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sábado, 14 de novembro de 2020

CAP 14 e 15/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL - Autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP 14/20  e 15/20               novembro de 2020

         144 – No dia 01-04-2020       Bolsonaro chama o Mandetta para uma reunião com vários médicos.  Dois problemas.  Fazer uma reunião sobre pandemia não combinada antes com o Ministro da Saúde e depois da reunião em curso, convocar o Ministro da Saúde para participar.   O Mandetta tinha outro compromisso para aquele horário e disse que depois se inteiraria dos resultados.    A reunião era para referendar remédios contra covid (sem respaldo técnico) e buscar reabrir a economia etc.

         O presidente disse no telefone para o Mandetta que uma das médicas da reunião não concordava com as “nossas teses”.   E as teses eram as do presidente: remédio e abrir a economia em plena pandemia.

         “Esse negócio de isolamento não dá”, disse o presidente.   Mandetta diz no livro:   “Ele queria no seu entorno pessoas que dissessem aquilo que ele queria escutar”.

         145 – O presidente colocou ideologia até na cloroquina.    A Fiocruz Fundação Osvaldo Cruz (que completou 120 anos de serviços de excelência para o Brasil) faz em seus laboratórios há muitas décadas remédio à base de cloroquina para doenças cujo uso tem recomendação técnica e é comprovada.   Remédio que é muito demandado pelo Norte do Brasil.  

         Por idéia do presidente, foi encarregado o Exército para fazer cloroquina, deixando de lado toda a experiência da Fiocruz sob alegação do presidente de que nesta fundação só tem comunistas que são os pesquisadores.

         “Sempre que eu ia ao gabinete do presidente, em cima da mesa dele tinha caixinhas de cloroquina.    “Nunca tinha máscaras de proteção e álcool em gel, mas a cloroquina estava lá”.

         147 – O presidente acreditava que a China tinha inventado a pandemia e que o embaixador da China no Brasil teria agido pelo lado comunista quando atuava no Chile e na Argentina do Macri.     ...”e promover a volta da esquerda, e ninguém tirava isso da cabeça dele”.

         Mais um dos argumentos do Mandetta para ver se sensibilizava o presidente para a gravidade da pandemia:

         - O senhor já viu alguém morrer por falta de ar?    O presidente respondeu que não e eu disse como é.   “Morrer de asfixia é uma morte bruta” – disse o Mandetta.

         Disse ao presidente:   “Viver ou morrer é desígnio de Deus, mas não dar condições para que as pessoas lutem pela vida é inaceitável”.      .... não o convenci.

         150 – Primeira mensagem curta do Ministério da Saúde nos veículos de comunicação usando voz e legenda:   “Lave as mãos e use álcool em gel”.

         153 -  Antes o Mandetta enviava seus auxiliares para o encontro diário com a imprensa, mas depois que viu que não sensibilizava os pares do poder Executivo sobre a gravidade da pandemia, resolveu aumentar sua visibilidade e todo dia ia para a coletiva da tarde com a imprensa.   Foi ganhando destaque e a simpatia da Nação (e da própria imprensa).

         A imprensa com seu trabalho ajudava muito o Ministério a orientar a população.    Sem precisar pagar campanhas caras na mídia.   Os jornais também se aproximaram do Ministério em busca de matérias.  Folha de São Paulo, Jornal Estado de São Paulo, O Globo, Correio Braziliense entre outros.

         Relação do Mandetta ministro com a imprensa:   “Foi uma relação próxima e sempre muito respeitosa”.

         “Felizmente, a Saúde vinha ganhando essa guerra da comunicação”.

         O risco de excesso de dados na cabeça das pessoas já aturdidas com a pandemia.   A missão de alertar, sem alarmar a população.   Muitos dentro de casa e a TV a todo momento falando de pandemia e poderia até “intoxicar” o povo de tantos dados a todo momento.   O próprio Mandetta chegou alertar para o povo se cuidar sem se alarmar.

         Nessa o Jornal Nacional, que praticamente era quase só assunto da pandemia, ainda aumentou bastante o tempo de programa.

         Um dia na coletiva o Mandetta ao fazer alerta ao povo acabou dizendo um termo que depois constatou que foi infeliz.   Chamou a imprensa de sórdida e causou reação imediata, inclusive com editorial da Globo colocando o ministro como ingrato, batendo na imprensa que vinha ajudando a orientar a população.

         O Ministro, em troca de ideia com o velho amigo e assessor Deputado Aleluia, decidiu que na próxima coletiva do outro dia, faria um pedido de desculpa pelo termo usado e assim o fez.

