RESENHA DA PALESTRA DO PROF.
MARCIO POCHMANN NO 11º CONSENGE EM CURITIBA – PARANÁ - 07-09-2017
Consenge – Congresso Nacional de
Sindicatos de Engenheiros
Assisti a palestra e fiz as anotações do
que pude destacar, dentro do entendimento que tive da fala.
TEMA: “Soberania, Desenvolvimento e o Papel do Estado
Brasileiro”
O palestrante é graduado em Ciência
Política e tem Doutorado na Unicamp em Economia. É pesquisador e professor da UNICAMP.
Revela-se o acirramento da luta de classes no
Brasil. Disse que no enredo do “livro”
da nossa história, o golpe pode ser apenas um capítulo de um conjunto de ações no
qual podemos tomar rumos positivos como resultado da luta.
Entre as décadas de 30 a 50 fomos o país
que mais cresceu no mundo, mesmo contrariando os interesses dos USA. Ele citou Osvaldo Aranha e seus planos para
o desenvolvimento do Brasil.
Diz
que naquelas décadas, o Brasil optou por um foco na urbanização e
industrialização. Estamos com 195 anos
de independência, mas sabemos que ainda há muita dependência.
Perdemos recentemente uma batalha, mas não
perdemos a guerra.
O trabalho é uma variável dependente da
capacidade de produção. Há uma visão do
trabalho labor, trabalho para a sobrevivência e que geralmente é alienado. Ele falou do trabalho heterônomo – pela
sobrevivência.
O Brasil hoje é produto de pressão que vem
de fora. USA – 2008 e o estouro da
bolha. Reflexo pelo mundo. Crise complexa. USA
deixa de ser a centralidade do capitalismo mundial. Perde parte da capacidade de produção e
trabalho; sua moeda perde força; suas forças armadas perdem poder relativo no
contexto global.
Antes dos USA, foi a Inglaterra a potência
mundial. Os USA passaram a potência
mundial do período das Guerras para cá.
O cenário atual é de MULTIPOLARIDADE de
poder econômico e político. Polos como
China, Rússia, Alemanha, Índia, África do Sul.
A China desponta. Lá fora, alguns países se prepararam para
suportar as pressões. Citou os casos,
como exemplo, de Turquia e Venezuela.
Reforço das forças armadas, mexer na formatação da justiça para ter
posição. Politizar a classe baixa da
pirâmide social. Quem não fez essa lição
de casa não tem resistido às pressões que vem de fora.
China e os outros tigres asiáticos formam
a nova Rota da Seda. Eles tem o capital de 26 trilhões de dólares (quase
o dobro do PIB dos USA que está na casa dos 15) para aplicar em outros
países. Essa hegemonia de capital gera
poder geopolítico.
O cenário também mostra mudança na
sociedade urbana mundial, Brasil no meio. (clique no local lindicado para abrir a continuação....)
O Brasil passa de comércio e indústria
para uma economia com predomínio do Setor de Serviços. Muda muita coisa e a sociedade se
reorganiza. Ascenção dos Pentecostais
no Brasil.
Superamos a fase agrária e nossa indústria
se assenta em ofícios, inclusive numa herança dos imigrantes que para cá
vieram. Nos anos 20 a 50 do século
passado, vem a industrialização e surgem os sindicatos. Estes que ocupam na época espaço de
socorrer o trabalhador em tudo:
Política, assistencial, previdenciária, etc.
Anos JK Juscelino (década de 50) - Plano de Metas. Incentivou grandes empresas, tanto nacionais
estatais como indústrias multinacionais como a indústria de automóveis.
Luta por salários e condições de
trabalho. Fase de especialização dos
sindicatos. Se formam por categorias
profissionais. Metalúrgicos,
bancários, petroleiros, etc.
A luta política em nossos tempos atuais
não é mais via sindicato, este que perde a condição de formar quadros no tema
político.
Não há mais arte operária, gastronomia
operária, poesia operária, etc.
Estamos migrando para o mundo dos Serviços
e isso muda muita coisa no mundo social e no mundo do trabalho. As estruturas atuais, inclusive os
sindicatos, enfrentam uma sociedade nova e não entendem a mesma e não há
sintonia entre as partes. Destacou
que a economia global tem se transformado rumo à maior ênfase ao setor de
Serviços em detrimento da indústria e comércio, ao ponto do Brasil, após a
indústria e comércio representarem algo ao redor de 40% do PIB, voltar para ao
redor de 10%, índice próximo do que tínhamos em 1910, antes da
industrialização.
Estamos ficando “colados” via web e não
conseguimos nos descolar do trabalho pela ligação via internet, inclusive com o
trabalho. Tem aumentado o nível de
depressão e mesmo de suicídios.
Recente pesquisa demonstrou que em cada 10
pesquisados que entraram no mercado de trabalho, só dois se filiaram a
sindicato. Dos oito restantes, quatro
disseram que os sindicatos não os representam e os outros quatro acreditam na
ação sindical mas não foram “procurados” e se sentem meio órfãos do tipo de
apoio que esperam dos sindicatos.
O atual sistema de trabalho e suas
pressões. Trabalho intermitente,
etc. Nem a família, nem os sindicatos
abrigam o desempregado. Ao contrário, as igrejas (principalmente as
pentecostais) os recebem de braços abertos. Igreja dá pertencimento – lá as pessoas são
ouvidas em suas dores. Espaço coletivo
que interage com as pessoas.
Os sindicatos atuais só têm foco no
econômico. Já os patrões têm (via
entidades deles) tem até universidades para passar seus valores e interesses
aos trabalhadores.
Os sindicatos de trabalhadores não estão
abrindo o leque para ter mais sintonia com seus representados em termos
políticos, culturais, etc.
O governo atual está estrangulando
financeiramente o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos). Além do mais, dos
mais de 5.000 sindicatos, algo de apenas uns 700 contribuem com o DIEESE e os
sindicatos não tem departamento próprio para gerar dados sobre a base dos
trabalhadores e buscam isso no DIEESE para celebrar acordos. Usam dados do DIEESE e não ajudam no fomento
do mesmo.
O palestrante, diante do quadro adverso ao
universo sindical, fez mais uma colocação interessante para reflexão do meio. Os sindicatos comumente têm profissionais
de jornalismo em seus quadros e produzem bastante material, mas não há uma
articulação para terem mais potencial e de afinarem o discurso para enfrentarem
as adversidades e passarem as mensagens do setor, do mundo do trabalho. Na soma os sindicatos teriam mais
jornalistas que os maiores meios de comunicação do Brasil. Poderia ter mais penetração com uma
estratégia mais articulada. Ressaltou
também que em geral os sindicatos fazem pouca pesquisa para estabelecer
parâmetros para atuarem de forma mais adequada.
Citou o problema de falta de renovação nas
diretorias dos sindicatos. Falta
também haver mudanças na estrutura dos sindicatos.
Olhar o operário não só em seu local de trabalho. Olhar também para a situação dos empregados
terceirizados. Destacou que prefeituras
tem passado a buscar novos empregados via Menor Preço. Os concursos vão ficando para trás.
O desafio de reciclar e preparar melhor os
dirigentes sindicais e que estes conheçam melhor a realidade dos seus
representados.
Disse que em certos aspectos a direita é
mais ágil. Caso das igrejas e da
propaganda na mídia.
Os desafios são grandes e a vontade de
superá-los é maior ainda e o plenário cheio com os debates trazem essa certeza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário