Cap. 23/27
Criação do PT e as
etapas. Já na grande reunião para
formar o partido se apresentaram muitas lideranças da esquerda com diferentes
formações e o partido que se iniciaria teria essa característica de conciliar essa diversidade em sua formação
e ação política. Essas chamadas
“correntes” dentro do partido participam das ações e decisões na proporção das
respectivas representações em suas bases.
Evento que foi bastante
destacado pelos órgãos de imprensa – a criação de um partido dos trabalhadores.
Certos políticos de
destaque na oposição à ditadura eram contra a criação de um novo partido de
esquerda por acharem que isso racharia a frente MDB que até então era um bloco
contra a ditadura. Temiam que o novo
partido enfraqueceria a frente MDB e isso prolongaria a ditadura.
Entre os líderes que
apoiavam a formação do PT cita o livro Jacó Bitar, do sindicato dos petroleiros
de Paulinia-SP. Olivio Dutra, do
sindicato dos bancários de Porto Alegre.
Nessa trajetória de Lula e
FHC (Lula ajudou voluntariamente na campanha de FHC ao Senado) sempre houve
atos de “assopros e mordidas” entre ambos.
Os intelectuais do meio
acadêmico conseguiram até o apoio para a criação do PT, do destacado Professor
e Sociólogo Antonio Candido de Mello e Souza, autor de livros como Os Parceiros
do Rio Bonito. (livro que li, fiz
fichamento e gostei muito)
Candido, socialista, foi
visitar no hospital um amigo médico socialista que estava doente terminal. A esposa do doente pediu a Candido que
dissesse algumas palavras que confortassem o amigo. Candido trouxe a novidade da criação do PT,
o primeiro partido operário do Brasil, construído pelos operários, pelo chamado
“chão de fábrica”. O doente ficou
contente e pediu a Candido para não deixar de assinar a adesão ao partido que
se iniciava. Esse empurrão do amigo, que
veio a falecer no dia seguinte, ajudou a Candido aderir e assinar o termo de
apoio à criação do PT. Candido depois
declarou publicamente:
“Entrei sabendo que o PT não é um
partido socialista; e eu sou socialista.
Mas acho que o PT tem uma energia operária que se confunde com os
interesses do povo”. (página 352 do
livro)
Destacados intelectuais
(citados no livro) assinaram a adesão para a criação do partido. Antes da criação em si, houve eventos com a
finalidade na Bahia, em São Paulo e em Poços de Caldas-MG.
“Só no dia 10-02-1980, no
auditório do Colégio Sion em São Paulo, o PT seria formalmente apresentado aos
brasileiros”.
Tempo de inflação alta,
tempo de greves. No dia 14-04-1980...
“no auge da greve, Lula seria abruptamente despertado em casa e trancafiado no
DOPS, junto com seus companheiros de diretoria do sindicato”.
Capítulo 16 - No meio da madrugada, um educado senhor
engravatado interroga Lula num cubículo do DOPS: era o enviado de um general, codinome
“Cacique”.
Se os generais da cúpula
da ditadura achavam que prendendo Lula iriam sufocar as greves, se
enganaram. O efeito foi o oposto.
Lula e os demais
dirigentes sindicais, já antevendo o risco de serem presos, articularam
pequenos grupos de ativistas (operários) não conhecidos pelas autoridades,
estes que comandariam em suas bases (nas fábricas) as lutas dos operários.
Entre os apoiadores da
luta operária por salários, bispos renomados como Dom Paulo Evaristo Arns, D.
Claudio Hummes, D. Pedro Casaldaliga (que conheci após o ano 2000 numa visita a
São Felix do Araguaia, aproveitando viagem de trabalho à cidade), D. Mauro
Morelli.
Os líderes sindicais foram
enquadrados como “terroristas” e nos artigos da LSN Lei de Segurança Nacional
sancionada pela ditadura.
Prisão dos sindicalistas
que foram colocados na condição de incomunicáveis por dez dias. Nem os parentes podiam visitar os presos.
O senador alagoano
Teotônio Vilela conseguiu visitar Lula nessa fase incomunicável. Teotônio, usineiro, foi da Arena e depois
passou à oposição, ao MDB. Já estava
com câncer quando visitou os sindicalistas presos.
Por essas e outras, o
Senador virou um símbolo da luta pela redemocratização do Brasil. (conheci o Memorial dele em Maceió-AL).
Milton Nascimento e
Fernando Brant, em homenagem ao senador, compuseram a canção “O Menestrel das
Alagoas”, música que virou hino da campanha pela redemocratização do Brasil.
Num gesto surpreendente, o
conservador jornal O Estado de São Paulo, diante da prisão dos líderes
sindicais, em editorial pediu a liberdade imediata deles. Gesto acompanhado por setores dos bispos e
outros líderes da sociedade civil organizada.
A família Mesquita,
controladora do “Estadão” como é conhecido o jornal O Estado de SP, manteve o jornal apoiando a ditadura no seu começo (1964) e seguiu até que em 13-12-1968 quando os militares
editaram o AI 5 Ato Institucional número cinco que retirou uma porção de
direitos do cidadão e apertou ainda mais a repressão policial contra os
ativistas pela redemocratização. Da
edição do AI 5 em diante, o Estadão deixou de apoiar a ditadura. Os jornais passaram a ter na redação a
imposição de censores que examinavam tudo o que estava para ser publicado e que
vetavam aquilo que achavam inconveniente ao governo ditatorial. A censura ficou de 68 a 1976.
Lula foi interrogado por
mais de quatro horas. Trechinho do
interrogatório: “Que o interrogado não
tinha outra expressão após ver o nosso Glorioso Exército passar em voos rasantes
em cima da cabeça de cem mil trabalhadores, podendo assustá-los e acontecer uma
tragédia; que nunca tinha visto uma coisa daquelas”.
Os líderes sindicais foram
presos e as greves continuaram. Por
pressão federal, o Estádio de Vila
Euclides, que tinha sido palco de grandes assembleias de metalúrgicos, foi
interditado para essa finalidade.
Continua no capítulo 24/27
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