Autora: Moçambicana – Isabela Figueiredo – Editora Todavia
– SP – 2018 – 1ª reimpressão – 180 páginas
Fichamento
de leitura pelo leitor Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida – Curitiba – PR. Julho-2019 www.resenhaorlando.blogspot.com.br
A
autora nasceu em 1963 e viveu a transição de Moçambique de colônia por séculos
de Portugal, à condição de país independente (com luta) ocorrida em 1975. Descendente dos colonizadores.
Página
8 – “é mais fácil esquecer. Sempre!”
“O paradoxo reside no facto de só se ultrapassarem os choques de
uma vivência, desenterrando-a, resolvendo os seus restos” (poderia ser feito um paralelo com a
Comissão da Verdade no Brasil)
No
tempo em que ela viveu em Moçambique onde nasceu (viveu lá até os 13 anos), a
capital se chamava Lourenço Marques e depois da independência passou a se
chamar Maputo.
9 –
No agito após a independência em 1975, os pais enviam ela aos 13 anos para a
casa dos avós em Portugal. Para
segurança e estudos.
Quando
da independência de Moçambique, muitos portugueses e descendentes voltaram para
Portugal. (1975)
10 –
Os portugueses tentaram desqualificar o que ela escreveu porque ela se
posicionou numa visão humanística do povo local. Ao que ela rebate: “Nada me beliscou e continuo a viver em
absoluta paz com o que escrevi”.
10 –
Ela correu o mundo após o livro ser publicado.
Muitas pessoas abordavam ela com depoimentos que as identificavam com
fatos por ela narrados no livro.
11 –
profissão – machambeiro (trabalhador
rural, produtor rural)
14 –
A descrição da mulher branca pela amiga negra...
“As
mulheres brancas não tem à frente, não tem atrás, são lisas e frias como
madeira seca”.
A
amiga dela falando da história que cita generais, colonizadores, colonos e não
fazem referência às mulheres e o papel delas, em tudo isso, inclusive em termos
afetivos.
15 –
No caso deles, o colonialismo está calcado no catolicismo e no
patriarcado. “O macho agressor invade”. (a terra, a mulher...)
16 –
O colonizador branco ter lá sua esposa branca e uma “cadela” (negra).
17 –
Negro... beber cerveja e vinho de caju (artesanais).
18 –
Para um negro, a alegria é a base da
sobrevivência, por isso sorri e canta.
35 –
Brancos não assinariam as paternidades com as pretas. Quantos mulatos conheciam o pai?...
Negra
não reclamava a paternidade dos filhos.
Ninguem lhe daria crédito.
Branco, se quisesse, poderia casar com negra, mas se negro casasse com
branca era um absurdo.
Mesmo
o pai da autora não se conformava se enxergasse um casal, ele negro e ela
branca. A filha dizia que era
implicância dele.
“Ele achava que a filha era comunista”
38 –
Leu na pré adolescência o livro sobre sexualidade (A Minha Vida Sexual) do Dr.
Fritz Khan. (eu também li bem jovem ele
livro).
43 –
O pai, eletricista, só tinha ajudantes negros, estes que ganhavam metade ou um
terço do que ganharia um ajudante branco.
Moravam na capital (então Lourenço Marques, depois, Maputo)
43 –
A voz corrente do colonizador é que preto é preguiçoso e beberrão. (já conhecemos por aqui também esse filme)
43 –
As relações: “Preto servia o branco e o
branco mandava no preto” (na terra
deles, os pretos).
44 –
Na época, sem TV em Moçambique, só rádio em português e uma emissora na língua do
povo local que pouco ou quase nada entendiam o português. Deixava-se que eles ouvissem rádio no
trabalho, que assim o trabalho rendia mais.
45 –
Criança batendo no portão pedindo comida e trabalho. Miséria.
A
mãe da autora as enxotava. A filha
ficava desapontada. Lia, inclusive para
fugir um pouco disso tudo. Alguns
autores: Charles Dickens, etc.
Nos
livros poderia até haver malevolências, mas ao fim e ao cabo, tudo se resolvia
bem.
50 –
Ela, menina, e a primeira experiência sexual.
E o pai a surpreendeu no ato.
Surra, etc. Notou que aquilo
era proibidíssimo.
Mais
tarde, com o tempo, ouvia Gianni Morandi, tipo a música Non Son degno di te...
52 –
O meu pai nunca amou outra terra. (que
não fosse Moçambique, mas na condição de mandar, etc)
54 –
Calor úmido e trinta e muitos graus.
