Anotações
feitas pelo Eng.Agr Orlando Lisboa de Almeida
Local: Auditório do
SENGE Sindicato dos Eng do Paraná
Tema: “Greve dos
caminhoneiros e suas implicações econômicas e políticas”
Palestrantes:
Eric Gil Dantas –
Economista e Mestre em Ciência Política
Fabiano Abranches
Silva Dalto - Professor da UFPr,
mestre em Desenvolvimento Econômico e Dr em Economia Institucional
Fala
do Eric
Temer recentemente estava na pesquisa com 76% de avaliação
negativa em seu governo. Número que
vinha em pequena queda em virtude de alguma reação no controle de inflação e
taxa de juro.
Nesse contexto ocorre a greve dos caminhoneiros. Foram mostrados números coletados em pesquisa
pela CNT Confederação Nacional dos Transportes. Pela pesquisa, os caminhoneiros autônomos são maioria. Um perfil destes pela pesquisa da CNT: 99,8% são homens. Quase 40% com ensino fundamental incompleto.
Condições de trabalho:
jornada em média bem acima das 8 horas por dia. A média estaria entre 9 e 12 h de jornada
por dia. No acumulado mensal, ficam
em média 20 dias longe da família.
Dados coletados em amostra de motoristas autônomos sobre
seus principais problemas:
1º Custo dos combustíveis
2º Valor baixo dos fretes
3º Risco de assaltos e roubos
A pesquisa tem outros itens e também há outra para
motoristas que são empregados.
O Brasil concentra de forma marcante sua logística em
transporte rodoviário. Isso é um
gargalo.
O faturamento estimado anual dos transportes estaria em 200
bilhões de reais.
O setor é afetado pela crise econômica e pelo aumento de
custos.
Pesquisa DataFolha do Jornal Folha de SP: 87% do povo apoia a greve dos
caminhoneiros. 10% contra. Difícil uma pesquisa onde tão poucos tinham
opinião formada a respeito do caso.
Por outro lado na mesma pesquisa mostrava que se reduzir o preço do
diesel poderia acarretar aumento de impostos, o povo consultado então era
contra.
Pela pesquisa, 96% das pessoas consultadas sobre a greve,
acharam que o governo federal demorou demais para tomar providências.
55% da população é
contrária à privatização da Petrobras.
O pesquisador disse que no final dos anos 90, na era FHC a maioria era a
favor privatizar a companhia.
Uma provocação no bom sentido lançada pelo palestrante: Lockout ou greve? (Lockout é quando patrões/empresas param –
e que é proibido por lei no Brasil).
Parte da pauta dos caminhoneiros era de interesse patronal como a
redução de encargos dos empregadores do setor. Entende que no caso há demandas dos
autônomos e dos empregadores, tudo misturado.
Destacou que os petroleiros entraram em greve e duas
Confederações do setor estão com eles.
Os metroviários em algumas capitais também entraram em greve.
No caso dos petroleiros (greve prevista para 3 dias), a
justiça se antecipou e considerou a greve abusiva alegando que a pauta era
política contra o presidente da Petrobrás e contra o governo federal.
É um momento político aberto. Difícil se localizar no olho do furacão que é
agora.
Fala do Professor Fabiano
Ele mostrou um quadro com alguns dados acessíveis sobre a
Petrobrás.
Discriminação
|
2010
|
2012
|
2014
|
2016
|
2017
|
Prod.oleo
e gas em mil barris/dia
|
2.583
|
2.598
|
2.669
|
2.144
|
2.707
|
Lucro
líquido em milhões R$
|
35.189
|
21.182
|
-21.600
|
2.510
|
-5.477
|
EBTIDA
em milhões de reais
|
52.100
|
62.900
|
59.140
|
88.700
|
87.800
|
Valor
de Merc.
Em
bilhões R$
|
380
|
255
|
288
|
|
|
Valor
Patrimonial em bilhões de R$
|
307
|
331
|
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|
|
Como estudioso do assunto, ele diz que os dados mostram que
a Petrobrás passa longe de quebrar como andam falando por aí. Tem mantido a produção de petróleo e tem
tido EBTIDA que envolve geração de caixa sólido e crescente.
A Petrobrás em 2014 superou a Exxon Mobil em produção de
petróleo, concorrente multinacional que é uma das mais fortes do mundo.
Empregos diretos na Petrobrás:
2015 78.470
2016 68.829
2017 62.703
A empresa pela sua complexidade e porte, tem grande número
de terceirizados. Uns dois terços do
efetivo são terceirizados.
A redução de empregos diretos tem ligação com as vendas de
ativos que a Petrobras decidiu fazer em tempos recentes.
Sobre a Lava Jato, num olhar técnico, o palestrante disse
que a operação estimou o desvio de 6 bilhões da Petrobrás e concorda que tudo
deveria ser investigado e punidos os culpados.
Mas destacou que tudo foi feito de uma forma midiática e política, o que
trouxe enormes prejuízos à empresa e ao País. Citou que a Petrobrás deixou neste período
de investir 120 bilhões de reais no negócio, o que geraria mais produção, mais
impostos e mais empregos. Esse cálculo de 120 bilhões que deixaram de
ser investidos pela Petrobrás seria de um especialista no setor e ligado
inclusive ao PSDB.
Disse que nossa
política econômica atual está toda voltada para o não crescimento da economia. Quem quer que ganhe a eleição, com as
diretrizes e o engessamento do Orçamento da União aprovado pelo Congresso para
longo prazo, tende a manter o País quase sem crescimento e assim haverá menos
emprego, menos produção, menos tributo.