         Consertou de um lado, e ofendeu o presidente de outro.   Por ter pedido desculpa inclusive à Rede Globo.    Pedir desculpa é coisa que o Bolsonaro não usa fazer.   Reconhecer erro e pedir desculpa.

         “Bolsonaro é alguém que não sabe reconhecer seus erros e muito menos pedir desculpas”.

                   157 – Os atritos aumentando.   Dia 31-03-2020, em reunião com o Paulo Guedes (Ministro da Economia), se desentenderam por discussão no reajuste de preços dos medicamentos.   Em plena pandemia reajustar medicamentos.  Iria cair mal para o presidente junto ao povo.

 

          Continua no capítulo 16/20

CAP 13/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL - Autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

CAP 13/20              - novembro de 2020

         133 – O Mandetta conseguiu agendar e realizar via Ministro Chefe da Casa Civil, General Braga Neto, uma reunião para mostrar os números e dados da pandemia ao presidente.     Nisso Manaus já estava em maior risco de entrar em colapso.   O Mandetta passou o quadro para o presidente, mas o Osmar Terra, influenciador do Bolsonaro, já tinha soltado na imprensa que isso tudo era coisa da oposição, que no Brasil tropical os danos seria de pouca monta e estimou em 1.000 o total geral de mortes na pandemia no Brasil.

         “Esse discurso do Osmar Terra era tudo o que o presidente queria ouvir”.

         O General Braga Neto (Chefe da Casa Civil da Presidência) e o Sergio Moro ouviram o Mandetta e ficaram impressionados.   O Moro chegou a colocar uma figura de linguagem comparando cair quatro boeings por dia no Brasil (tipo mil mortos por dia).

         Nas reuniões com o presidente, este se esquivava de ver os números trazidos pelo Ministro da Saúde.   “Ele nunca viu os números do Ministério da Saúde.  Nunca.”

         136 – Mandetta encontra Bolsonaro irado porque o Doria em SP e o Witzel no RJ estavam adotando medidas para conter a pandemia e ganhando noticiário.   (seriam dois potenciais concorrentes do Presidente na próxima eleição presidencial)

         O presidente ficou fulo pela virtual concorrência e achando que os governadores com isso estariam sabotando o governo federal, “parando a economia”.

         137 – Reunião de ministros e aparece o General Heleno apenas dez dias após testar positivo para covid.   A regra é quatorze dias de quarentena.   Coincidência ou não, logo em seguida Paulo Guedes se recolheu em quarentena.

         O Mandetta mostrou no telão, seus dados sobre a covid e trouxe também cópia impressa e na presença dos ministros, entregou uma cópia para o presidente.   Junto, entregou um documento pedindo ao presidente para acatar as recomendações do Ministério da Saúde referentes à pandemia.

         138 – Para ser mais enfático, aproveitando a presença dos militares na reunião, o Mandetta perguntou ao presidente se estava preparado para ver veículos do Exército – como ocorreu na Itália – sendo usados para transportar mortos em caixões lacrados.

         138 – RJ, MG e SP, grosso modo, respondem por 50% do PIB Produto Interno Bruto do Brasil.   Nestes três estados vivem 85 milhões de habitantes, quase a metade da população brasileira.   Afrouxar as medidas contra a pandemia nesses estados populosos, o risco era enorme.   Sem cuidados    “Seríamos tratados como os párias mundiais”.

         Bolsonaro só pensando na economia.   Irredutível.   Mandetta argumenta mais uma vez.   “Por favor, se o senhor puder, deixe a gente trabalhar um pouco.  Eu trarei para as reuniões as condicionantes”.

         139 – “Fiz um apelo para que o presidente criasse um pacto entre a União, os Estados, os Municípios e o setor privado para que todos pudessem agir juntos, seguindo regras e medidas de acordo com critérios científicos”.

         139 -  O Gal. Luiz Eduardo Ramos (da Casa Civil) convenceu o Bolsonaro a fazer reuniões com governadores por videoconferência.  Ocorreram sem incidentes as do Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sul.  Mas a do Sudeste deu entrevero com bate boca mostrado pela TV entre Bolsonaro e Dória.    As reuniões foram entre 23 e 24-03-2020.

         140 – Bolsonaro perguntou para o Mandetta o que ele achou do entrevero com o Dória.  O Mandetta destacou que o Dória estava com a razão e adotando medidas para proteger o povo do estado de SP.  O Mandetta deixou claro para o presidente que na imprensa, questionado, ele iria se colocar em aprovação às medidas do Dória.   

