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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

CAP. 04/10 - fichamento - livro - RECADO DE PRIMAVERA - autor: RUBEM BRAGA - cronista

CAP 04/10

         Página 41 – “O holandês que cortava pepinos”

         O cronista morou uns tempos no Marrocos.   Em Tanger, frequentava às vezes o Bar Consulado, perto de alguns consulados.   Então alguns funcionários de consulado, se estivesse no bar poderia dizer no telefone que estava no Consulado.  Só que não...sqn.

         Fala do holandês que era albanês com passaporte irlandês, tudo menos holandês.    Vivia do comércio e outras variações baseado em Tanger, também no Marrocos.    Pilotava barcos de pequeno porte.    Descreve a mulher do holandês, que dirigia seus negócios em Tanger.

         ...”tinha uma pequena mulher de cabelos brancos azulados, sempre de calças compridas, sorridente, de olhos azuis, com uns restos de beleza”.

         Um dia havia um show na vizinha costa espanhola e o holandês montou uma pequena excursão com os amigos para lá e o contista foi junto.  Na volta, a polícia marítima parou o barco e viu que o piloto não tinha credencial para navegar por lá com passageiros.   Quase deu cana.   

         45 – O colégio da Tia Gracinha (irmã do avô do cronista em Cachoeiro do Itapemirim-ES).    A escola era um internato de moças.   Ali estudavam moças filhas de fazendeiros e famílias de remediadas para cima.    “Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia, pois o tempo era de pouca máquina e nenhuma pressa”.  (década de 20 do século passado)

         “Recebiam uma instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram as prendas domésticas.   Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...”

         “A carreira de toda moça era casar...”

         Nesta crônica ele cita o Córrego Amarelo que é objeto de outra crônica dele, muito linda por sinal.   Nesta fala do córrego limpo e bonito da sua infância que depois virou esgoto da cidade para o desgosto do cronista.    O córrego é afluente do Rio Itapemirim.

         O colégio ficava à margem do Córrego Amarelo.      Crônica de abril de 1979.

         47 – “O macuco tem ovos azuis”.

         “Ah. Eu sou do tempo em que todos os telefones eram pretos e todas as geladeiras eram brancas”.     No decorrer da crônica ele vai falando das mudanças do cotidiano ao longo do tempo e através dos lugares, ele sendo capixaba vivendo no RJ após passar um tempo trabalhando em Belo Horizonte.    Os telefones ganharam cor e geladeiras também.    Nesse tempo ele morava em Niteroi na casa de parentes, sendo então um jovem solitário e tinha descoberto que o macuco tem o nome científico de Tinamus solitarius e ligou isso à sua solidão da época.   E ele conheceu ninhos da ave macuco e sabia que os ovos destes são azuis e ele arremata o conto.  Os telefones não são mais pretos, as geladeiras não são mais só brancas, mas os ovos de macuco continuam sempre azuis.       

         47 - Restaurante tipo americano, automático no RJ.   A pessoa colocava uma ficha e saia por uma janelinha um prato feito.     Nesse tempo lia-se a revista Eu Sei Tudo, do francês, no título original, Je Sais Tout”.

         48 – Cita o militar graduado da Guarda Nacional, brasileiro, morando em Paris na Primeira Guerra Mundial.   Galã, tinha um punhado de estratégias de conquista, incluindo cartões de apresentação só para esse fim, que distribuía a dedo no metrô e alguns espaços públicos.    Faturou todas, pelo que relataria em livro.   “Quatrocentas e tantas...”.   O cronista cita o livro do tal Medeiros e Albuquerque.    O título do livro:  Quando eu era Vivo, editado pela Editora Record do RJ em 1982.

         Em outra crônica fala de Niteroi de outros tempos.  Era Nictheroy, mas em compensação a praia era limpinha!   Anos 1929-1930.

         Morava então na casa de uma parente que era professora de escola pública em Niteroi que então pertencia ao Distrito Federal.   A professora ficava com muita raiva porque era obrigada a assinar (com desconto automático na folha de pagamento do salário) o Jornal do Brasil que era então o órgão oficial do Distrito Federal.

         50 – O português correto.    Um dia o amigo boêmio deu uma dica a ele.   “Olhe, Rubem, faça como eu, não tope parada com a gramática:  dê uma voltinha e diga a mesma coisa de outro jeito”.

         51 – “O espanhol que morreu”.     E o tal, segundo a crônica da mulherada da zona do Alto da Lapa, era um esbanjador querido no local.   Um dia morreu e o pessoal sentia falta dele no lugar.   Um dia aparecem três amigos lá e uma das mulheres insistia que um deles era o “morto”, o falado espanhol.    Falou tanto disso que deixou o rapaz parecido com o espanhol falecido desconcertado.  Se sentiu um pouco como um morto que retornou não sei de onde para não sei o quê.        Janeiro de 1948.

         55 – “Lembrança de Tenerá”.      Tenerá era um velho solitário que sempre tinha seus cães de estimação e morava temporariamente num porão perto da casa da infância do cronista em Cachoeiro.   Era bem popular na cidade e era papudo.   Dizia sempre – quando cheguei aqui não tinha isto e agora tem, não tinha aquilo e agora tem, como se fosse ele que trouxe todo aquele progresso ao lugar.    E adestrava cães da vizinhança fazendo uns bicos.   

         Às vezes sumia, passava uns tempos não sei onde e de repente voltava pra Cachoeiro.     Nesse tempo o cronista bem jovem trabalhou uns tempos numa farmácia de manipulação (comuns na época – anos 20/30) e lá via o farmacêutico misturar as drogas para preparar remédios.

         O cronista batia papo com o Tenerá.     Um dia o Tenerá aprontou alguma malandragem e foi preso.   Pena leve, o delegado mandava darem a ele uma enxada e ele tinha que capinar a frente da delegacia, sol alto.   Ele reclamando em voz alta para quem passasse ouvisse e para que o delegado também ouvisse:   -Eu já estive preso em cadeia melhor que esta.   Muito melhor do que esta porcaria!”         Crônica de setembro de 1969.

 

         Continua no capítulo 5/10 

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