55 –
Os pais dela se casaram por procuração...
(ele migrou jovem para Moçambique)
58 –
E eu sou o meu pai... o que resta dele.
59 –
Negras, estendendo a capulana para forrar o chão para vender frutas (manga,
tomate, amendoim, etc)
66 –
Sábado à tarde, dia do pai pagar os empregados com descontos e safanões. Tensão sempre. Para ela, o sábado era uma “doença”.
70 –
Ouvindo o anão brasileiro Nelson Ned no rádio com a música “Domingo à Tarde”.
72 –
Julgam... Se um negro corria, tinha
acabado de roubar, se caminhava devagar, procurava o que roubar. (também no Brasil há essa mentalidade,
infelizmente).
Ela
resolve se desfazer de um anel precioso que apertava o dedo (com ouro e rubi) e
resolve atirar com força o anel por baixo dos bancos no piso em descida do
cinema, sendo que na frente em cadeiras mais simples ficavam os negros. Um negro acha o anel, se levanta e vai ao
setor dos brancos perguntando quem perdeu um anel. (honestidade).
Negro
não usa nada que aperta no corpo.
Apertada já é a vida dele.
78 –
Ela na quarta série bateu uma vez na cara de uma coleguinha mulata que não
reagiu. Depois disso ela se sentiu
horrível. Bater nos mais fracos não era
nada cristão. “Jesus não o faria”.
79 –
Pés de piripiri de frutos vermelhos, ardidos no quintal. (tipo de pimenta). Comia pimenta como desafio para mostrar
auto controle. Se uma era atleta e fazia
um enorme esforço...
87 –
Palavras de preto – inhaca, etc. (pode
ser bodum, fedor, etc)
91 –
O primo dela com mentalidade de colonizador, foi para a guerra contra os que
buscavam a independência de Moçambique.
Os conflitos ficaram mais ao norte do país. Não chegaram à capital onde ela morava.
Voltou
da guerra calado, fumava muito. Um dia
se matou.
92 –
Menstruou aos 11 anos.
95 –
Fala do padrinho dela, construtor (destaca que os construtores de fato eram os
negros, empregados dele). Era
essencialmente poeta e suicida, explorador de mulheres e mentiroso.
96 –
No dia 25-04-1975 o líder português Marcelo Caetano foi deposto e se refugiou
no Brasil.
97 –
A elite branca de Moçambique queria a independência de Portugal, mas com ela no
comando do país. Nada de Frelimo. A FRELIMO foi a Frente de Libertação de
Moçambique, do povo nativo em luta pela independência.
97 –
O novo presidente de Portugal foi o
socialista Mario Soares que passou o poder aos negros de Moçambique, pondo
fim à luta.
Os
antigos colonizadores “quando revelam, saudosistas, com lágrimas sinceras: deixei meu coração em África” eu
traduzo: “Deixei lá tudo e tinha uma
vida boa”. (mandando e os outros
obedecendo...)
102
– O pai pergunta o que ela quer ser. Ela diz:
Datilógrafa. Ele retruca: Com
isso não se ganha a vida. Sugiro ser
Engenheira Agrônoma. O país precisa de
alimentos...
Ele
se preocupava com a independência da filha no futuro. Tens que estudar, ir à Universidade.
104
- Na guerra de então, cães e gatos foram
comidos pelo povo faminto. Ela disse
que esses animais foram os únicos verdadeiramente inocentes numa guerra.
109
– Quanto aos pretos. Conquistado o
poder por estes, muitos saíram à caça dos brancos. O vizinho preto deles os defendeu e assim
escaparam da sanha dos revoltosos.
110
– Ela perde o chão. Não é da terra dos pais e não é da África
que rejeita os colonizadores.
112
– Catana – arma na forma de um pau de ponta.
Espetavam a pessoa por baixo e tentavam fazer a arma varar até a
boca. Muitos morreram por essa arma.
114
– Fala das articulações para migrar para Portugal e precisar de uma “cunha”,
alguém influente que dê um jeitinho para ajudar na burocracia.
116
– Ela e a amiga liam Sara Beirão.
116
– A amiga Domingas, também pré adolescente, ambas na banheira e a masturbação.
117
– Já sob domínio do povo local, ela e a amiga conseguem atuar como professoras
com autorização do Comitê de Revolução.
Isto lhes dá salvo conduto para permanecer na capital sem maiores
problemas.
A maioria
das crianças da classe não entendiam o português, mas ficavam atentas e
aprendiam as coisas.
