FICHAMENTO DO LIVRO – LAMPIÃO E MARIA BONITA
Autor: jornalista Wagner G.Barreira – Editora Planeta – 2018 – 224 p.
Livro lido em março de 2019 e fichamento pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida - WhatsApp (41) 99917.2552
Destaco que faz pouco tempo que estive visitando a cidade de Piranhas AL à margem do Rio São Francisco e na ocasião fomos até o local exato, do outro lado do rio, já em Sergipe, onde Lampião foi fuzilado junto com seu bando.
Já do livro – a lenda do sal. Segundo a qual um dia um do bando do Lampião reclamou da falta de sal na comida e Lampião teria mandado comprar sal e fez o cabra comer sal puro.
Página 14 – Cita o Anarquista Buenaventura Durruti e suas lutas. Inclusive dos catalães contra a Ditadura de Franco na Espanha. Buenaventura morreu em 1936 em luta, sendo contemporâneo de Lampião.
14 – Franco toma o poder na Espanha e instala uma ditadura iniciada em 1948, que perdura por quatro décadas.
14 – A primeira biografia de Lampião é publicada quando ele ainda estava nas batalhas. Tanto que ele chegou a ler a biografia e destacou as incorreções na visão dele.
14 – Estima-se em mais de 1.500 publicações sobre Lampião e o cangaço entre livros, artigos, filmes, etc. aqui e no exterior.
15 – A história de Lampião é ficção coletiva. Quem a constrói tem necessidades, convicções e ambições...
16 – A casa onde moraram os pais de Maria Bonita virou museu a partir de 2006. Fica no interior da Bahia.
16 – Documentos oficiais douram a pílula das ações da polícia no caso...
16 – “Com voz pausada, grave e baixa, deixa vazar o que interessa”. Sobre a forma de expressão de Lampião.
17 – Historiadora francesa. Coloca três certezas sobre Lampião. Pele escura, cicatrizes de batalha e um olho ruim. (usava óculos)
17 - ...”conheceu e negociou com o Padre Cícero. Tornou-se por ordem do religioso, Capitão do Batalhão Patriótico financiado com verbas do Estado brasileiro. (tentativa de se antepor à Coluna Prestes na região)
18 – Opinião de Rubem Braga (escritor capixaba): “Não creio que o povo o ame só porque ele é mau e bravo. O povo não ama à toa. O que ele fez corresponde a algum instinto do povo. Há algum pensamento certo atrás dos óculos de Lampião: suas alpercatas rudes pisam algum terreno sagrado”
21 – O pai de Lampião era almocreve e agricultor. Almocreve era uma atividade de alta confiança onde uma pessoa tinha uma tropa de animais e uma equipe preparada para longas caminhadas com riscos levando dinheiro vivo de comerciantes para compras no atacado para os referidos comerciantes.
21 – Expedita é o nome da filha de Lampião e Maria Bonita.
28 – As onze cabeças cortadas, duas delas de mulheres, Maria Bonita e Enedina, junto com as de nove do bando, incluindo Lampião. Foram colocadas como troféu nas escadas da prefeitura de Piranhas AL. (eu, leitor, estive no prédio da prefeitura que ainda é no mesmo local).
Cortar cabeça vem de longe e é uma das formas de impor grande humilhação ao inimigo abatido. E mais fácil de transportar para provar o feito.
28 – Cabeças expostas na escada da prefeitura dia 28-07-1938.
29 – Telegrama do tenente João Bezerra que comandou a chacina na madrugada, avisando da liquidação do bando.
Determinado pelo governo que as cabeças fossem enviadas para Maceió, distante 266 km de Piranhas. Na época o cortejo demorou quatro dias. Em cada cidadezinha que passavam, expunham as cabeças numa frente de igreja ou prédio público.
30 - Havia na época vários outros bandos em ação em toda a região até pela fraca presença do Estado no interior. As “volantes”, policiais itinerantes criadas para reprimir a violência rural.
31 – No caso da chacina de Lampião e seu bando houve um dedo duro. O local chamado Angico, onde houve a chacina, era na fazenda do sergipano Coronel Antonio Caixeiro, este que emprestou metralhadora para a volante policial.
32 – Coiteiro – quem dava abrigo aos cangaceiros. Positivo, nome dado a informante dos cangaceiros.
Corisco, o que escapou na chacina e era do bando, chamava a grota de Angico, onde houve a chacina de cova de defunto. Se fossem atacados, não tinham por onde fugir. (é a encosta que desce para o Rio São Francisco coberta de caatinga com muitos espinhos e um pequeno rio que não é perene. Seca em muitos períodos e do lado desse leito pedregoso, uma caverna rasa na qual estavam os cangaceiros acampados). Eu, leitor, estive no local.
