capítulo 3/20 leitura em dezembro de 2023
Cadê a Casa?
Há em Salvador, na Pituba,
um local onde havia uma casa que o casal foi ver para comprar mas na hora a
dona desistiu de vender. Muito tempo
depois a casa foi demolida e hoje é o Teatro Jorge Amado.
Uma das casas que foram
ver tinha paredes precárias e manchas de percevejos macetados. Aqueles da doença de Chagas. “Eu as reconheci, eram iguais às manchas que
víramos nos campos de concentração na Alemanha, Tchecoslováquia e Polônia.”
Morando em Salvador, foram
algumas vezes de carro ao Rio mas era viagem muito cansativa. “Passaram a ir de avião com as crianças para
o conforto de todos, menos de Jorge que ficava tenso nas viagens de avião”.
Jorge Amado com seu livro
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ganhou na França um prêmio a ser recebido no
castelo do Mont-Saint-Michel, considerado a oitava maravilha do mundo. No voo doméstico lá na França, Jorge ficou
intrigado. Era voo num pequeno avião turbo-hélice
bimotor para doze passageiros. Zélia
curiosa para ver Paris durante o voo. Só que sobrou para eles os bancos na
direção da asa e esta impedia ver a cidade.
Ela leu que os motores do
avião eram da marca Rolls Royce e logo avisou Jorge. Ela que era filha de mecânico em São
Paulo. Ele perguntou o que é
isso? Ela esclareceu. A marca é da melhor fabricante de motores
do mundo.
Logo em seguida, deu pane
num motor e foram avisados que haveria um pouso de emergência. Ela segurou firme na mão de Jorge. “Se era para morrer, ao menos morrer de mãos
dadas”.
Acabaram fazendo um pouso
sem maiores complicações. Mesmo depois
disso, Zélia continua preferindo para longas distâncias, ir de avião. Jorge reclama: “Você é uma irresponsável”.
Jorge veste fardão
Antes de encontrarem a
casa em Salvador, morre o imortal da ABL Academia Brasileira de Letras (sede na
então capital federal Rio de Janeiro), Otávio Mangabeira, da cadeira 23. Jorge concorre à vaga. O patrono da cadeira 23 é José de Alencar e o
fundador, Machado de Assis.
Dia 06-04-1961 Jorge foi
eleito para a ABL. No dia da posse, o
desconforto de Jorge que sempre foi de usar roupas leves, folgadas e sandálias nos
pés.
Os fardões são pesados,
desconfortáveis e inclusive com bordados a fios de ouro.
O pai de Jorge Amado, que
insistia para o casal não se mudar para Salvador viu nisso mais um argumento
para tentar tirar da cabeça deles a mudança.
“Afinal, nem ABL tem lá em Salvador... dizia”.
... Nesse mesmo ano, dia
10 de agosto, Jorge completou 49 anos.
Fez um festão para os amigos do Rio antes de voltarem para Salvador.
Enfim compraram a Casa do
Rio Vermelho, que foi de um pianista suíço contratado por uns tempos pela
Universidade Federal da Bahia. Venceu o
contrato com a universidade e os suíços decidiram voltar para a terra
deles. Eles sentiram ter que deixar
Salvador e a casa.
Zélia diz que não era a
casa do sonho deles e precisou de reforma pesada, mas a vista do local agradou
muito. Lugar alto e vista para o mar.
Outro atrativo foi o casal
saber que a casa tinha inclusive o nome de Sonata batizado pelos donos que eram
músicos.
Procissão de Iemanjá.
Dia dois de fevereiro, dia
da Rainha do Mar, Iemanjá. Ritos e
procissão de barcos. Os adeptos trazem
até a praia as oferendas para agradar Iemanjá
(flores, pentes, espelhos etc).
São colocados em cestos que depois são transportados ao mar pela procissão
de barcos e lá ofertados. Há tradição
de que o que afunda, agradou Iemanjá e o que boia, ela não aceitou.
O casal costumava
acompanhar a festa muitas vezes vendo tudo de casa, mas em certas festas,
desciam até a praia para participar diretamente.
Continua no capítulo 4/20