Total de visualizações de página

quinta-feira, 10 de maio de 2018

RESENHA DE PALESTRA DO MÉDICO DR HERLING ALONZO - TEMAS - SAÚDE COLETIVA - INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS (09-05-18)

RESENHA DA PALESTRA DO MÉDICO HERLING ALONZO
     Professor Doutor da UNICAMP – Faculdade de Ciências Médicas
     Departamento de Saúde Coletiva da FCM
     Palestra proferida dia 09-05-2018 na apresentação do  PLANO DE VIGILÂNCIA E ATENÇÃO À SAÚDE DE POPULAÇÕES EXPOSTAS AOS AGROTÓXICOS – da SESA Secretaria de Saúde do Estado do PR.
     Local do evento:   Anfiteatro da Fundação Espírita do Paraná em Curitiba – PR
     Anotações feitas pelo Eng. Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
     Disse que não dá para discutir a contento as ações integradas sem o sistema universalizado de saúde do povo brasileiro.      Apoia o SUS
     Ele é latino americano em veio ao Brasil para fazer Mestrado em Medicina na UNICAMP em 1991 e ao conhecer nosso sistema universalizado de assistência à saúde (o SUS), resolveu ficar aqui por acreditar nesse tipo de atenção à saúde.     Chegou a trabalhar por três anos no Ministério da Saúde.   Faz carreira como professor da UNICAMP.
     Agrotóxico pode contaminar pessoas, ar, solo, água superficial, lençol freático, aquíferos, etc.
     Fez uma pequena ironia à parte:   se envenenarmos todos e morrermos até que será bom para o Planeta...
     Danos à saúde.    Agravos de doenças, mortes evitáveis.  Isso é inaceitável.    Que fique claro:    Todos os agrotóxicos são tóxicos.
     Pela lei brasileira, há nos agrotóxicos comercializados legalmente aqui o sistema de tarjas coloridas com as classes I a IV com grau decrescente de risco.    Tarja vermelha – classe  I
     Tarja amarela – classe II
     Tarja Azul – classe III
     Tarja Verde – classe IV
     Efeitos dos agrotóxicos no ser humano:
Ø Agudos
Ø Subcrônicos
Ø Crônicos (tardios)
     Efeitos – leve, moderado, grave, letal.
     Notificação obrigatória à Saúde Pública:   Geralmente escapam das notificações os casos leves e moderados.    A pessoa vai no posto de saúde por uma inalação que pode ser por intoxicação leve e fica como um mal estar sem ligação com a exposição a agrotóxico, por exemplo.
     Em geral os casos graves é que são notificados.     Mostrou um pouco da forma de ação dos agrotóxicos no ser humano.   Mostrou inclusive que os piretróides também tem efeito no sistema neurológico das pessoas conforme a exposição.    
     Pode haver danos cardiovasculares; pode afetar a pressão para alta ou para baixa, etc.
     Geralmente o médico pergunta a queixa do paciente e não costuma fazer a Anamnese que é um questionário para saber o que a pessoa faz, tipo de trabalho, etc.    Sem uma boa anamnese, o médico trata o sintoma e não pesquisa a causa.   Aí está o problema, em parte.
     Destacou que agrotóxico já é um risco e que a mistura de agrotóxicos para uma mesma aplicação pode potencializar o risco, inclusive pelo fato de comumente haver reação química entre os produtos e gerarem novos produtos com efeitos fora de controle.    As chamadas misturas de tanque, feitas no tanque do pulverizador.
     Em lavoura de tomate no interior de SP em pesquisa da UNICAMP se constatou que numa mesma safra se usavam até 25 diferentes princípios ativos de agrotóxicos, o que é um número elevado.   Risco ao trabalhador, ao meio ambiente, etc.
     Os aplicadores de agrotóxicos em lavouras geralmente trabalham com essa atividade por largo período de tempo.     Pode haver efeito crônico de produtos na saúde do trabalhador.
     Mostrou uma lista enorme de sintomas de intoxicações agudas e crônicas por agrotóxicos.    Inclusive mostrou um gráfico de 2012 onde havia o percentual de sintomas em pessoas intoxicadas por agrotóxicos.  O sintoma mais recorrente é de irritação nos olhos.
      Carcinogenicidade – induzir ao câncer
     Oncogenicidade – induzir ao crescimento de tumores (não necessariamente, câncer).  
     Teratogenicidade – criança afetada nascer com deformação.
     Ele repetiu:  geralmente o médico trata sintomas mas não faz a Anamnese que é uma série de perguntas para tentar chegar à causa do problema.   Citou que a OMS Organização Mundial da Saúde recomenda sempre a anamnese.
     Disse que em geral é pouco comum haver câncer em crianças.   Mas que o mesmo vem aumentando mais recentemente.     Já se constatou correlação entre pais que trabalham com agrotóxicos e maior incidência de câncer nos filhos pequenos.
     Casos de leucemia em crianças – já se constatou contato da mãe com agrotóxicos e a criança ter mais risco de leucemia.
     Disse que há exames sofisticados que podem detectar riscos altos de certas doenças em casais que pretendem ter filhos.
     Anamnese – recomenda a cada 2 anos para paciente até os 40 de idade e a cada ano para idade acima dos 40. 
 (continua... clicar no local indicado para continuar lendo...)


