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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

MINI CURSO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO - Prof. Dr. HELDER MOLINA - UERJ - PARTE 1

RESENHA DO MINI CURSO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO - PARTE 1
         Palestrante:   Professor Dr. Helder Molina, da UERJ
         Graduado em História, Mestrado em Economia e História e Doutorado em Ciência Política    (oriundo do Mato Grosso)
         Data e local:    30-11-2018 e 01-12-2018 no SENGE Sindicato dos Engenheiros no Paraná – Curitiba – PR
         Anotações pelo Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida

         Atualmente no âmbito nacional há duas federações da Engenharia, sendo uma a Fisenge , da qual o Senge do Paraná é filiado e a Fenae.  
         As duas federações tem suas diferenças, mas tem dialogado frente aos desafios que tem surgido inclusive com as mudanças conservadoras nas leis do trabalho que afetam os trabalhadores em geral e os engenheiros empregados em particular.
         Destaca que o mundo do trabalho é mais complexo que as relações de trabalho em si.
         Faz um histórico para resgatar as lutas dos trabalhadores ao longo dos tempos.     Diz que a crise é sistêmica e não começou no Brasil.   Destacou que a política normalmente tem grande dose de paixão.   Buscar separar um pouco o lado racional do tema.    A paixão não é sempre ideológica, podendo a pessoa estar sendo instrumentalizada.
         Faz vinte anos que ele está na UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro.   Torcedor do Botafogo do Rio.
         A utopia é uma busca que nos coloca em movimento e só termina com a morte.   Uma esperança militante.  Aos 58 de idade, motivado.   O que nos traz aqui no Mini Curso é o fato de sermos solidários.   Na busca pelo bem dos outros mesmo que os beneficiários não entendam a nossa luta.
          Disse que o pessimismo dele dura menos de dez segundos.   “A história se entende na longa duração”.   
         As coisas requerem certa paciência.    Relembrou que Marx dizia que a história se repete como fato ou como tragédia.    Os cenários vão se sucedendo numa correlação de forças.   Ganhar ou perder faz parte da luta social.    Ele assessora entidades sindicais paralelamente à atividade de Professor Universitário há trinta anos.   Vivenciou várias fases.   Muitos tipos de sindicalistas.     Classifica em dois grupos:   Os surfistas e os mergulhadores.   Os surfistas não entendem o fenômeno pelo olhar superficial.   Já os mergulhadores entendem os fenômenos em profundidade.
         (eu creio que essa classificação explica também um pouco do que percebemos nas redes sociais quando há debate político, por exemplo)
         Curso de formação, como este.   Buscar aprender a mergulhar.
         Os conceitos de esquerda e direita vem da Revolução Francesa.  Houve os que buscavam avanços e os que buscaram retroagir à condição anterior com monarquia absolutista e tudo o mais.    Ele disse que atualmente ser de esquerda ou de direita não é o que a pessoa se declara.   É o que ela pratica.
         Chama o pessoal que luta por mudanças no rumo da cidadania de Campo Progressista.     Disse que muitos dos que votaram no de direita recentemente tem algo de fascista mesmo não sabendo o que o termo significa.
         História -    Feudo – grande propriedade rural da época.   Um espaço privado, do senhor feudal e a mão de obra era pelos servos.  Feudo – campo; burgo – cidade.   No regime feudal a igreja mantinha aliança com os reis (monarquias absolutistas) e os senhores feudais.      Esse sistema feudal na Europa gerou acúmulo de capital que inclusive impulsionou as grandes navegações na busca de mais mercados e matérias primas.     Esse período marca o início do capitalismo (1400 a 1500).    Potências da época:   Inglaterra, Holanda, Espanha, Portugal, etc.