33 – Sila, bem jovem, viu “luz de pilha” (farolete) longe e alertou mas acharam que era vagalume. Sila se safou.
A volante toda sediada temporariamente em Piranhas-AL para a perseguição. Eram 45 soldados armados.
34 – Os soldados, sabendo do local do esconderijo, se dividiram em quatro grupos, cada um com uma metralhadora Hotchkiss com apelido de “costureira”. Madrugada, chuviscando, nem os cachorros latiram. As tendas facilitaram a mira dos policiais. Eram14 tendas. Os sobreviventes falaram que ao todo o bando então estava em 36 pessoas no local.
37 – A polícia justificou a degola dos 11. Argumentou que havia soldados feridos e não dava para levar os corpos todos dos abatidos. E as cabeças, para comprovar que o bando não mais existia.
38 – No mesmo dia a notícia chegou ao RJ e ao jornal e no outro dia ao New York Times. (em 1938)
39 - As cabeças ficaram em vidros com formol até 1969 no Instituto Nina Rodrigues.
A neta de Lampião levou o crâneo dele e sepultou num túmulo da família em Aracaju-SE.
40 – Corisco ( vulgo Diabo Loiro), que não estava no acampamento, vingou as mortes e decapitou uma família. Em 1940 foi morto.
44 – A origem do nome Virgulino Ferreira da Silva. Do livro lunário de 1594 editado em espanhol. Fala da constelação da Virgem e disso veio o nome Virgulino. Nascido em 07-06-1897 em Serra Talhada PE.
45 – O pai, agricultor e pecuarista, que também atuava como almocreve, criava cabras, jumentos e gado e fazia pequenas roças.
46 – Na pré adolescência e mesmo na infância de Lampião a criançada brincava de lutas entre cangaceiros e as volantes (policiais). Só que não era a visão de bandidos e mocinhos, do mal e do bem. O cangaceiro era visto como quem resolve entreveros de conflitos entre famílias, etc. Eram respeitados na comunidade.
Muitos cangaceiros atuavam na comunidade como justiceiros, substituindo a justiça e a polícia que eram ausentes nos lugares remotos.
... muito comumente atuando como justiceiros a serviço dos grandes proprietários e chefes políticos da região.
46 – 1910 – naquele tempo todo mundo tomava partido dos cangaceiros. Pentes de bala cruzados no peito, armas, chapéu de couro. O sertão era uma sociedade armada.
O herói da infância de Lampião era Antonio Silvino, que foi para o cangaço e vingou a morte do pai. Era tido como o Rifle de Ouro. Se hoje em dia a criançada tem ídolos no futebol, lá pelo Sertão do Pajeú (rio Pajeú), os ídolos eram cangaceiros armados.
Silvino foi preso em 1914 e deixou de ser herói por isso.
47 – Havia a presença apenas eventual de professores no meio onde havia esse povo sertanejo. Lampião mesmo estudou três meses. Aprendeu para “ler uma carta e respostar outra”...
47 – Lampião aprendeu a lidar com couro, como fazer arreios, etc. Tocava sanfona de oito baixos e dançava bem.
A principal fonte de renda da família dele era a almocrevaria (ir fazer compras longe, na cidade, para os comerciantes locais).
Essa profissão de almocreve vem de Portugal antigo. Almocreves atuavam em longas distâncias pela BA, AL, PE e CE.
Aos 12 anos Lampião já tinha o conhecimento básico da lida com animais e o pai o achou apto a seguir numa das viagens para a cidade onde se abasteciam.
48 – Uma rota lucrativa era ter acesso à cidade de Pesqueira, até onde chegava a ferrovia inglesa que partia de Recife. (ferrovia de 200 km)
Pesqueira PE era um centro regional por ter acesso à ferrovia. Tinha fábrica de doces, curtumes (com mal cheiro danado) e cinemas que exibiam filmes mudos. Tinha também um teatro e uma orquestra. Era então a Atenas pernambucana.
A região demandava então encomendas como bolachas, cachaça, “massa do reino” (farinha de trigo), açúcar, arroz, tecidos. Imaginar um garoto da zona rural aos 12 anos ver tudo isso numa primeira viagem.
Ficou encantado por tudo que viu.
Nas sucessivas viagens como almocreve, Lampião foi conquistando contatos com comerciantes, etc. Conhecia muito bem a geografia da região e sabia caminhos e locais onde havia água, elemento escasso na região da catinga. E, claro, lugares seguros para pernoitar.
49 – A grande seca de 1915 no NE. (inclusive retratada no romance O 15 de Rachel de Queiroz). Uns 100.000 morreram e uns 250.000 migraram do Nordeste fugindo da seca.
