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quinta-feira, 14 de março de 2019

RESENHA DAS FALAS NO EVENTO “GÊNERO E RESISTÊNCIA” - Curitiba - PR. março/19 - Professora Diva - Manuela D´Ávila


RESENHA DAS FALAS NO EVENTO “GÊNERO E RESISTÊNCIA
Realizado dia 11-03-2019 no Teatro da Reitoria da UFPr de casa lotada
            O grupo que vem realizando estudos, articulações e debates sobre o tema tem no Face a página politica.por.de.para mulheres
            O público foi estimado em 95% de mulheres.    Muitas delas, estudantes, professoras, algumas acompanhadas das crianças. 
            Na abertura a cantora Marinalva Gonçalves da Silva cantou à capela uma música engajada.        Umas palavras que captei da letra da música.      ... não queria assistir o fracasso do bom...   o triunfo do mau.    .... eu decidi servir...lutar e construir.    Por isso, Curitiba, eu estou aqui.      (muito aplaudida).
            Duas professoras da UFPr que vem ajudando nas articulações e seminários sobre Gênero e Resistência falaram na abertura e depois passaram a palavra primeiro à Professora Diva Guimarães e em seguida para a Manuela D´Ávila, esta jornalista, que foi vice do Haddad na campanha de 2018 para Presidente da República.
            Consta que o evento teve a transmissão pelo canal de TV da PFPr e deve haver o material no site respectivo.
            Na fala da Professora Eneida Salgado explicando um pouco das atividades dentro do foco do fazer política.   Laboratório / observatório / oficinas.    Destacou que estamos com vinte anos de cotas para a mulher na política (disputando eleições) e tem sido insuficiente.  Busca-se estudar o por quê?   No que melhorar.   Em 2017 fizeram o primeiro curso de formação política para mulheres.    Houve demanda crescente.  Na chamada mais recente, houve 1.647 inscritas.  Um alento.     Saiu um livro dos encontros da pesquisa.   Ela encerra a fala com os dizeres:  Política faz meu gênero.
            Ao citarem uma poeta, deixando claro que o termo já é feminino, destacou algo da nossa poeta Alice Ruiz.      ...”mulher, via um futuro grandioso a quem eu tocava.  Um dia eu me toquei”.
            Foi convidada pelas mulheres do parlamento da Bolívia onde 51% das cadeiras são ocupadas por mulheres.   Até estranhou o fato delas requisitarem a palestra lá, mas as parlamentares bolivianas disseram que apesar de serem maioria no parlamento, mesmo lá entre os pares elas são vistas como pessoas subalternas, o que é uma pena.   Há ainda muito a caminhar por lá também.     
            Dito isso, levantou o punho cerrado e disse: Vamos Resistir.  A plateia toda fez coro.   “Vamos Resistir”.    Falar de gênero é falar de resistência.
                       
            Fala da Professora Diva Guimarães, 78 anos de idade, professora e fisioterapeuta, dedicou a vida ao ensino.   Negra, neta de escravos, viu na mãe um exemplo de resistência e luta.     A mãe nasceu em 1907 em Jacarezinho-PR.          A mãe dela, menina de sete anos, entregava leite na cidade e ficou sabendo de uma professora e pediu para ela ensiná-la a ler.  Um dia o pai dela descobriu e deu uma bronca enorme nela e a proibiu de continuar porque entendia que ela iria passar a ter problemas com o povo da época, pela década de 40. 
            Nos tempos que moravam em Bandeirantes-PR, a mãe atuava junto à Igreja Católica e sempre lutando pelos mais fracos.   Espalharam o boato de que ela era comunista.    Passou a sofrer segregação.   Quando ela quis batizar a Diva aos quatro anos e meio, a igreja local não aceitou.   Teve que fazer o batizado na vizinha Andirá-PR e na hora de batizar, o nome de Diva deu enrosco, porque “não tinha nome de santo”.   Mais uma batalha, mas foi batizada.    
            Estudou primário, ginásio e parte dos estudos em colégio de freiras.   Sempre segregada e tendo que se defender.   Foi inclusive atleta de basquete e disse que treinava bem mais que as colegas para ser aceita.   No primeiro tempo do jogo, era vaiada por uns, mas depois que viam que ela jogava acima da média, passava a ser aplaudida.  Uma luta de cada dia.
            Teve muitas professoras, mas foram cinco que fizeram a diferença na vida dela pelo lado positivo.    Disse que professora pode ser um deus ou um diabo na vida de um aluno.   Pode ser incentivo ou fator de desânimo.   Faz cicatriz na alma e cicatriz na alta não tem cura.
            Aos dez anos de idade ela leu um livro sobre Lampião e se identificou com a luta dele e usa como inspiração. 
            Aqui em Curitiba ela como professora passou em segundo lugar num concurso e poderia ter escolhido dar aulas no Colégio Estadual do Paraná, de destaque, mas optou pelo colégio de periferia lá do Valetão onde estariam seus iguais.   O pessoal estranhou a escolha dela, mas ela tinha em mente que na periferia poderia fazer a diferença para alunos de baixa renda.   Se ela chegou lá em termos de estudo e profissão, que eles também tinham potencial para chegar lá.
            Numa retrospectiva da luta do negro no Brasil, lembrou que em 1837 criaram lei que negro não podia frequentar escola.   Houve estado do Brasil no qual essa lei veio sendo executada na prática até 1950.   Pela lei das Terras, de 1850, foi determinado que terra seria vendida e assim negro não teria acesso à terra para produzir e viver.
            Mudou a chibata.   Antes era do feitor, mais modernamente é o cassetete que é usado nas periferias contra pobres em geral e negros em particular.    Costuma-se dizer que o negro é invisível, mas na hora de perseguição pela polícia à noite, conseguem ver preferencialmente os negros com suspeição e discriminação.
            Aos 78 de idade, ativa e muito lúcida, é um exemplo de resistência e luta.    Ela não perde a esperança na educação.        Foi longamente aplaudida em pé por todos.    Emocionante!