         Grandes navegações e “descobertas” de novas terras para expansão da atividade capitalista – mercados e busca de matérias primas.   Foi o início da Globalização.
         Nessa lógica, Portugal vem à América na busca de abrir mercado, explorar riquezas naturais, matérias primas.   Usou e abusou do trabalho escravo.  
         Lula e Dilma tentam mudar a lógica de nós sermos colônia.  O Brasil de então apoiou o BRICS – Brasil, Russia, Índia, China e África do sul.   Incluindo a meta do Banco de Desenvolvimento criado pelos BRICS.  Afeta os interesses da potência mundial e vem o castigo.   Dilma deposta e Lula preso.
         O mundo moderno está sob a égide do capitalismo.      Um dos cientistas que estudou em profundidade isso foi Marx.   Sugerida a leitura do texto do Manifesto Comunista, parte 1 – Burgueses e Proletários (oito páginas) .     Destaca que o mundo gira à base da lógica do mercado.     A Europa expande seu comércio para o mundo dentro do modelo capitalista.
         Mudança do sistema produtivo – Revolução Industrial.
         No feudalismo havia um equilíbrio entre campo e cidade.   Mas as mudanças no sistema produtivo com máquinas a vapor, etc. impulsionaram a produção e produtividade e a riqueza concentrou mais na cidade que no campo, esvaziando os feudos e florescendo a burguesia nas cidades.  Muda também o eixo de poder.
         O trabalho no feudo era de baixa produtividade (pelos servos sem ganho) e estes trabalhavam ao senhor feudal uma média de 6 horas por dia.  Já a partir da revolução industrial inclusive com a luz elétrica nas fábricas, acelera a produção e a jornada de trabalho fica mais longa que poderia chegar a até 14 horas por dia.   E emprega homens, mulheres e crianças. 
         No campo a mão de obra ficava mais dispersa e nas fábricas, havia o trabalho coletivo e em ambiente restrito.   A mão de obra interage mais e é um fator inclusive de reivindicações.      O serviço fica sob supervisão de capataz.   Linha dura.   Jornadas de trabalho enormes.    A lógica da revolução industrial é produzir com alta produtividade, em grande escala e procurar ampliar mercados.    Esvazia os feudos e reforça os burgos.    Os senhores feudais (antes poderosos) passam a ser ultrapassados pelos burgos e os burgueses que detem o sistema de produção em massa.
         Essa ascensão da burguesia é também um salto político.
         Derruba os senhores feudais e caem os reinos com seus monarcas apoiados pela igreja e os senhores feudais.      A Inglaterra conseguiu a negociação para mudar o regime e preservar seus reis apesar de que os mesmos tem status mas não tem quase poder.     O mesmo ocorre com outros reinos como a Espanha, Suécia e alguns outros.    
         Sobre as péssimas condições de trabalho na época da Revolução Industrial sugere o filme Germinal baseado no livro homônimo de Emile Zola.   (filme dirigido por Gerard Depardieu).
         A vida média dos trabalhadores de então ficava na casa dos trinta.  Nessa época explode o uso inclusive da mão de obra infantil.   Período de desajustes sociais com migração de pessoas da zona rural para urbana, a questão cultural, a escolaridade, etc.   Pessoas não se adequam bem ao novo sistema.   Conflitos.    O sistema é que produziu os inadequados, vítimas da dinâmica.     É comum estes serem taxados de sem iniciativa (culpados), etc.    Tanto se bate nesta tecla de culpar as vítimas que até estas acabam não entendendo o processo em si e ficam resignados na posição de culpa.
         A partir da Revolução Industrial se cria uma massa de deserdados.   Só se organizando é que podem sobreviver.   Aqui entra o papel inclusive do sindicalismo.
         A fábrica de um lado é o cativeiro do trabalhador, mas também é onde está concentrada a coletivização dos oprimidos.   Gera conflitos e busca de saídas.
         No feudalismo os trabalhadores estavam fragmentados e nas fábricas, estão concentrados.    Facilita a articulação.

............................... continua na matéria seguinte deste blog.

