia para depois desafiar o compadre Carybé que se gabava da variedade de frutas que tinha na chacrinha dele.

         Uma viagem longa pela Europa e um dia no hotel, recebe uma carta do jardineiro.   Avisava que a árvore já cresceu e deu frutos.  Deu pitangas.  E disse que a patroa tinha comprado gato por lebre, logo ela, uma pessoa tão inteligente, como ele disse.    (Como leitor fica a pergunta:  Será que o jardineiro não deixou a planta morrer e plantou no lugar dela um pé de pitanga para enganar a patroa?)

         Rufino

         Jorge precisava levantar um muro alto a ser feito de pedras na divisa de sua casa.   Um amigo lhe indicou Rufino.   Ele trouxe vários empregados e ficava só olhando os empregados trabalharem.  Não punha a mão na massa.

         Ganhou bem e terminada a obra, não se importou em arranjar outras obras.   Ficava apertado e vinha chorar mágoas na casa de Jorge e sempre saia com uns trocados.   Rufino sempre dizia que era emprestado...   Nunca pagou.

         Tanto que em algumas cenas do filme Dona Flor rodados em Salvador, Jorge indicou Rufino para a equipe de figurantes e ele desempenhou o papel sem problemas.

         Ainda sobre as obras da casa de Jorge e Zélia.   Havia uma porta de entrada muito simples e Carybé se encarregou de criar uma porta de ferro com detalhes de frutas e pássaros.

         Numa fase da obra havia trinta empregados trabalhando no local.

 

         Continua no capítulo 7/20

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CAP. 5/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora ZÉLIA GATTAI

 capítulo 5/20

 

         Candomblé

         Jorge quis visitar um Candomblé  em Cuba.    Na ocasião não havia.   Ele lamentou e lá sempre teve muitos leitores dele.  Mais adiante, em 1986 quando voltou a Cuba, havia o Candomblé por lá.

         Num dos eventos em Cuba, Jorge era presidente dos jurados de um festival latino-americano de cinema.   Um dia todo para juízes analisarem as obras e decidirem seus votos.   Comes e bebes no final dos trabalhos de julgamento.   Eis que chegam dois brasileiros, gaúchos, afobados dizendo que traziam um filme curta metragem para o evento e que uma série de contratempo fez com que chegassem atrasados.   Jorge ouviu os jurados e todos aceitaram incluir o filme no certame. 

         Só que tinha um problema.   O filme era em português e tem aquilo dos de língua espanhola não nos entenderem e nós temos mais facilidade de entender os de língua espanhola.     Diante do quase impasse, Zélia propôs uma solução:    Passa o filme e eu vou traduzindo.    Aceitaram, assim se fez e todo mundo entendeu o filme.  Resumo dos fatos:    O filme pegou o primeiro prêmio na sua modalidade de curta metragem.

          Nome do curta premiado:   “O dia que Daniel encarou a guarda”

         Copa do Mundo de 1962

         Numa das viagens a Cuba o casal se encontrou com Fidel Castro, mas Zélia resolveu deixar esta parte para um outro livro que virá.     Copa de 1962 no Chile.   Zélia e Jorge são apaixonados por futebol.    O casal em Cuba há apenas 3 anos da Revolução.    Tudo que passava na TV cubana, ainda no calor dos acontecimentos era política, política, cultura e nada de futebol.

         O casal ficou angustiado.    Amigos do casal vinham de Cuba para Lima no Peru e os convidaram para passar uns dias em Lima.   Zélia era curiosa para conhecer Lima, mas Jorge, movido pelo futebol, resolveu que voltariam para o Brasil, como de fato o fizeram.   Curtir a Copa de 1962 pela TV em casa.

         Doutor Mirabeau

         Estudou com Jorge na juventude e contava ao filho de Jorge sobre as traquinagens do pai dele quando eram estudantes.     Mirabeau estudou medicina para fazer o gosto do pai e não exercia a profissão.  Herdou lojas de calçados em Salvador e expandiu os negócios no setor, mas seu forte eram as artes plásticas.  Pintura a óleo sobre tela.