            Fala da Manuela D´Ávila
            Diz ser um privilégio fazer o que ela faz.  Mulher, mãe, jornalista, militante.  Luta e Resistência.
            Leu trecho de um poema de uma poeta da Nicaragua que chegou a ser Secretária da Educação no governo sandinista.
            Uns pequenos trechos que captei.     .... não percas a compaixão... nadar contra a corrente.... uma mulher forte.
            No Brasil morrem 62.000 pessoas assassinadas por ano.  Muitos deles, jovens, pobres, negros.
            A Revolução Francesa trouxe alentos da liberdade, igualdade e fraternidade, mas na prática as classes e “raças” sempre em luta.
            Destacou que a sociedade em geral está num contexto de consumismo exacerbado.   As novas tecnologias desempregam.  O sistema econômico mundial está em colapso.   O sistema gera novas formas de Colônias.    Há descarte em massa de camadas da população.
            Ela acredita em Deus.   (a Direita anda postando na internet que ela não acredita em Deus).
            Os primeiros a serem punidos por este sistema econômico são as primeiras, as mulheres.
            Ela está aos 37 de idade.   Aos 25, da luta estudantil, acabou disputando uma vaga a deputada federal pelo RS e foi eleita com meio milhão de votos.
            Destacou que o congresso congelou (aprovou isso do Executivo) o orçamento por vinte anos.    Os programas sociais tem restrição de verbas.    Mães precisam de creches para colocar as crianças para poderem trabalhar.   Corte de orçamento afeta a vida do povo em geral e da mulher em particular.
            A mulher se emancipar.  É importante estar na cabeça da pessoa isso, mas tem que haver condições materiais para isso e políticas públicas tem que estar no contexto.  Um dos exemplos é a demanda por creches.
            Ela destaca a luta das mulheres paranaenses.   Tem que se encarar o problema das desigualdades.    A Manuela é dos quadros do Partido Comunista e destaca que a questão de classe é levada muito em conta nisso tudo.
            Estamos vivendo um período difícil na política brasileira, mas ela até para manter a cabeça em dia, viaja pelo Brasil a convite, proferindo palestras como forma de Resistência.
            Ela inclusive divulgou e autografou o livro REVOLUÇÃO LAURA.
            “Precisamos continuar acreditando no Brasil”.   Amor, empatia, solidariedade.   Ingredientes da resistência.   Depois disso tudo, que venha a primavera e que ela seja nossa.         Aplauso geral.        21 h

     Anotações pelo Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
WhatsApp  41 999172552    -  Curitiba – PR      orlando_lisboa@terra.com.br





quinta-feira, 7 de março de 2019

RESENHA DO LIVRO – O QUE VEM AO CASO – AUTORA: INEZ CABRAL (março/2019)



    (    filha de João Cabral de Melo Neto – mas tem luz própria)