         O Mandetta para reforçar a necessidade do presidente entender a situação, ponderou que o próprio Trump, que negava a pandemia, já tinha deixado de negar e que iriamos ficar isolados do mundo com o governo federal aqui negando a pandemia.

         O Mandetta fez a fala final dele na reunião ministerial e deixou o presidente com os demais ministros.    “O que eu tinha para falar, já falei.  Se quiserem fazer as considerações de vocês, ficarão mais à vontade com o presidente”.

         141 – “A verdade é que eu já tinha notado um mal estar com a minha presença.”

         144 – O presidente passou a formar mais aglomerações em suas saídas às ruas.

         Passou a buscar assessoria com pessoas como Osmar Terra, com a médica Nise Yamagushi (a da cloroquina) e o Palácio do Planalto passou a receber vários  médicos bolsonaristas.

                        Continua no capítulo 14/20      novembro 2020 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

CAP 12/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL - Autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP 12/20   - novembro de 2020

 

         Página 122 – O deputado Aleluia (meu assessor) tem mais de setenta anos.  Os outros do meu gabinete passaram a fazer home office por causa da pandemia mas o Aleluia por conta dele, marcava presença todo dia.

         122 – Com assessoria do Aleluia que ficava em sintonia com o Congresso, o Mandetta ia interagindo com governadores e se solidarizando no combate à pandemia enquanto o Bolsonaro pela imprensa ficava comprando briga e arranjando briga.

         O Mandetta teve também como assessor e amigo o deputado do DEM pelo Paraná, Abelardo Lupion.

         124 – Havia grandes empresas e bancos querendo fazer doações para ajudar no combate à pandemia.   O Mandetta destacou o Lupion para as articulações visando angariar doações.   Determinou que não fossem em dinheiro, mas em equipamentos médicos e correlatos, úteis nas ações contra a pandemia.    E assim foi feito e as empresas doaram muitos equipamentos que incluam testes de covid, respiradores, máscaras de uso dos profissionais da saúde etc.

         125 – O começo da corrida por equipamentos da China e os americanos comprando tudo e mandando aviões para ir buscar a carga na frente dos outros.

         Até contratos assinados com outros países para compra, vários foram “derrubados” por causa desse leilão que os USA fizeram para adquirir tudo primeiro.

         O Ministério da Saúde conseguiu com a interação com a Vale, que tem vasta experiência em comercio internacional e foco na China e o apoio da Vale foi fundamental.   Ela comprava respiradores em nome dela e trazia para o Brasil e o Ministério ia comprar, mas ela no final fez tudo como doação.   Respiradores, testes de covid, equipamentos de proteção dos profissionais da saúde etc.

         126 – O Mandetta cita alguns membros da equipe e destaca a garra e a união da equipe.

         128 – Na Espanha, mortos que nem os caminhões frigoríficos estavam vencendo de acondicionar e os espanhóis improvisaram locais com caixões lacrados até em pista de patinação no gelo.    Enquanto isso no Palácio do Planalto, reuniões com pautas conservadoras de costumes e coisa e tal, parecendo ignorar o que acontecia aqui e lá fora.

         Nas reuniões ministeriais, Moro reservado, Mourão sempre cabeça baixa rabiscando um papel como quem faz palavras cruzadas...   Nas reuniões presidenciais o presidente...    “Ele só se manifestava para verbalizar contra o inimigo da semana”.   Ora era contra a China, a Globo, a Folha de São Paulo, a Câmara Federal e seu presidente, o Senado e seu presidente.    

         “Eu nunca tinha espaço nas reuniões para expor a gravidade do problema da saúde pública”.

         129 – Pronunciamentos do presidente na TV, desinformado por seu estilo.  Daí saem declarações como “tenho histórico de atleta”, “esta é uma gripezinha” e assim por diante, minimizando a pandemia.

         No dia anterior o Dr Drauzio Varela tinha demonstrado na TV que havia gravidade na pandemia e pedia cuidados da população.    No dia seguinte vem o presidente e sai com essas de gripezinha e assim por diante.

         No pronunciamento o presidente não usou nada de sua assessoria.   “Ele fez aquele discurso se baseando apenas nas opiniões dos filhos e de seu entorno”.    (e de certa forma para se contrapor à fala do Dr Drauzio)

         No dia seguinte ao da fala do presidente na TV, houve reunião ministerial.   Todos os ministros reprovaram a fala do presidente e sugeriram que nas próximas falas ele se respaldasse em trocas de ideias com sua assessoria.

