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domingo, 16 de junho de 2024

Fichamento do livro - cap 10 (final) - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

 capítulo 10 - final

        

         “Dizem que o Brasil já foi bom, mas eu não sou dessa época... hoje eu fui me olhar no espelho.  Fiquei horrorizada.   O meu rosto é quase igual ao da minha saudosa mãe.   Estou sem dente.  Magra. Pudera!  O medo de morrer de fome!”

          O Orlando explora os favelados na conta de luz.   Carolina tenta defender as vizinhas mas elas vão e contam tudo para o Orlando.  Ele fica irado com Carolina.     “Eu quero defende-las, porque há ladrões de toda espécie.  Mas elas não compreendem”.

         ...Ela ofereceu comida a um favelado faminto.   Ele aceitou.   “Esquentei macarrão, bofe (pulmão bovino) e torresmo para ele”.

         O pai da Vera é bem de vida e tem oficina, mas não ajuda com a pensão.

         ...     Quando anoiteceu eu fiquei alegre.  Cantei.  O João e o José Carlos, meus filhos, tomaram parte.   Música Jardineira.   (Marchinha de carnaval de sucesso na voz de Orlando Silva desde 1939).

         Quando a Vera come carne, fica feliz e canta.

         Carolina na fila da repartição para receber a pensão repassada pelo pai da Vera.   Ela diz que na fila ouve as mulheres todas chamando os ex companheiros sempre usando nome de animais.   Cavalo, cachorro etc.

         Ela é mais uma na fila.  E faz até uma comparação.   “Dizem que quem entra na réstea, vira cebola”.   (no passado, as pessoas do sítio usavam arrancar as cebolas de cabeça com as folhas e trançavam as folhas ficando as cebolas expostas e a “réstea” de cebolas ficava pendurada na parede para o uso do dia a dia).

         A cidade é um morcego que chupa o sangue da gente.   ... Já emagreci oito quilos.

         ...”Quando passei diante de uma vitrine, vi meu reflexo.  Desviei o olhar, porque tinha a impressão de estar vendo um fantasma”.

         No dia do aniversário da Vera (caçula) não teve dinheiro para comprar os ingredientes para fazer o bolo.  Serviu para Vera café com leite e polenta.  Ela não gostou de comer isso no lugar do bolo.

         Um menino de nove anos morreu eletrocutado pela rede elétrica.   Carolina lamenta inclusive por conhecer a triste história do menino.  Ela desabafa:  “Temos um só jeito de nascer e muitos de morrer”.

         Ela conversando com um catador de papel jovem sem teto.  Ele dorme debaixo dos viadutos.  Ela pergunta:  - Quantos anos você tem?  - Tenho 24 anos. Mas já enjoei da vida.

         ...”Já estou enfastiada de brigas na favela.

         Equipe da companhia cinematográfica Vera Cruz na favela filmando Cidade Ameaçada.   O povo da favela todo de olho na equipe de filmagem e inclusive nas comidas que eles tinham para comer.

         Aqui termina (180 páginas) o livro na parte da narrativa da Carolina.  Vem comentários de pessoas ligadas à literatura.   Ano de 1962.

         Carolina faleceu com 62 anos de idade.     Ela nasceu em Sacramento, Minas Gerais em 1914.   Após a morte da mãe, ala vem para São Paulo e trabalha de início de empregada doméstica.   Ficou grávida e não aceitaram mais ela em emprego em casas de família.   O jeito foi ir morar na favela.

         Teve ao todo três filhos, cada um de pai diferente. 

         O livro Quarto de Despejo foi editado pela Livraria Francisco Alves, sendo 10.000 exemplares que se esgotaram em uma semana.   No Brasil foram nove edições desse livro e no exterior foi editada em treze idiomas e circulou em quarenta países.

         Após obter sucesso, ela comprou uma casa no bairro de Santana em SP onde morou até 1964.  Depois comprou uma chácara de 6.000 m2 em Parelheiros, bairro distante 40 km do centro de São Paulo.