         Resenha (fichamento) pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida

         Editora Alfaguara – RJ, ano 2018 – 165 páginas

         Carpina – cidade pernambucana onde o avô tem um sítio.   Mestre Carpina é personagem do poema Morte e Vida Severina  - de João Cabral de Melo Neto
         página 10 – A menina (auto biografia) quer ser fazendeira. O pai pergunta por quê?
                   Pra andar a cavalo, tocar berrante e juntar gado.
         11 – ela dividindo as balas trazidas pelo pai com os irmãos e primos.  Uma para cada e o restante pra ela.    (na minha infância ocorria algo bem assim)
         18 – Em Sevilha (onde o pai serviu como Diplomata).   Os pais colocam ela numa escola pública (religiosa) para imersão na cultura local.   Aulas das 7 as 19 h
         20 – Entre Málaga e Cadiz, região de clima deserto.  O costume da siesta após o almoço.
         51 – O pai é ateu ou agnóstico.   Mãe e irmãos ir à missa nos domingos.  Em certo tempo ela, adolescente sai dizendo que vai à missa mas não vai.   Quando vai, o faz durante a semana.
         53 – Primeira sessão matinê no cinema.   Meias que apertam as pernas grossas, diferentes do padrão das espanholas.   Se lembra de um chavão:   “mulher pra estar bonita tem que sofrer”.
         54 – A mãe dela é assim:  ou pensa como eu ou está errada”
         54 – Enrosco na matéria Geografia.  A mãe envia ela a um povoadinho basco onde vivem menos de 500 habitantes.   Lá tem um mosteiro das freiras ursulinas.  O local se chama Lecumberri.
         55 – Longe da mãe, a principal das vantagens.
         56 – Paqueras aos jovens seminaristas.   “tem coisa melhor na vida do que desencaminhar um seminarista?”
         57 – Em Sevilha, os pais viajavam e os filhos ficavam com a Adela.   Filhos fazem uma festa para celebrar a liberdade, só que os pais chegaram um dia antes, em plena festa... sobrou alguma bronca para Adela mas os pais deixaram a festa continuar.
         Mudam para Genebra na Suiça.
         61 – Na Suíça, dependências da ONU e muitos diplomatas atuantes.   Na escola, discriminação de filhos de diplomatas de outros países.    Certo dia, na frente da comunidade escolar, a mãe de um aluno pergunta à brasileira se é muito difícil subir em árvores.    A menina, de bate pronto, responde:  - Claro que não!  E no meu país há elevadores bem mais modernos do que os seus por aqui.   Risada geral.
         Depois dessa, mãe e filho tomaram chá de sumisso.
         Boletim escolar.  Primeiro a mãe vê e dá a bronca e depois o pai assina.
         63 -  As aulas de francês.  Muitos poemas, inclusive de Victor Hugo.
         74 – termo curioso e popular.   Ela tem um amigo da pá virada.
         77 – Fazer colinha pra prova de química “em letra de formiga”
         85 – Ela tentando arte na escola e a professora não aprova nada.  Conselho do pai poeta:  Não siga o caminho mais fácil.  Arte é suor”.
         87 – Pais conversando sobre ela e ela escutando escondida.   A mãe acha que tudo é fígado, matéria.   Ele pensa em psiquiatra.    (anos 60)   Aqui na Espanha, psicanálise é proibida, dizem que é coisa de falta de fé.   Ela fica muito revoltada com os pais.   Achava que eles poderiam conversar mais com ela e não quererem enquadrá-la.
         O pai sempre compreende e sugere que ela comece a escrever.  Assim não terá professores para podá-la na arte.
         88 – Ela pelos cinquenta consegue conversar mais com o pai.  Logo ele morre e cai a ficha:  deveria ouvi-lo mais nas dicas para a vida e a arte.
         90 – Sair, na juventude, e ter que voltar antes das três da madrugada.  Pais colocam o despertador para três da matina e ela tem que chegar, entrar no quarto deles e desligar antes de soar o alarme.
         94 - … aceita seu destino: ser brasileira e morar no Brasil.
         95 – Anos 60/70.   Mulher no Brasil era pra casar, ser fiel, do lar e o homem pode pular cerca, etc.   Na Europa já havia mudado um tanto essa mentalidade.
         Anos dourados (anos 60) tempos de agito da juventude.  Peças  Hair e Oh Calcuttá!
         101 – Frase sobre o namorado que atua em cinema  (ele uns 16 anos mais velho que ela, desquitado): “Ao cabo de um mês, mudou-se para a casa dele de onde só saiu oito anos e dois filhos depois”.
