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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CAP. 3/20 - fichamento do livro de memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora : ZÉLIA GATTAI

 capítulo 3/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Cadê a Casa?

         Há em Salvador, na Pituba, um local onde havia uma casa que o casal foi ver para comprar mas na hora a dona desistiu de vender.   Muito tempo depois a casa foi demolida e hoje é o Teatro Jorge Amado.

         Uma das casas que foram ver tinha paredes precárias e manchas de percevejos macetados.  Aqueles da doença de Chagas.   “Eu as reconheci, eram iguais às manchas que víramos nos campos de concentração na Alemanha, Tchecoslováquia e Polônia.”

         Morando em Salvador, foram algumas vezes de carro ao Rio mas era viagem muito cansativa.   “Passaram a ir de avião com as crianças para o conforto de todos, menos de Jorge que ficava tenso nas viagens de avião”.

         Jorge Amado com seu livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ganhou na França um prêmio a ser recebido no castelo do Mont-Saint-Michel, considerado a oitava maravilha do mundo.    No voo doméstico lá na França, Jorge ficou intrigado.    Era voo num pequeno avião turbo-hélice bimotor para doze passageiros.   Zélia curiosa para ver Paris durante o voo. Só que sobrou para eles os bancos na direção da asa e esta impedia ver a cidade.

         Ela leu que os motores do avião eram da marca Rolls Royce e logo avisou Jorge.  Ela que era filha de mecânico em São Paulo.    Ele perguntou o que é isso?   Ela esclareceu.    A marca é da melhor fabricante de motores do mundo.

         Logo em seguida, deu pane num motor e foram avisados que haveria um pouso de emergência.    Ela segurou firme na mão de Jorge.   “Se era para morrer, ao menos morrer de mãos dadas”.

         Acabaram fazendo um pouso sem maiores complicações.    Mesmo depois disso, Zélia continua preferindo para longas distâncias, ir de avião.  Jorge reclama:  “Você é uma irresponsável”.

         Jorge veste fardão

         Antes de encontrarem a casa em Salvador, morre o imortal da ABL Academia Brasileira de Letras (sede na então capital federal Rio de Janeiro), Otávio Mangabeira, da cadeira 23.   Jorge concorre à vaga.  O patrono da cadeira 23 é José de Alencar e o fundador, Machado de Assis.

         Dia 06-04-1961 Jorge foi eleito para a ABL.    No dia da posse, o desconforto de Jorge que sempre foi de usar roupas leves, folgadas e sandálias nos pés.

         Os fardões são pesados, desconfortáveis e inclusive com bordados a fios de ouro.

         O pai de Jorge Amado, que insistia para o casal não se mudar para Salvador viu nisso mais um argumento para tentar tirar da cabeça deles a mudança.     “Afinal, nem ABL tem lá em Salvador... dizia”.

         ... Nesse mesmo ano, dia 10 de agosto, Jorge completou 49 anos.  Fez um festão para os amigos do Rio antes de voltarem para Salvador.

         Enfim compraram a Casa do Rio Vermelho, que foi de um pianista suíço contratado por uns tempos pela Universidade Federal da Bahia.   Venceu o contrato com a universidade e os suíços decidiram voltar para a terra deles.    Eles sentiram ter que deixar Salvador e a casa.  

         Zélia diz que não era a casa do sonho deles e precisou de reforma pesada, mas a vista do local agradou muito.  Lugar alto e vista para o mar.

         Outro atrativo foi o casal saber que a casa tinha inclusive o nome de Sonata batizado pelos donos que eram músicos.

         Procissão de Iemanjá.

         Dia dois de fevereiro, dia da Rainha do Mar, Iemanjá.  Ritos e procissão de barcos.   Os adeptos trazem até a praia as oferendas para agradar Iemanjá  (flores, pentes, espelhos etc).    São colocados em cestos que depois são transportados ao mar pela procissão de barcos e lá ofertados.   Há tradição de que o que afunda, agradou Iemanjá e o que boia, ela não aceitou.

         O casal costumava acompanhar a festa muitas vezes vendo tudo de casa, mas em certas festas, desciam até a praia para participar diretamente.

