capítulo 17/35
Bate
papo com Paula Dib
Um dos
projetos – Comunidade da Juréia (litoral paulista) que era extrativista na Mata
Atlântica. Os moradores tiveram que ser
removidos com a criação da Reserva Ecológica.
Foram removidos para Peruibe-SP a contragosto. As mulheres passam a trabalhar em casas de
veraneio para sustentar a família. Com
o projeto, voltaram a usar seus saberes e fazer peças dentro da cultura deles e
melhorar a renda e autoestima.
“Aquela
peça que é feita ali não é apenas um produto, mas é uma história de resistência
vendida pelo Brasil inteiro”.
Em geral
o poder público quer gente para ensinar
o povo a “gerar renda” e daí todo foco fica nessa pessoa que vem para articular
as ações, a que vem para “salvar” a comunidade.
Não é esse o caminho. “Nesse
caso, o projeto deixa de ser o da Comunidade e a única forma dele seguir em
frente é se o motor for a própria comunidade”.
Qual é a
intenção desse tipo de trabalho?
“A
intenção é sempre ativar as forças do lugar”.
Não ficar obcecado pela geração de renda. “Eu acho que esta visão vale também
para minha vida, na forma como me
envolvo com os projetos”.
Outra
Humana de Negócios – Ilona Szabó -
“Guerreira sem armas”
Ela é
descendente de húngaros. Ela cresceu em
Nova Friburgo no interior do RJ. A mãe
dela é jornalista.
Nos anos
90, economia do Brasil em crise, a jovem Ilona conseguiu fazer um intercâmbio
na Letônia. Esta que há pouco tempo
tinha deixado de pertencer à URSS com o fim do comunismo local. A Letônia é um pequeno país com pouco mais
de dois milhões de habitantes. A capital
é Riga, cidade portuária do Mar Báltico.
Chegou a enfrentar frio de trinta graus negativos por lá.
Ela
terminou o curso de Relações Internacionais em 1997. Fez o curso na Universidade Estácio de Sá,
uma das três no Brasil que tinham o curso na época e a única no estado do RJ.
Trabalhou
por quatro anos no Banco Icatu. Nesse
tempo, ela que é do interior do RJ, passa a circular pela capital e vê mais a
miséria e a violência no dia a dia da cidade.
Atuando
no mercado financeiro ela reflete: O que
eu quero? ... não quero deixar o rico
mais rico. É o que ocorre com quem
trabalha no mercado financeiro por exemplo.
Ela
queria fazer mestrado na Europa sobre Conflito e Paz. “A América Latina vive uma epidemia de
violência com apenas 9% da população mundial, na região ocorrem 39% de todas as
mortes violentas do planeta”. O pior
índice é em El Salvador com a média de 60 mortes para cada grupo de 100.000
habitantes. (ano 2017)
O Brasil
fica em 13º lugar nesse ranking com 27,8 mortes por grupo de 100.000
habitantes. Em termos absolutos, o
Brasil é destaque negativo com 60.000 mortes violentas intencionais por
ano. Mortes intencionais – quando o
agressor tem o propósito de matar a vítima.
A maior
parte das vítimas no Brasil desse tipo de crime são jovens entre 15 e 29 anos,
sexo masculino.
Ilona
fez seu mestrado na Suécia.
Mais
adiante, em 2011 ela funda a Ong Igarapé.
Também atuou na Ong mais antiga,
a Viva Rio, fundada em 1993 por Rubem Cesar.
A Viva
Rio foi criada para pesquisar e formular políticas públicas para promover a
cultura da paz e do desenvolvimento social.
Ela trabalhou no Viva Rio com o Antropólogo britânico Downey.
O Rubem
Cesar do Viva Rio colocou Ilona na Coordenação da Campanha de entrega
voluntária de armas de fogo. Os postos
de entrega comumente eram em igrejas, quarteis, associações.
Ela
disse que seu trabalho incluía contatos com os quatro pês: padres, pastores,
policiais e políticos. Envolvia muita
mobilização e comunicação.
Essa
onda ajudou a criar o Estatuto do Desarmamento. Segundo dados do Ministério da Justiça, na
Campanha do Desarmamento, foram recolhidas 443.000 armas de fogo. Foi quase seis vezes a meta inicial da
Campanha.
No
começo da Campanha, 80% dos entrevistados se colocavam contra civis com armas
de fogo. Em 2005 o governo federal
lançou um referendo popular para a população votar sim ou não aos civis terem
acesso a armas de fogo. No debate
público as coisas foram desiguais. De
um lado lideranças contra as armas e sem recursos para levar as ideias e de
outro o lobby das armas com dinheiro à vontade como um rolo compressor.
Nesse
clima, o Não às armas ficou com 36% dos
votos e o Sim ficou com 64%. Ela ficou
bastante decepcionada com essa reviravolta.
Ela
andou viajando por vários países para tentarem colocar na Declaração de Genebra
sobre Violência Armada e Desenvolvimento, a questão da redução da violência nos ODMs Objetivos do Desenvolvimento do Milênio da ONU. Nessas viagens e tratativas, ela conheceu
no Panamá o economista Robert Muggah, com quem depois se casou.
Drogas e
violência – mobilização de alguns governos sobre o caso. Brasil, Colômbia e México puxam uma ação
articulada contra drogas e violência.
Criam a Comissão Latino Americana sobre Drogas e Democracia. Ilona se torna Secretária Executiva dessa
Comissão. No contexto dos debates,
surgiu a certeza de que os USA estavam adotando no combate às drogas uma
política equivocada. Apesar disso, essa
política era adotada até então pelo mundo todo.
A
Comissão secretariada por Ilona em seu ousado relatório de 2009 pediu a
descriminalização da cannabis. A
Comissão Latino Americana deu origem à Comissão Global de Políticas sobre
drogas formada pela ONU com participação de dez chefes de estado, incluindo
Kofi Annan, ex secretário geral da ONU.
Ilona foi Coordenadora dessa Comissão Global de 2011 a 2016. Em 2016 a sede da Comissão Global se mudou
do RJ para Genebra e ela deixou o cargo.
Anteriormente,
em 2010 ela começou a articular o Instituto Igarapé para atuação contra a
violência. Igarapé em tupi – caminho da
canoa.