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sexta-feira, 16 de março de 2018

Parte II - RESENHA DE PALESTRA - SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE AGROTÓXICOS - CURITIBA - PR - BRASIL - 15-03-18

 PARTE II RESENHA DE PALESTRA – SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE AGROTÓXICOS – CURITIBA – PARANÁ  (BRASIL)
     Tema:    Efeito dos Agrotóxicos à Saúde e ao Meio Ambiente
     Palestrante: Dr. WANDERLEI PIGNATI – Médico – Doutorado pela Fiocruz – RJ e Professor da UFMT    -   15-03-2018
     O nome da palestra dele:   Saúde e Ambiente – Pesquisas e Efeitos dos Agrotóxicos
     Anotações pelo Eng.Agr. Orlando Lisboa de Almeida – Curitiba – PR
     As nascentes do Rio Paraguai ficam no Mato Grosso em região de vastas monoculturas de soja transgênica.
    Havia em certo lugar na região de nascentes sete lagoas que após ação humana se resumem agora a quatro.  As demais foram assoreadas e hoje estão sendo ocupadas também por soja.
     Falou que no passado havia uma pressão para instalar usinas de açúcar e álcool perto do pantanal e em regiões da Amazonia e a pesquisadora da Embrapa de então, Debora Calheiros fez laudo que contra indicava a cultura de cana no entorno do Pantanal.    O chefe dela engavetou o laudo e ela não se conformou, levou o caso para o Ministério Público, este que barrou  as usinas de se instalarem por lá.    Ela foi demitida da Embrapa por isso e depois de um processo, conseguiu a reintegração no cargo.   Atualmente ela faz parte da equipe da Universidade Federal do Mato Grosso.     Agora o senador Blairo Maggi disse que é questão de honra e item da campanha dele, de derrubar essa proibição das usinas no entorno do Pantanal.  Uma ameaça ambiental.
     Disse que a cidade de Sorriso-MT que é considerada a capital da soja por ter a maior área de soja num só município,  teria esse nome porque se plantava muito arroz por lá.   Era Só Rizo, arroz.   Hoje, arroz só no mercado local.    É soja e soja transgênica.
     Alertou que a água está virando commodity, mercadoria, o que é uma ameaça à cidadania.    O governo federal está articulando mudança na lei de exploração mineral (o sub solo é da união e ela dá direito de lavra a terceiros) e aí se inclui a água e os aquíferos.  Ameaça de privatização e grandes corporações estão interessadas, como Nestlé, Coca Cola, etc.   Para complicar ainda mais, na nova lei de exploração mineral querem incluir até terras indígenas, permitindo exploração mineral no sub solo delas, o que é um absurdo
    Ele disse como médico que nós deveríamos estar fazendo vigilância à saúde (cuidando inclusive da prevenção) e na prática estamos fazendo vigilância à doença.  
     Disse que a empresa Nortox, grande fabricante de herbicidas, mudou de Arapongas-PR para Rondonópolis-MT.    O povo de lá está descontente com o risco ambiental.    E ironicamente conta que não se seguiram os protocolos todos do ramo para a instalação ao lado da cidade, na rodovia em frente a uma fábrica de cerveja (Itaipava) que está lá há 60 anos.   Duas atividades incompatíveis quase no mesmo lugar.   Risco em dobro.   
     Por lá tem muito gado, abatedouros e curtumes que usam no processo, muitos metais pesados que causam altos riscos ao meio ambiente.
     Destacou que houve recentemente aqui em Curitiba uma vistoria do pessoal da área da Saúde a uma única fábrica de agrotóxicos e nessa mesma inspeção houve 22 autuações diversas.    Risco aos empregados, etc.
     Aumentando demandas trabalhistas por contaminação dos trabalhadores por agrotóxicos e outros produtos químicos.
     Em toda a cadeia produtiva do agronegócio há riscos ambientais.   Desmatamento, erosão, queimadas, agrotóxicos, acidentes, etc.
     Ele tem e mostrou dados de contaminação com resíduos de agrotóxicos no sangue de pessoas da região agrícola do MT.    Inclusive indígenas de reservas estão com contaminação.
     Destacou que produtos primários do BR para exportação não pagam impostos, incluindo o não pagamento de ICMS.    Empresas e pessoas poucas enriquecem, o meio ambiente e os trabalhadores sofrem e pouco sobra para as comunidades agropecuárias além do dano ambiental.
