RESENHA DAS FALAS NO
EVENTO “GÊNERO E RESISTÊNCIA”
Realizado dia
11-03-2019 no Teatro da Reitoria da UFPr de casa lotada
O
grupo que vem realizando estudos, articulações e debates sobre o tema tem no
Face a página politica.por.de.para mulheres
O
público foi estimado em 95% de mulheres.
Muitas delas, estudantes, professoras, algumas acompanhadas das
crianças.
Na abertura a cantora Marinalva Gonçalves da Silva cantou
à capela uma música engajada. Umas
palavras que captei da letra da música.
... não queria assistir o fracasso do bom... o triunfo do mau. .... eu decidi servir...lutar e construir. Por isso, Curitiba, eu estou aqui. (muito aplaudida).
Duas professoras da UFPr que vem ajudando nas
articulações e seminários sobre Gênero e Resistência falaram na abertura e
depois passaram a palavra primeiro à Professora
Diva Guimarães e em seguida para a Manuela
D´Ávila, esta jornalista, que foi vice do Haddad na campanha de 2018 para
Presidente da República.
Consta que o evento teve a transmissão pelo canal de TV
da PFPr e deve haver o material no site respectivo.
Na fala da Professora
Eneida Salgado explicando um pouco das atividades dentro do foco do fazer
política. Laboratório / observatório /
oficinas. Destacou que estamos com
vinte anos de cotas para a mulher na política (disputando eleições) e tem sido
insuficiente. Busca-se estudar o por
quê? No que melhorar. Em 2017 fizeram o primeiro curso de formação
política para mulheres. Houve demanda
crescente. Na chamada mais recente,
houve 1.647 inscritas. Um alento. Saiu um livro dos encontros da
pesquisa. Ela encerra a fala com os
dizeres: Política faz meu gênero.
Ao citarem uma poeta, deixando claro que o termo já é
feminino, destacou algo da nossa poeta Alice Ruiz. ...”mulher, via um futuro grandioso a
quem eu tocava. Um dia eu me toquei”.
Foi convidada pelas mulheres do parlamento da Bolívia
onde 51% das cadeiras são ocupadas por mulheres. Até estranhou o fato delas requisitarem a
palestra lá, mas as parlamentares bolivianas disseram que apesar de serem
maioria no parlamento, mesmo lá entre os pares elas são vistas como pessoas
subalternas, o que é uma pena. Há ainda
muito a caminhar por lá também.
Dito isso, levantou o punho cerrado e disse: Vamos
Resistir. A plateia toda fez coro. “Vamos Resistir”. Falar de gênero é falar de resistência.
Fala da Professora
Diva Guimarães, 78 anos de idade, professora e fisioterapeuta, dedicou a
vida ao ensino. Negra, neta de
escravos, viu na mãe um exemplo de resistência e luta. A mãe nasceu em 1907 em
Jacarezinho-PR. A mãe dela, menina de sete anos, entregava
leite na cidade e ficou sabendo de uma professora e pediu para ela ensiná-la a
ler. Um dia o pai dela descobriu e deu
uma bronca enorme nela e a proibiu de continuar porque entendia que ela iria
passar a ter problemas com o povo da época, pela década de 40.
Nos tempos que moravam em Bandeirantes-PR, a mãe atuava
junto à Igreja Católica e sempre lutando pelos mais fracos. Espalharam o boato de que ela era
comunista. Passou a sofrer
segregação. Quando ela quis batizar a
Diva aos quatro anos e meio, a igreja local não aceitou. Teve que fazer o batizado na vizinha
Andirá-PR e na hora de batizar, o nome de Diva deu enrosco, porque “não tinha
nome de santo”. Mais uma batalha, mas
foi batizada.
Estudou primário, ginásio e parte dos estudos em colégio
de freiras. Sempre segregada e tendo
que se defender. Foi inclusive atleta
de basquete e disse que treinava bem mais que as colegas para ser aceita. No primeiro tempo do jogo, era vaiada por
uns, mas depois que viam que ela jogava acima da média, passava a ser
aplaudida. Uma luta de cada dia.
