Anotações pelo Eng.Agr. Orlando
Lisboa de Almeida
O evento foi realizado nas dependências da
UEM Universidade Estadual de Maringá (Maringá - PR), no DACESE – bloco 125 - Início 19.30h e contou com duas explanações, sendo a primeira
com os convidados da cidade de Tibagi – PR que tem um trabalho interessante no
tema e a segunda palestra por conta de um representante da empresa Foxx que
está sintonizada com o propósito do poder público municipal de Maringá no
sentido de incinerar o lixo urbano.
Palestra do pessoal de Tibagi-PR. O tema deles é “Recicla Tibagi”
O projeto em andamento lá resulta de um
convênio entre a Prefeitura local e as Associações de Catadores de Recicláveis
de Tibagi. Um pouco sobre o município:
Tibagi-PR é o segundo município do estado
em extensão territorial. Tem 20 mil
habitantes e é o maior produtor de trigo do Brasil.
Citadas as duas leis e resoluções que
deram amparo ao trabalho deles. A lei
federal atual exige que todo serviço relativo aos resíduos sólidos urbanos
tenham uma parcela de separação dos recicláveis a cargo de pessoas da
comunidade, numa visão inclusiva do
ser humano.
Eles lá fizeram e está operando o Centro
de Triagem e Compostagem de Tibagi. Foi
elaborado um projeto e divulgado à comunidade que apóia o serviço. O caminhão de coleta do lixo puxa uma
carretinha preparada para o lixo reciclável para atender aquelas pessoas que
podem se enganar com os dias de descarte do reciclável.
No galpão de separação da fração
reciclável, ao invés da esteira convencional (que é cara) eles adaptaram
aquelas telhas amianto grandes, tipo calhetão sobre cavaletes para dar a altura
adequada à pessoa para trabalhar em pé separando o lixo.
Os recicladores, através de convênio, são
remunerados pela prefeitura em 1 salário mínimo, transporte ao trabalho, três
refeições por dia mais uniforme adequado.
Além disso, as muitas mulheres que trabalham na varrição de ruas, têm
jornada de 4 horas e quem tem filhos que precisa de creche, tem 100% de
atendimento por conta da prefeitura.
Afinal esse pessoal presta um serviço relevante para a comunidade.
Compostagem: A
parte orgânica e molhada do lixo vai para a compostagem que dependendo
do clima pode demorar de 35 a
90 dias. A compostagem pronta se torna
um excelente adubo orgânico que eles estão usando em três estufas para produção
de flores que são colocadas pela prefeitura ou adquiridas pela comunidade. Como
dizem: lá nosso lixo vira flor. A produção de compostagem não consegue
suprir a demanda local. Para cada 1 kg de material orgânico que
entra no processo, gera-se 0,6
kg de compostagem.
Apenas uma pessoa tem dado conta de cuidar das três estufas.
Objetivos dos trabalhos deles (são 80 recicladores – coleta – varrição de
ruas e separação de recicláveis no galpão)
Ø
tratar os resíduos sólidos urbanos
Ø criar
trabalho e renda para o pessoal carente
Ø proteger
a saúde pública
Ø reciclar
resíduos e acabar com o lixão
Eles tem um sistema e recolhem inclusive o
lixo eletrônico e dão o destino correto.
Destaque: Após o processo de separação do reciclável e
do material que vai para compostagem, prensam (compactam) para reduzir
volume do que sobra e resulta em apenas 20% do lixo que vai para o aterro
sanitário. Com isso o aterro prolonga
em 12 vezes sua vida útil.
Eles tinham na cidade
problema com aranha marron e escorpião.
Fizeram campanhas pela mídia local e realizaram bota fora de lixo,
entulhos dos quintais e solucionaram o problema das aranhas e escorpiões que se
proliferam em lugar onde há lixo e entulho.
Pneus velhos – eles têm convênio com
oficinas e lojas de pneus para articular o descarte correto e destinação
adequada aos pneus velhos. Ganha o meio
ambiente. Iniciaram suas atividades em
04-01-2009 – ACAMARTI Associação de
Catadores de Materiais Recicláveis de Tibagi.
Inauguração: 29-05-2009.
LO Licença Operacional 18.481
O trabalho deles tem sido premiado e repercutido, levando muitas pessoas
e entidades a visitarem a cidade, ao ponto deles precisarem organizar uma
agenda receptiva e as visitas são pré agendadas sempre para as quintas
feiras. No site oficial da prefeitura há dados
também sobre a entidade. www.tibagi.pr.gov.br .
E-mail meioambiente@tibagi.pr.gov.br fones (42) 39162151 e 88161189
Na parte de Educação Ambiental – resumo
das ações que eles fizeram e vem fazendo:
Ø
produção e distribuição de material informativo
impresso
Ø
inserção de spot na emissora de rádio local
Ø
publicação de ações no site da prefeitura e
jornais
Ø
realização de peças teatrais amadoras
Ø
palestras de divulgação.
Frações do lixo local:
Reciclável seco 25%
Rejeito/inservível 16%
(45 toneladas por mês)
Reciclável orgânico 56% (158 toneladas
por mês)
A entidade já ganhou muitos prêmios pela
forma de atuação, inclusive o título de Cidade Limpa, sendo a primeira cidade
do Paraná a conquistar esta premiação.
Contaram com o apoio de um técnico em Saneamento Sanitarista
para dar suporte aos trabalhos da entidade. (a palestrante deu o recado em 30
minutos)
Segundo Tema: “Central de Recuperação Energética de
Resíduos”
Alexandre
– empresa Foxx
Ele, sabendo que o público tendia mais
para a forma de destinar os resíduos sólidos acima citado, ressaltou que acha o
sistema razoável, principalmente para cidades pequenas. E o seu enfoque será para cidades de
maior porte.