 

Continua no capítulo 4/20

sábado, 16 de dezembro de 2023

CAP. 2/20 - fichamento do livro de Memórias - A CASA DO RIO VERMELHO - autora: ZÉLIA GATTAI

capítulo 2/20            leitura em dezembro de 2023

 

         Férias na casa dos amigos de Recife que foram colegas de turma do curso de Direito de Jorge no Rio de Janeiro.   Colegas de curso e da militância na política estudantil.

         “Jorge não aderia às pescarias, nem às grandes caminhadas.   Seu divertimento era outro: preferia descansar, deitado na rede do terraço, ouvindo histórias dos empregados da casa e de pescadores que apareciam por lá na hora da preguiça”.

         Entre os velhos amigos de prosa, aposentados e “operados” não faziam nem serviços leves.   “Tranquilos, os pais da indolência, cansavam-se só de ver os outros trabalhar.”

         Essas prosas inspiravam o romancista Jorge Amado.   Em Salvador recebiam visitas frequentes, famílias inteiras chegando de carro.   A casa tinha espaço para todo mundo.

         Nesses encontros, os homens jogavam pôquer e as mulheres, canastra.   Zélia gostava de pescar no mar.   Um dia ela, pescando embarcada, “pescou” a âncora do barco e lutou com ela pensando que era um peixe enorme.

         Ao fim da pescaria, ao levantarem a âncora, viram lá o anzol enroscado.   Decepção.

         Um dia ela pescou uma arraia de uns dez quilos, o que foi o maior peixe que ela pescou.

         Antes de mudarem do Rio, os pais de Jorge contrariados por eles optarem por ir morar na Bahia.   Diziam ao casal que iriam deixar a cidade grande para ir morar no mato.

         Para Zélia, foi um certo sacrifício ir morar em Salvador.   Valia a pena por conta do lugar ser mais seguro para o casal de filhos.   Lá Jorge se sentia mais em casa, tendo nascido no sul da Bahia.     Zélia, paulistana, filha de italianos, se sentia meio peixe fora d´água em Salvador no começo.

         Quando se mudaram para Salvador o casal já estava junto há dez anos.

         A reação dos sogros para tentar tirar da cabeça do casal a ideia de morar em Salvador.   A sogra:  “Seus filhos lá em Salvador vão virar dois tabaréus”   (Recruta mal exercitado. 2 Pessoa tímida. 3 V caipira , acepção 2. 4 obsoleto, Oficial desleixado e incompetente)

         A sogra, dona Eulália, dona Lalu, enfrentou no passado no sul da Bahia tempos e lugares violentos, confrontos a bala, gente da família atingida.    O marido dela era Capitão.

         Ela dizia que lá em Salvador e região era o cú do mundo.

         Os pais de Jorge Amado tinham fazenda de cacau em Pirangi BA no sul do estado.   Moravam no Rio de Janeiro na época.

         Zélia diz:  “Vivo me gabando de ser otimista.   Acho apenas que tive sorte de ter nascido otimista, não me apoquento com pouca coisa...”

         Achou que ia ser fácil encontrar uma boa casa para comprar em Salvador.   Não foi fácil.

         Zélia sempre no volante e Jorge não dirigia e ainda palpitava.   Reclamava quando ela deixava os outros ficarem ultrapassando.  “Ora, minha filha!  Você parece que gosta de comer poeira, todo mundo passa em sua frente!”

         O carro deles tinha o apelido de Sapão (um Citroen de faróis saltados)

E  era um carro raro na região.   Nas viagens na rota Rio-Salvador, nas paradas, juntava gente em volta do carro por curiosidade.   Em Milagres MG, um cego de cuia na mão pedindo esmola,  óculos escuros, ao “ver” o carro se aproximou admirado.   “Eta bichão porreta!   Igual este eu nunca vi”.   O carro fez esse milagre.

         Salvador a vista

         O artista plástico Carybé, amigo do casal, também é adepto do Candomblé e mora em Salvador.    Ao chegarem a Salvador logo mais, passaram na casa do Carybé.   Ele admirado, pôs o apelido no carro de Mané Pato e o apelido pegou em definitivo.

