capítulo 10 - final
“Dizem que o Brasil já foi bom, mas eu não sou dessa
época... hoje eu fui me olhar no espelho.
Fiquei horrorizada. O meu rosto
é quase igual ao da minha saudosa mãe.
Estou sem dente. Magra. Pudera! O medo de morrer de fome!”
O
Orlando explora os favelados na conta de luz.
Carolina tenta defender as vizinhas mas elas vão e contam tudo para o
Orlando. Ele fica irado com
Carolina. “Eu quero defende-las,
porque há ladrões de toda espécie. Mas
elas não compreendem”.
...Ela ofereceu comida a um favelado faminto. Ele aceitou. “Esquentei macarrão, bofe (pulmão bovino) e
torresmo para ele”.
O pai da Vera é bem de vida e tem oficina, mas não ajuda com
a pensão.
... Quando
anoiteceu eu fiquei alegre. Cantei. O João e o José Carlos, meus filhos, tomaram
parte. Música Jardineira. (Marchinha de carnaval de sucesso na voz de
Orlando Silva desde 1939).
Quando a Vera come carne, fica feliz e canta.
Carolina na fila da repartição para receber a pensão
repassada pelo pai da Vera. Ela diz que
na fila ouve as mulheres todas chamando os ex companheiros sempre usando nome
de animais. Cavalo, cachorro etc.
Ela é mais uma na fila.
E faz até uma comparação. “Dizem
que quem entra na réstea, vira cebola”.
(no passado, as pessoas do sítio usavam arrancar as cebolas de cabeça
com as folhas e trançavam as folhas ficando as cebolas expostas e a “réstea” de
cebolas ficava pendurada na parede para o uso do dia a dia).
A cidade é um morcego que chupa o sangue da gente. ... Já emagreci oito quilos.
...”Quando passei diante de uma vitrine, vi meu
reflexo. Desviei o olhar, porque tinha a
impressão de estar vendo um fantasma”.
No dia do aniversário da Vera (caçula) não teve dinheiro
para comprar os ingredientes para fazer o bolo.
Serviu para Vera café com leite e polenta. Ela não gostou de comer isso no lugar do bolo.
Um menino de nove anos morreu eletrocutado pela rede
elétrica. Carolina lamenta inclusive
por conhecer a triste história do menino.
Ela desabafa: “Temos um só jeito
de nascer e muitos de morrer”.
Ela conversando com um catador de papel jovem sem teto. Ele dorme debaixo dos viadutos. Ela pergunta:
- Quantos anos você tem? - Tenho
24 anos. Mas já enjoei da vida.
...”Já estou enfastiada de brigas na favela.
Equipe da companhia cinematográfica Vera Cruz na favela
filmando Cidade Ameaçada. O povo da
favela todo de olho na equipe de filmagem e inclusive nas comidas que eles
tinham para comer.
Aqui termina (180 páginas) o livro na parte da narrativa da
Carolina. Vem comentários de pessoas
ligadas à literatura. Ano de 1962.
Carolina faleceu com 62 anos de idade. Ela nasceu em Sacramento, Minas Gerais em
1914. Após a morte da mãe, ala vem para
São Paulo e trabalha de início de empregada doméstica. Ficou grávida e não aceitaram mais ela em
emprego em casas de família. O jeito
foi ir morar na favela.
Teve ao todo três filhos, cada um de pai diferente.
O livro Quarto de Despejo foi editado pela Livraria
Francisco Alves, sendo 10.000 exemplares que se esgotaram em uma semana. No Brasil foram nove edições desse livro e
no exterior foi editada em treze idiomas e circulou em quarenta países.
Após obter sucesso, ela comprou uma casa no bairro de
Santana em SP onde morou até 1964.
Depois comprou uma chácara de 6.000 m2 em Parelheiros, bairro distante
40 km do centro de São Paulo.
Escreveu e editou outros livros, inclusive usando parte do
dinheiro do seu primeiro livro e não obteve sucesso. Em 1964 houve a Ditadura Militar e com esta
ela deixou de ser celebrada inclusive por políticos populistas que ficavam de
olho nos votos.
Passada a fase da fama, em 1966 ela volta a catar papel no
centro de São Paulo. Avó de quatro
netos, mora com um dos três filhos e morre em 1977. (13-02-1977). FIM.
Término da leitura dia 16/06/2024 OLA
zap 41 999172552
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