RESENHA DA PALESTRA DO
MÉDICO HERLING ALONZO
Professor Doutor da UNICAMP – Faculdade de
Ciências Médicas
Departamento de Saúde Coletiva da FCM
Palestra proferida dia 09-05-2018 na
apresentação do PLANO DE VIGILÂNCIA E
ATENÇÃO À SAÚDE DE POPULAÇÕES EXPOSTAS AOS AGROTÓXICOS – da SESA Secretaria de
Saúde do Estado do PR.
Local do evento: Anfiteatro da Fundação Espírita do Paraná em
Curitiba – PR
Anotações feitas pelo Eng. Agrônomo
Orlando Lisboa de Almeida
Disse que não dá para discutir a contento
as ações integradas sem o sistema universalizado de saúde do povo
brasileiro. Apoia o SUS
Ele é latino americano em veio ao Brasil
para fazer Mestrado em Medicina na UNICAMP em 1991 e ao conhecer nosso sistema
universalizado de assistência à saúde (o SUS), resolveu ficar aqui por
acreditar nesse tipo de atenção à saúde.
Chegou a trabalhar por três anos no Ministério da Saúde. Faz carreira como professor da UNICAMP.
Agrotóxico pode contaminar pessoas, ar,
solo, água superficial, lençol freático, aquíferos, etc.
Fez uma pequena ironia à parte: se envenenarmos todos e morrermos até que
será bom para o Planeta...
Danos à saúde. Agravos de doenças, mortes evitáveis. Isso é inaceitável. Que fique claro: Todos os agrotóxicos são tóxicos.
Pela lei brasileira, há nos agrotóxicos
comercializados legalmente aqui o sistema de tarjas coloridas com as classes I
a IV com grau decrescente de risco.
Tarja vermelha – classe I
Tarja amarela – classe II
Tarja Azul – classe III
Tarja Verde – classe IV
Efeitos dos agrotóxicos no ser humano:
Ø Agudos
Ø Subcrônicos
Ø Crônicos
(tardios)
Efeitos – leve, moderado, grave, letal.
Notificação obrigatória à Saúde
Pública: Geralmente escapam das
notificações os casos leves e moderados.
A pessoa vai no posto de saúde por uma inalação que pode ser por
intoxicação leve e fica como um mal estar sem ligação com a exposição a
agrotóxico, por exemplo.
Em geral os casos graves é que são notificados. Mostrou um pouco da forma de ação dos
agrotóxicos no ser humano. Mostrou
inclusive que os piretróides também tem efeito no sistema neurológico das
pessoas conforme a exposição.
Pode haver danos cardiovasculares; pode
afetar a pressão para alta ou para baixa, etc.
Geralmente o médico pergunta a queixa do
paciente e não costuma fazer a Anamnese que é um questionário para saber o que
a pessoa faz, tipo de trabalho, etc.
Sem uma boa anamnese, o médico trata o sintoma e não pesquisa a
causa. Aí está o problema, em parte.
Destacou que agrotóxico já é um risco e
que a mistura de agrotóxicos para uma mesma aplicação pode potencializar o
risco, inclusive pelo fato de comumente haver reação química entre os produtos
e gerarem novos produtos com efeitos fora de controle. As chamadas misturas de tanque, feitas no tanque do pulverizador.
Em lavoura de tomate no interior de SP em
pesquisa da UNICAMP se constatou que numa mesma safra se usavam até 25
diferentes princípios ativos de agrotóxicos, o que é um número elevado. Risco ao trabalhador, ao meio ambiente, etc.
Os aplicadores de agrotóxicos em lavouras
geralmente trabalham com essa atividade por largo período de tempo. Pode haver efeito crônico de produtos na
saúde do trabalhador.
Mostrou uma lista enorme de sintomas de
intoxicações agudas e crônicas por agrotóxicos. Inclusive mostrou um gráfico de 2012 onde
havia o percentual de sintomas em pessoas intoxicadas por agrotóxicos. O sintoma mais recorrente é de irritação nos
olhos.