         Escreveu e editou outros livros, inclusive usando parte do dinheiro do seu primeiro livro e não obteve sucesso.    Em 1964 houve a Ditadura Militar e com esta ela deixou de ser celebrada inclusive por políticos populistas que ficavam de olho nos votos.

         Passada a fase da fama, em 1966 ela volta a catar papel no centro de São Paulo.   Avó de quatro netos, mora com um dos três filhos e morre em 1977.   (13-02-1977).     FIM.

 

         Término da leitura dia 16/06/2024         OLA   zap 41 999172552

sábado, 15 de junho de 2024

Fichamento do livro - cap 9 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

Carolina no passado em Minas Gerais onde nasceu, já colheu algodão.
Véspera de Natal, catando papel na rua. Vai passar no Centro Espírita Divino Espírito Santo onde ajudam os pobres.
A filha Vera ganhou no comércio uma boneca dada por uma senhora. Vera ficou muito feliz e disse que ia rezar para essa senhora ser feliz e que ia ensinar a boneca a rezar também.
... Sobre a infidelidade conjugal e as falas das vizinhas. “A língua das mulheres é um pavio. Fica incendiando”.
As crianças jogando bola, inclusive os filhos da Carolina. “Eu não implico com as crianças, porque não tenho vidraça e a bola não estraga as paredes de tábua”.
No diário, 16/01/1959: Carolina registra que neste dia está triste porque a editora dos USA The Read Digest devolveu o original do livro dela por não aceitar a publicação.
Carolina e o flerte com o cigano Raimundo, nascido na Bahia. ...”sua beleza é igual ao mel atraindo as abelhas”. ...”acho graça de um sururu que houve aqui na favela... .... xingamento de negra ordinária...”
O frei que vem rezar missa na favela colocou o nome no local de Bairro do Rosário.
“Não nasci ambiciosa. Recordei um trecho da Bíblia “não acumule tesouros, porque lá estará o seu coração”. “Sempre ouvi dizer que o rico não tem tranquilidade de espírito. Mas o pobre também não tem porque luta para arranjar dinheiro para comer”.
Ela engordou um porco a meia. Um vizinho deu um porco magro para ela engordar e depois abatiam e cada um ficava com a metade.
O dia de matar o porco foi um agito na favela. Carolina não deu nem vendeu nada do porco para os vizinhos. Precisava de tudo para sustentar sua família.
Carolina em maio de 1958 visitando a Academia Paulista de Letras onde um repórter iria entrevista-la para a revista O Cruzeiro (muito popular na época).
“A vida é igual a um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra”.
...”A minha vida, até aqui, tem sido preta.”
“O senhor Manoel chegou. Agora eu estou lhe tratando bem, porque percebi que gosto dele”.
... “A Vera não queria comer aveia. Dizia: eu não gosto. Dei-lhe uma surra e ela comeu”.
Saiu a reportagem com a Carolina na revista O Cruzeiro de 10-05-1958. ...”jantei e depois cantei a valsa Rio Grande do Sul.”
Carolina foi recebida no Diários Associados de propriedade do Assis Chateaubriand. Ele que chegou a ter 34 jornais e várias emissoras de televisão. (Nota do leitor aqui: Era tipo a Rede Globo da época. Li Chatô, Rei do Brasil, de autoria do Jornalista Fernando Morais - esclarecedor).
“Estou na sala bonita. A realidade é muito mais bonita que o sonho”.
Continua no capítulo 10 - final

 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Fichamento do livro - cap 8 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

capítulo 8                    leitura em junho de 2024

 

         A favela não forma o caráter.  A favela é o quarto de despejo.  E as autoridades ignoram que tem o quarto de despejo.

         ... um sapateiro perguntou se meu livro é comunista.  Respondi que é realista.  Ele disse que não é aconselhável escrever a realidade.

         Na fila da torneira para pegar água.   “Tinha uma preta que parece que foi vacinada com agulha de vitrola”.

         Comprou um par de alpargatas para a filha Vera.

         Levantar sempre de madrugada.  Conseguiu comprar sanduiche para os filhos.    “A mãe está sempre pensando que os filhos estão com fome”.