         Dona Norma

         Era da alta sociedade e socorria os pobres da favela.    Era então querida do povo da favela.

         Sobre hábitos da época em Salvador:    “Naquela época os bons restaurantes eram raros, em geral ninguém convidava ninguém para comer em restaurantes, convidavam para comer em sua casa, a mulher se desdobrava na cozinha”.

         Vamos levantar a casa?

         O projeto da casa do casal foi elaborado pelo jovem arquiteto Gilberbert.   Feito o projeto, Jorge convidou os amigos para palpitarem sobre o projeto.   Carybé destacou que a decoração dos azulejos seria por conta dele.

         Na ocasião a arquiteta Lina Bo Bardi  (a que projetou o MASP da Avenida Paulista em SP) estava em Salvador atuando sob contrato do governador do estado da Bahia.   Dirigia o Museu de Arte Moderna da BA.

         Ela também deu seus palpites no projeto.   Sugeriu inclusive usar caquinhos de azulejo no piso de algumas áreas externas do entorno da casa.

         Camafeu de Oxossi

         Jorge Amado era adepto do Candomblé e filho de Oxossi.   Uma destacada Mãe de Santo da época em Salvador era Mãe Senhora.

         Um dia veio o recado de Mãe Senhora ao casal:   “Está na hora de vocês fazerem o bori”.   (um rito do Candomblé).

         Jorge num dia na casa de Mãe Senhora e na despedida ela pergunta de amigos dele, conhecidos dela, Paulo e Simone.   Ela estava se referindo ao escritor francês Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir.    Estes que em visita a Jorge Amado, foram conhecer o Candomblé de Mãe Senhora.

 

         Continua no capítulo 6/20

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CAP. 4/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 4/20                leitura em dezembro de 2023

 

         Para reformar o pomar da casa, foram buscar mudas da faculdade de agronomia de Cruz das Almas-BA.   Nesse tempo o amigo pintor Carybé já tinha comprado uma chacrinha e nela tinha vários tipos de frutas em produção e contava vantagem por isso.

         As sauvas, logo que o casal plantou as mudas, pelaram as folhas das laranjeiras.   Tiveram que contratar uma pessoa que era prática em controlar saúvas.

         Na fase de formar o pomar e jardim, Jorge contratou um jardineiro e este providenciou a compra de esterco.   Na verdade despejaram na casa uma verdadeira carga de lixo mal cheiroso e que juntava mosca de todo lado.   Tiveram que mandar embora o lixo e o jardineiro.

         Pouco tempo passado, veio uma intimação da Justiça do Trabalho, convocando Jorge para depor.   Ele ficou babando de raiva.  Não se conformava.   Pagou tudo, não recebeu a contrapartida em serviço e ainda essa reclamação na justiça.

         Logo depois do recebimento da intimação, Carybé chamou Zélia de lado e disse que foi um trote dele com uns amigos para assustar Jorge.   Intimação com papel timbrado da Justiça e tudo...

         Zélia contou pra ele que fingiu junto aos amigos não saber de nada e já tinha feito contato com um advogado amigo, antes de saber que era trote.

Desmarcou com o advogado e se fez de não saber de nada junto aos amigos.  Estes entraram em pânico pelo tamanho da brincadeira e envolver a justiça.

         A Revanche de Jorge

         Jorge forjou um anúncio no jornal em nome da escola de Inglês da amiga que participou do blefe contra ele.    No anúncio, oferta de um punhado de bolsas de estudo nos USA por conta da escola.   No dia marcado, uma multidão de gente lá na porta esperando a vez.    A dona da escola acabou tendo que de fato (ela era americana casada com brasileiro), oferecer umas bolsas nos USA.    Tudo por conta da revanche do amigo Jorge.

         E teve que ela pagar a conta do anúncio caro que chegou na escola.