         105 – O poeta João Cabral (pai dela) e família eram amigos de Dom Helder Câmara (então bispo).
         114 – Filha dela nasceu e recebeu o nome de Dandara.  A avó paterna não se conforma com o nome e torce para que não seja menina para fugir do nome escolhido.    Dandara foi crescendo e se tornou mandona.
         120 – O filho recebeu o nome de Sereno.   Coisa de bichos grilos dos tempos de hippies.
         123 – Um truque de mãe que inventou na hora das crianças irem dormir ou que deveriam ir.   Só deixa chamá-la de mãe até a hora combinada para dormir.  Depois desse horário, tem que chamar pelo nome da mãe.    As crianças entraram na linha e às vezes até iam dormir mais tarde, mas não perturbavam a mãe.
         126 -  Desfaz o relacionamento e avisa por telegrama o pai.  Ele dá força total a ela.
         129 – Ela perticipa da montagem do filme “O Amuleto de Ogum”.
         130 – Resolve ficar com uma mulher.  Tentar outras possibilidades.
         132 – O pai das crianças é omisso total, até em afeto às crias.
         134 – Agora ela tem um “ficante” que trabalha com ela em montagens de filmes.
         137 – A professora idiota que fica na marcação da filha dela que já é alfabetizada e não presta atenção na aula.    A mãe, após reclamação, orienta a filha. A filha leva o ano na boa e no fim a psicologa veio perguntar como a mãe solucionou o problema.   A mãe não queria responder, mas acabou dizendo:   Eu falei pra filha que a professora era uma idiota (não ver que a menina já sabia ler) ...e que ela fizesse tudo direitinho sem incomodar a professora.
         140 – Ela é da geração “bicho grilo”, anos dourados.  (anos 60)
         Hippies, pílula, LSD, etc.
         142 – O problema de punir a criança sem explicar o por quê.
         146 – Um dia ela leva o filho de sete anos para visitar o avô dele.   Na casa do avô poeta, dois amigos estavam presentes.   Otto Lara Rezende e Rubem Braga.  O menino de sete anos tinha lido um conto de Rubem Braga  “A triste história do tuim”. O autor ficou lisongeado e o Otto Lara ficou com ciume.   Gostaria de escrever algo que fosse lido e compreendido inclusive pelas crianças.
         156 – O velório do pai na ABL Academia Brasileira de Letras no RJ.   Os figurões e os holofotes das Tvs.   E ela num canto só observando as falsidades e egos.
         Citou inclusive o episódio dos mortos da queda do avião com o time da Chapecoense.   Que o Temer foi a Chapecó e a turma da segurança convidou os parentes dos mortos para irem ao local onde estava o presidente para os cumprimentos.   Um dos pais disse que não ia porque o Temer era só o presidente e não tinha nada a ver com a família e o momento deles.   -  Eu não vou.  O velório é aqui. Se ele quiser, que venha nos cumprimentar no velório.
         159 – Como ela conseguiu enquadrar o filho de dezesseis anos que andava mal na escola, fumando maconha inclusive no momento de estudar pra prova do dia.  Ela deu a bronca e desafiou ele a sair de casa e se virar.   Ele disse que iria passar a pousar nas marquises, logo no RJ onde o perigo é vinte e quatro horas por dia.   Ela combinou diferente:   Você vai entar pela porta da cozinha, preparar sua comida, lavar suas roupas e dormir no seu quarto sem importunar ninguém.   E assim se fez.   Um dia após ele fazer um café veio perguntar pra mãe se ela aceitava um gole. 
         163 – Ela, cineasta, recebe uma encomenda da Pastoral da Criança, um filme curto e de muito baixo orçamento.   Ela topa a parada e mãos à obra.   Num dia das filmagens, conversa com uma mãe.    A mãe preocupada com o filho jovem e o risco dele querer um tenis de marca e cair na mão de traficantes.   Ela pergunta se essa mãe tem filha.  A mãe diz que tem, as que com elas não se preocupa.
                   Tenho sim, duas.  Mas com as meninas é mais fácil.
                   Mais fácil?
                   Claro.  Se uma menina quiser uma roupa cara, basta abrir as pernas. Depois, lavou, tá novo.

                                            Espero ter despertado a curiosidade dos leitores para lerem a íntegra do livro que é feito em mini contos de uma a duas páginas cada.   Todos ricos em conteúdo e bem objetivos na forma de expressão.   Recomendo muito.
                           www.resenhaorlando.blogspot.com.br