120
– Muitos colonos abandonaram a África antes de cair o governo colonial. Outros como o pai dela, ficou até o fim
achando que haveria uma reviravolta que não veio.
120
– O governo que se instalou após o fim da colonização, em 1975 foi o governo
local, comunista. Dotaram o país de
infraestrutura com apoio soviético, cubano e de gente do Báltico.
121
- Cita uns dos líderes da Revolução
Moçambicana ligados à FRELIMO: Samora Machel, Graça Simbine e Eduardo Mondlane.
128
- Ao partir, aos 13 anos, só para
Lisboa, uma legião de ex colonos vão dando palpites do que ela teria que dizer
lá em Portugal sobre os moçambicanos nativos, os pretos. “Que não querem trabalhar e
morrerão de fome. Que a África sem os
brancos está condenada. Vão chorar e
clamar tanto por nós”.
131 – Ela reencontrou o pai uma
década depois de ir para Portugal.
140
– Na casa pobre da avó em Portugal:
cama de ferro e colchão de palha de milho. Patos e galinhas pelo quintal e dentro de
casa.
141
– O frio da nova terra. Banho em local
sem teto e água fria. Banho de bacião.
142
– A avó era lavadeira para ganhar o sustento.
143
– O lugar da moradia. Caldas da
Rainha, Travessa do Cais.
O
pai dela nunca falava do passado dele a ela.
Ele migrou jovem meio fugido sem saberem bem pra onde foi. Quando ele se estabilizou em Moçambique,
quis levar a mãe mas ela não aceitou.
148
– As colegas de escola dela riam dela por ser “gorda” e “retornada”. Ex colona que volta para a Pátria no prejuízo.
149
– Colonos ao retornar, donos de sítios, etc.
Muitos queimavam benfeitorias e lavouras para que outros não
aproveitassem nada.
150
– Ela no tempo de Moçambique teve contato com missionários Adventistas
brasileiros que andaram por lá em trabalho.
A Revolução proibiu no novo governo local, a presença de missionários em
Moçambique. E proibiu os cultos
religiosos.
156
– Depois de morar com a avó, foi morar com o tio Guto. Fabricante de
terrinas. Tinha empregadas
mocinhas. Muitas vezes arrastava as
asas pra elas e mesmo para a sobrinha.
157
– Portugal: na visão dela – A Metrópole (Lisboa) era suja, feia,
pálida, gelada.
Os portugueses: feios, sombrios, pobres, sem luz
(pequenos).
158
– Em 1978 o dai dela estava preso em Moçambique por insulto ao novo
regime. (instaurado em 1975).
165
– Sobre a tia e os colonos – Um branco que viveu o colonialismo será um branco
que viveu o colonialismo até o dia da morte.
(acha que deveria ser sempre igual, mandando sempre...)
166
– Com os desterrados como ela,
cortaram os laços legais, não os afetivos.
175
– Nos anos 50, o pai dela então jovem solteiro, já eletricista, pediu para
migrar ao Brasil. Portugal negou talvez
por ele ser mão de obra especializada.
Então ele pediu para a então colônia portuguesa, no caso, Moçambique e
pra lá foi aceito. E assim foi.
Ela
declara que gostaria de ser brasileira.
Cita músicos nossos e escritores
como Jorge Amado, Erico Verissimo, Cecília Meirelles.
176
– “Quem é que não queria ser brasileiro?”
176 – Ela,
após novelas da Globo, ao chamar seu pet, imita o gesto do personagem do Lima
Duarte, o Sinhozinho Malta. Ele, durão,
pulseira enorme, afirma algo de forma truculenta, chacoalha a pulseira e
pergunta: Tô certo ou num tô? Como duvidar... Ela usava chacoalhar a pulseira para
comandar o cãozinho.
176
–Tomou em Portugal aulas de MS DOS no computador com uma professora de Curitiba
PR. A professora lhe falava de crise
econômica no Brasil, banditismo, pobreza.
“Isto para mim não era o Brasil”.
E a professora dizia que Curitiba era fria no inverno.
177
– Alerta: Não me façam perguntas. Leiam-me apenas.
177
– Após 42 anos que saiu de Moçambique, voltou a Maputo onde havia nascido e
morado. Tudo mudado, claro.
180
– Ele, o pai, colono típico e ela com dores e amores pelo povo nativo. “As
crianças intuem a verdade sem precisar de palavras”.
Na
contra capa do livro, nos comentários, um de Margarida Calafate Ribeiro: “Este livro é um grito”.
Zap do
resenhista: (41) 99917.2552
Orlando Lisboa de Almeida
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