         Uma bela noite, o carro do casal  passou por cima de um bueiro destampado e o motor do carro bateu no chão com força e lá se foi o óleo e tudo o mais.   Em Salvador não havia peça para consertar o Citroen importado.   Colocaram o carro num caminhão e mandaram para o Rio e nem lá houve conserto.  A contragosto, teve que ir para o ferro velho.  

 

         Continua no capítulo 3/20

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Cap. 1/20 - fichamento do livro - A CASA DO RIO VERMELHO (Memórias) - Autora: ZÉLIA GATTAI

 

Fichamento do livro – A CASA DO RIO VERMELHO                            DEZEMBRO DE 2023

 

         Autora:  Zélia Gattai – Editora Companhia das Letras – 2022 – 326 páginas.   1ª reimpressão

 

         Neste ano de 2023 eu e minha esposa fomos conhecer Salvador.  Antes visitamos várias regiões litorâneas do Nordeste, inclusive a região de Porto Seguro no sul da Bahia.

         Não faz tempo que nossa filha Francieli esteve em Salvador como turista e ela recomendou nosso passeio e indicou inclusive o guia que atendeu ela quando esteve lá.   Ter um guia com referência sempre dá mais segurança numa viagem desse tipo.   A experiência foi ótima, inclusive muitas dicas que a filha nos repassou sobre os lugares turísticos.

         Um dos locais que visitamos foi a Casa do Rio Vermelho, onde moraram Zelia Gattai e Jorge Amado, ela paulistana, filha de italianos e ele baiano da região cacaueira do sul do estado.

         Moraram antes por um bom tempo no Rio de Janeiro, onde no passado Jorge Amado estudou Direito, como queria seu pai Coronel e fazendeiro do cacau no sul da Bahia.

         Passados uns tempos, o casal de filhos de Jorge e Zélia crescendo e eles optaram por morar em Salvador por acharem que seria um lugar mais tranquilo e mais seguro para os filhos.  O filho já estava com 13 anos e a filha, um pouco mais nova.  Zélia inclusive queria uma casa com vista para o mar e que tivesse um quintal grande para ela plantar flores.

         A casa que foi do casal hoje é um Centro Cultural com acervo deles e acessíveis ao público que visita o local.  Muitos e muitos turistas.

         Nos anos 90 até o escritor português José Saramago visitou e foi hospedado pelo casal.   Há foto deles exposta na casa.

         Moraram na Casa do Rio Vermelho a partir do ano de 1963.   Zélia nasceu em 1916 e faleceu em 2008.

         Ela alerta neste livro que é de Memórias.

         O cara de sapo

         O carro usado que foram ver para comprar.   Um Citroen preto, faróis saltados.   Parecia um sapo de olhos grandes.   “Cara de Sapo”. Ficou como apelido.

         Jorge não dirigia automóvel.   Escala Zélia para assumir o volante.  O carro que compraram tinha um tipo de suspensão sofisticado movido a pressão de óleo.    Acionado, a pressão do óleo aumentava a altura do carro e trazia como vantagem evitar risco de encalhar ou bater em pedras em estradas não pavimentadas.   

         Zélia era filha de um mecânico de automóveis e conhecia as principais peças de automóveis, diferente de Jorge que não se interessava por esse tipo de coisa.

         “E se esse óleo específico acaba numa viagem longa, onde vamos encontrar para repor?”   Ela pergunta ao vendedor do carro.

         Uns 20 litros de óleo fino específico.   O vendedor disse que poderia ser substituído por óleo de rícino (de mamona) sem problema.

         O casal iria logo do Rio a Salvador com o Cara de Sapo.

         Nos anos 60 quando optaram por morar em Salvador, a cidade não tinha 500.000 habitantes.  Era uma cidade pacata.

         A cidade era também um sonho de Jorge Amado, natural do sul da Bahia.     Na juventude, em 1930, Jorge foi enviado para o Rio de Janeiro para ser Doutor, estudar Direito, como filho mais velho do pai Coronel e fazendeiro de cacau.    De fato Jorge se tornou bacharel em Direito e desde cedo sonhava em escrever um romance.

