capítulo 7
“Já percebi que minha filha é revoltada. Ela tem pavor de morar na favela.”
Lavar a roupa na lagoa e a ameaça da “doença do caramujo”. (esquistossomose,
popularmente – barriga d´água).
“Dona Rosa sabe que aqui
na favela não pode alugar barracão. Mas
ela aluga”. ... maldosa.... catar lenha.
“Parece que eu vim ao mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade”.
A cidade de São Paulo que é bonita mas ...”está enferma. Com as suas úlceras. As favelas”.
As pregações do Frei.
Pede que os favelados sejam humildes.
“Penso: se o frei fosse casado, tivesse filhos e
ganhasse salário mínimo, aí eu queria ver se ele era humilde. Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com
resignação. Se o frei tivesse filhos
comendo gêneros deteriorados... havia de revoltar-se porque a revolta surge das
agruras”.
...”aqui tem uma nortista (nordestina) que quando bebe,
torra a paciência”. (torrar a paciência era termo que eu ouvia
na infância...)
Deixar os filhos em casa e ir catar papel. Um dia acusaram o filho dela, o menino, de
querer abusar de uma criança de dois anos.
Carolina chorou. Foi conversar
com o Juiz de Menores.
... Tem hora que me revolto comigo por ter iludido com os homens
e arranjado estes filhos.
... cita mais adiante um episódio de meninos que fugiram do
Juizado de menores. Os fugitivos ...”contaram-me os horrores do Juizado. Que passaram fome, frio e que apanharam
muitas vezes”.
“Os juízes não tem capacidade para formar o caráter das
crianças. O que é que lhes falta? Interesse pelos infelizes ou verba do
Estado?
Tem um barracão na favela e os crentes vem cantar e rezar
três vezes por semana.
“A favela é uma cidade esquisita e o prefeito daqui é o
diabo. E os pinguços que durante o dia
estão ocultos e à noite aparecem para atentar”.
...”O meu filho com onze anos já quer mulher”. Meu filho ouviu a Florência dizer que eu
pareço louca. Que escrevo e não ganho
nada.
...”Estou mais disposta.
Ontem supliquei ao Padre Donizeti para eu sarar’. ( esse padre pregava pelo rádio e benzia
água para os ouvintes).
... uma pessoa que passava na favela vendendo miúdos de
vaca. (rim, coração, fígado, bucho...)
A filha Vera está com cinco anos de idade.
“Hoje não lavo roupas porque não tenho dinheiro para comprar
sabão. Vou ler e escrever”.
Vender garrafa vazia para conseguir uns trocados. “Aqui na favela do Canindé há 160 casos de
doença do caramujo.
A filha Vera de sapato consertado. Sorrindo.
“Fiquei olhando a minha filha sorrir, porque eu já não sei mais sorrir”.
Uma vizinha, mãe solteira, três filhos pequenos. Um deles reclama da mãe e diz que queria ser
filho da Carolina. Ela diz que não. Que se fosse filho dela, ele era preto. – E você é branco. A criança respondeu: - Mas se eu fosse seu filho eu não passava
fome.
O filho José Carlos faz dez anos (6 de agosto), mesma data
que eu, leitor, faço aniversário por coincidência.
“... deixei o leito às quatro horas. Eu não dormi bem porque deitei com fome. E quem deita com fome não dorme.
Continua no capítulo 8