        


MINI CURSO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO E CENÁRIOS PARA O BRASIL ATUAL - DEZEMBRO/18 - Professor Dr. Helder Molina - UERJ (II)

 PARTE FINAL – MINI CURSO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO
E CENÁRIO ATUAL (DEZEMBRO/2018)
         Palestrante – Professor Dr. Helder Molina, da UERJ
         Graduado em História, Mestre em História e Economia e Doutorado em Ciências Políticas.
         Anotações pelo Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
         Dica de leitura do Professor:   “Mãe” – de Máximo Gorki
         Movimentos pré sindicais.  Três grandes movimentos.    O dos quebradores de máquinas – na Inglaterra do tempo da Revolução Industrial.  Eles não tinham uma pauta de lutas nem lideres definidos.  Algo como uma turba.    Um gesto coletivo.
         Cartistas -  Uma carta com as reivindicações.  Uma das primeiras pautas expressas:  Redução da excessiva carga horária de trabalho.
         No livro Germinal (de Emile Zola) consta que os operários saiam cedinho de casa e chegavam tarde da noite e não viam os filhos acordados.
         Os anarquistas  que articulavam os operários e tinham um projeto político.   Inspirados em teóricos como Proudon, Bakunin, Malaterra e outros.    Os anarquistas eram anti clericais porque na época a igreja apoiava os capitalistas que exploravam sem medida os operários.      No contexto está passagem do romance O Nome da Rosa, de Umberto Eco.
         Os anarquistas eram anti clericais, anti patronais e anti governamentais (contra o Estado).    Uma tese síntese:   Nada a perder, tudo a ganhar.
         Por quarenta dias os Anarquistas tomaram o poder em Paris na chamada Comuna de Paris.     Onde tem poder, tem conflito.   Há que ter alguma organização.   Os anarquistas negam a hierarquia.   Ao contrário, os comunistas primam por haver hierarquia.
         No Brasil
         Primeira fase -  Na fase da Revolução Industrial na Europa, o Brasil ainda estava na treva da escravidão.      Citando a escravidão nos USA, destacou o livro e o filme 12 Anos de Escravidão.  Recomendou.
No Brasil, pelo final dos anos 1800 começamos a receber imigrantes para substituir o trabalho escravo em certa medida.    Estes imigrantes trouxeram experiência dos ofícios e também da organização dos trabalhadores.    Com eles vieram as idéias do anarquismo, comunismo.   Em 1917 ocorre a Revolução Russa, que derruba o reinado dos Romanov.    Na época a Russia era um país pobre e operário.
Anarquistas se reciclam com os revolucionários comunistas e muitos assumiram o comunismo.
O PCB Partido Comunista Brasileiro, vem de 1922.   Os anarquistas no BR, de 1907 em diante.  Confederação Operária Brasileira – Anarquista.
No BR a luta operária desagua em Getúlio Vargas.    Este que é um homem do seu tempo histórico.      Na luta os trabalhadores conseguem arrancar do Estado as leis trabalhistas.   Nada caiu do céu.
1930 – rebelião da burguesia paulista (da riqueza cafeeira).   Partido Republicano Paulista. PRP.    Tentaram retornar à escravidão.
A república (1889) veio derrubando o Império porque este libertou os escravos, contrariando os poderosos de então, senhores de escravos.   A elite atrasada não é de hoje por aqui.
Na visão do Professor, a elite mais atrasada do BR é a elite paulista.
A CLT Consolidação das Leis do Trabalho, da era Vargas, era um pacto com setor da burguesia.   A que detinha o setor da indústria.   Tanto que o trabalhador rural ficou de fora da CLT.   O patronato rural, mais atrasado, não aceitou a CLT.   Só em 1988 a CLT passou a abranger o trabalhador rural.   (relativamente recente).
Vargas criou a CLT e nesta as normas sindicais e estas impediam que grupos políticos (anarquistas, comunistas) pudessem, mesmo sendo operários, ser da diretoria dos sindicatos.
Os anarquistas fundaram no Brasil os primeiros sindicatos locais.   Predominaram de 1922 a 1962.    A partir de 1962 ganha ênfase a ação dos comunistas no sindicalismo brasileiro.     