         “A verdade é que com aquele tipo de atitude, constrangia todo o governo”.

         131 – O filho Carlos Bolsonaro se mudou para o Palácio e levou sua equipe informal, que foi apelidada pelo público externo de “Gabinete do ódio”.

         “Eles não interagem com ninguém além do presidente e seus filhos, mas observam tudo, estão sempre presentes”.

         132 – “A principal sala da presidência virou o escritório dessa turma”.

         A tarefa de tornar o presidente informado dos fatos.     “Três possíveis conjunturas diante da pandemia:

         Cenário 1 elaborado pelo Médico Julio Croda, Diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde:    Previa 180.000 mortes no Brasil pela pandemia.    Se o país não adotasse corretamente as medidas recomendadas de disciplinar o que poderia funcionar e o que não poderia; distanciamento entre as pessoas; uso de máscaras etc.

         O Wanderson, do Ministério da Saúde, tinha um cenário de 60 a 80 mil mortos, havendo medidas de governo para proteção da sociedade em certos níveis.

         Havia um terceiro cenário de 30.000 mortos totais na pandemia, mas este o Mandetta achava muito otimista e subestimava a agressividade do agente causal.

         O Osmar Terra, amigo do presidente e um dos que ele ouve e já esteve na equipe ministerial, disse que não passariam ao todo de 1.000 mortos durante a pandemia.    Isto era “musica” aos ouvidos do presidente e respaldava ideias como essa da gripezinha.

         133 – O Mandetta conseguiu agendar e realizar via Ministro Chefe da Casa Civil, General Braga Neto, uma reunião para mostrar os números e dados da pandemia ao presidente.

........................................................ continua no capítulo 13/20

CAP 11/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL - autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP 11/20

 

         108 -  Dia 18-03-2020 o presidente do Chile, Sebastián Piñera que articulava a América Latina nas questões da pandemia estava em vídeo conferência.  O nosso presidente não conseguiu agenda para participar e o Mandetta estava participando.    Ele em frente ao computador e a meio metro dele, sem máscara, o General Heleno.     O mesmo que no dia seguinte testou positivo para covid 19.    O Gal.Heleno era Chefe de Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

         Os prefeitos já estavam em clima de campanha para a eleição de 2020 e os adversários destes ficavam de olho para tentar captar falhas do prefeito para usar contra ele na campanha eleitoral.    Entre a cruz e a espada.  Se fecha tudo, afeta a economia, se abre, põe em risco as vidas.

         As pautas nos níveis de governo:

         A pauta número 1 dos municípios é o item Saúde.

         A pauta 1 dos Estados é a Segurança Pública

         A pauta 1 da União é a Economia, emprego, geração de renda.

         113 – “O SUS é o grande pacto federativo do Brasil, porque conecta todas as instâncias de poder”.  Município, estado e União.

         Uma vez por mês, mesmo fora da pandemia, de rotina se reúnem as três instâncias.   Representante do Ministério da Saúde, representante do CONAS Conselho Nacional dos Secretários da Saúde e  do Conasems dos Secretários Municipais da Saúde.    Reuniões para traçarem estratégias de ação.  Na pandemia, o Mandetta instituiu de forma permanente duas reuniões diárias, uma cedo e outra à noite para ações articuladas.   Assim as três instâncias juntas passaram a deliberar todo dia os passos a seguir.            “Acho que foi o momento de maior união da história do SUS”.

         Para o Mandetta foi de grande valia a experiência de ter sido Secretário da Saúde de Campo Grande-MS.

         Houve a hipótese de adiar as eleições municipais mas essa discussão geraria polêmica enorme e iria produzir mais calor do que luz.

         116 – O Mandetta se aconselhava em termos políticos com o deputado José Carlos Aleluia, do partido dele, o DEM.     Aleluia é da Bahia e foi deputado federal por três décadas e ligado ao grupo do ACM Neto.          “Aleluia conhece como poucos o Congresso”

         117 – O Onyx Lorenzoni foi flagrado por jornalistas da CNN tramando a queda do Mandetta, este que ficou sabendo e iria dar no dia seguinte uma resposta dura via imprensa.     O assessor Aleluia ponderou e sugeriu que fosse moderado, o Ministro achou razoável, assim agiu e tudo ficou bem menos traumático.