         Viagem a Cuba

         A convite do poeta cubano Nicolás Guillén, o casal foi visitar Cuba poucos anos após a Revolução que foi em 1959.  Foram lá no começo dos anos 60.   O poeta, antes da revolução, era ferrenha oposição ao regime do ditador Fulgêncio Batista.   Foi exilado no tempo do ditador e viveu pela Europa e lá conheceu o casal, também exilado, Jorge e Zélia.     Zélia cita outros países que visitou no tempo do exílio: China, Mongolia, URSS, Tchecoslováquia, França.

         Em Cuba visitaram em Havana inclusive o Cabaré Tropicana que na ditadura antes da Revolução era o paraíso dos turistas americanos que vinham veranear nas praias e cassino de Havana.

         O casal Jorge Amado e Zélia estavam na viagem acompanhados dos compadres Carybé e esposa.  Visitaram vários lugares na capital e interior de Cuba.

         “Passamos duas semanas visitando o que nos mostraram e o que quisemos ver”.   Conversavam com o povo para sentir as mudanças no novo regime pós Revolução Cubana de 1959.

         O povo simples enfrentando um desafio de mudança cultural.    Citou o exemplo dos pescadores que antes viviam em barracos precários, sem água nem banheiro.    Agora, o governo fez colonias de casas em alvenaria com água encanada e esgoto.    Através de assistentes sociais, em visitas periódicas, buscavam que os moradores cuidassem da limpeza do local inclusive por conta da saúde pública.      Alguns moradores reclamavam meio incomodados...   “Não necessito de tanto luxo, prefiro viver em paz”.

         Visitaram a histórica Baia dos Porcos.    Onde há apenas um ano atrás, cubanos dissidentes da revolução, treinados pela CIA americana na Guatemala, partiram em barcos da Nicarágua, buscando invadir Cuba e derrubar o regime do novo governo.    Os golpistas foram derrotados em dois dias de combate.    Houve alguns mortos de ambos os lados e resultou em 1.200 presos por tentativa de golpe.

         Visitaram em Havana o túmulo dos Mártires da Pátria, tombados no combate de Baia dos Porcos.   “Jorge tem horror a cemitérios.   Evita sempre ir a enterros, mas não pode dizer que não ia lá e fomos”.

         No cemitério o guia não deixou por menos.  Mostrou o mausoléu dos Mártires, mas não deixou de mostrar o túmulo com a estátua de bronze  do fundador da fábrica de Rum Bacardi.   Uma estátua de corpo inteiro, tamanho natural do fundador com óculos e tudo.

         Abaixo o analfabetismo!

         Cuba antes da revolução era muito pobre e havia muitos analfabetos.  A revolução incluiu uma campanha forte de alfabetização e todos se empenharam nela.   A meta era que cada alfabetizado buscasse alfabetizar ao menos uma pessoa.  

         Até o jovem neto do ministro do governo de Cuba, anfitrião de Jorge, estava no interior do país em tempo integral no esforço de alfabetizar o povo.

         O jovem, para isso, deixou temporariamente os próprios estudos para retomar mais tarde, após a campanha de alfabetização.

         O genro do ministro era médico e deixou sua clínica na cidade e foi para o interior atender a população carente no esforço de reconstrução da Nação.

         Se hospedaram, os visitantes, no prédio alto onde morava o ministro e ficaram sabendo que lá havia centenas de estudantes que o governo da revolução selecionou pelo perfil para fazerem estudos superiores para servirem a Pátria.    Em geral eram jovens da zona rural, cortadores de cana.  Agora estudando com tudo patrocinado pelo governo para dar um novo rumo ao país.

        

         Continua no capítulo 5/20

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CAP. 3/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 3/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Cadê a Casa?

         Há em Salvador, na Pituba, um local onde havia uma casa que o casal foi ver para comprar mas na hora a dona desistiu de vender.   Muito tempo depois a casa foi demolida e hoje é o Teatro Jorge Amado.

         Uma das casas que foram ver tinha paredes precárias e manchas de percevejos macetados.  Aqueles da doença de Chagas.   “Eu as reconheci, eram iguais às manchas que víramos nos campos de concentração na Alemanha, Tchecoslováquia e Polônia.”

