CAP 04/10
Página
41 – “O holandês que cortava pepinos”
O
cronista morou uns tempos no Marrocos.
Em Tanger, frequentava às vezes o Bar Consulado, perto de alguns
consulados. Então alguns funcionários
de consulado, se estivesse no bar poderia dizer no telefone que estava no
Consulado. Só que não...sqn.
Fala do
holandês que era albanês com passaporte irlandês, tudo menos holandês. Vivia do comércio e outras variações
baseado em Tanger, também no Marrocos.
Pilotava barcos de pequeno porte.
Descreve a mulher do holandês, que dirigia seus negócios em Tanger.
...”tinha
uma pequena mulher de cabelos brancos azulados, sempre de calças compridas,
sorridente, de olhos azuis, com uns restos de beleza”.
Um dia
havia um show na vizinha costa espanhola e o holandês montou uma pequena
excursão com os amigos para lá e o contista foi junto. Na volta, a polícia marítima parou o barco e
viu que o piloto não tinha credencial para navegar por lá com passageiros. Quase deu cana.
45 – O
colégio da Tia Gracinha (irmã do avô do cronista em Cachoeiro do Itapemirim-ES). A escola era um internato de moças. Ali estudavam moças filhas de fazendeiros e
famílias de remediadas para cima.
“Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia, pois o tempo era de
pouca máquina e nenhuma pressa”. (década
de 20 do século passado)
“Recebiam
uma instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram as
prendas domésticas. Trabalhos caseiros
e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...”
“A
carreira de toda moça era casar...”
Nesta
crônica ele cita o Córrego Amarelo que é objeto de outra crônica dele, muito
linda por sinal. Nesta fala do córrego
limpo e bonito da sua infância que depois virou esgoto da cidade para o
desgosto do cronista. O córrego é
afluente do Rio Itapemirim.
O
colégio ficava à margem do Córrego Amarelo.
Crônica de abril de 1979.
47 – “O
macuco tem ovos azuis”.
“Ah. Eu
sou do tempo em que todos os telefones eram pretos e todas as geladeiras eram
brancas”. No decorrer da crônica ele
vai falando das mudanças do cotidiano ao longo do tempo e através dos lugares,
ele sendo capixaba vivendo no RJ após passar um tempo trabalhando em Belo
Horizonte. Os telefones ganharam cor e
geladeiras também. Nesse tempo ele morava em Niteroi na casa de
parentes, sendo então um jovem solitário e tinha descoberto que o macuco tem o
nome científico de Tinamus solitarius e ligou isso à sua solidão da época. E ele conheceu ninhos da ave macuco e sabia
que os ovos destes são azuis e ele arremata o conto. Os telefones não são mais pretos, as
geladeiras não são mais só brancas, mas os ovos de macuco continuam sempre
azuis.
47 - Restaurante
tipo americano, automático no RJ. A
pessoa colocava uma ficha e saia por uma janelinha um prato feito. Nesse tempo lia-se a revista Eu Sei Tudo,
do francês, no título original, Je Sais Tout”.
48 –
Cita o militar graduado da Guarda Nacional, brasileiro, morando em Paris na
Primeira Guerra Mundial. Galã, tinha um
punhado de estratégias de conquista, incluindo cartões de apresentação só para
esse fim, que distribuía a dedo no metrô e alguns espaços públicos. Faturou todas, pelo que relataria em
livro. “Quatrocentas e tantas...”. O cronista cita o livro do tal Medeiros e
Albuquerque. O título do livro: Quando eu era Vivo, editado pela Editora
Record do RJ em 1982.
Em outra
crônica fala de Niteroi de outros tempos.
Era Nictheroy, mas em compensação a praia era limpinha! Anos 1929-1930.
Morava
então na casa de uma parente que era professora de escola pública em Niteroi
que então pertencia ao Distrito Federal.
A professora ficava com muita raiva porque era obrigada a assinar (com
desconto automático na folha de pagamento do salário) o Jornal do Brasil que
era então o órgão oficial do Distrito Federal.
50 – O
português correto. Um dia o amigo
boêmio deu uma dica a ele. “Olhe,
Rubem, faça como eu, não tope parada com a gramática: dê uma voltinha e diga a mesma coisa de outro
jeito”.
51 – “O
espanhol que morreu”. E o tal,
segundo a crônica da mulherada da zona do Alto da Lapa, era um esbanjador
querido no local. Um dia morreu e o
pessoal sentia falta dele no lugar. Um
dia aparecem três amigos lá e uma das mulheres insistia que um deles era o
“morto”, o falado espanhol. Falou
tanto disso que deixou o rapaz parecido com o espanhol falecido
desconcertado. Se sentiu um pouco como
um morto que retornou não sei de onde para não sei o quê. Janeiro de 1948.
55 –
“Lembrança de Tenerá”. Tenerá era um
velho solitário que sempre tinha seus cães de estimação e morava
temporariamente num porão perto da casa da infância do cronista em Cachoeiro. Era bem popular na cidade e era papudo. Dizia sempre – quando cheguei aqui não tinha
isto e agora tem, não tinha aquilo e agora tem, como se fosse ele que trouxe
todo aquele progresso ao lugar. E
adestrava cães da vizinhança fazendo uns bicos.
Às vezes
sumia, passava uns tempos não sei onde e de repente voltava pra Cachoeiro. Nesse tempo o cronista bem jovem trabalhou
uns tempos numa farmácia de manipulação (comuns na época – anos 20/30) e lá via
o farmacêutico misturar as drogas para preparar remédios.
O
cronista batia papo com o Tenerá. Um
dia o Tenerá aprontou alguma malandragem e foi preso. Pena leve, o delegado mandava darem a ele
uma enxada e ele tinha que capinar a frente da delegacia, sol alto. Ele reclamando em voz alta para quem
passasse ouvisse e para que o delegado também ouvisse: -Eu já estive preso em cadeia melhor que
esta. Muito melhor do que esta
porcaria!” Crônica de setembro de
1969.
Continua no capítulo 5/10