         “A crise é de caráter...  Nunca mais falei com o Onyx”.  (do seu partido e o seu padrinho na indicação para Ministro)

         118 – O Bolsonaro já tinha ofendido os governadores do Nordeste chamando-os uma ocasião de “paraíbas” num sentido pejorativo.

         No CE, governado pelo PT, estavam aumentando os casos da pandemia e o governador, por pressão popular, estava em vias de afrouxar as medidas de controle.    Sabendo disso e sendo contrário, o Mandetta iria no dia seguinte puxar a orelha do governador pela imprensa.    O assessor Aleluia sugeriu:   Não dê pau no governador.   Ligue e fale com ele.   O Mandetta achou razoável, assim fez, conseguiu o que pretendia e ficou tudo de bastidor sem atrito, sem imprensa.  “Isso graças ao Aleluia”.

         119 – Aleluia ficou sem mandato de 2011 a 2014 porque disputou o senado e não foi eleito.  Pelo conhecimento que tinha no setor, o DEM o colocou como Presidente do Instituto Liberdade e Cidadania, vinculado  ao DEM – Partido Democratas.

         “Todo partido político no Brasil é obrigado a ter uma fundação que recebe 30% do fundo partidário com o objetivo de discutir políticas públicas, apoio à democracia, projetos, formação política, enfim, no papel é uma entidade extremamente nobre”.       Via articulação do Aleluia, o Mandetta que sempre era requisitado para eventos do Instituto, chegou a ser Vice Presidente do mesmo.     Através do Instituto, participou de eventos na América Latina.

         120 – Aleluia foi do grupo político do ACM Antonio Carlos Magalhães que era mestre na prática.   “Sabia qual  briga comprar e qual ficar de fora”.      Mestre ACM e seu aliado Aleluia.

         121 – O Mandetta descreve como foi a articulação dos partidos na Câmara Federal para eleger o Presidente da casa, o Rodrigo Maia, do DEM.     Eram quatro postulantes ao cargo.      Na articulação que elegeu Maia, o pessoal buscou reduzir o poder do centrão e buscou uma opção diferente do PMDB inclusive pelo fato que este já tinha a presidência da república com o Temer.   E assim foi feito.

         122 – O Aleluia é bem articulado e conseguiu inclusive apoio e conquistou o disputado cargo de Conselheiro da Itaipu Binacional.

            ....... continua no capítulo 12/20

CAP 10/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL - Autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP. 10/20    - novembro de 2020

         Página 97 -  Porto de Recife PE – Março de 2020.   Navio de cruzeiro com 318 passageiros e 291 tripulantes atraca com um idoso de 78 anos, canadense apresentando sintomas de covid 19.   Se internou numa clínica do Recife.   O pessoal do navio ficou a bordo em quarentena.   O que fazer?    Separaram as pessoas por país, entraram em contato com as embaixadas, acertaram tudo e colocaram os grupos em ônibus fretado com médico acompanhando e levaram os grupos ao aeroporto e as pessoas embarcaram para seus países.   Deu tudo certo.

         Ficou o alerta no caso.  O Ministério lançou um documento proibindo embarque e desembarque de navios de cruzeiro em nossa costa por causa da pandemia.   Muitos outros países já tinham feito essa proibição.   Foi uma choradeira enorme do pessoal de turismo e comércio no Brasil.     Chegou a reclamação na Presidência.   Queriam a revogação do documento, inclusive o pessoal do governo federal.

         A ANVISA sempre sem sintonia com o Ministério da Saúde.    “A ANVISA emite notas técnicas, mas não tem pernas para ir a campo.   Quando a Anvisa diz que recolheu um lote de produtos, não é dela o fiscal que está na ponta.     Usa fiscais da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde”.      ( e mesmo assim não se articulam)

         O presidente da Anvisa, Almirante Antonio Barra Torres é indicação direta do Bolsonaro e o Wanderson da Secretaria de Vigilância Sanitária é de indicação do Mandetta.

         O Ministério da Saúde, a contragosto, teve que revogar a portaria e alterar seu conteúdo na questão dos navios de cruzeiro.    E os navios do gênero já estavam barrados nos portos da América do Norte, América Central e Argentina.    O mundo já estava adotando essa medida.    Se o Brasil não tomasse cuidado, navios com problemas poderiam escolher o Brasil para aportar com milhares de pessoas em quarentena e não teríamos o que fazer com todo mundo.

         E navios de cruzeiro são de alto risco sanitário.   Pessoas de toda que é parte do mundo, uma grande quantidade de gente mais idosa. 