         Ela compra tinta para caneta.  Usa caneta tinteiro (“tinta molhada”)

         “No frigorífico eles não põe mais lixo na rua por causa das mulheres que catavam carne podre para comer”.

         Conversando com uma branca.    “Ela disse-me que nos Estados Unidos eles não querem (ano 1958) negros na escola.   Fico pensando:   Os norte-americanos são considerados os mais civilizados do mundo e ainda não convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol.  O homem não pode lutar contra os produtos da natureza”.    “Deus criou as duas raças na mesma época..”

         ... deixei o leito as cinco horas porque quero votar...

         Na fila da torneira logo de manhã.     ...”a língua das mulheres da favela é de amargar.    Não é de ossos, mas quebra ossos”.

         O filho João foi fazer compra de açúcar e acabou trazendo arroz.    “Ele passa o dia lendo gibi e não presta atenção em nada”.

         (eu, leitor, quando criança lia bastante gibi)

         Carolina destaca que tem ponto de bonde perto da favela onde mora.

         ...”Penso que uma mulher que separa-se do esposo não deve prostituir-se.  Deve procurar um emprego.   A prostituição é a derrota moral de uma mulher.  É como um edifício que desaba”.

         ...”Quem paga as despesas das eleições é o povo.”

         O filho mais velho, o João, apanhou por desobedecer a mãe.  “Surrei  ... e rasguei-lhe os gibis desgraçados.  Tipo de leitura que eu detesto.”

Almoçou com a Vera na casa da dona Julita que sempre a acolhe.

         “Que comida gostosa!    ...ganhei dela arroz agulha.  O arroz das pessoas de posses”.

         Carregar no carrinho de catar recicláveis até 100 kg de papel.   “Estava fazendo calor.   E o corpo humano não presta.   Quem trabalha como eu tem que feder!”.

         Sonhando...  “O povo brasileiro, dizia dona Angelina, só é feliz quando está dormindo”.

         A mãe favelada perde a filha criança.   A mãe  bebe.   Logo depois do enterro da filha, foi beber.    “O que eu fico admirada é das almas da favela.  Bebem porque estão alegres.  E bebem porque estão tristes.  A bebida aqui é o paliativo”.

         Carolina comprou um rádio e agora contratou com o Sr Orlando e ele ligou a luz e vai cobrar a conta por bico de luz da casa dela.  Três bicos de luz, no caso.

 

         Continua no capítulo 9    

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Fichamento do livro - cap 7 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

capítulo 7

 

         “Já percebi que minha filha é revoltada.   Ela tem pavor de morar na favela.”   

         Lavar a roupa na lagoa e a ameaça da “doença do caramujo”.   (esquistossomose, popularmente – barriga d´água).

“Dona Rosa sabe que aqui na favela não pode alugar barracão.   Mas ela aluga”.      ... maldosa....    catar lenha.

         “Parece que eu vim ao mundo predestinada a catar.   Só não cato a felicidade”.

         A cidade de São Paulo que é bonita mas  ...”está enferma.   Com as suas úlceras.  As favelas”.

         As pregações do Frei.   Pede que os favelados sejam humildes.          “Penso:   se o frei fosse casado, tivesse filhos e ganhasse salário mínimo, aí eu queria ver se ele era humilde.  Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com resignação.   Se o frei tivesse filhos comendo gêneros deteriorados... havia de revoltar-se porque a revolta surge das agruras”.

         ...”aqui tem uma nortista (nordestina) que quando bebe, torra a  paciência”.     (torrar a paciência era termo que eu ouvia na infância...)

         Deixar os filhos em casa e ir catar papel.    Um dia acusaram o filho dela, o menino, de querer abusar de uma criança de dois anos.   Carolina chorou.  Foi conversar com o Juiz de Menores.

         ... Tem hora que me revolto comigo por ter iludido com os homens e arranjado estes filhos.

         ... cita mais adiante um episódio de meninos que fugiram do Juizado de menores.    Os fugitivos    ...”contaram-me os horrores do Juizado.  Que passaram fome, frio e que apanharam muitas vezes”.

         “Os juízes não tem capacidade para formar o caráter das crianças.  O que é que lhes falta?   Interesse pelos infelizes ou verba do Estado?

