RESENHA DE PALESTRA COM O DR.EM
ECONOMIA MARCIO POCHMANN
Professor da UNICAMP de
Campinas-SP. Setor Cesit/IE
Anotações pelo Engenheiro
Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
O evento foi nas dependências do
Senge Sindicato dos Eng em Curitiba-PR
13-03-15
Organizador do evento: IDP
Instituto Democracia Popular
O evento contou com lideranças dos
movimentos populares de Curitiba e região metropolitana. O tema do evento foi: ESTRUTURA E MOBILIDADE SOCIAL
O IDP promoverá uma palestra com debate
por mês até o final deste ano, sempre em temas sociais de interesse dos
movimentos populares.
Os eixos do IDP – Direito à Cidade;
Direitos Humanos e Direito ao Trabalho.
O resumo da fala do palestrante Dr.Marcio
Pochmann
Na abertura da fala, ele destacou que no
momento (passeatas/protestos) tudo está
contaminado pelo “curtoprazismo” e o noticiário atual. Lembrou que aqui o plenário é um espaço
alternativo no qual dá para analisar o cenário de forma mais ampla.
No capitalismo há centros dinâmicos e
periféricos. Até os anos 90 os USA eram
o centro dinâmico e de lá para cá o eixo vai se deslocando para a Ásia, com
destaque para a China. Um dos elementos
a destacar é a moeda que até os anos
90 era o dólar e que passou a perder força no contexto mundial. Outro fator é a força militar, esta que os USA tem de sobra.
O Brasil tem uma das maiores zonas
costeiras do mundo e nosso petróleo a explorar está concentrado no mar. Por outro lado, temos pouca força de
segurança para garantir esse patrimônio estratégico. Como também temos pouca força de segurança
para a imensa fronteira seca com os países vizinhos.
Das 500 maiores empresas multinacionais do
mundo, mais de 200 são americanas, se bem que nem todas estão localizadas nos
USA. Os USA, de 2008 a 2014, período de
economia em baixa e em recuperação lenta, teve crescimento em todo esse
período, de 13%, o que daria uma média de menos de 2% ao ano. Nesse mesmo período porém, o mercado de
ações deles cresceu bem acima de 100%.
Por outro lado, a remuneração do trabalho lá caiu nesse período.
Os países emergentes estão tentando “sair”
dessa ordem mundial polarizada pelos USA.
Nesse contexto entra a articulação do BRICS, a busca de nova moeda para
as trocas, à margem do dólar; a busca de se criar nova empresa de Avaliação de
Riscos Países para ter alternativa às viciadas e desacreditadas que estão no
mercado mundial. As mesmas que não
alertaram (passaram batidas) com a bolha da sub prime dos USA.
Nesse contexto também entra a criação de
um Banco de Investimentos do BRICS como fonte de financiamento a países
emergentes.
A presidente Dilma se depara após a
eleição com fraturas em dois pilares.
Falência do sistema político brasileiro, que é ilegítimo. Foi bolado na Ditadura Militar por Golbery
do Couto e Silva e está de longa data superado. Os eleitos não tem sintonia com o povo e
seus anseios.
O sistema político atual permite por
exemplo que menos de 3% do povo (empresários) tenham 42% dos cargos de
deputados federais como representantes dessa categoria – empresários.
Média de gasto para eleger um deputado
federal no sistema vigente: 4 milhões de reais. É mais do que o parlamentar vai ganhar como
salário em todo o mandato. Uma conta que
não fecha.... A questão dos seus
patrocinadores de campanha e a relação entre eles no mandato.
Nossa população é de 52% de não
brancos e menos de 10% dos congressistas não são brancos. Não se sentem representados. O mesmo ocorre em relação à mulher.
Em resumo, o Sistema Político atual não
nos representa.
Segundo pilar com problema. O modelo de capitalismo. Começou com JK nos anos 50 no BR. Incentivo a grandes empresas privadas,
indústria automobilística, rodovias, etc.
Começa lá a relação viciada entre o mercado e o Estado. Assim continuou no Regime Militar. Continua até os dias de hoje. O que tem propiciado as chamadas
Máfias. Máfia na Saúde; Máfia na
Educação; Máfia no Transporte...
Lula e Dilma lutaram para manter o
superávit fiscal do BR. O então
ministro Guido Mantega lutava para que buscássemos em 2015 um superávit fiscal
de 2,5% do PIB. Agora a meta é de 1,2%
do PIB. Disse que a meta da equipe do
Aécio era de 2,5 a
3,5% do PIB (iria impor sacrifícios
aos pobres).