     Citou como exemplo nos USA no passado as águias, que são o símbolo do País, estarem entrando na lista de extinção e foram investigar.   Pesquisas mostraram que elas andavam comendo animais contaminados com agrotóxicos e como efeito colocavam ovos com casca mais mole e os ovos se perdiam ao chocar (se rompiam).   Descobriram a causa, portanto.
     Ele disse que os danos nos demais animais por exposição aos agrotóxicos tem alguma semelhança aos danos aos seres humanos.
     Citou pesquisa recente.    Há países nos quais até 40% dos jovens começaram a apresentar esperma de baixa qualidade.     Nessa linha, estudo da UNICAMP (Campinas) no período de 1989 até 2016 com 18.902 amostras sobre a qualidade do esperma humano.    Constatou queda ao longo do tempo, a saber:
     Período 1989 a 1995 – média de 86 milhões de espermas/unidade de volume
     Período 2011 a 2016 – média de 48 milhões de espermas/unid. de volume.
     A OMS Org. Mundial da Saúde tem como parâmetro mínimo para a reprodução recomendada:  15 milhões de espermas/unidade de volume.
     Mostrou que a exposição a agrotóxicos (ou resíduos destes) tende a aumentar malformações em seres humanos.      Inclusive proporção elevada de crianças com problemas neuro comportamentais.
     Nos últimos 40 anos, aumento de prevalência de diabete tipo 2 no mundo, passando de 153 milhões de casos para 347 milhões.   Este caso não tem investigação de correlação com agrotóxicos, segundo consta.
     A obesidade no mundo aumentou entre 1980 e 2008 para 1,5 bilhão de pessoas.     Idem sem relação estabelecida com agrotóxicos.
     Doenças de Parkinson – estudos em adultos e relação com neurotoxicidade por agrotóxicos.   Princípios ativos:  dieldrin, mancozeb, maneb, paraquat, 2,4-D, diquat, rotenona, permetrina.
     Mostrou uma figura para ilustrar efeito crônico de agrotóxico no corpo humano:     Um tanquinho com torneirona abastecendo o tanque e uma torneirinha abaixo no tanque, com saída do produto.    O produto toxico entra no organismo e em aproximadamente uma semana é eliminado, mas já deixou danos à pessoa.   É eliminado e vai acumulando os danos que ao apresentarem sintomas, já podem estar em fase grave.  Um exemplo é a cirrose hepática.
     Curiosamente ele disse que comumente o que se acumula no organismo é o dano do resíduo tóxico, já que é eliminado após dias mas fica o dano que vai se acumulando até apresentar sintoma em médio ou longo prazo.
     Falou que o Brasil é signatário dos Objetivos Globais para 2030 da ONU e tem tarefas a cumprir, sendo que um dos itens, o Objetivo 3 contempla a questão dos agrotóxicos e os cuidados.    No sub item 3.9 do acordo, fala de (meta) de reduzir até 2030 .... preservando a saúde e o meio ambiente.
     O SUS é fundamental em ações integradas de saúde focando também a forma preventiva.    Tem feito já um trabalho importante na parte de vacinações, etc.   Aplicamos todas as vacinas recomendadas pela OMS.  As ações de Atenção Integral à Saúde envolve acudir antes que chegue a doença.   Atuar na fase subclínica para não se chegar à fase clínica.   O ideal é o monitoramento contínuo da saúde da população.   Sistema Médico da Família, por exemplo.   Muito mais barato prevenir do que curar.   “Os críticos da forma atual do Ministério da Saúde agir, sempre de forma curativa,  tem lhe custado o apelido de Ministério da Doença”. (frase citada pelo resenhista aqui, não pelo palestrante).
