CAP 14/20 e 15/20 novembro de 2020
144 – No
dia 01-04-2020 Bolsonaro chama o
Mandetta para uma reunião com vários médicos.
Dois problemas. Fazer uma reunião
sobre pandemia não combinada antes com o Ministro da Saúde e depois da reunião
em curso, convocar o Ministro da Saúde para participar. O Mandetta tinha outro compromisso para
aquele horário e disse que depois se inteiraria dos resultados. A reunião era para referendar remédios
contra covid (sem respaldo técnico) e buscar reabrir a economia etc.
O
presidente disse no telefone para o Mandetta que uma das médicas da reunião não
concordava com as “nossas teses”. E as
teses eram as do presidente: remédio e abrir a economia em plena pandemia.
“Esse
negócio de isolamento não dá”, disse o presidente. Mandetta diz no livro: “Ele queria no seu entorno pessoas que
dissessem aquilo que ele queria escutar”.
145 – O
presidente colocou ideologia até na cloroquina. A Fiocruz Fundação Osvaldo Cruz (que
completou 120 anos de serviços de excelência para o Brasil) faz em seus
laboratórios há muitas décadas remédio à base de cloroquina para doenças cujo
uso tem recomendação técnica e é comprovada.
Remédio que é muito demandado pelo Norte do Brasil.
Por
idéia do presidente, foi encarregado o Exército para fazer cloroquina, deixando
de lado toda a experiência da Fiocruz sob alegação do presidente de que nesta
fundação só tem comunistas que são os pesquisadores.
“Sempre
que eu ia ao gabinete do presidente, em cima da mesa dele tinha caixinhas de
cloroquina. “Nunca tinha máscaras de
proteção e álcool em gel, mas a cloroquina estava lá”.
147 – O
presidente acreditava que a China tinha inventado a pandemia e que o embaixador
da China no Brasil teria agido pelo lado comunista quando atuava no Chile e na
Argentina do Macri. ...”e promover a
volta da esquerda, e ninguém tirava isso da cabeça dele”.
Mais um
dos argumentos do Mandetta para ver se sensibilizava o presidente para a
gravidade da pandemia:
- O
senhor já viu alguém morrer por falta de ar?
O presidente respondeu que não e eu disse como é. “Morrer de asfixia é uma morte bruta” –
disse o Mandetta.
Disse ao
presidente: “Viver ou morrer é desígnio
de Deus, mas não dar condições para que as pessoas lutem pela vida é
inaceitável”. .... não o convenci.
150 –
Primeira mensagem curta do Ministério da Saúde nos veículos de comunicação
usando voz e legenda: “Lave as mãos e
use álcool em gel”.
153
- Antes o Mandetta enviava seus
auxiliares para o encontro diário com a imprensa, mas depois que viu que não
sensibilizava os pares do poder Executivo sobre a gravidade da pandemia,
resolveu aumentar sua visibilidade e todo dia ia para a coletiva da tarde com a
imprensa. Foi ganhando destaque e a
simpatia da Nação (e da própria imprensa).
A
imprensa com seu trabalho ajudava muito o Ministério a orientar a
população. Sem precisar pagar
campanhas caras na mídia. Os jornais
também se aproximaram do Ministério em busca de matérias. Folha de São Paulo, Jornal Estado de São
Paulo, O Globo, Correio Braziliense entre outros.
Relação
do Mandetta ministro com a imprensa:
“Foi uma relação próxima e sempre muito respeitosa”.
“Felizmente,
a Saúde vinha ganhando essa guerra da comunicação”.
O risco
de excesso de dados na cabeça das pessoas já aturdidas com a pandemia. A missão de alertar, sem alarmar a
população. Muitos dentro de casa e a TV
a todo momento falando de pandemia e poderia até “intoxicar” o povo de tantos
dados a todo momento. O próprio
Mandetta chegou alertar para o povo se cuidar sem se alarmar.
Nessa o
Jornal Nacional, que praticamente era quase só assunto da pandemia, ainda
aumentou bastante o tempo de programa.
Um dia
na coletiva o Mandetta ao fazer alerta ao povo acabou dizendo um termo que
depois constatou que foi infeliz.
Chamou a imprensa de sórdida e causou reação imediata, inclusive com
editorial da Globo colocando o ministro como ingrato, batendo na imprensa que
vinha ajudando a orientar a população.
O
Ministro, em troca de ideia com o velho amigo e assessor Deputado Aleluia,
decidiu que na próxima coletiva do outro dia, faria um pedido de desculpa pelo
termo usado e assim o fez.
Consertou
de um lado, e ofendeu o presidente de outro.
Por ter pedido desculpa inclusive à Rede Globo. Pedir desculpa é coisa que o Bolsonaro não
usa fazer. Reconhecer erro e pedir
desculpa.
“Bolsonaro
é alguém que não sabe reconhecer seus erros e muito menos pedir desculpas”.
157
– Os atritos aumentando. Dia
31-03-2020, em reunião com o Paulo Guedes (Ministro da Economia), se
desentenderam por discussão no reajuste de preços dos medicamentos. Em plena pandemia reajustar
medicamentos. Iria cair mal para o
presidente junto ao povo.