Autor: jornalista Wagner G.Barreira – Editora Planeta – 2018 – 224 p.
Livro lido em março de 2019 e fichamento pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida - WhatsApp (41) 99917.2552
Destaco que faz pouco tempo que estive visitando a cidade de Piranhas AL à margem do Rio São Francisco e na ocasião fomos até o local exato, do outro lado do rio, já em Sergipe, onde Lampião foi fuzilado junto com seu bando.
Já do livro – a lenda do sal. Segundo a qual um dia um do bando do Lampião reclamou da falta de sal na comida e Lampião teria mandado comprar sal e fez o cabra comer sal puro.
Página 14 – Cita o Anarquista Buenaventura Durruti e suas lutas. Inclusive dos catalães contra a Ditadura de Franco na Espanha. Buenaventura morreu em 1936 em luta, sendo contemporâneo de Lampião.
14 – Franco toma o poder na Espanha e instala uma ditadura iniciada em 1948, que perdura por quatro décadas.
14 – A primeira biografia de Lampião é publicada quando ele ainda estava nas batalhas. Tanto que ele chegou a ler a biografia e destacou as incorreções na visão dele.
14 – Estima-se em mais de 1.500 publicações sobre Lampião e o cangaço entre livros, artigos, filmes, etc. aqui e no exterior.
15 – A história de Lampião é ficção coletiva. Quem a constrói tem necessidades, convicções e ambições...
16 – A casa onde moraram os pais de Maria Bonita virou museu a partir de 2006. Fica no interior da Bahia.
16 – Documentos oficiais douram a pílula das ações da polícia no caso...
16 – “Com voz pausada, grave e baixa, deixa vazar o que interessa”. Sobre a forma de expressão de Lampião.
17 – Historiadora francesa. Coloca três certezas sobre Lampião. Pele escura, cicatrizes de batalha e um olho ruim. (usava óculos)
17 - ...”conheceu e negociou com o Padre Cícero. Tornou-se por ordem do religioso, Capitão do Batalhão Patriótico financiado com verbas do Estado brasileiro. (tentativa de se antepor à Coluna Prestes na região)
18 – Opinião de Rubem Braga (escritor capixaba): “Não creio que o povo o ame só porque ele é mau e bravo. O povo não ama à toa. O que ele fez corresponde a algum instinto do povo. Há algum pensamento certo atrás dos óculos de Lampião: suas alpercatas rudes pisam algum terreno sagrado”
21 – O pai de Lampião era almocreve e agricultor. Almocreve era uma atividade de alta confiança onde uma pessoa tinha uma tropa de animais e uma equipe preparada para longas caminhadas com riscos levando dinheiro vivo de comerciantes para compras no atacado para os referidos comerciantes.
21 – Expedita é o nome da filha de Lampião e Maria Bonita.
28 – As onze cabeças cortadas, duas delas de mulheres, Maria Bonita e Enedina, junto com as de nove do bando, incluindo Lampião. Foram colocadas como troféu nas escadas da prefeitura de Piranhas AL. (eu, leitor, estive no prédio da prefeitura que ainda é no mesmo local).
Cortar cabeça vem de longe e é uma das formas de impor grande humilhação ao inimigo abatido. E mais fácil de transportar para provar o feito.
28 – Cabeças expostas na escada da prefeitura dia 28-07-1938.
29 – Telegrama do tenente João Bezerra que comandou a chacina na madrugada, avisando da liquidação do bando.
Determinado pelo governo que as cabeças fossem enviadas para Maceió, distante 266 km de Piranhas. Na época o cortejo demorou quatro dias. Em cada cidadezinha que passavam, expunham as cabeças numa frente de igreja ou prédio público.
30 - Havia na época vários outros bandos em ação em toda a região até pela fraca presença do Estado no interior. As “volantes”, policiais itinerantes criadas para reprimir a violência rural.
31 – No caso da chacina de Lampião e seu bando houve um dedo duro. O local chamado Angico, onde houve a chacina, era na fazenda do sergipano Coronel Antonio Caixeiro, este que emprestou metralhadora para a volante policial.
32 – Coiteiro – quem dava abrigo aos cangaceiros. Positivo, nome dado a informante dos cangaceiros.
Corisco, o que escapou na chacina e era do bando, chamava a grota de Angico, onde houve a chacina de cova de defunto. Se fossem atacados, não tinham por onde fugir. (é a encosta que desce para o Rio São Francisco coberta de caatinga com muitos espinhos e um pequeno rio que não é perene. Seca em muitos períodos e do lado desse leito pedregoso, uma caverna rasa na qual estavam os cangaceiros acampados). Eu, leitor, estive no local.