Nesse desenho, estaremos sujeitos a crises políticas
recorrentes inclusive pela estagnação econômica pelo engessamento do Orçamento
público. No Brasil quem costuma
investir é o Estado. O empresariado,
mesmo nas fases de desoneração fiscal, não aumenta o investimento e nem o
emprego.
Ele disse que desde 2015 nossa economia está em
recessão. O governo atual a partir do
meado de 2016 mudou a política de reajuste dos combustíveis pelas cotações
internacionais do petróleo. Isso tem
sido danoso para nós que produzimos o petróleo internamente de duas
formas. Primeiro porque ficamos à mercê
das flutuações internacionais do petróleo por fatores externos. Segundo, porque o petróleo lá fora é cotado
em dólar e assim as flutuações do real em relação ao dólar também nos causa prejuízo
pelo atrelamento.
Orçamento Federal engessado, governo não investe, a economia
não cresce, os empresários não investem, continua a recessão e desemprego.
Citou que no governo Lula o investimento público crescia em
20% ao ano. Aumentava a economia, a
produção e a arrecadação de impostos. Já
no governo Dilma esse ritmo de investimento estava em queda para algo como
8%. Nessa fase a Dilma “comprou a
agenda da FIESP” (Federação das Indústrias do Estado de SP). Desonerou impostos das indústrias, reduziu
arrecadação, não tinha mais como o governo fazer investimento, cai a economia,
a arrecadação, o emprego. E os
empresários que na contrapartida da desoneração poderiam investir mais, como
sempre não investiram e a economia não cresce.
Sobre dívida pública ele defende que não é um fator tão
alarmante e citou o Japão cuja dívida externa é de 150% do PIB. A dos USA é acima de 100% do PIB (que é o
maior do mundo).
A PEC 95 em vigor no Brasil assinada pelo Congresso Nacional
impede o governo de investir. Trava
tudo.
De passagem, falou algo da postura das várias direitas e das
várias esquerdas no Brasil. Num caso,
citou o discurso do Almoedo do Partido Novo com seu liberalismo no qual “não se
apoia a legalização do aborto” e “não se apoia a liberalização de certas drogas”
que seriam algumas das pautas da sociedade ou setores dela.
Diz que setores da Direita em parte defendem o liberalismo
na economia junto com o conservadorismo moral.
Já no debate, o Professor Eric destacou que os integrantes
do governo atual estão tirando as estatais da influência do governo e
deixando-as ao comando do Mercado. Bom
só para os acionistas daqui e de fora.
Em contrapartida, o Mercado dá suporte ao Governo federal.
Citou pesquisa anual do Latino
Barômetro para a América Latina e os resultados costumam colocar o BR como
o povo que tem a menor estima pela democracia. De um lado o filme da Lava Jato em seu
nome diz que a Justiça é para Todos, mas 90% do nosso povo (a imensa maioria
pobre) não acredita na justiça, sente que não tem acesso a ela. No contexto, lembrou que no BR temos 30
milhões de favelados.
Disse que a Direita
ao longo do tempo tem conseguido ludibriar o povo que vive numa injustiça
social enorme com discursos como: combate à corrupção e combate à violência. E vai enchendo o Congresso de
Policiais, etc.
Voltando ao tema dos caminhoneiros. 90% destes ganham até três salários
mínimos. Nesta greve a pauta dos
caminhoneiros era focada na redução do preço do óleo diesel. Já a pauta dos petroleiros envolvia algo
mais complexo como redução dos preços de todos os combustíveis, mudança na
política de preço da Petrobrás, pedir a
exoneração do Pedro Parente da presidência da companhia, pedir um basta na
desnacionalização dos campos de petróleo, na venda de ativos da companhia, etc.
Na política aplicada à Petrobrás na atualidade os preços dos
combustíveis subiram, as concorrentes desta tiveram maior margem para importar
petróleo e derivados para vender em nosso mercado tomando mercado da Petrobras,
que viu suas refinarias trabalhando com ociosidade e menor lucro. A Petrobrás tem perdido mercado com os
preços altos dos combustíveis.
Relembrado que estamos em crise política desde meados de
2013 e que a crise política continua.
Mesmo a eleição pode não solucionar a raiz da crise.
Sobre a hipótese de golpe militar, lembrou o Eric que nos tempos atuais não são usuais as tomadas
de poder por golpe militar. Agora
seriam golpes “institucionais” como ocorreu no Paraguai, na Nicaragua, no
Brasil, etc. Na opinião dele o Lula
não conseguirá meios legais de se habilitar à presidência em 2018 e que o
partido não tem despertado lideranças com perfil para ocupar esse espaço de
forma viável. Destacou inclusive a
importância dos prefeitos do interior para puxar votos para candidato a
presidente e lembrou que o PMDB tem a maior quantidade de prefeitos e isso pesa
em suas alianças.
Sobre a Direita, o candidato do sonho do Mercado é o Alkmin,
mas este não consegue romper a barreira dos 8% das intenções de votos e isto anima
a surgir a hipótese do Doria do mesmo partido deixa-lo para trás na corrida
presidencial.
Isto foi o que consegui resenhar das duas horas e meia das
falas e espero que sejam úteis aos que acompanham um pouco do que ocorre com o
nosso Brasil.
orlando_lisboa@terra.com.br (41)
999172552
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