Teve muitas professoras, mas foram cinco que fizeram a diferença na vida dela pelo lado positivo. Disse que professora pode ser um deus ou um
diabo na vida de um aluno. Pode ser
incentivo ou fator de desânimo. Faz
cicatriz na alma e cicatriz na alta não tem cura.
Aos dez anos de idade ela leu um livro sobre Lampião e se
identificou com a luta dele e usa como inspiração.
Aqui em Curitiba ela como professora passou em segundo lugar
num concurso e poderia ter escolhido dar aulas no Colégio Estadual do Paraná,
de destaque, mas optou pelo colégio de periferia lá do Valetão onde estariam
seus iguais. O pessoal estranhou a
escolha dela, mas ela tinha em mente que na periferia poderia fazer a diferença
para alunos de baixa renda. Se ela
chegou lá em termos de estudo e profissão, que eles também tinham potencial
para chegar lá.
Numa retrospectiva da luta do negro no Brasil, lembrou
que em 1837 criaram lei que negro não podia frequentar escola. Houve
estado do Brasil no qual essa lei veio sendo executada na prática até
1950. Pela lei das Terras, de 1850, foi
determinado que terra seria vendida e assim negro não teria acesso à terra para
produzir e viver.
Mudou a chibata.
Antes era do feitor, mais modernamente é o cassetete que é usado nas
periferias contra pobres em geral e negros em particular. Costuma-se dizer que o negro é invisível,
mas na hora de perseguição pela polícia à noite, conseguem ver preferencialmente
os negros com suspeição e discriminação.
Aos 78 de idade, ativa e muito lúcida, é um exemplo de
resistência e luta. Ela não perde a
esperança na educação. Foi longamente aplaudida em pé por
todos. Emocionante!
Fala da Manuela D´Ávila
Diz ser um privilégio fazer o que ela faz. Mulher, mãe, jornalista, militante. Luta e Resistência.
Leu trecho de um poema de uma poeta da Nicaragua que
chegou a ser Secretária da Educação no governo sandinista.
Uns pequenos trechos que captei. .... não percas a compaixão... nadar
contra a corrente.... uma mulher forte.
No Brasil morrem 62.000 pessoas assassinadas por
ano. Muitos deles, jovens, pobres,
negros.
A Revolução Francesa trouxe alentos da liberdade,
igualdade e fraternidade, mas na prática as classes e “raças” sempre em luta.
Destacou que a sociedade em geral está num contexto de
consumismo exacerbado. As novas
tecnologias desempregam. O sistema
econômico mundial está em colapso. O
sistema gera novas formas de Colônias.
Há descarte em massa de camadas da população.
Ela acredita em
Deus. (a Direita anda postando na
internet que ela não acredita em Deus).
Os primeiros a serem punidos por este sistema econômico
são as primeiras, as mulheres.
Ela está aos 37 de idade. Aos 25, da luta estudantil, acabou
disputando uma vaga a deputada federal pelo RS e foi eleita com meio milhão de
votos.
Destacou que o congresso congelou (aprovou isso do
Executivo) o orçamento por vinte anos.
Os programas sociais tem restrição de verbas. Mães precisam de creches para colocar as
crianças para poderem trabalhar. Corte
de orçamento afeta a vida do povo em geral e da mulher em particular.
A mulher se emancipar.
É importante estar na cabeça da pessoa isso, mas tem que haver condições
materiais para isso e políticas públicas tem que estar no contexto. Um dos exemplos é a demanda por creches.
Ela destaca a luta das mulheres paranaenses. Tem que se encarar o problema das
desigualdades. A Manuela é dos quadros
do Partido Comunista e destaca que a questão de classe é levada muito em conta
nisso tudo.
Estamos vivendo um período difícil na política
brasileira, mas ela até para manter a cabeça em dia, viaja pelo Brasil a convite,
proferindo palestras como forma de Resistência.
Ela inclusive divulgou e autografou o livro REVOLUÇÃO
LAURA.
“Precisamos continuar acreditando no Brasil”. Amor, empatia, solidariedade. Ingredientes da resistência. Depois
disso tudo, que venha a primavera e que ela seja nossa. Aplauso geral. 21 h
Anotações pelo Engenheiro Agrônomo Orlando
Lisboa de Almeida
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