     Para ilustrar a importância da medicina coletiva numa visão integrada, citou o caso de empregados de uma indústria de agrotóxicos que foi fechada na região de Campinas e que pertencia à Shell – Basf.   Um grupo de 89 ex empregados da empresa lutavam cada um com um processo contra a empresa inclusive por danos à saúde.   Houve até um primeiro acordo e cada um recebeu certa importância, segundo consta, mas se constatou que havia doenças crônicas bem mais graves cujos sintomas ainda não estavam bem delineados.   Numa busca (Unicamp Universidade Estadual de Campinhas) mais acurada e de forma grupal, constatou-se que havia doenças mais recorrentes no grupo do que na média da população.   Ex:  16% dos 89 ex empregados tinham câncer, sendo que a média geral é bem menor.   89% deles tinham cefaleia (dor de cabeça) com frequência, sendo que a média geral é 20 a 25% da população.   Com a abordagem em grupo, se chegou a dados comparativos que não teriam sido alcançados de forma individual.   
     Ele dá um roteiro de ações planejadas para abordagem em saúde coletiva.   Envolve planejar, medir e avaliar as ações.   Tem que envolver realmente a comunidade a ser atingida, contatando inclusive via igrejas, rádios, etc.     Pode haver um plano piloto que após estar “rodando” ser ampliado para um universo maior.     Lembrou que em comunidades que tem  público rural, a lei veda a aplicação de agrotóxicos por menores de 18, maiores de 60 anos e pessoas que tiveram câncer, por exemplo.
     Realizar Oficinas, ouvir a comunidade.   Essencial.    Ele destacou a importância de se levar em conta a participação da mulher na vida comunitária.    Disse que em certas regiões na prática quem mais tem levado em conta a participação da mulher tem sido o MST e a Via Campesina.
     Citou caso de grupos de ações em Saúde coletiva com envolvimento da comunidade onde as pessoas começaram fazer horta doméstica e depois trocavam o que tinham em excesso em casa com os vizinhos por outras verduras e legumes (orgânicas) que os outros produziam.   A prática foi se ampliando no seio da comunidade.   Começou com as Agentes de Saúde e se alastrou pela comunidade.
     Disse do conhecimento tradicional das comunidades.   Lembrou que no BR temos umas 53 espécies de tomate e no mercado encontramos umas 3 somente.    Há uma riqueza de materiais que não estamos aproveitando bem. 
     Disse que no BR há poucas ações práticas em Vigilância e Promoção à Saúde.
     Sobre Agroecologia, disse que em MG há bons avanços nessa área envolvendo o Estado e a Agricultura Familiar.   Tem assistência técnica especializada aos produtores, o que ajuda muito.
     www.emater.mg.gov.br    + Agroecologia (busca no Google)
     Ele tem um curso em EAD Educação à Distância, a LAB EAD que abre em julho/agosto/18 uma nova turma de até 500 pessoas.  Curso de 110 h  em Agroecologia pelo que captei.
     Ao encerrar a fala dele citou a frase:   “Um novo olhar para um velho problema de saúde pública”.     
     Espero ter captado de forma adequada um resumo da fala do Professor e reproduzo no meu blog como forma de socializar a informação.
           


Nenhum comentário:

Postar um comentário