A idéia da Dilma era um superávit menor
para não afetar os mais pobres. No
governo Dilma o pais cresceu pouco, mas o pobre não sentiu muito. No mundo de 2008 a 2013 houve perda de 75 milhões de empregos. No mesmo período no BR houve aumento de 11 milhões de empregos. Para conseguir isso o governo brasileiro fez
concessões como renúncia fiscal, segurou o preço da energia elétrica e
combustíveis, etc. Foi positivo para
manter o emprego e renda do trabalhador, mas não ensejou crescimento à
economia. De 2013 para cá as medidas
tomadas pelo governo já não eram suficientes e terá que haver novas mudanças na
economia. Ele disse que agora é o
momento do País fazer escolhas.
Fez uma pequena retrospectiva de pressões
da esquerda e os poucos resultados no BR ao longo do tempo. Em 1926 a Coluna Prestes fez uma peregrinação e o
resultado concreto foi quase nulo. Em 1935 a esquerda forçou mas
houve golpe logo em
seguida. Em 1964,
idem, com instauração do Regime Militar.
Ele diz que a diferença é quando a esquerda reage.
Nossa sociedade é pouco organizada. Citou Getulio, que governava com pouco
apoio parlamentar e foi buscar força para governar no povo. Disse que o primeiro mandato do Lula foi
morno e no decorrer do mesmo estourou o Mensalão. O governo reagiu e se fez o PAC e
outras ações e o seu segundo governo foi melhor.
Lembrou que a Dilma lá no passado colocou
em risco sua vida na defesa do Brasil.
Poucos brasileiros fazem isso.
Falou que passamos da fase de criticar... agora a fase é de se lançar propostas.
Falou que a inflação aumentou
principalmente por conta dos reajustes de energia elétrica e combustíveis. O BR está com uma previsão de déficit nas contas públicas para 2015 na
casa de 100 bilhões de reais. A presidente lançou um conjunto de medidas ao
Congresso recentemente e estas foram rejeitadas pelo mesmo. É uma questão a ser resolvida entre o
Executivo e o Congresso.
Disse que o empresariado brasileiro, com o
real valorizado, está mais propenso a comprar fora do que fabricar bens
aqui. Assim gastamos divisas e se reduz
os empregos e impostos. Como está a
economia, se formos “crescer” vamos comprar mais lá fora, agravando a
situação. Por isso uma solução é desvalorizar o real em relação ao
dólar. Isto desestimula o empresário a
comprar lá fora e a alternativa é voltar a produzir aqui, gerando emprego,
impostos, divisas, etc. Falou que
seria normal o real desvalorizar até certo ponto em benefício da nossa economia
e evitar redução dos empregos.
Antes de FHC pagávamos ao redor de 1,8% do
PIB em serviço da dívida pública. Com
FHC chegamos a pagar até 12% do PIB, o que era um tremendo sacrifício
principalmente para os trabalhadores.
Do governo Lula pra cá, estamos pagando ao redor de 6% do PIB, que ainda
é alto, mas é a metade do que já se pagou.
Menos sacrifício.
A
Petrobrás é grande e gera ao redor de 13% do PIB atual. A problemática atual do Lava Jato afeta a
empresa e vai até certo ponto afetar nossa economia. Temos que olhar para o futuro. Estamos numa época no BR em que a
credibilidade dos políticos está em baixa, assim como as lideranças dos
trabalhadores, dos estudantes, etc. Fica
desarticulada a ação dos movimentos sociais para a luta, mas cabe o desafio.
Nós não estamos acostumados com a direita nas ruas no BR. Mas lembrou que a direita já foi às ruas em
várias ocasiões na nossa história.
Inclusive quando esta apoiou a Ditadura Militar de 1964. Ele
disse que ao menos dá para ver com mais clareza quem é da direita hoje.
Falou que a corrupção é grave e, claro,
deve receber combate implacável, mas pode não ser a questão central do BR. Precisamos de reforma política, reforma
tributária, etc.
O filho do rico está ficando mais tempo
fora do mercado de trabalho até fazer a faculdade e mesmo a pós/mestrado,
etc. Depois este acaba entrando no
mercado de trabalho com os melhores empregos e salários.
O Lula construiu seu governo apoiado pelos
derrotados (os pobres) dos anos 90.
Trouxe empregos, salários, moradia, etc. Antes do governo Lula, a massa de salários no BR era de 38% do PIB. Ao final do governo Lula, a massa salarial
era de 48% do PIB. O BR distribuiu renda no período, ao
contrário do que ocorreu com países como México e Colômbia que cresceram mais
que nós, mas não distribuíram renda.
Disse que Jango (João Goulart) propôs em
seu governo (1963) as Reformas de Base que eram excelentes para o País, mas
sofreu tamanha reação que resultou no Golpe Militar. Não teve apoio para implantar suas reformas
– necessárias, por sinal.
Temos que superar o medo de ousar. Deixar de ser governados pelos que já
morreram. Ousar.
Isto foi o que consegui anotar da fala
dele que deverá estar já no Youtube, ligada ao evento do IDP.
(março/2015). Eventuais falhas
aqui ficam por minha conta como anotador.
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