         No tempo de colégio Jorge fez uma redação e o padre professor Cabral ao ler a mesma afirmou:  “o autor desta redação será um dia um grande escritor”.   Jorge quando garoto era um menino peralta.

         Aos 14 de idade, Jorge já escrevia para jornais e revistas.

         A volta

         Se formou em Direito, escreveu muitos livros, foi deputado comunista, foi perseguido, preso político e foi exilado.

         Ilhéus no sul da Bahia, região costeira e produtora de cacau.    Jorge vendeu os direitos do romance Gabriela Cravo e Canela para uma empresa americana (a Metro), uma empresa “capitalista” como ele afirmava.

         Os recursos da venda do livro foram empregados na compra da casa para o casal.

         Continua no capítulo 2/20

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

CAP. 8/8 (final) - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora: CLARICE LISPECTOR

 capítulo 8/8 (final)                    Leitura em dezembro de 2023

 

         Capítulo – A víbora

         ...à noite, na casa.       ...”tinha consciência do resto da casa que se perdia na escuridão, os objetos sérios e vagos flutuando pelos cantos.”

         Na casa com Otávio, divagando...

         “Largassem-na no deserto...  Tomar uma trouxa de roupas, ir embora devagar.  Não fugir, mas ir.  Isso, tão doce:  não fugir, mas ir...”

         Joana diz para Otávio que quer ter um filho dele.   Ele acha estranho isso porque percebe que o relacionamento deles está na reta final.

         - “Só terminará quando eu tiver um filho, repetiu ela, obstinada.”

         Ela diz...   ... depois de um filho nada nos restará senão a separação...

         - “E o filho? – indagou ele.  Qual será o papel do pobre em todo este sábio arranjo?

         - Oh, ele viverá – respondeu.       ... ela ... cheia de piedade   ... apertou os lábios, confusa – um amor cheio de lágrimas.”

         - “Você bem sabe que não se trata disso.   Oh, Otávio... Murmurou depois de um instante, as chamas subitamente reavivadas – que nos acontece afinal, o que nos acontece?

         A voz de Otávio era áspera e rápida quando respondeu:   - Você sempre me deixou só.

         ... – “Não  .. assustou-se ela.   -É que tudo que eu tenho não se pode dar.  Nem tomar.   Eu mesma posso morrer de sede diante de mim.   A solidão está misturada à minha essência”...

         ... seguiu o diálogo todo truncado...

         “subitamente compreendeu que Joana iria embora.”  “Sim, ele continuaria.  Havia Lídia, o filho, ele mesmo”.

         ...” A indefinível sensação de perda quando Joana o deixasse.”

         Ele em pensamento:  “Minha, minha, não partas!” – implorou do fundo do seu ser”.

         “Mas ele não pronunciaria tais palavras porque desejava que ela partisse, não saberia o que fazer de Joana se ela ficasse”.

         - Quer mesmo um filho? – perguntou ele porque, medroso da solidão em que avançara, quis subitamente ligar-se à vida, apoiar-se em Joana até para poder em Lídia, como quem quer atravessar um abismo agarra-se às pedras pequenas até galgar a maior”.

         - Nós não saberíamos como faze-lo viver... veio a voz de Joana.

         Otávio, transtornado, ferve os nervos:  - Foi tua tia quem te chamou de víbora.  Víbora, sim!  Víbora! Víbora! Víbora!

         Depois ele se acalmando.   “Os dois mergulharam em silêncio solitário e calmo”.

         Capítulo  -  A partida dos homens

         Joana após a partida de Otávio.    “Tomou consciência da solidão em que se achava no centro de uma casa vazia”.

         Otávio estava com Lídia, grávida...

         ... Haveria de reunir-se a si mesma um dia, sem as palavras duras e solitárias.

         Capítulo – A viagem

         Aceitou sua parte na herança.   Viajando de navio.   Joana sempre em suas elocubrações...

         “Deus meu, eu vos espero, deus, vinde a mim, deus brotai no meu peito, eu não sou nada...”    ... não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas”...    “esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada...”