     A lei Kandir há anos isenta inclusive os agrotóxicos de impostos e então fica para as comunidades só o ônus da produção.    Se houvesse impostos, estes poderiam ser usados na defesa da saúde, do meio ambiente, das condições de trabalho das pessoas.
     Citou o caso do município de Querência-MT que é adjacente à maior reserva indígena do Brasil.   Xingu.   Por lá se usa a média de 17,7 litros de agrotóxicos por hectare de soja por ano, além da soja ser transgênica.
     Na gestão do Blairo Maggi como governador do MT mudou a lei que preconizava o recuo da área de lavoura que não poderia ser pulverizada no entorno da zona urbana.   Eram 300 m e passou para os atuais 90 metros.  Insuficiente.
     Citou o caso do Fipromil, um produto que estava matando abelhas na região e que foi proibido.    Houve pressão dos agropecuaristas e voltaram atrás e o mesmo foi liberado de novo.
     Houve caso até de falsificação de homologação de agrotóxico que é potencialmente cancerígeno e foi liberado para uso no MT.   Há casos em investigação na PF Polícia Federal.
     Ele disse que a mudança da lei trabalhista veio deixar ainda mais vulnerável o trabalhador rural.
     Em Campo Verde-MT que é uma região de muita soja, havia 12 revendas (e estocagem) de agrotóxicos na cidade e estavam poluindo e pondo em risco a população.   O ministério público chamou as empresas e disso resultou um TAC Termo de Ajuste de Conduta pelo qual elas mudariam para fora da cidade.   As empresas compraram um terreno fora da zona urbana e lá edificaram suas instalações.    Mas antes, as empresas trucaram o MP e queriam provas de que estavam poluindo.    Pesquisadores coletaram amostra de solo nas revendas (pátio), a 100 m, 200 m, etc.   e em todos os locais deu resíduo inclusive em área onde há moradia de vereador, delegacia de polícia dentre outros.   Daí convenceu as revendas a mudarem.
     Disse que o “fumacê” para combate à dengue tem sido feito com uso de Malation a 30% de concentração.   É um produto pra lá de complicado.
     Ele como médico diz que gosta de estudar a água, até porque nosso corpo é 70% água.    Lembrou que não tem água nova no planeta.
     Na UE União Européia a tolerância de resíduo de glifosato na água é na casa de 0,5 micrograma por mililitro de água.    Aqui no Brasil é 500 microgramas.   Tolerância mil vezes maior.
     Tomando por base em dados disponíveis, diz que hoje  o maior problema da água no Brasil não é mais a questão de coliformes fecais na água de beber.    O maior problema são os resíduos de produtos químicos.
     Disse que no PR com seus 399 municípios, dos quais há relatório periódico de monitoramento de água potável, em 43 destes as análises mostraram água fora do padrão e o documento publicado cita apenas os que estão fora do padrão, mas não mostra dos que estão dentro, quais os índices de poluentes, que sempre há.    Os dados deveriam ser acessíveis mas não são.
     Mostrou uma foto denúncia de 2012 tirada por um belga e que foi mostrada na Europa e causou indignação.   Avião agrícola passando agrotóxicos em lavouras de soja e jogando produto inclusive em cima de aldeias indígenas Xavantes no Xingu.   Lastimável.
     Ele participa do Conselho de Saúde e como tal já participou em Brasilia de vários eventos inclusive no Senado.   Disse que uma vez ao apresentar o problema de contaminação do Rio Paraguai e que o mesmo vai afetar os países vizinhos, um senador teria dito algo tipo:   Azar deles!   Assim a gente dá um chega pra lá neles.
     A decepção foi tanta que ele diz que envia outro representante para Brasilia porque não tem mais estômago para aguentar esse tipo de comportamento não cidadão.   Resumiu a coisa assim:   Aquilo lá é um circo! – se referindo ao Congresso Nacional.   Muito triste.
     Disse que no Paraná há casos notificados de má formação fetal humana na casa dos 30/ 1.000 e há correlação com as regiões de soja onde se usa agrotóxicos em escala e produtos transgênicos.
       Este conteúdo está também no meu blog:    resenhaorlando.blogspot.com.br