         Tem um barracão na favela e os crentes vem cantar e rezar três vezes por semana.

         “A favela é uma cidade esquisita e o prefeito daqui é o diabo.  E os pinguços que durante o dia estão ocultos e à noite aparecem para atentar”.

         ...”O meu filho com onze anos já quer mulher”.    Meu filho ouviu a Florência dizer que eu pareço louca.  Que escrevo e não ganho nada.

         ...”Estou mais disposta.  Ontem supliquei ao Padre Donizeti para eu sarar’.   ( esse padre pregava pelo rádio e benzia água para os ouvintes).

         ... uma pessoa que passava na favela vendendo miúdos de vaca.  (rim, coração, fígado, bucho...)

         A filha Vera está com cinco anos de idade.

         “Hoje não lavo roupas porque não tenho dinheiro para comprar sabão.  Vou ler e escrever”.

         Vender garrafa vazia para conseguir uns trocados.    “Aqui na favela do Canindé há 160 casos de doença do caramujo.

         A filha Vera de sapato consertado.   Sorrindo.   “Fiquei olhando a minha filha sorrir, porque eu já não sei mais sorrir”.

         Uma vizinha, mãe solteira, três filhos pequenos.   Um deles reclama da mãe e diz que queria ser filho da Carolina.  Ela diz que não.  Que se fosse filho dela, ele era preto.   – E você é branco.  A criança respondeu:  - Mas se eu fosse seu filho eu não passava fome.

         O filho José Carlos faz dez anos (6 de agosto), mesma data que eu, leitor, faço aniversário por coincidência.

         “... deixei o leito às quatro horas.  Eu não dormi bem porque deitei com fome.   E quem deita com fome não dorme.

 

         Continua no capítulo 8 

sábado, 1 de junho de 2024

Fichamento do livro - cap 6 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

 capítulo 6   

 

         “Passei 23 anos mesclada com os marginais”.    Só não me extraviei por gostar de ler...

         Página 257 – sobre a inspiração para o título deste livro:   “...a favela é o quarto de despejo da cidade.   Nós, os pobres, somos os trastes velhos”.

         Um comentarista no final do livro explica a origem do termo favela.   Favela é uma planta.   Em Canudos na Bahia havia o Morro da Favela.  Ficava no sertão.  Houve a sangrenta guerra de Canudos etc.

         Soldados do Rio, voltaram da Guerra de Canudos e não foram indenizados.  Tiveram que morar em barracos no Morro da Providência no RJ.  Aí o morro foi apelidado de Morro da Favela, lembrando Canudos.

         Voltando às falas da Carolina:    Uma mulher da favela se suicidou.  A autora reflete:  “Mas é uma vergonha para a Nação.  Uma pessoa matar-se porque passa fome”.

         Filas de pobres em frente à fábrica de bolachas para tentar ganhar bolachas quebradas para comer.  A mulher que distribui dá a ordem: - Quem ganhar deve ir-se embora.    ...

         “Uma pessoa mata-se porque passa fome.  E a pior coisa para uma mãe é ouvir...    – Mamãe eu quero pão!  Mamãe eu estou com fome!”.

         Um soldado que bebe arrasta a asa para ela.  Ela sabe que ele bebe e não gosta disso.

         - “O senhor sabe que o soldado alemão não pode beber?

         O soldado olhou-me e disse:  - Graças a Deus, sou brasileiro.

         Pouca grana...   “Temos que voltar ao primitivismo.   Lavar na tina e cozinhar com lenha.

         “Eu escrevia peças e apresentava aos diretores dos circos.   Eles respondia-me:   “É pena você ser preta.   Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rústico.   Eu até acho o cabelo do negro mais educado do que o cabelo do branco.  Porque o cabelo de preto onde põe, fica.   É obediente”.

         A filha Vera doente.  Vômitos e febre.    “Não posso contar com o pai dela.   Ele não conhece a Vera.   E nem a Vera conhece ele.”