         O Wanderson, da equipe do Mandetta, da área responsável pela portaria, queria pedir demissão de tão contrariado que ficou por uma decisão política interferir de forma grave na busca de proteção da população contra a covid.    O Mandetta pediu para ele ficar e ele acatou o pedido do Ministro.     “ A verdade é que a pressão era enorme para todo mundo no Ministério da Saúde”.

         102 – Estresse do ministro e dos membros da equipe.   “Não era só a responsabilidade de ter que tomar as melhores decisões e a quantidade de trabalho; havia também a insegurança política, pois a insatisfação da presidência com a minha condução do ministério já se mostrava bem clara”.

         O Wanderson, o braço direito do Mandetta, é enfermeiro de formação e concursado das Forças Armadas.  Tem uma filhinha de dois anos com paralisia cerebral e tem convulsão com alguma frequência.   É ele que cuida dela nesse pormenor.

         103 – O Mandetta conheceu o Wanderson em 2015 quando era deputado federal, no período que ocorreu a Zika e em alguns casos causando a microcefalia em bebês.   Mais no Nordeste.     O Mandetta como deputado foi ao Pernambuco para averiguar o problema, após pedido de ajuda do poder público local.   Logo em seguida o Wanderson foi lá destacado pelo Ministério da Saúde.   Ele fez os levantamentos e o relato da zika para comunicação à OMS Organização Mundial da Saúde como manda o protocolo do setor.

         Atualmente a Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz no RJ leva o nome do Cientista Sergio Arouca.    “É o sanitarismo também a maior trincheira do pessoal de esquerda na saúde pública”.  

         104 – “A maior referência desse pessoal é o Sergio Arouca, a pessoa que construiu o SUS e dá nome à Escola da Fiocruz no RJ.”     “Arouca era de esquerda, foi para o exílio durante a ditadura militar e voltou para ser deputado federal”.   “É o idealizador do texto que diz que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”.   (na nossa Constituição)

         Quando se trata de buscar pessoas de alto gabarito em Sanitarismo, os lugares de referência são as Escolas da Fiocruz no RJ e a Faculdade de Saúde Pública da USP SP.    O Wanderson veio desse meio.

         “Mas no governo Bolsonaro, qualquer pessoa que fosse de esquerda era rejeitada”.

         Quando o Mandetta foi formar a equipe, pensou e convidou o Agenor Alvares que foi Secretário Executivo do Ministério da Saúde e Ministro da Saúde interino em três ocasiões – 2007, 2009 e 2016 sob Lula e Dilma.   Agenor não topou e o Mandetta pediu sugestão.  Veio a sugestão de que fosse o Wanderson da zika.    O Mandetta topou na hora.    O Wanderson é competente e de centro.  

         Ordem em que as autoridades restringiram atividades econômicas:

         Distrito Federal – dia 11-03-20.  Em segundo, SP em 16-03 e em terceiro, RJ em 18-03 e já em seguida todos foram aderindo.

                          Continua no capítulo 11/20

CAP 09/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL (sobre a pandemia covid 19) - Autor: Luiz H.Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP 09/20    - novembro de 2020

         A maioria dos Ministros do Bolsonaro não tinha uma vivência de mandato.   As exceções:   Alvaro Antonio (Turismo), Onyx Lorenzoni, Tereza Cristina e o próprio Mandetta.    Dificulta interagir com as entidades, o povo e dialogar com o Congresso.

         Na reunião com os congressistas, depois da fala do Mandetta, ele pediu licença para dar espaço para o Guedes expor o lado econômico e os deputados e senadores perceberam que ele, o Guedes, estava alheio ao problema social da pandemia.   Demonstraram isso ao Guedes e ele ficou irritado, inclusive com o Mandetta, achando que este fez de propósito essa de expor os riscos da pandemia e deixar o Guedes sobre ataque.

         Depois das explicações do Mandetta, os congressistas ficaram mais cuidadosos com relação ao covid 19.       “A Câmara brasileira é uma das mais abertas do mundo.   Num dia de sessão intensa, que atrai vários segmentos da sociedade e imprensa, chegam a  passar 20.000 pessoas por ali”.

         Os presidentes da Câmara e do Senado pensaram em colocar as casas em recesso, mas o Mandetta disse e lutou para que isso não ocorresse porque matérias importantes de combate à pandemia dependiam de votações no Congresso.    Sugeriu que não entrassem em recesso e que poderiam  atuar de forma remota com videoconferência.

