FICHAMENTO DO LIVRO – O MEZ DA GRIPPE (1918 em Curitiba PR)
Autor: Valêncio Xavier – editora Cia das Letras – SP – 1998
Fichamento de leitura pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida. www.resenhaorlando.blogspot.com.br
Faço um curso de Patrimônio Histórico do Paraná, no qual se insere inclusive a arte em geral e a literatura em particular. Foco nos paranaenses natos ou não.
Numa das aulas no centro histórico de Curitiba no Solar do Rosário, o tema abordou a vida e obra de Venâncio Xavier que tem um trabalho um tanto heterodoxo em TV e mesmo na literatura. Este livro é mesclado de uma colcha de retalhos de recortes de jornais da época da gripe (1918) , poesias curtas, mórbidas e eróticas anônimas e tudo o mais numa apresentação meio caótica, fora da casinha. Li um exemplar da Biblioteca Pública do Paraná da qual sou sócio. Parece que o livro é raro em sebos.
Esclarecendo que ele coloca foco na gripe espanhola que assolou o mundo e teria matado ao redor de 50 milhões de pessoas e que no Brasil fez um estrago enorme em 1918. O vírus era uma variação do H1N1 que agora nos assusta e nos dá um toque de recolher. Só lembrando que o nome da gripe, ironicamente teria vindo da geopolítica, ou seja. As potências do norte estavam na primeira Guerra mundial e a doença teria chegado lá pelos soldados americanos e se espalhou pelos hospitais de campanha, trincheiras e nas populações. A Espanha ficou neutra nessa guerra e por ser uma monarquia parlamentarista democrática, divulgava o que lá ocorria pela imprensa enquanto os países em guerra omitiam as notícias inclusive para não desanimar as tropas em combate. Assim sendo, a gripe de 1918 foi injustamente batizada como gripe espanhola.
Então vamos voltar aos relatos do Venâncio Xavier sobre a gripe espanhola aqui em Curitiba em 1918. Ele usou inclusive notícias de jornal da época para coletar dados e relatos.
Página 23 – Em 1918 já havia a creolina Pearson como uma opção de desinfetante de ambientes. Tinha um cheiro forte característico.
P.24 - Alemães em guerra capitulando em 1918.
26 – Curitiba com população perto dos 80.000 habitantes em 1918.
26 – Além da gripe que matava, também a febre tifoide ainda fazia vítimas fatais por aqui.
27 – No Rio de Janeiro a gripe espanhola ganhou o apelido de puxa puxa mas o autor não explicou o motivo do apelido. Se puxava a pessoa para a cova...
28 – Fim de Primeira Guerra Mundial na Europa e alguns alemães aqui moradores desafiavam as pessoas. Cantavam, alguns, o hino deles por aqui em plena guerra. Um dia um grupo foi preso por isso. Na ocasião eles estavam acompanhados das esposas. No momento a polícia ficou no imbróglio de como as mulheres deles voltariam para casa. Ofereceu policiais para acompanha-las. Elas recusaram a oferta e preferiram ir pra casa sozinhas. A fonte : o Jornal do Commercio do Paraná.
28 – Além de mortes por febre tifoide e da gripe espanhola, aqui em Curitiba de 1918 havia morte por tuberculose, lepra.
29 – Recado do cotidiano de então no jornal da cidade: Precisa-se de uma mulher para viver com bom homem solteiro. Rua Saldanha Marinho, 168 (das 5 as 6 h da tarde)
29 – O autor coletou depoimentos da Dona Lucia (em 1976) que viveu o tempo da gripe espanhola. Ela narra o que vivenciou.
32 – Fala da notícia de jornal anunciando a inauguração em 1918 de Majestoso prédio do Hospício em Curitiba.
33 – A polícia censurou os jornais daqui sobre a gripe e os mortos.
Depoimento da Dona Lucia: No começo, caixões e mortalhas. Depois, levavam com os caixões, enterravam só o corpo e traziam o caixão para outro enterro.
34 – Na Rua XV – rua das Flores, havia a redação do Jornal do Commercio do Paraná. Tempo da Guerra e alguns dos alemães daqui afrontando as pessoas. O jornal cita inclusive o alemão e o livro também. O alemão Rodolfo André Damm veio até a parta de entrada do jornal na rua XV e fez cocô na porta em protesto.
35 – 1918 – o presidente do Brasil era Wenceslau Braz.
43 – Fala dos “elétricos” que seriam os bondes que circulavam em Curitiba. Pertenciam à South Brazilian Railway. Os bondes ficaram um tempo sem circular à noite pela cidade por causa da gripe.
44 – Aqui em Curitiba em 1918 havia jornal clandestino editado em alemão. Tinham contato por telegrama com grupos da Argentina. Cita fonte o Jornal do Commercio de 06-11-1918.
44 - No jornal. Alguém se referindo à gripe espanhola. ...Mas a senhora espanhola parece que não tem vontade de deixar ninguém em paz.
45 – O armistício da Primeira Guerra Mundial foi dia 07-11-1918.
46 – Diz que além da gripe, repressão às notícias pelas autoridades e assim aumentam os boatos. Os boatos matam mais que a gripe.
46 – O prefeito de Curitiba em 1918 era o João Antonio Xavier.
49 – Doutor Nilo Cairo fala dos sintomas da gripe espanhola.
49 – Reclamações no jornal. “A cada enterro toca o sino na igreja do Rosário (no Centro Histórico). Com o cemitério logo acima, o sino tocando seguidamente e irritante... espalhando a apreensão, a mágoa e a tristeza.”
55 – Os versinhos obscenos entremeados no livro, destacados do jornal da época da gripe. Autor anônimo. Li e são mais fortes que os contos do Dalton Trevisan ( o do Vampiro de Curitiba).
64 – Poesias no jornal, apesar da gripe.
65 – Os bondes, parados no tempo da gripe, voltam a circular em 30-11-1918, num sábado.
67 – Balanço dos óbitos oficialmente documentados (1918)
Novembro 295 óbitos
Dezembro - 89 óbitos
Total de 384 óbitos em Curitiba com população de 73.000 habitantes.
Total de doentes em Curitiba pela gripe: 45.249 pessoas. Mais da metade de toda a população como se pode observar.
O boletim é assinado pelo médico Dr Trajano Reis, responsável pelo Serviço Sanitário da cidade.
72 – O episódio do louco no hospício que pegou a muleta de outro paciente e saiu acertando a cabeça dos que encontrava pela frente. Formou um aranzel no hospício. (meu pai, paulista do interior, usava o termo “aranzé”). Um bafafá...
Fala em certo ponto do uso do pó de arroz pelas mulheres. Cita em outro trecho o cineasta auto didata que andou fazendo quase sem recursos, alguns filmes aqui em Curitiba. Ele era conhecido por Maciste. Chegou a fazer filmes eróticos por aqui.
Li este livro em julho de 2019 e tudo parecia tão surreal e agora estamos vivendo em março de 2020 o sufoco do covid 19 que é uma variação do vírus da gripe espanhola. Naquele tempo, o atrapalho pelos boatos e hoje em dia os nefastos fake News que desinformam e colocam pânico nas pessoas de forma negativa. O povo precisa de informação e muitos cuidados. Todos nós esperando por dias melhores. Março de 2020.
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