Autor: João Cabral de Melo Neto (poesia – crítica social) 02/25
Faz um bocado de
tempo que li este livro do poeta nordestino João Cabral de Melo Neto. É uma
aula de cidadania ao mostrar as agruras do povo do sertão Nordestino nos tempos
passados.
O livro descreve o sertanejo Severino, um
nome bastante recorrente no Nordeste, seguindo do Sertão em busca de
Recife. Na alegoria, Severino caminha
andando a pé e opta por tomar por rumo os pequenos rios que correm e que lá
muito adiante vão engrossando as águas rumo ao mar.
...”Morremos de morte ingrata
Mesma morte Severina
É a morte que se morre
De velhice antes dos
trinta,
De emboscada antes dos
vinte,
De fome, um pouco por dia”.
Severino seguindo o curso do rio, estação das secas e até o
rio morre nessa época, ficando seco.
Então o retirante busca um pequeno povoado próximo para tentar um
emprego temporário. Busca conseguir uns
trocos para sobreviver e depois seguir adiante rumo ao mar.
No vilarejo, vê uma mulher na janela e pergunta por emprego.
Ela pergunta o que ele sabe fazer como trabalho.
... “Sei também tratar de gado,
Entre urtigas, pastorear
Gado de comer no chão
Ou de comer ramas no ar.”
A mulher continua perguntando e ele explica:
“Deseja mesmo saber o que eu fazia por lá?
Comer quando havia o quê
E, havendo ou não, trabalhar”.
A mulher responde:
- “Essa vida por aqui é coisa familiar”.
A mulher pergunta se ele sabe os ritos e rezas de
velório. Ele diz que não e que só
acompanha enterros.
Ela diz que se ele entendesse desse ofício teria emprego e
ela poderia ser sócia dele. Rezas e
velórios.
- “Pois se o compadre soubesse
Rezar ou mesmo cantar
Trabalharíamos á meia,
Que a freguesia bem dá.”
...
O retirante segue e chega à zona da mata pernambucana
“Os rios que correm aqui têm a água vitalícia”.
Mas nestas terras boas para plantações, as grandes áreas são
de grandes usinas de açúcar. Imensas
plantações de cana-de-açúcar.
“Os donos são muito prósperos e os operários, miseráveis”.
“Tem cemitério por aqui também”.
...
“Esta cova em que estás,
Com palmos medida,
É a conta menor
Que tiraste em vida.
- É de bom tamanho,
Nem largo nem fundo,
É a parte que lhe cabe
Neste latifúndio.
- Não é cova grande,
É cova medida
É a terra que querias
Ver dividida.”
...
É uma cova grande
Para teu defunto parco,
Porém mais que no mundo
Te sentirás largo
- É uma terra grande
Para tua carne pouca,
Mas a terra dada
Não se abre a boca.
...
“E chegando, aprendo que,
Nessa viagem que eu fazia,
Sem saber desde o sertão,
Meu próprio enterro eu seguia
Só devo ter chegado
Adiantado de uns dias...”
...
Agora Severino já estás na região de mangue onde mora o povo
miserável em Recife.
Também vê muita miséria por lá. Riqueza de poucos e miséria de muitos.
No meio disso, nasce uma criança de uma família na
miséria. Vizinhos vem ver a criança e
trazem presentinhos. Uma diz:
- “Minha pobreza tal é
Que não trago presente grande
Trago para a mãe, caranguejos
Pescados por estes mangues,
Mamando leite de lama
Conservará nosso sague”.
... Outra vizinha com
oferenda
- Minha pobreza tal é
Que coisa não posso ofertar:
Somente o leite que eu tenho
Para meu filho alimentar,
Aqui são todos irmãos,
De leite, de lama e de ar”.
...
Severino matuta e vê que no meio de tanto desalento, sente
um alento pela solidariedade daqueles que tão pouco tem mas que compartilha
entre si.
Na conversa com o Mestre Carpina, experiente da vida, este
mostra a Severino que apesar de tudo, novas vidas vem chegando e o pobre é
solidário e vida que segue. Severino se
conforma diante desse alento. FIM.
Término da leitura e fichamento – dia 10-01-2025
resenhaorlando.blogspot.com.br
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