         Época de campanha eleitoral.   Cupom para “festa”.   Encheu de gente.  Era pão, bala e uma régua escolar com o nome do candidato.  (Deputado Paulo Teixeira de Camargo)

         Carne cara...  “Pensei na desventura da vaca, a escrava do homem que passa a existência no mato, se alimenta com vegetais, gosta de sal mas o homem não dá porque custa caro.   Depois de morta é dividida.  Tabelada e selecionada.   E morre quando o homem quer”.

         Morreu a mãe do Paredão.   “Ela era muito boa.   Só que bebia muito.

         ...  “O que eu acho interessante é quando alguém entra num bar logo aparece um que oferece pinga.  Porque não oferece um quilo de arroz, doce etc.?

         ...”Se eu viciar em álcool os meus três filhos não vão respeitar-me.  Eu prefiro empregar meu dinheiro em livros do que em álcool.”

         Corrida de pedestres.   Da favela (Vila Javari) até a Igreja do Pari.

         Citou cola com visgo.  

         “Na rua A tem um baile.  Depois que a favela superlotou-se de nortistas tem mais intriga.  Mais polêmica e mais distrações.”

         “Eu percebo que se este Diário for publicado vai magoar muita gente.  Tem pessoa que quando me vê passar saem da janela ou fecham as portas.

         O Carteiro desanimado.    “As pessoas sem apoio   ... quando encontra alguém que condoi-se deles, reanimam o espírito”.

         “Eu não faço reclamações de crianças.   Porque eu gosto de crianças”.

 

         Continua no capítulo 7

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Fichamento do livro - cap 5 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

capítulo 5   

 

         “O meu corpo deixou de pesar.  Comecei a andar mais depressa.  Eu tinha a impressão de que eu deslizava no espaço.  E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer?”

         Diário – 28 de maio.    Sem dinheiro em casa.  “Quero escrever, quero trabalhar, quero lavar roupa”.  Frio e chuva  ....” o que quero esclarecer sobre as pessoas que residem na favela é o seguinte:  que tira proveito aqui são os nortistas (hoje dizemos nordestinos).   Que trabalham e não dissipam.   Compram casa ou retornam para o Norte (Nordeste na nomenclatura atual).

         Na favela tem barraco do morador e tem dos que fizeram para vender e os que fizeram para alugar.

         ...  “O que eu me revolto é contra a ganância dos homens que espremem uns aos outros como se espremesse uma laranja.”

         Favela sem lugar para flores, abelhas, natureza.   “O único perfume que exala da favela é a  lama podre, os excrementos e a pinga”.

         Ela enfrentando um vizinho valentão.   “Mas eu lhe ensinei que a é a e b é b.  Ele é de ferro e eu sou de aço.  Não tenho força, mas minhas palavras ferem mais do que espada”.

         “Hoje tem arroz, feijão, repolho e linguiça.  Quando faço quatro pratos penso que sou alguém.”

         Apareceu um pretendente querendo casar com ela.   ...”um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler.   E que levanta para escrever...”

         Mulheres da favela... são horríveis numa briga.   O que podem resolver com palavras, transformam em conflito”.   ...”eu penso que a violência não resolve nada.     ....  “Dona Domingas é uma preta boa igual pão.

         ...”um dia eu discutia com a Leila.  Ela e o Arnaldo puseram fogo no meu barracão.   Os vizinhos apagaram”.

         ...”Mas eu já observei os nossos políticos.  Para observá-los fui na Assembleia Legislativa.     ...”Só quem passa fome é que dá valor à comida.”

A mãe dizia a ela quando criança:   “Nós somos pobres, viemos para as margens do rio.”  ...”São lugares de lixo e marginais”.  Gente da favela é considerado marginais.

         “Não mais se vê os corvos nas margens do rio, perto dos lixos.   Os homens desempregados substituíram os corvos (urubus).

         “Eu não danço.   Acho bobagem ficar dançando daqui pra ali.  Eu já rodo tanto para arranjar dinheiro para comer.”

         “Já faz tempo que os meninos estão pedindo pasteis.    ... “os pasteis é um acontecimento aqui em casa”.    Os moradores perto da favela olham os favelados com desprezo.   Esquecem eles que na morte todos ficam pobres.

