PARTE FINAL – DOM ERWIN (Bispo da Prelazia do Xingu-PA
Lutar pela demarcação das terras indígenas é garantir a Ecologia. A Amazonia do branco fica pelada, virando pasto, savana (vegetação praticamente sem árvores), estepe. Ao contrário, a Amazonia dos índios continua com floresta em pé.
O negro que vinha da África escravizado sentia o banzo, queda na vontade de viver, saudade da terra natal e cultura própria. O povo ribeirinho é uma mistura do colonizador português com o negro e o índio.
Comunidades ribeirinhas quando diziam ir ao centro, era ir à mata para se prover de alimentos, etc. Viviam em comunhão com a natureza.
O Rio Xingu tem 2.000 km. Baixo Xingu, perto da foz do rio fica de barco potente ao redor de 45 minutos da sede da prelazia.
Falou da festa popular do Círio de Nazaré onde se vê tanta gente com a fé estampada no rosto.
Quando da riqueza da borracha, a corrida dos nordestinos para a Amazonia onde havia seringueiras nativas na mata. Tempos dos Barões da Borracha. O belo Teatro da Paz em Belém do Pará (eu conheci o mesmo).
No tempo da Segunda Guerra Mundial aumentou a demanda por borracha para veículos de guerra inclusive. Tempos de riqueza com a exploração da borracha em seringais nativos da Amazonia. Os chamados “soldados da borracha” foram migrantes, principalmente do nordeste que foram incentivados pelo governo brasileiro para a região visando o incremento da produção da borracha.
Na Segunda Guerra Mundial o Brasil enviou para a guerra ao redor de 20.000 soldados. Uns 240 morreram em combate. Já no caso dos “soldados da borracha”, aproximadamente a metade morreu de malária, conflitos, etc.
Anos 70. Presidente Medici. Seca no Nordeste e o presidente General sobrevoa em seguida a Amazonia e do avião, só via mata e mais mata. Viu o que pensou ser uma terra sem presença humana e deu na telha dele a ideia de levar gente que estava castigado pela seca do Nordeste para colonizar a região amazônica.
Era tempo do poderoso General Golbery do Couto e Silva que era mentor de ideias geopolíticas no governo. Achava que precisava povoar a amazonia sem conhecer os que já viviam por lá. Visão deles de defesa do País.
Naquela época, anos setenta, as famílias nordestinas eram composta de bastante filhos, comumente mais de seis. O governo abriu a rodovia Transamazonica e fez estradas vicinais ( os chamados travessões) em espinha de peixe nas laterais em certa região e nessas estradas vicinais, dividiu lotes de terras para serem ocupados por migrantes visando colonizar as áreas. Cada travessão, estrada vicinal tinha ao redor de 5 km e nas laterais dela, os lotes rurais em abertura.
A cada 50 km mais ou menos, ao longo de parte da Transamazonica criaram as chamadas Agrovilas para os colonizadores se abastecerem.
Na primeira colonização, só 15% dos novos colonos conseguiram se consolidar na terra. Não tinham assistência médica, etc. Muitos voltaram para o Nordeste e outros incharam as Agrovilas e outros centros urbanos.
Cita a Folha de São Paulo de 10-10-1970. Matéria sobre a Transamazonica.
O Bispo Dom Erwin estava no local da inauguração citada rodovia Transamazonica e assistiu inclusive o discurso emocionado do presidente general Emilio G.Medici.
De vésperas, “pintaram” de cor de asfalto uns 5 km da rodovia só para quem fosse à cerimônia ter uma boa impressão. A rodovia era sem asfalto. O projeto de 4.300 km era de ligar a cidade de Labrea no Amazonas ao porto de Cabedelo na Paraiba. O Bispo disse que aquela obra tratada com ufanismo foi um canto de sereia. Houve uma corrida migratória para tentar ganhar a vida por lá. Hoje o que se vê no rosto do morador da região é uma mistura dos antigos ribeirinhos, mais os nordestinos e a feição também dos migrantes do sul do Brasil, inclusive muitos paranaenses que para lá migraram na época da construção da rodovia.
Ele destaca que a cidade de Altamira-PA ultimamente já teve dois prefeitos que são paranaenses cujas famílias migraram para lá em outros tempos, com ênfase na época da construção da rodovia.
Foi para alguns o trampolim para a riqueza pessoal, mas para poucos.
Período das queimadas – agosto a setembro se intensificam. Causa irritação nos olhos, asma. Visão de altas castanheiras em pé queimando à noite. Cena macabra. Quem questiona isso é inimigo e “deve” ser eliminado.
Derrubada a floresta, os grandes fazendeiros semeiam o capim para formar pasto com uso de aviões agrícolas. Jogam inclusive sobre as roças dos pequenos ribeirinhos. Força os pequenos a abandonarem suas pequenas posses.
Sobre construção de hidrelétrica na região, ele diz que no geral são menos danosas que as nucleares em potencial. Mas que no caso da amazonia, ele entende que deveria antes ouvir as comunidades atingidas e achar solução comum. Ninguém consulta a comunidade, inclusive a que vai ser remanejada pela inundação em si.
Disse que já viu esse filme antes, na construção da Transamazonica. Não se ouve o povo atingido pela obra. Ele que vive há muitas décadas na região afirmou que a estrada citada só trouxe injustiça e miséria ao povo local.
Disse que o estado do Pará é rico inclusive em minérios e entre os 27 estados em riqueza efetiva é o 23º.
Em seguida teve uma breve fala do Eduardo da comunidade de Nossa Senhora do Sião, em missão. A referida comunidade nasceu de leigos católicos de Maringá-PR e atualmente (2007) está em Rondônia e em Humaitá-AM.
Na parte das perguntas, Dom Erwin destacou que na região conta com poucos padres. Em sua Prelazia do Xingu, enorme que é, conta com 26 padres, sendo 13 diocesanos e 13 de outros países. Disse que até anos atrás, 95% dos clérigos na Amazonia era composta de estrangeiros por falta de clérigos brasileiros.
Disse que lá os índios dividem os brancos em: os que vem aqui para buscar coisas e alguns que vem para nos ajudar.
O Dom Erwin (em 2007) anda na Prelazia escoltado por dois soldados. Diz até brincando, que nunca os PM assistiram tantas missas.
(os da escolta).
Ele destacou por lá a capacidade de engajamento das mulheres nos serviços pastorais. Elas são uma rocha na missão.
Sobre como os daqui ajudarem, ele disse que buscando conhecer um pouco mais da realidade deles já é uma ajuda porque “o que não se conhece não se ama...” . Diferente do Paraná, lá o desafio tem sido bem maior para a Igreja e os colaboradores. Aceitam ajuda.
Anotações pelo Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
(residi em Maringá por 12 anos entre 2000 e 2012 e fui inclusive Secretário da CPP da Catedral local – Comissão Pastoral Paroquial)
orlando_lisboa@terra.com.br
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