         “Porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte – sem – medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo”.                             FIM

 

         No Postfacio do livro há o comentário de Nádia Battella Golflib

         Ela discorre sobre a autora e esta obra e no contexto coloca um perfil:

         “Joana é uma personagem intensa e pautada pela complexidade.   Múltipla.  Quer e não quer.  Pode tudo.  Mas não pode.  Segue.  Mas não chega.  Deseja.  Mas não deseja mais.  Não seria esse o próprio risco do intrincado bordado da vida, com avanços e recuos?”

capítulo 7/8 - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora - CLARICE LISPECTOR

 leitura em dezembro de 2023       ( o livro foi publicado originalmente em 1943)

Alguma coisa estava dita.    Depois da divagação de Joana, ela disse a Lídia:   - Eu também posso ter um filho, disse alto.   A voz soou bela e límpida.   Eu terei um filho e depois lhe devolverei Otávio.”

         - Mas isso é monstruoso!  Gritara Lídia.

         - Mas por quê?  É monstruoso ter duas mulheres?   Você bem sabe que não.

         ... Joana continuou na hipótese de ter um filho.    “Mas depois, quando eu lhe der leite com estes meus seios frágeis e bonitos, meu filho crescerá de minha força e me esmagará com sua vida.   Ele se distanciará de mim e eu serei a velha mãe inútil.   Não me sentirei burlada.”

         Capítulo -    O homem

         Saindo da casa de Lídia:   “Quando fechou o portãozinho, afastou-se de Lídia, de Otávio, e, de novo sozinha em si mesma, caminhava”.

         ...Mas não era a morte o que ela queria.  Tinha medo também.     ...Agora ela se separara do passado”.

         “Continuou a andar.  Não sentia mais o calor da febre que a conversa com Lídia provocara.”

         ...”às vezes seus passos erravam na direção, pesavam-lhe, as pernas mal se moviam.   Mas ela se empurrava, guardava-se para cair mais longe.”

         Vagando a ermo na noite, Joana vê um homem.   Ele que ela teria visto outras vezes.   Ela para e fica ali.  Ele se aproxima.   “Mas nenhum dos dois descobria no outro o começo de alguma palavra.”

         Capítulo -   O abrigo no homem

         No dia do encontro, pouco ou quase nada conversaram.   Joana o acompanhou até a casa dele que era perto de onde eles estavam.   Ela ficou lá poucas horas e se foi.   Prometeu voltar.   Um dia, ela voltou.

         “Quando a porta se abriu para Joana ele deixou de existir.   Escorregara mais fundo dentro de si...

         Joana ia à casa, se relacionava com o estranho e na casa tinha outra mulher.   Aquela mulher espera que eu vá embora (pensa Joana) um dia finalmente.

         ...”Tristeza de domingo no cais do porto, os  marinheiros emprestados à terra.   Essa tristeza leve é a constatação do viver”.

         Os dois apaixonados e perto do mar.   “Ele escondeu o rosto naquele ombro e ela ficou sentindo sua respiração percorre-la de ida e volta, de ida e volta.”     ...Lá fora o mundo se escoava...

         ...   O marinheiro e a relação com Joana.   Algum dia tenderia a ir embora.    “Mas uma vingança:  ele não se libertaria inteiramente.”   ... ele terminaria por odiá-la, como se ele exigisse dela alguma coisa.”

         ...Como terminaria a história de Joana?       ...”Sim, terminar assim: apesar de ser das criaturas soltas e sozinhas no mundo, ninguém jamais pensou em dar alguma coisa a Joana”.

         ...”Otávio também era bonito, olhos.   Esse era uma criança uma ameba flores brancura mornidão como o sono...”

 

         Continua no capítulo 8/8 (final)

domingo, 10 de dezembro de 2023

Cap. 6/8 - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora: CLARICE LISPECTOR

 capítulo 6/8        (lembrando que o original desta ficção é de 1943 quando Clarice Lispector estava aos 23 de idade e cursava Direito no RJ)

 

         Lídia que foi feliz nos tempos de um relacionamento com o primo Otávio.   Agora Otávio tem outra família e Lídia pensa:

         “E quando seu filho nascesse – alisou o ventre que já se arredondava – eles três seriam uma pequena família”.