         ...”Já faz seis meses que eu não pago a água.     ...”O José Carlos está mais calmo depois que botou vermes, 21 vermes.

         Acordei de madrugada e comecei escrever.   Tipo sonho que estou num Castelo onde moro...   “É preciso criar este ambiente de fantasia para esquecer que estou na favela”.   

         “As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários.”

         ...”li o jornal para as mulheres da favela ouvir...    ...devo reservar as palavras suaves para os operários, para os mendigos, que são escravos da miséria.”

         (na biografia dela na página 255).

         Motivo para ler um livro:  “Para adquirirmos boas maneiras e formarmos nosso caráter”.

         Ela destaca o incentivo da professora dela para leitura:  “Que pessoas instruídas vivem com mais facilidade”.

         “Passei 23 anos mesclada com os marginais”.

 

         Continua no capítulo 6    

sábado, 25 de maio de 2024

Fichamento do livro - cap 3 - QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS (ANOS 50/60)

 capítulo 3

 

         Uma vizinha brigando com o filho de seis anos de Carolina.  Ela trouxe o filho para dentro de casa e perdeu a paciência porque a mulher continuou xingando.   Respondeu:  - “Cala a boca, tuberculosa!”

         “Não gosto de xingar os outros, mas quando a gente sai do sério  .... apela para as enfermidades”.     (como leitor me lembro da minha infância rural nos anos 50 no interior de SP.   Eram os palavrões:  lazarento, tísico, morfético...   doenças).  Lazarento – lepra.  Tísico – tuberculoso.  Morfético – hanseníase, lepra.

         ...”Amanheci contente.  Estou cantando.   As únicas horas que tenho sossego aqui na favela é de manhã.”

         Ela recusa ir para o quarto de um conhecido que a convidou.  “Disse-lhe: Não!”

...      “É que estou escrevendo um livro para vende-lo.  Viso com esse dinheiro do livro comprar um terreno para eu sair da favela”.

         ...”Fiquei horrorizada.  Haviam queimado meus cinco sacos cheios de papel”.    ...”Não estou ressentida.  Já estou habituada com a maldade humana.”

         Parte 2  - Diário de 1958

         ...”o que eu aviso aos pretendentes à política é que o povo não tolera a fome.  É preciso conhecer a fome para saber descreve-la.

         No diário – 09 de maio de 1958

         ...”eu cato papel mas não gosto.  Então eu penso.  Faz de conta que eu estou gostando.

         “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome.   A fome é também professora”.

         Matar pernilongo no barraco.   Acender um jornal e passar pelas paredes.

         13 de maio -  “Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz”.

         Os filhos na escola mesmo com chuva.    Os filhos comemoram o ter o que comer.   “Mas eu já perdi o hábito de sorrir”.

         13 de maio.   Frio e sem comida.   “eu lutava contra a escravatura atual:  a fome.   (1958)

         ...”a cidade é o jardim e a favela é o quintal onde jogam os lixos.”

         Barulho na favela.   “É o Ramiro que quer dar no senhor Binidito”.

         “eu não posso descrever o efeito do álcool porque eu não bebo.

         “Eu quando estou com fome quero matar o Janio Quadros, enforcar o Ademar de Barros, queimar o Juscelino.  (políticos).

         O apoio dos Vicentinos (grupo católico que faz caridade).

         Dona Maria morreu.    ...”era crente e dizia que os crentes antes de morrer já estão no céu”.

         Carro vai levar o enterro.    “... vai para a verdadeira casa própria que é a sepultura.”

         Cinco da manhã e os pardais já cantando.   “As aves devem ser mais feliz que nós.   Talvez entre eles reina a amizade e igualdade”.

         Fala do presidente Juscelino no palácio do Catete (RJ).  Voz de sabiá – agradável.   (ele era médico).

         (Estive recentemente em Belo Horizonte e visitei a casa que o Juscelino morou – uma casa confortável ao lado do lago da Pampulha projetada por Oscar Niemeyer.)

         Quem visitava a favela reclamava.   “- Credo, para viver num lugar assim só os porcos.   Isto aqui é o chiqueiro de São Paulo”.

