Anotações pelo
Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
Data: 15-05-2019 –
durante a Semana Nacional dos Museus
Local: No Museu do
Saneamento da Sanepar no bairro Tarumã em Curitiba
Palestrante: Dudas
que é Coordenador de Resíduos Sólidos da Secretaria Estadual
de Desenvolvimento Sustentável e Turismo. (cujo Secretário é o
Sr. Marcio Nunes)
Tema: História
do Rio Belém que percorre a zona urbana de Curitiba e as
degradações ao longo do tempo pela ação humana que usava e usa o
rio como depósito de rejeitos
No preâmbulo da fala
do Dudas que é um excelente comunicador, ele fez uma abordagem de
vida que inclui percalço grave, superação, preparo para “voltar
ao jogo” e conquistas na carreira. Entendo que vale registrar aqui
de forma sintética. Ele está pelos 50 de idade e em fevereiro de
2015 sofreu um grave AVC no qual perdeu a função de metade do
cerebelo, ficou cego temporariamente de um olho (que depois se
restabeleceu a visão), perfuração no coração com mistura do
sangue arterial e venoso que o deixou azul por tempos, perda de
equilíbrio. Seis meses de UTI fora o tempo de readaptação geral.
(brinca: Dudas Sauro – O Retorno)
Passado tudo isso, foi
se reinventando com foco nos estudos e muitas leituras. E
valorizando cada pequena conquista do dia a dia com justa razão
depois de tudo o que passou.
Estando como
funcionário da área de saneamento, focou o estudo no tema dos
resíduos sólidos urbanos e fez pesquisas na literatura envolvendo
inclusive a história da região em foco. O recorte da abordagem de
hoje foi o Rio Belém que nasce em Curitiba, corta o centro da cidade
e em parte foi “sepultado” (coberto por concreto) e por cima dele
passa parte da Avenida Cândido de Abreu, o Passeio Público e segue
pela Avenida Mariano Torres rumo à Rodoferroviária, nas imediações
desta, volta a ser a céu aberto.
Cumprimentou e
apresentou a equipe que lida no ramo de resíduos sólidos, dentre
estes, o Eng.Agrônomo Rui Muller que acompanha a questão de
resíduos de agrotóxicos.
Mostrou um desenho de
uma estrutura que tem na base a EDUCAÇÃO, logo acima, o
COMPROMETIMENTO e nos patamares acima em sequência: GERAÇÃO DE
EMPREGO E RENDA (com resíduos sólidos), MÍDIA E MARKETING,
OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS (no topo). Ou seja, os resíduos sólidos
são graves como problema ambiental mas podem ser processados
adequadamente e gerarem produtos e renda. Passa de limão para
limonada.
Falando um pouco do
comportamento do “humanoide terráqueo...” - o pior bicho do
planeta. Nada agrada o tal. Suja as praias, depreda a Natureza.
O cara vai pra praia,
leva o isopor cheio de latinhas de cerveja, passa lá um tempão e
não vai ao WC mesmo tomando todas... Onde faz o xixi? Isso
mesmo: na água. E depois reclama que a praia está muito
poluida...
Lâmpadas usadas. A
lei em vigor diz que devem ser recolhidas e os fabricantes ou
importadores tem que dar a destinação correta às mesmas. As
prefeituras do PR recolheram uma enormidade de lâmpadas e não
conseguem dar destinação. Tem custo. E elas ficam proibidas de
colocar dinheiro público para uma solução que por lei cabe à
iniciativa privada. A Abilume que
é a entidade que congrega os fabricantes e importadores de lâmpadas
não tem feito a parte deles.
Para
ilustrar que todos nós somos produtores de resíduos, mostrou
inclusive uma divisão celular no início da vida humana. Disse que
o primeiro órgão que surge é o ânus, ou seja, o orifício de
saida de resíduos. Depois é que vem a boca e demais órgãos.
Todos somos parte do problema dos resíduos e teremos que nos sentir
parte da solução.
Em
campanha sobre conscientização para a destinação correta de
resíduos sólidos, a Sanepar fez convênio inclusive com a Yotuber
Iara Capraro (de Morretes-PR)
que tem uma legião de seguidores. Ela é uma formadora de opinião
e ajuda na campanha pela destinação correta de resíduos sólidos.
Na
busca de revitalização do Rio Belém, uma das etapas foi buscar um
tanto da história do referido rio. E o palestrante encarou a
tarefa. Mostrou uma série de dados sobre o tal. Seguem alguns:
em 1857 aparece um mapa de Curitiba detalhando a presença do Rio
Belém em destaque. Mostrou outro mapa localizando onde ficaram as
colônias dos europeus que migraram para Curitiba, como Alemães,
Poloneses, Italianos e outros.