33 – Sila, bem jovem, viu “luz de pilha” (farolete) longe e alertou mas acharam que era vagalume. Sila se safou.
A volante toda sediada temporariamente em Piranhas-AL para a perseguição. Eram 45 soldados armados.
34 – Os soldados, sabendo do local do esconderijo, se dividiram em quatro grupos, cada um com uma metralhadora Hotchkiss com apelido de “costureira”. Madrugada, chuviscando, nem os cachorros latiram. As tendas facilitaram a mira dos policiais. Eram14 tendas. Os sobreviventes falaram que ao todo o bando então estava em 36 pessoas no local.
37 – A polícia justificou a degola dos 11. Argumentou que havia soldados feridos e não dava para levar os corpos todos dos abatidos. E as cabeças, para comprovar que o bando não mais existia.
38 – No mesmo dia a notícia chegou ao RJ e ao jornal e no outro dia ao New York Times. (em 1938)
39 - As cabeças ficaram em vidros com formol até 1969 no Instituto Nina Rodrigues.
A neta de Lampião levou o crâneo dele e sepultou num túmulo da família em Aracaju-SE.
40 – Corisco ( vulgo Diabo Loiro), que não estava no acampamento, vingou as mortes e decapitou uma família. Em 1940 foi morto.
44 – A origem do nome Virgulino Ferreira da Silva. Do livro lunário de 1594 editado em espanhol. Fala da constelação da Virgem e disso veio o nome Virgulino. Nascido em 07-06-1897 em Serra Talhada PE.
45 – O pai, agricultor e pecuarista, que também atuava como almocreve, criava cabras, jumentos e gado e fazia pequenas roças.
46 – Na pré adolescência e mesmo na infância de Lampião a criançada brincava de lutas entre cangaceiros e as volantes (policiais). Só que não era a visão de bandidos e mocinhos, do mal e do bem. O cangaceiro era visto como quem resolve entreveros de conflitos entre famílias, etc. Eram respeitados na comunidade.
Muitos cangaceiros atuavam na comunidade como justiceiros, substituindo a justiça e a polícia que eram ausentes nos lugares remotos.
... muito comumente atuando como justiceiros a serviço dos grandes proprietários e chefes políticos da região.
46 – 1910 – naquele tempo todo mundo tomava partido dos cangaceiros. Pentes de bala cruzados no peito, armas, chapéu de couro. O sertão era uma sociedade armada.
O herói da infância de Lampião era Antonio Silvino, que foi para o cangaço e vingou a morte do pai. Era tido como o Rifle de Ouro. Se hoje em dia a criançada tem ídolos no futebol, lá pelo Sertão do Pajeú (rio Pajeú), os ídolos eram cangaceiros armados.
Silvino foi preso em 1914 e deixou de ser herói por isso.
47 – Havia a presença apenas eventual de professores no meio onde havia esse povo sertanejo. Lampião mesmo estudou três meses. Aprendeu para “ler uma carta e respostar outra”...
47 – Lampião aprendeu a lidar com couro, como fazer arreios, etc. Tocava sanfona de oito baixos e dançava bem.
A principal fonte de renda da família dele era a almocrevaria (ir fazer compras longe, na cidade, para os comerciantes locais).
Essa profissão de almocreve vem de Portugal antigo. Almocreves atuavam em longas distâncias pela BA, AL, PE e CE.
Aos 12 anos Lampião já tinha o conhecimento básico da lida com animais e o pai o achou apto a seguir numa das viagens para a cidade onde se abasteciam.
48 – Uma rota lucrativa era ter acesso à cidade de Pesqueira, até onde chegava a ferrovia inglesa que partia de Recife. (ferrovia de 200 km)
Pesqueira PE era um centro regional por ter acesso à ferrovia. Tinha fábrica de doces, curtumes (com mal cheiro danado) e cinemas que exibiam filmes mudos. Tinha também um teatro e uma orquestra. Era então a Atenas pernambucana.
A região demandava então encomendas como bolachas, cachaça, “massa do reino” (farinha de trigo), açúcar, arroz, tecidos. Imaginar um garoto da zona rural aos 12 anos ver tudo isso numa primeira viagem.
Ficou encantado por tudo que viu.
Nas sucessivas viagens como almocreve, Lampião foi conquistando contatos com comerciantes, etc. Conhecia muito bem a geografia da região e sabia caminhos e locais onde havia água, elemento escasso na região da catinga. E, claro, lugares seguros para pernoitar.
49 – A grande seca de 1915 no NE. (inclusive retratada no romance O 15 de Rachel de Queiroz). Uns 100.000 morreram e uns 250.000 migraram do Nordeste fugindo da seca.
............... continua na postagem seguinte.