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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CAP. 3/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 3/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Cadê a Casa?

         Há em Salvador, na Pituba, um local onde havia uma casa que o casal foi ver para comprar mas na hora a dona desistiu de vender.   Muito tempo depois a casa foi demolida e hoje é o Teatro Jorge Amado.

         Uma das casas que foram ver tinha paredes precárias e manchas de percevejos macetados.  Aqueles da doença de Chagas.   “Eu as reconheci, eram iguais às manchas que víramos nos campos de concentração na Alemanha, Tchecoslováquia e Polônia.”

         Morando em Salvador, foram algumas vezes de carro ao Rio mas era viagem muito cansativa.   “Passaram a ir de avião com as crianças para o conforto de todos, menos de Jorge que ficava tenso nas viagens de avião”.

         Jorge Amado com seu livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ganhou na França um prêmio a ser recebido no castelo do Mont-Saint-Michel, considerado a oitava maravilha do mundo.    No voo doméstico lá na França, Jorge ficou intrigado.    Era voo num pequeno avião turbo-hélice bimotor para doze passageiros.   Zélia curiosa para ver Paris durante o voo. Só que sobrou para eles os bancos na direção da asa e esta impedia ver a cidade.

         Ela leu que os motores do avião eram da marca Rolls Royce e logo avisou Jorge.  Ela que era filha de mecânico em São Paulo.    Ele perguntou o que é isso?   Ela esclareceu.    A marca é da melhor fabricante de motores do mundo.

         Logo em seguida, deu pane num motor e foram avisados que haveria um pouso de emergência.    Ela segurou firme na mão de Jorge.   “Se era para morrer, ao menos morrer de mãos dadas”.

         Acabaram fazendo um pouso sem maiores complicações.    Mesmo depois disso, Zélia continua preferindo para longas distâncias, ir de avião.  Jorge reclama:  “Você é uma irresponsável”.

         Jorge veste fardão

         Antes de encontrarem a casa em Salvador, morre o imortal da ABL Academia Brasileira de Letras (sede na então capital federal Rio de Janeiro), Otávio Mangabeira, da cadeira 23.   Jorge concorre à vaga.  O patrono da cadeira 23 é José de Alencar e o fundador, Machado de Assis.

         Dia 06-04-1961 Jorge foi eleito para a ABL.    No dia da posse, o desconforto de Jorge que sempre foi de usar roupas leves, folgadas e sandálias nos pés.

         Os fardões são pesados, desconfortáveis e inclusive com bordados a fios de ouro.

         O pai de Jorge Amado, que insistia para o casal não se mudar para Salvador viu nisso mais um argumento para tentar tirar da cabeça deles a mudança.     “Afinal, nem ABL tem lá em Salvador... dizia”.

         ... Nesse mesmo ano, dia 10 de agosto, Jorge completou 49 anos.  Fez um festão para os amigos do Rio antes de voltarem para Salvador.

         Enfim compraram a Casa do Rio Vermelho, que foi de um pianista suíço contratado por uns tempos pela Universidade Federal da Bahia.   Venceu o contrato com a universidade e os suíços decidiram voltar para a terra deles.    Eles sentiram ter que deixar Salvador e a casa.  

         Zélia diz que não era a casa do sonho deles e precisou de reforma pesada, mas a vista do local agradou muito.  Lugar alto e vista para o mar.

         Outro atrativo foi o casal saber que a casa tinha inclusive o nome de Sonata batizado pelos donos que eram músicos.

         Procissão de Iemanjá.

         Dia dois de fevereiro, dia da Rainha do Mar, Iemanjá.  Ritos e procissão de barcos.   Os adeptos trazem até a praia as oferendas para agradar Iemanjá  (flores, pentes, espelhos etc).    São colocados em cestos que depois são transportados ao mar pela procissão de barcos e lá ofertados.   Há tradição de que o que afunda, agradou Iemanjá e o que boia, ela não aceitou.

         O casal costumava acompanhar a festa muitas vezes vendo tudo de casa, mas em certas festas, desciam até a praia para participar diretamente.

 

Continua no capítulo 4/20