Lembrou que na lei atual a ordenação
básica exige: Coletar, reciclar, tratar
e dispor. A meta da lei é acabar com o
sistema atual de lixão a céu aberto.
Ele fez uma explanação bastante técnica e
usou muito o PPT Power point, com lâminas ricas em artes gráficas, porém com
muita informação por lâmina, dificultando a visão de quem assistia a
palestra. (letra 10 para quem está
distante uns 6 m ...
não dá). Ele citou o caso de SP que fez campanhas para reduzir o uso de
sacolinhas plásticas e as indústrias das tais sacolinhas aumentaram a espessura
das mesmas. Assim, caiu em 70% o número
de sacolinhas utilizadas, mas aumentou a venda de plástico dos fabricantes de
sacolinhas. Estamos vivendo a época
das redes sociais na web e ações desse tipo podem, logo, logo, custar caro a
tais empresas... assim espero!
Mostrou um fluxograma de uma indústria de
incineração de resíduos sólidos numa lâmina de ppt. Eu contei nesta lâmina 33 quadradinhos,
cada um “explicando” uma parte do processo.
(em letra oito!). Ele disse que o desafio é, como manda a lei,
articular a ação dos recicladores
(catadores de recicláveis, etc) com a indústria que trata os resíduos. “O
município que não tem coleta seletiva de lixo está ilegal”. E nós do
plenário sabemos disso e estamos esperneando por aqui, inclusive a
Promotoria de Defesa do Meio Ambiente.
Ele falou muito da Europa, do Primeiro
Mundo, para tentar respaldar o método da incineração. Na Alemanha e França se usaria muito a
incineração de lixo. Em Paris eles
conseguem, segundo citou, ao redor de 30% de recicláveis. Disse
que em geral é a Europa é quem mais recicla e também quem mais incinera
lixo. Citou que da década de 70 para
cá foram só 5 acidentes com gravidade nesse tipo de usinas.
Na França houve um sério acidente
(explosão) de uma incineradora e isso desacelerou o processo de uso desse
sistema por um tempo, mas estaria o sistema em expansão por lá.
Disse que na Alemanha a coleta e
destinação do lixo não é da jurisdição dos municípios, mas sim dos
estados. Me parece algo razoável em
princípio.
A Espanha é o país da Europa onde se faz
mais compostagem a partir do lixo urbano.
A China implantou 90 usinas (unidades térmicas)
de incineração de lixo.
No Qatar, que é um país pequeno e rico em
petróleo, optaram por usar o material orgânico do lixo em compostagem no
sistema fechado, que gera também o biogás.
O sistema proposto é processado em usinas
que queimam o lixo gerando calor e este gera vapor que fornece energia mecânica
e esta gira turbinas que geram energia elétrica. No processo, são gerados gases
tóxicos e 10 a
15% do material queimado sobra como cinzas.
Os gases tem que receber tratamento para recuperar os materiais tóxicos
em suspensão e que são destináveis a aterros classe 1. ( No PR só tem 1 aterro para esse tipo de
resíduo – classe 1 na Região Metropolitana de Curitiba)
Sobre o medo das usinas, disse que elas têm
que ficar nas zonas urbanas por questão de logística (não gastar muito
combustível para levar o lixo para longe) e que são seguras, ao ponto do povo
de Paris conviver bem com elas, por exemplo.
Perguntado se há incineradores do gênero
proposto implantado no Brasil, ele disse que em operação ainda não. Que os projetos mais adiantados estão em São Bernardo do
Campo, em Barueri e Jundiaí.
O lixo do Brasil é mais úmido que o da
Europa, tendo umidade entre 55 e 65%. É
mais difícil de queimar na usina.
Disse que na queima de orgânicos gera inclusive dioxinas. Que há no
Brasil normas para esse tipo de queima e que no caso do lixo é muito menos
tolerante do que as emissões de quem queima bagaço de cana, resíduos de
madeira, etc. Para estes últimos no
Brasil não há limite de emissão de gases.
Falou também que no Norte do BR muito da energia elétrica vem de centrais
movidas à queima de petróleo que são altamente poluentes e não tem havido preocupação
com isso.
Ele disse que no sistema proposto dá para
inclusive gerar crédito de carbono.
Que a coleta seria viável ao redor de 50 km da usina. O módulo mínimo seria ao redor de 500 t por
dia e o custo para o cliente (município) sairia entre R$.60,00 e
R$.80,00/tonelada.
Eu cá, fiz meus cálculos grosso modo: Se Maringá gera por dia 200 t de lixo, já
descontado o reciclável, seriam 6.000 t por mês, a 70,00 por tonelada, daria
500.000 por mês, ou R$.6.000.000,00 por ano. Sem contar com as despesas de coleta e
recicladores.. Disse que ao redor
de 100 pessoas trabalham numa usina da modalidade, uns 80 no operacional e uns 20 no
administrativo.
A fala do segundo palestrante se estendeu
um tanto e terminou as 21.40. Haveria
uma fala do Prof.Jorge Villalobos que iria discorrer sobre a situação jurídica
dos municípios da região no tema dos lixões.
Mas dado ao adiantado da hora, o plenário resolveu deixar esta parte
para a próxima reunião. As reuniões
do Fórum Lixo & Cidadania são nas segundas Quintas Feiras do mês e são
abertas aos cidadãos e entidades.
Isto foi o que consegui anotar da forma que
entendi e espero ter retratado de forma adequada o que foi discutido. orlando_lisboa@terra.com.br