Data: 17-06-2019 –
parte da tarde
Anotações
do Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
orlando_lisboa@terra.com.br (41) 999172552 Curitiba – PR
Fomos
atendidos no local pelo prestativo Sr.
Antonio Capitani e família
Quem
tinha uma agenda mais específica lá no Assentamento que está completando 20
anos de existência era o meu sobrinho que atua em Ong e foi conhecer o local e
coletar dados para um vídeo sobre Economia Solidária e Sustentabilidade para um
concurso a ser realizado em Santiago do Chile por ocasião de evento mundial na
pauta do Clima.
Eu
fui junto porque desde longa data acompanho a luta (e apoio a luta) dos
acampados e assentados desde o Noroeste do Paraná (Pontal do Trigre – Querência
do Norte-PR, Copavi em Paranacity), visita duas vezes à Escola de Agroecologia
Milton Santos em Maringá/Paiçandu-PR, além de duas palestras com o João Pedro
Stedile em Maringá e alguns eventos aqui na UFPR com auditório lotado para
tratar do tema da Agroecologia e Economia Solidária.
Em
Cascavel, participei também de um grande evento do MST e Via Campesina no tema
da luta na questão agrária num inverno há aproximadamente uma década ou pouco
mais.
A
fazenda antiga que hoje está dividida em uma série de propriedades da
Agricultura Familiar pertenceu ao Barão
dos Campos Gerais e fica localizada no interior do município da Lapa, em
torno de 15 km a partir da sede do município por estrada de chão batido de boa
qualidade.
A
antiga fazenda tem sua casa sede ampla em alvenaria e pedras e data de 1820 aproximadamente. A casa está restaurada, em muito bom estado e
funciona como um centro administrativo do Assentamento e contém um anfiteatro
para eventos. O casarão tem no porão
parte da senzala e no pátio lateral há o local onde havia o tronco e que está
documentado e em estudo pela UFPR a partir de documentos cedidos pela antiga
proprietária aos Assentados.
A
fazenda pertenceu por último à empresa cerâmica Incepa e consta que foi
repassada à União por conta de débitos federais. Desta, passou a ser o Assentamento
Contestado desde 1999. A área total
da fazenda é de aproximadamente 3.300 há.
Há
na estrutura local uma Escola Latino
Americana de Agroecologia (desde 2005) com alunos do Brasil e de mais sete países
vizinhos. A escola conta com uma biblioteca bem estruturada. Parte do estudo é teórico/prático na escola e
parte o aluno passa na propriedade aprimorando e aplicando os conhecimentos
adquiridos durante o curso. Há uma
lista, além dos professores regulares, de uns 200 professores voluntários que,
segundo suas especialidades e demanda, são solicitados para aulas eventuais
complementares no curso.
Lema
da escola pintado na fachada por iniciativa dos alunos, de forma coletiva:
“Estudo
/ trabalho / luta e valentia / é a Escola Latina de Agroecologia”
Há
também escolas abrangendo até o segundo grau completo para os alunos das
famílias locais, além de capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida.
O Assentamento começou em 1999 com 108 famílias e por casamento de filhos, atualmente são 170 famílias no local
abrangendo em torno de 600 pessoas ao todo.
Muitos
fazem agricultura orgânica e outros optaram por agricultura convencional, mas
atuam na forma de Cooperativa.
Fornecem
por contrato produtos da terra inclusive para merenda escolar da região com
foco em produtos orgânicos certificados.
Meta é de entregar 8 toneladas de legumes e verduras por semana e por
conta de chuvas frequentes que afetam os produtos, estão conseguindo 6
toneladas por semana nestes dias.
Informou
que ao redor de 80% do que as famílias consomem, são produzidos aqui mesmo no
Assentamento. Alguns itens como
trigo, sal e produto de limpeza vem de fora. Estão com verba garantida para a
construção de um moinho para fabricação de farinha de milho para consumo e
comercialização do excedente.
São
organizados em dez núcleos de famílias havendo em cada grupo entre 8 a 16
famílias cada. Em geral cada grupo
destaca dois lideres, um homem e uma mulher.
Cada
grupo escolhe um nome de alguém que tombou na luta pela terra.
No
item infra estrutura contam com a sede (casarão histórico), armazém para
fornecer itens de suprimento, escritório, fabrica de doces e compotas com
câmara fria, agência de Correio, Posto de Saúde e campos de bocha e também de
futebol. Contam com quatro times
locais.
Há
próximo à sede um conjunto de dois silos
de alvenaria que é do tempo do tropeirismo, já que a fazenda ficava na rota dos tropeiros.
O
Sr. Antonio Capitani é uma das lideranças do local e foi quem nos recebeu e nos
acompanhou durante toda a visitação.
Ele está após os cinquenta, filhos já casados, estudando História em
Veranópolis-RS. Intercala período de
estudo com período de trabalho na propriedade junto com a família. Ele faz agricultura, pecuária e agrofloresta
orgânicos em sua propriedade.
A
escola de Agroecologia Latino Americana teria sido planejada num evento no RS
no Governo Requião num evento que contou inclusive com a presença do então
presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Ao escolher o local para a instalação, optaram pelo Assentamento
Contestado que tinha boa infraestrutura e organização administrativa e técnica
dos assentados.
Consta
que na fazenda ainda há valas de 1,5 m de profundidade que eram usadas antigamente
como “cerca” para delimitar divisas de propriedade e de pastagens para os
animais, quando ainda não havia disponibilidade de arame farpado. Valas abertas com ferramentas manuais por
escravos da fazenda.
Eles
tem um sistema de entrega de cestas semanais de legumes e verduras e frutas
mesmo em Curitiba de forma regular.
O
Assentamento preserva extensas áreas de florestas naturais como forma de
cumprir a lei vigente e mesmo há floresta acima do que manda a lei.
Um
problema meio inusitado que eles tem:
há pessoas que passam lá com carro e abandonam cães no local, sabendo
que o pessoal do assentamento não deixará os animais à mingua.
Este
foi um resumo da visita que teve as falas finais na residência do casal
Capitani, sendo que nos serviram pão caseiro recém saído do forno com doce de
abobora de produção local. Ficamos
muito gratos e muito bem impressionados com tudo por lá. Vale a pena agendar uma visita ao local.
Roteiro
aproximado – (apesar que os aplicativos de navegação localizam a sede local)
- Quem vai pela Rodovia de Curitiba à
Lapa, antes de chegar à cidade há um pedágio e imediatamente após o pedágio, há
entrada à direita com placa indicando o Assentamento. Daí segue por estrada de chão e numa
bifurcação tem placa indicando para seguir rumo á direita e se chega à sede
local do Assentamento)
Abaixo, foto da Casa sede com anfiteatro - casarão de 1820
Anfiteatro no Casarão
detalhe da janela do casarão abaixo
abaixo - detalhe da parede exposta em parte para se ver a estrutura das paredes (1820)
Abaixo - detalhe da pintura original do casarão
Abaixo, foto da parte de trás do casarão. Aqui nesse porão era uma senzala para os escravos que serviam a casa em si. Notar que foi feito recente um aterro no piso tornando o espaço de pouca altura. Também o piso acima que era de assoalho foi adaptado para uso local atual.
Abaixo, dois silos de alvenaria para guardar feno do tempo dos tropeiros. Aqui era parte da rota dos tropeiros.
Abaixo, local de fabricação de doces e compotas e de embalagem de verduras e legumes.