         Morando em Salvador, foram algumas vezes de carro ao Rio mas era viagem muito cansativa.   “Passaram a ir de avião com as crianças para o conforto de todos, menos de Jorge que ficava tenso nas viagens de avião”.

         Jorge Amado com seu livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ganhou na França um prêmio a ser recebido no castelo do Mont-Saint-Michel, considerado a oitava maravilha do mundo.    No voo doméstico lá na França, Jorge ficou intrigado.    Era voo num pequeno avião turbo-hélice bimotor para doze passageiros.   Zélia curiosa para ver Paris durante o voo. Só que sobrou para eles os bancos na direção da asa e esta impedia ver a cidade.

         Ela leu que os motores do avião eram da marca Rolls Royce e logo avisou Jorge.  Ela que era filha de mecânico em São Paulo.    Ele perguntou o que é isso?   Ela esclareceu.    A marca é da melhor fabricante de motores do mundo.

         Logo em seguida, deu pane num motor e foram avisados que haveria um pouso de emergência.    Ela segurou firme na mão de Jorge.   “Se era para morrer, ao menos morrer de mãos dadas”.

         Acabaram fazendo um pouso sem maiores complicações.    Mesmo depois disso, Zélia continua preferindo para longas distâncias, ir de avião.  Jorge reclama:  “Você é uma irresponsável”.

         Jorge veste fardão

         Antes de encontrarem a casa em Salvador, morre o imortal da ABL Academia Brasileira de Letras (sede na então capital federal Rio de Janeiro), Otávio Mangabeira, da cadeira 23.   Jorge concorre à vaga.  O patrono da cadeira 23 é José de Alencar e o fundador, Machado de Assis.

         Dia 06-04-1961 Jorge foi eleito para a ABL.    No dia da posse, o desconforto de Jorge que sempre foi de usar roupas leves, folgadas e sandálias nos pés.

         Os fardões são pesados, desconfortáveis e inclusive com bordados a fios de ouro.

         O pai de Jorge Amado, que insistia para o casal não se mudar para Salvador viu nisso mais um argumento para tentar tirar da cabeça deles a mudança.     “Afinal, nem ABL tem lá em Salvador... dizia”.

         ... Nesse mesmo ano, dia 10 de agosto, Jorge completou 49 anos.  Fez um festão para os amigos do Rio antes de voltarem para Salvador.

         Enfim compraram a Casa do Rio Vermelho, que foi de um pianista suíço contratado por uns tempos pela Universidade Federal da Bahia.   Venceu o contrato com a universidade e os suíços decidiram voltar para a terra deles.    Eles sentiram ter que deixar Salvador e a casa.  

         Zélia diz que não era a casa do sonho deles e precisou de reforma pesada, mas a vista do local agradou muito.  Lugar alto e vista para o mar.

         Outro atrativo foi o casal saber que a casa tinha inclusive o nome de Sonata batizado pelos donos que eram músicos.

         Procissão de Iemanjá.

         Dia dois de fevereiro, dia da Rainha do Mar, Iemanjá.  Ritos e procissão de barcos.   Os adeptos trazem até a praia as oferendas para agradar Iemanjá  (flores, pentes, espelhos etc).    São colocados em cestos que depois são transportados ao mar pela procissão de barcos e lá ofertados.   Há tradição de que o que afunda, agradou Iemanjá e o que boia, ela não aceitou.

         O casal costumava acompanhar a festa muitas vezes vendo tudo de casa, mas em certas festas, desciam até a praia para participar diretamente.

 

Continua no capítulo 4/20

sábado, 16 de dezembro de 2023

CAP. 2/20 - fichamento do livro de Memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 2/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Férias na casa dos amigos de Recife que foram colegas de turma do curso de Direito de Jorge no Rio de Janeiro.   Colegas de curso e da militância na política estudantil.