Nos anos 60 o presidente da URSS Nikita Krushev lança documento falando dos erros de Stalin e isto racha os comunistas do Brasil.   Uns continuam fieis aos conceitos de Stalin e outros não e há cisão, ficando então o PCB e o PCdoB.     Um de linha Stalinista e outro de linha Trotskista.
A URSS foi um polo muito importante de revolução de emancipação de países na América, África, etc.
Ele diz que a elite brasileira não suporta a democracia.    Ela gosta de regime fechado onde ela dita as ordens.    Na atualidade há forças de direita tentando por todos os meios colocar no escanteio o PT e os partidos de esquerda em geral.
O Estado em geral tem entre seus papéis, o de mediar o conflito capital e trabalho.
Resumindo as três fases do sindicalismo no BR:
Primeira fase – os anarquistas
Segunda fase – os comunistas
Terceira fase – trabalhista da era Vargas.  (PTB)
Vargas tenta certa dose de harmonia entre o capital e o trabalho.   Ele coloca o sindicalista Lula nesse contexto. 
Vargas estruturou o País para enfrentar o Imperialismo e criar uma Nação Soberana.   Criou a Petrobrás, siderúrgicas (Volta Redonda, etc) e muita infraestrutura.     O chamado período do Nacional Desenvolvimentismo .    (Da era Vargas).    Quer um projeto de Nação contra  o Imperialismo.   (custou a vida dele...)
Na Europa mesmo as elites concordam que os sindicatos são parceiros.
No Brasil a elite é contra os sindicatos e busca abrir as portas para nosso País voltar a ser colônia.   (Neoliberalismo)
O economista Paulo Guedes é da “Escola de Chicago”.   Ultraliberal.
Mais radical do que o Consenso de Whashington.
         Nos anos 60, o então presidente João Goulart (Jango) estava tentando implementar as suas Reformas de Base.   No contexto, mexeu com o sistema de remessas de lucros das empresas estrangeiras e foi o estopim para o Golpe Militar.       Quem nada contra a corrente dos interesses imperialistas dança.      (Vargas, Jango, Lula, Dilma...)     Mesmo o Collor com o discurso de que nossos carros eram carroças e ensaiou uma abertura do mercado no setor e puxaram o tapete dele.
         Tempos da Ditadura Militar – (1964-1985)    Abrimos o Brasil para o capital estrangeiro.   Nossa economia se internacionaliza entre 1974 a 1976.  Expansão do capital e arrocho salarial.       Como uma das reações, o levante dos empregados do ABC paulista   (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul).     Os sindicalistas ajudaram a levantar o povo pelo fim da ditadura.     Emerge no contexto o Novo Sindicalismo no Brasil que floresce nas lutas do ABC.  (1979 a 1981).    Em 1981 surge o movimento pró CUT Central Única dos Trabalhadores.   Em 1982 nasce o PT.   Em 1983 é criada a CUT.
         Em 1986, redemocratizado o Brasil (na base da mobilização popular), voltam à legalidade o PCB e o PCdoB.
         Em 1985 o movimento pelas Diretas Já.    1988 promulgada a nossa atual Constituição Federal.
         Em 1989 – Lula e Collor disputam eleição.  Collor eleito.
         Anos 1990 – Neoliberalismo com FHC no comando.   Fernando Henrique Cardoso  (PSDB)
         Até o ano de 1988 funcionário público não podia ser sindicato.   Criavam associações de defesa de classe.   É o caso da APP Associação do Professorado Paranaense.   Hoje APP Sindicato.
         O Brasil para sair do mito tem que derrotar o mito.
         Os países que historicamente se instalaram com partido único não foram muito longe porque sempre há contradições e diferentes classes.  E os consequentes conflitos.

         Sugestão de filme:    Linha de Montagem.
         Há também em pdf uma apostila do Mini Curso que pode estar disponível na internet.

             orlando_lisboa@terra.com.br    (41)  999172552

             Quem puder dar algum retorno sobre o texto lido, sempre anima este anotador e “fazedor” de fichamentos.           The End.