         O Mandetta fez a mesma argumentação com o STF, mesmo sabendo que a Corte tem a maioria dos Juizes já com certa idade.

         90 -  O pessoal do poder Executivo que viajou para os USA com o presidente precisava de quarentena, pois o Secretário da Comunicação voltou com sintoma da covid 19.  Mas como segurar o pessoal?

         Bolsonaro convocando o povo para manifestação do dia 15-03-2020 contra o Congresso alegando que este usurpou uma fatia do Orçamento federal.  Briga por uma fatia de 15 bilhões do orçamento, das emendas parlamentares.

         91 – Esses 15 bi já eram do orçamento, verba para as emendas impositivas, dentro da norma do Congresso.    Verbas para os deputados atenderem obras em suas bases.   Era cumprir e pronto.

         Mas o presidente, na pandemia, resolve apoiar uma manifestação contra o Parlamento.   O General Heleno era desfavorável a essa manifestação sem sentido.   E a agravante de aglomerar na pandemia.

         93 – Dia 15-03-2020, pandemia crescendo, manifestação e o Presidente convida o Mandetta para ir cumprimentar os manifestantes.  Ele não foi inclusive pelo mau exemplo na pandemia.

         O Chefe de Gabinete do Presidente, Major Cid, chamou o Presidente da ANVISA, Almirante Antonio Barra Torres para acompanha-los no cumprimento aos manifestantes.       Saiu na TV com reprovação da imprensa e o povo ficou chateado com a falta de cuidado do Presidente e autoridades.

         As autoridades sanitárias pedindo para o povo não se aglomerar e o Executivo indo apoiar manifestantes.     O governador de Goiás, médico Ronaldo Caiado, discutiu em público com manifestantes.   Desabafou na imprensa dizendo que já apoiou o Bolsonaro, mas naquele gesto dele não o apoiava pois desrespeitava norma de saúde pública.

         94 – “Foi a partir daquele domingo (15-03-2020) que duas mensagens começaram a circular juntas, uma se contrapondo à outra.   O Ministério da Saúde indicava um caminho e o presidente enviava mensagem no sentido oposto, a de não respeitar as orientações do seu próprio Ministério”.

         94 – O Ministério tinha que passar orientações sobre sepultamento de vítimas do covid e o presidente não queria.     “Expliquei que não podia mais haver velório” para vítimas da covid 19.       O protocolo foi:  cadáver dentro de dois sacos plásticos próprios para tal, em caixão lacrado e no máximo duas horas de velório restrito à família.    A resistência da presidência acabou fazendo a norma virar uma Recomendação do Ministério aos estados e municípios, que acabaram acatando e assim fazendo.

         95 – Quase fiz a especialidade de Psiquiatria.   Cheguei a cursar por um ano, antes de mudar para Ortopedia.

         Presidente e a fase de negação diante das mortes e aquela frase da “gripezinha”.    Em caso de doença grave em geral o paciente ouve o diagnóstico, sente um turbilhão, vai confidenciar com um parente próximo e na esperança, busca uma segunda opinião médica.   A primeira fase é de negação.   Na segunda fase, depois da segunda opinião confirmando a gravidade, vem o baque, a fase da raiva:  “Ela tem raiva de Deus e se pergunta: Por que comigo?”...    Nesta fase a pessoa já não nega mais a doença.   Só tem raiva.   Depois, a fase da reflexão.   A próxima fase é a primeira proativa, quando ocorre, onde a pessoa, pés no chão, começa a aceitar o fato e ajudar no tratamento.    

 

          Continua no capítulo 10/20

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

CAP. 08/20 - fichamento - livro - UM PACIENTE CHAMADO BRASIL (SOBRE COVID 19) - Autor: Luiz Henrique Mandetta - Médico e ex Ministro da Saúde

 CAP 08/20       - novembro de 2020

(CAP. 08/20 - record - book - A PATIENT CALLED BRAZIL (ABOUT COVID 19) - Author: Luiz Henrique Mandetta - Doctor and former Minister of Health)

         Aumentando a pandemia e aumentando os repórteres nas coletivas.   A TV Globo já estava ocupando quase todo o Jornal Nacional com o tema.   Todo dia as cinco da tarde, tinha coletiva e na média em cada, umas dez câmeras de emissoras de TV.

         Depois   mudaram o formato das coletivas, inclusive para evitar aglomeração.  Davam entrevista para a TV Oficial e acertavam envio de perguntas pelos repórteres da imprensa.

         75 – Adotaram entre os do Ministério, providências.   Não se podia fazer reunião com a pessoa a menos de três metros de distância uma da outra.