         “Jorge não aderia às pescarias, nem às grandes caminhadas.   Seu divertimento era outro: preferia descansar, deitado na rede do terraço, ouvindo histórias dos empregados da casa e de pescadores que apareciam por lá na hora da preguiça”.

         Entre os velhos amigos de prosa, aposentados e “operados” não faziam nem serviços leves.   “Tranquilos, os pais da indolência, cansavam-se só de ver os outros trabalhar.”

         Essas prosas inspiravam o romancista Jorge Amado.   Em Salvador recebiam visitas frequentes, famílias inteiras chegando de carro.   A casa tinha espaço para todo mundo.

         Nesses encontros, os homens jogavam pôquer e as mulheres, canastra.   Zélia gostava de pescar no mar.   Um dia ela, pescando embarcada, “pescou” a âncora do barco e lutou com ela pensando que era um peixe enorme.

         Ao fim da pescaria, ao levantarem a âncora, viram lá o anzol enroscado.   Decepção.

         Um dia ela pescou uma arraia de uns dez quilos, o que foi o maior peixe que ela pescou.

         Antes de mudarem do Rio, os pais de Jorge contrariados por eles optarem por ir morar na Bahia.   Diziam ao casal que iriam deixar a cidade grande para ir morar no mato.

         Para Zélia, foi um certo sacrifício ir morar em Salvador.   Valia a pena por conta do lugar ser mais seguro para o casal de filhos.   Lá Jorge se sentia mais em casa, tendo nascido no sul da Bahia.     Zélia, paulistana, filha de italianos, se sentia meio peixe fora d´água em Salvador no começo.

         Quando se mudaram para Salvador o casal já estava junto há dez anos.

         A reação dos sogros para tentar tirar da cabeça do casal a ideia de morar em Salvador.   A sogra:  “Seus filhos lá em Salvador vão virar dois tabaréus”   (Recruta mal exercitado. 2 Pessoa tímida. 3 V caipira , acepção 2. 4 obsoleto, Oficial desleixado e incompetente)

         A sogra, dona Eulália, dona Lalu, enfrentou no passado no sul da Bahia tempos e lugares violentos, confrontos a bala, gente da família atingida.    O marido dela era Capitão.

         Ela dizia que lá em Salvador e região era o cú do mundo.

         Os pais de Jorge Amado tinham fazenda de cacau em Pirangi BA no sul do estado.   Moravam no Rio de Janeiro na época.

         Zélia diz:  “Vivo me gabando de ser otimista.   Acho apenas que tive sorte de ter nascido otimista, não me apoquento com pouca coisa...”

         Achou que ia ser fácil encontrar uma boa casa para comprar em Salvador.   Não foi fácil.

         Zélia sempre no volante e Jorge não dirigia e ainda palpitava.   Reclamava quando ela deixava os outros ficarem ultrapassando.  “Ora, minha filha!  Você parece que gosta de comer poeira, todo mundo passa em sua frente!”

         O carro deles tinha o apelido de Sapão (um Citroen de faróis saltados)

E  era um carro raro na região.   Nas viagens na rota Rio-Salvador, nas paradas, juntava gente em volta do carro por curiosidade.   Em Milagres MG, um cego de cuia na mão pedindo esmola,  óculos escuros, ao “ver” o carro se aproximou admirado.   “Eta bichão porreta!   Igual este eu nunca vi”.   O carro fez esse milagre.

         Salvador a vista

         O artista plástico Carybé, amigo do casal, também é adepto do Candomblé e mora em Salvador.    Ao chegarem a Salvador logo mais, passaram na casa do Carybé.   Ele admirado, pôs o apelido no carro de Mané Pato e o apelido pegou em definitivo.

         Uma bela noite, o carro do casal  passou por cima de um bueiro destampado e o motor do carro bateu no chão com força e lá se foi o óleo e tudo o mais.   Em Salvador não havia peça para consertar o Citroen importado.   Colocaram o carro num caminhão e mandaram para o Rio e nem lá houve conserto.  A contragosto, teve que ir para o ferro velho.  

 

         Continua no capítulo 3/20