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sábado, 22 de junho de 2019

RESENHA DA VISITA AO ASSENTAMENTO CONTESTADO - LAPA - PARANÁ - 17-06-2019


       
Data: 17-06-2019 – parte da tarde
            Anotações do Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
            orlando_lisboa@terra.com.br    (41) 999172552  Curitiba – PR
            Fomos atendidos no local pelo prestativo Sr. Antonio Capitani e família
            Quem tinha uma agenda mais específica lá no Assentamento que está completando 20 anos de existência era o meu sobrinho que atua em Ong e foi conhecer o local e coletar dados para um vídeo sobre Economia Solidária e Sustentabilidade para um concurso a ser realizado em Santiago do Chile por ocasião de evento mundial na pauta do Clima.
            Eu fui junto porque desde longa data acompanho a luta (e apoio a luta) dos acampados e assentados desde o Noroeste do Paraná (Pontal do Trigre – Querência do Norte-PR, Copavi em Paranacity), visita duas vezes à Escola de Agroecologia Milton Santos em Maringá/Paiçandu-PR, além de duas palestras com o João Pedro Stedile em Maringá e alguns eventos aqui na UFPR com auditório lotado para tratar do tema da Agroecologia e Economia Solidária.
            Em Cascavel, participei também de um grande evento do MST e Via Campesina no tema da luta na questão agrária num inverno há aproximadamente uma década ou pouco mais.
            A fazenda antiga que hoje está dividida em uma série de propriedades da Agricultura Familiar pertenceu ao Barão dos Campos Gerais e fica localizada no interior do município da Lapa, em torno de 15 km a partir da sede do município por estrada de chão batido de boa qualidade.
            A antiga fazenda tem sua casa sede ampla em alvenaria e pedras e data de 1820 aproximadamente.  A casa está restaurada, em muito bom estado e funciona como um centro administrativo do Assentamento e contém um anfiteatro para eventos.    O casarão tem no porão parte da senzala e no pátio lateral há o local onde havia o tronco e que está documentado e em estudo pela UFPR a partir de documentos cedidos pela antiga proprietária aos Assentados.
            A fazenda pertenceu por último à empresa cerâmica Incepa e consta que foi repassada à União por conta de débitos federais.    Desta, passou a ser o Assentamento Contestado desde 1999.     A área total da fazenda é de aproximadamente 3.300 há.
            Há na estrutura local uma Escola Latino Americana de Agroecologia (desde 2005) com alunos do Brasil e de mais sete países vizinhos.   A escola conta com uma biblioteca bem estruturada.  Parte do estudo é teórico/prático na escola e parte o aluno passa na propriedade aprimorando e aplicando os conhecimentos adquiridos durante o curso.      Há uma lista, além dos professores regulares, de uns 200 professores voluntários que, segundo suas especialidades e demanda, são solicitados para aulas eventuais complementares no curso.
            Lema da escola pintado na fachada por iniciativa dos alunos, de forma coletiva:
            “Estudo / trabalho / luta e valentia / é a Escola Latina de Agroecologia”
            Há também escolas abrangendo até o segundo grau completo para os alunos das famílias locais, além de capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida.
   O Assentamento começou em 1999 com  108 famílias e por casamento de filhos, atualmente são 170 famílias no local abrangendo em torno de 600 pessoas ao todo. 
            Muitos fazem agricultura orgânica e outros optaram por agricultura convencional, mas atuam na forma de Cooperativa. 
            Fornecem por contrato produtos da terra inclusive para merenda escolar da região com foco em produtos orgânicos certificados.      Meta é de entregar 8 toneladas de legumes e verduras por semana e por conta de chuvas frequentes que afetam os produtos, estão conseguindo 6 toneladas por semana nestes dias.
            Informou que ao redor de 80% do que as famílias consomem, são produzidos aqui mesmo no Assentamento.     Alguns itens como trigo, sal e produto de limpeza vem de fora.       Estão com verba garantida para a construção de um moinho para fabricação de farinha de milho para consumo e comercialização do excedente.
            São organizados em dez núcleos de famílias havendo em cada grupo entre 8 a 16 famílias cada.    Em geral cada grupo destaca dois lideres, um homem e uma mulher.
            Cada grupo escolhe um nome de alguém que tombou na luta pela terra.
            No item infra estrutura contam com a sede (casarão histórico), armazém para fornecer itens de suprimento, escritório, fabrica de doces e compotas com câmara fria, agência de Correio, Posto de Saúde e campos de bocha e também de futebol.    Contam com quatro times locais.
            Há próximo à sede um conjunto de dois silos de alvenaria que é do tempo do tropeirismo, já que a fazenda ficava na rota dos tropeiros.
            O Sr. Antonio Capitani é uma das lideranças do local e foi quem nos recebeu e nos acompanhou durante toda a visitação.   Ele está após os cinquenta, filhos já casados, estudando História em Veranópolis-RS.   Intercala período de estudo com período de trabalho na propriedade junto com a família.    Ele faz agricultura, pecuária e agrofloresta orgânicos em sua propriedade.
            A escola de Agroecologia Latino Americana teria sido planejada num evento no RS no Governo Requião num evento que contou inclusive com a presença do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.       Ao escolher o local para a instalação, optaram pelo Assentamento Contestado que tinha boa infraestrutura e organização administrativa e técnica dos assentados.
            Consta que na fazenda ainda há valas de 1,5 m de profundidade que eram usadas antigamente como “cerca” para delimitar divisas de propriedade e de pastagens para os animais, quando ainda não havia disponibilidade de arame farpado.   Valas abertas com ferramentas manuais por escravos da fazenda.
            Eles tem um sistema de entrega de cestas semanais de legumes e verduras e frutas mesmo em Curitiba de forma regular.
            O Assentamento preserva extensas áreas de florestas naturais como forma de cumprir a lei vigente e mesmo há floresta acima do que manda a lei.
            Um problema meio inusitado que eles tem:   há pessoas que passam lá com carro e abandonam cães no local, sabendo que o pessoal do assentamento não deixará os animais à mingua.  
            Este foi um resumo da visita que teve as falas finais na residência do casal Capitani, sendo que nos serviram pão caseiro recém saído do forno com doce de abobora de produção local.    Ficamos muito gratos e muito bem impressionados com tudo por lá.     Vale a pena agendar uma visita ao local.

            Roteiro aproximado – (apesar que os aplicativos de navegação localizam a sede local) -  Quem vai pela Rodovia de Curitiba à Lapa, antes de chegar à cidade há um pedágio e imediatamente após o pedágio, há entrada à direita com placa indicando o Assentamento.   Daí segue por estrada de chão e numa bifurcação tem placa indicando para seguir rumo á direita e se chega à sede local do Assentamento)


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     Abaixo, foto da Casa sede com anfiteatro - casarão de 1820
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   Lateral do casarão
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Anfiteatro no Casarão
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detalhe da janela do casarão abaixo

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 abaixo - detalhe da parede exposta em parte para se ver a estrutura das paredes (1820)
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Abaixo - detalhe da pintura original do casarão
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  Abaixo, foto da parte de trás do casarão.   Aqui nesse porão era uma senzala para os escravos que serviam a casa em si.    Notar que foi feito recente um aterro no piso tornando o espaço de pouca altura.   Também o piso acima que era de assoalho foi adaptado para uso local atual.
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Abaixo, dois silos de alvenaria para guardar feno do tempo dos tropeiros.  Aqui era parte da rota dos tropeiros.
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Abaixo, local de fabricação de doces e compotas e de embalagem de verduras e legumes.

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