         76 – Usavam colete para evitar contágio.   Usavam só na coletiva e ir pra higienização.    Coletes com a marca do SUS.  Divulgou bastante o SUS.

         O motorista do Mandetta era idoso, pela casa dos 70 anos e ele dispensou o mesmo do trabalho por ser do grupo de risco e o ministro tem que dar o exemplo de cuidados.   Passou a fazer o percurso entre o Palácio e o Ministério, quando tinha que se reunir na Presidência, à pé.    “Sempre gostei de andar e aquele passou a ser o meu tempo para pensar um pouco”.

         O à pé durou até a imprensa descobrir e passou a assediar o ministro e seu colega de equipe.

         78 – O Palácio do Planalto vivia como se nada estivesse ocorrendo em termos de coronavirus.  Dia 04-03-2020 ocorreu a Cerimônia de posse da Secretária da Cultura, Regina Duarte.   Mandetta foi convidado e compareceu.   Viu descuido  geral no local.    Autoridades e artistas aglomerados e se juntando para tirar selfies.   Mania de políticos de falar no pé do ouvido.    “E o ouvido é uma porta de entrada do novo coronavirus”.

         “Para se ter uma idéia, não havia sequer um frasco de álcool em gel no Gabinete do Presidente da República”.    “A sala do presidente era um entra e sai sem cerimônia”.    Bolsonaro é um homem de muito contato físico, muito abraço, muito aperto de mão.

         80 – O Mandetta alertava os do palácio mas ninguém dava atenção. Até que dia 07-03-2020 foram para os USA.   Foram numa delegação de 22 pessoas entre equipe do presidente, senadores e convidados.   O Mandetta não foi e sabia do risco enorme de contrair o novo coronavirus na viagem.

         Dia 06-03-2020 – nos USA – 77 casos de covid 19

         12-03-2020          -  acumulado de 393 casos

         19-03-2020           - acumulado de 3948 casos

         20-03-2020          - acumulado de 5.417 casos

         Nessa semana Trump parou de defender o viver em ritmo normal por lá.   Bolsonaro iria se encontrar com Trump na Flórida, na casa de campo do anfitrião.    O Mandetta fez recomendações inclusive para os seguranças do Presidente.   Usar máscaras, álcool em gel, manter distanciamento etc.

         Não se cuidaram.  Ficaram lá cinco dias.   Na volta, todos no mesmo voo.    O Chefe da Secretaria Especial da Comunicação Social Fábio Wajngarten teve febre e tosse antes de embarcar de volta para o Brasil.  Veio junto com os demais da delegação mesmo com sintomas e aqui chegando, foi direto para o Hospital Albert Einstein.

         Dia 11-03-2020 a OMS Organização Mundial da Saúde reuniu a imprensa e finalmente decretou a pandemia do novo coronavirus.

         82 – A presidente da Fiocruz, em março de 2020, Nizia Trindade Lima.

         85 – No dia da votação do BPC Beneficio de Prestação Continuada para os mais pobres enfrentarem a pandemia.

         Primeiro senador a contrair covid 19:  Nelson Trad.

         Em reunião com o presidente da Câmara e do Senado e lideres partidários, Mandetta explicou os problemas e  pediu verba para distribuir a estados e municípios para estes socorrerem os contagiados.    Nessa reunião, era a primeira vez que os legisladores estavam ouvindo uma explicação detalhada do cenário mundial da pandemia.     Ficaram alertados e o Mandetta conseguiu 5 bilhões de reais de verba emergencial para distribuir aos Estados e municípios.   Sairia das verbas das emendas parlamentares.

         Depois da fala do Mandetta na reunião, falou o Paulo Guedes que parecia alheio à questão da pandemia.

         “Em minha opinião, faltou ao Guedes a capacidade de fazer uma leitura política do momento, pois ele não percebeu o que estava acontecendo.”   (a pandemia batendo à porta)

         87 ...” da quase totalidade dos projetos para amenizar os impactos da pandemia – como auxilio financeiro, - a maior parte veio do Congresso.   De cada dez medidas de impacto social, nove se originaram no Congresso, não do Executivo”.

         A maioria dos Ministros do Bolsonaro não tinha uma vivência de mandato.   As exceções:   Alvaro Antonio (Turismo), Onyx Lorenzoni, Tereza Cristina e o próprio Mandetta.    Dificulta interagir com as entidades, o povo e dialogar com o Congresso.

         .............. continua no capítulo 09/20