Carcinogenicidade – induzir ao câncer
Oncogenicidade – induzir ao crescimento de
tumores (não necessariamente, câncer).
Teratogenicidade – criança afetada nascer
com deformação.
Ele repetiu: geralmente o médico trata sintomas mas não
faz a Anamnese que é uma série de
perguntas para tentar chegar à causa do problema. Citou que a OMS Organização Mundial da Saúde
recomenda sempre a anamnese.
Disse que em geral é pouco comum haver
câncer em crianças. Mas que o mesmo vem
aumentando mais recentemente. Já se
constatou correlação entre pais que trabalham com agrotóxicos e maior
incidência de câncer nos filhos pequenos.
Casos de leucemia em crianças – já se
constatou contato da mãe com agrotóxicos e a criança ter mais risco de
leucemia.
Disse que há exames sofisticados que podem
detectar riscos altos de certas doenças em casais que pretendem ter filhos.
Anamnese – recomenda a cada 2 anos para
paciente até os 40 de idade e a cada ano para idade acima dos 40.
(continua... clicar no local indicado para continuar lendo...)
Citou como exemplo nos USA no passado as
águias, que são o símbolo do País, estarem entrando na lista de extinção e
foram investigar. Pesquisas mostraram
que elas andavam comendo animais contaminados com agrotóxicos e como efeito
colocavam ovos com casca mais mole e os ovos se perdiam ao chocar (se
rompiam). Descobriram a causa,
portanto.
Ele disse que os danos nos demais animais
por exposição aos agrotóxicos tem alguma semelhança aos danos aos seres
humanos.
Citou pesquisa recente. Há países nos quais até 40% dos jovens
começaram a apresentar esperma de baixa qualidade. Nessa linha, estudo da UNICAMP (Campinas)
no período de 1989 até 2016 com 18.902 amostras sobre a qualidade do esperma
humano. Constatou queda ao longo do
tempo, a saber:
Período 1989 a 1995 – média de 86 milhões
de espermas/unidade de volume
Período 2011 a 2016 – média de 48 milhões
de espermas/unid. de volume.
A OMS Org. Mundial da Saúde tem como
parâmetro mínimo para a reprodução recomendada:
15 milhões de espermas/unidade de volume.
Mostrou que a exposição a agrotóxicos (ou
resíduos destes) tende a aumentar malformações em seres humanos. Inclusive proporção elevada de crianças
com problemas neuro comportamentais.
Nos últimos 40 anos, aumento de
prevalência de diabete tipo 2 no mundo, passando de 153 milhões de casos para
347 milhões. Este caso não tem
investigação de correlação com agrotóxicos, segundo consta.
A obesidade no mundo aumentou entre 1980 e
2008 para 1,5 bilhão de pessoas. Idem
sem relação estabelecida com agrotóxicos.
Doenças de Parkinson – estudos em adultos
e relação com neurotoxicidade por agrotóxicos.
Princípios ativos: dieldrin,
mancozeb, maneb, paraquat, 2,4-D, diquat, rotenona, permetrina.
Mostrou uma figura para ilustrar efeito
crônico de agrotóxico no corpo humano:
Um tanquinho com torneirona abastecendo o tanque e uma torneirinha
abaixo no tanque, com saída do produto.
O produto toxico entra no organismo e em aproximadamente uma semana é
eliminado, mas já deixou danos à pessoa.
É eliminado e vai acumulando os danos que ao apresentarem sintomas, já
podem estar em fase grave. Um exemplo é
a cirrose hepática.
Curiosamente ele disse que comumente o que
se acumula no organismo é o dano do resíduo tóxico, já que é eliminado após
dias mas fica o dano que vai se acumulando até apresentar sintoma em médio ou
longo prazo.
Falou que o Brasil é signatário dos Objetivos
Globais para 2030 da ONU e tem tarefas a cumprir, sendo que um dos itens, o
Objetivo 3 contempla a questão dos agrotóxicos e os cuidados. No sub item 3.9 do acordo, fala de (meta)
de reduzir até 2030 .... preservando a saúde e o meio ambiente.