No
século XIX a exploração da erva mate, que já vinha de mais tempo
em toda a região, estava em grande atividade. Curitiba era uma
das cidades onde havia empresas que processavam a erva mate para
destinar em parte ao escoamento via Porto de Paranaguá. Em
1873 já estava aberta a Estrada da Graciosa
e então era uma das rotas de comércio da erva mate.
1876
– Lamenha Lins era o Presidente da Província do Paraná. O
Rio Ivo que cortava o bairro do Batel foi canalizado e então todo
resíduo gerado nas imediações se concentraram no Rio Belém.
1880
a 1885 foi o período da construção da Estrada de Ferro Paranaguá
a Curitiba, já que ela se iniciou no litoral e subiu rumo a
Curitiba. Estrada pronta, estação perto do Rio Belém, nova
pressão sobre o Rio com dejetos gerados nos vários hoteis e
hospedarias que se formaram no entorno da Estação. E havia então
as estrebarias para cavalos, já que o transporte até então eram
predominantemente a cavalo ou carroças. Animais que também
geravam resíduos e que iam parar no Rio Belém.
Estrada
de Ferro – foi desafiadora e feita em tempo relativamente curto,
subindo os mais de 900 m de altitude da Serra do Mar. Um enorme
desafio da engenharia. Trilhos e pontes de ferro vieram da Bélgica
e aqui foram montados. Boa parte da obra ficou a cargo dos
Engenheiros Rebouças, irmãos negros formados na Europa, filhos de
pai branco com mãe negra. O pai era um dos conselheiros do Rei.
1899
– Fizeram um matadouro de bovinos e suinos perto do Rio Belém e
todo rejeito ia direto para o Rio.
1910
– Cândido de Abreu visita Paris e se encanta com um portal de lá
e resolve fazer uma réplica do mesmo no nosso Passeio Público. O
curioso é que o portal lá de Paris é de um cemitério de cães
datado de 1899.
Para
mostrar que não é de hoje que o povo é descuidado para o meio
ambiente, ele citou que o uso de penicos teria vindo de uso de
embalagem de manteiga. Os patrões consumiam a manteiga e a
embalagem passou a ser usada pelos escravos como penico para uso
doméstico. A prática acabou sendo adotada depois pelos patrões e
pela população urbana em geral da época.
1975
- Assinado documento que tratava de obra de “sepultamento” de
parte do Rio Belém, escondendo apenas os problemas do mesmo com a
deposição de resíduos ao longo do tempo. A obra ficou pronta em
1977.
Uma
agravante a mais: No passado foi liberada uma área e construido um
cemitério no Bairro Cachoeira (Curitiba) justo acima da cabeceira da
nascente do Rio Belém. Mais de 3.500 sepulturas há no local.
Ele
ironizou: O humanóide destroi mas tem piedade da coisa. Ele
escreveu um livro sobre o rio Belém e na hora do título colocou:
Rio Belém
“O desgraçado”
Consta
que muitos ficaram indignados com o título, mas ele no conteúdo
explica a razão do nome da obra.
Na
fase final da palestra destacou que foi num grande evento de designer
em Miami e havia fila para ver a obra primeira colocada no certame.
Uma instalação com uma pia de WC e algo como uma massa marron que
entrava pela torneira da pia e saia pelo sifão e deste, entrava num
vaso sanitário. O caminho do resíduo...
O
mote é conhecer nosso meio ambiente, ver como nos relacionamos com o
mesmo e os cuidados que devemos ter para que o mesmo seja preservado
até para perenizar as condições de vida para todos os seres.
Todos. drsparana@gmail.com
(e maildo Dudas)
Caro Orlando. Gratidão pelo relato. Nos que trabalhamos com a infância (jardim Cabana dos Brinquedos) temos pensado muito no tema e, confesso, o seu texto promoveu novas reflexões. (Daniel Almeida)
ResponderExcluirSegue o link de uma matéria que fiz e que tem um estreito laço com o meio ambiente. https://resenhaorlando.blogspot.com/2016/03/santa-terezinha-do-itaipu-pr-ganha.html
ExcluirPerdão pela demora de um retorno. O blog tem temas bem diversificados, mas o foco é o risco dos agrotóxicos e as questões de meio ambiente. Até pela minha formação de Engenheiro Agrônomo. Na parte de resíduos sólidos urbanos, há uma série de anotações que fiz de reuniões com os Catadores. Eles fazem um serviço de utilidade pública muito meritório e que também merecem nosso apoio. Fraterno abraço a vocês.
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