         “Começo a revoltar.   E a minha revolta é justa.”     Ela usando carrinho para catar/transportar o papel.   Ela lembra versos do poeta Casemiro de Abreu:     “Ri criança / a vida é bela.   Carolina retruca:   Chora criança, a vida é amarga”.

 

         Continua no capítulo 4

quarta-feira, 22 de maio de 2024

FICHAMENTO - capítulo 1 - LIVRO: QUARTO DE DESPEJO - Diário de Uma Favelada - CAROLINA MARIA DE JESUS

 

Capítulo 01                    maio de 2024

 

         Edição 2022 a que estou lendo.          Editora Ática – 260 páginas

         Na orelha do livro escrito na década de 50.    ... “Nós somos pobres, viemos para as margens dos rios.   As margens dos rios são os lugares do lixo e dos marginais”.

         Não mais se vê os corvos voando às margens do rio, perto do lixo.  Os homens desempregados substituíram os corvos”.

         Livro escrito em caderno, um tipo de diário, na Favela do Canindé na margem do Rio Tietê em São Paulo-SP.

         Carolina, catadora de recicláveis, mãe de três filhos, tirava o sustento do lixo coletado pelas ruas.

         Luta diária contra a fome, a doença e a violência.

         Publicado na década de 60, esgotou rápido e já foi traduzido para treze idiomas.  Foram mais de 1 milhão de exemplares ao todo.

         Na abertura, poema de Edmilson A. Pereira:

         “A mão de Carolina”  

         ... “espera-se dela, ontem e agora

Algo mais que receber prêmios

A mão Carolina

Escreve em acusação sem volta”.

         Apresentação do livro:    60 anos de um Clássico

         Texto de Cidinha da Silva, escritora negra, como ela mesmo destaca.

         ... jornalistas e até críticos literários trocavam o prenome de Carolina Maria, usando Maria Carolina...

         Página 12 -  Mais de 1 milhão de cópias do livro dela vendidos no mundo todo.

         “Não podemos nos esquecer, quando uma pessoa subalternizada vence a opressão, produz-se certo regozijo no coração da mídia dos opressores que gostam de se distinguir dos algozes mais terríveis”.

         ...”Por fim, compartilho com você, leitor, a ideia que venho amadurecendo e que tornei pública em outras ocasiões:  a de que autoras como Carolina Maria de Jesus só passarão a ser canônicas quando conseguirmos pluralizar o cânone, já que não nutro ilusões de derrubá-lo”.

         A escritora Cida propõe que todas as memórias...  “oriundas de periferias, possam também ocupar as instâncias definidoras do que pode ser considerado canônico”.

         Agora, vamos à Carolina e seu livro em pauta.

         Forma de diário, letra cursiva...   08-12-1958

         ... “o padre veio dizer a missa.    ... disse aos favelados que eles precisam ter filhos.  Penso:  porque há de ser o pobre quem há de ter filhos – se filhos de pobre tem que ser operário.

         Carolina reclamando da miséria junto com seus filhos a uma amiga:

         “Eu não paro um minuto.  Cato tudo (lixo reciclável) que se pode vender.   E a miséria continua firme ao meu lado”.

         ... doente...    melhorou  ... sentei na cama e comecei a catar as pulgas... Eu comecei fazer planos para o futuro.

         Livro dedicado a onze netos de Carolina.  Ela cita os nomes deles.

         Começa o livro em si com texto escrito em 14-07-1955.

         Ter que deixar as crianças em casa e sair para catar papel.  Preocupação diária.

         Ganhou alguns alimentos do carro do Centro Espírita da Rua Vergueiro, 103.   

         Uma da favela perguntou se Carolina está grávida.  Ela ficou brava.

         “Tenho pavor dessas mulheres da favela.  Tudo quer saber!   A língua delas é como pés de galinha.  Tudo espalha”.

         ...”Saí à noite e fui catar papel.   Quando passava pelo campo do São Paulo FC, várias pessoas saindo do campo.  Todas brancas, só um preto.”

        

Continua no capítulo 2