O SUS é fundamental em ações integradas de
saúde focando também a forma preventiva.
Tem feito já um trabalho importante na parte de vacinações, etc. Aplicamos todas as vacinas recomendadas pela
OMS. As ações de Atenção Integral à
Saúde envolve acudir antes que chegue a doença. Atuar na fase subclínica para não se chegar
à fase clínica. O ideal é o
monitoramento contínuo da saúde da população.
Sistema Médico da Família, por exemplo.
Muito mais barato prevenir do que
curar. “Os críticos da forma atual
do Ministério da Saúde agir, sempre de forma curativa, tem lhe custado o apelido de Ministério da
Doença”. (frase citada pelo resenhista aqui, não pelo palestrante).
Para ilustrar a importância da medicina
coletiva numa visão integrada, citou o caso de empregados de uma indústria de
agrotóxicos que foi fechada na região de Campinas e que pertencia à Shell –
Basf. Um grupo de 89 ex empregados da
empresa lutavam cada um com um processo contra a empresa inclusive por danos à
saúde. Houve até um primeiro acordo e
cada um recebeu certa importância, segundo consta, mas se constatou que havia
doenças crônicas bem mais graves cujos sintomas ainda não estavam bem
delineados. Numa busca (Unicamp
Universidade Estadual de Campinhas) mais acurada e de forma grupal,
constatou-se que havia doenças mais recorrentes no grupo do que na média da
população. Ex: 16% dos 89 ex empregados tinham câncer, sendo
que a média geral é bem menor. 89%
deles tinham cefaleia (dor de cabeça) com frequência, sendo que a média geral é
20 a 25% da população. Com a abordagem em
grupo, se chegou a dados comparativos que não teriam sido alcançados de forma
individual.
Ele dá um roteiro de ações planejadas para
abordagem em saúde coletiva. Envolve
planejar, medir e avaliar as ações. Tem
que envolver realmente a comunidade a ser atingida, contatando inclusive via
igrejas, rádios, etc. Pode haver um plano piloto que após estar “rodando”
ser ampliado para um universo maior.
Lembrou que em comunidades que tem
público rural, a lei veda a aplicação de agrotóxicos por menores de 18,
maiores de 60 anos e pessoas que tiveram câncer, por exemplo.
Realizar Oficinas, ouvir a
comunidade. Essencial. Ele destacou a importância de se levar em
conta a participação da mulher na
vida comunitária. Disse que em certas
regiões na prática quem mais tem levado em conta a participação da mulher tem
sido o MST e a Via Campesina.
Citou caso de grupos de ações em Saúde
coletiva com envolvimento da comunidade onde as pessoas começaram fazer horta
doméstica e depois trocavam o que tinham em excesso em casa com os vizinhos por
outras verduras e legumes (orgânicas) que os outros produziam. A prática foi se ampliando no seio da
comunidade. Começou com as Agentes de
Saúde e se alastrou pela comunidade.
Disse do conhecimento tradicional das
comunidades. Lembrou que no BR temos
umas 53 espécies de tomate e no mercado encontramos umas 3 somente. Há uma riqueza de materiais que não estamos
aproveitando bem.
Disse que no BR há poucas ações práticas
em Vigilância e Promoção à Saúde.
Sobre Agroecologia, disse que em MG há
bons avanços nessa área envolvendo o Estado e a Agricultura Familiar. Tem assistência técnica especializada aos
produtores, o que ajuda muito.
www.emater.mg.gov.br + Agroecologia (busca no Google)
Ele tem um curso em EAD Educação à Distância,
a LAB EAD que abre em julho/agosto/18 uma nova turma de até 500 pessoas. Curso de 110 h em Agroecologia pelo que captei.
Ao encerrar a fala dele citou a
frase: “Um novo olhar para um velho
problema de saúde pública”.
Espero ter captado de forma adequada um
resumo da fala do Professor e reproduzo no meu blog como forma de socializar a
informação.
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