         Os primos Lídia e Otávio foram criados juntos.   “Vivera perto de Otávio.  Ninguém passará por sua vida senão ele”.       ...Espera-o.   Quando o alcançara, Joana viera e ele fugira.  Continuou esperando.  Ele voltara. Um filho nasceria”.

         Capítulo -  O Encontro de Otávio

         Joana e Otávio juntos, mas sempre distantes nos sentimentos.   Ela sente que não há sintonia entre ambos, o que lhe traz insônia e solidão.

         Capítulo – Lídia

         Otávio saiu de casa cedo em atividade de rotina.   Joana ficou aliviada dele ter saído. Ela recebeu um bilhete de Lídia convidando-a para visita-la.

         ...”E a mulher era o mistério em si mesmo, descobriu.”.

         Joana e Lídia num encontro quase sem palavras.    ...”as duas mulheres sentiram que não estavam lutando”.

         ...”sou um bicho de plumas, Lídia, de pelos.  Otávio se perde entre nós indefeso”.

         “Compreendo por que Otávio não se desligou de Lídia: ele está sempre disposto a se lançar aos pés daqueles que andam para frente”.

         ...”como sou pobre diante dela tão segura.”    ...”Lídia, o que quer que seja, é imutável, sempre com a mesma base clara.”

         - “Energia?  Mas onde está a minha força?  Na imprecisão, na imprecisão, na imprecisão...”

         Contou para Lídia seu tempo de internato e sua capacidade de arrebatar as colegas com seus detalhes sobre a personalidade das pessoas.   Era uma forma de domínio que exercia com isso.

         ...”uma dizia: - Joana fica insuportável quando está alegre”.

         ...   Lídia ao convidar Joana esperara bondade dela por conta de Lídia estar esperando um filho de Otávio.    “Quer Otávio, o pai.  É compreensível.  Por que não trabalha para sustentar o guri?  Certamente você estava esperando de mim grandes bondades, apesar do que disse agora sobre minha maldade.

         “Mas a bondade me dá realmente ânsias de vomitar.   “Por que não trabalha?  Assim não precisaria de Otávio.”

         ...”- Você gostaria de estar casada – casada de verdade com ele? – indagou Joana.”   - Gostaria.

         Por quê? – Surpreendeu-se Joana.   Não vê que nada se ganha com isso?   Tudo o que há no casamento você já tem...

         - “Aposto que você passou toda a vida querendo casar.”

         Lídia teve um movimento de revolta:   era tocada na ferida, friamente.   – Sim.  Toda mulher...    – assentiu.

         Joana responde:   “Isso vem contra mim.   Pois eu não pensava em me casar.  O mais engraçado é que ainda tenho a certeza de que não me casei...

         “Imagine:  ter sempre uma pessoa ao lado, não conhecer a solidão.   – Meu Deus! – não estar consigo mesma nunca, nunca.    ...daí em diante é só esperar pela morte”.

         ...”assistindo a própria derrota na derrota do outro.”

         Por que casou? – indaga Lídia.

         - Não sei. Só sei que esse não sei é uma ignorância particular...

         - Casei simplesmente porque quis casar.   Porque Otávio quis casar comigo.

         ... O que importa é que já não há amor.

         ...”Fique com Otávio.  Tenha seu filho, seja feliz e me deixe em paz.

         - Sabe o que está dizendo? – gritada Lídia.

         - Sei, é claro.

         - Não gosta dele...

         - Gosto: Mas eu nunca sei o que fazer das pessoas ou das coisas de que eu gosto, elas chegam a me pesar desde pequena”.

         Lídia diz:    não consigo compreender.    Joana fica corada de leve: - Também eu.   Nunca penetrei no meu coração.

         Alguma coisa estava dita.    Depois da divagação de Joana, ela disse a Lídia:   - Eu também posso ter um filho, disse alto.   A voz soou bela e límpida.   Eu terei um filho e depois lhe devolverei Otávio.”

 

         Continua no capítulo 7/8

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

CAP. 5/8 - fichamento do livro - PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - autora : CLARICE LISPECTOR

capítulo 5 de 8.                leitura em dezembro de 2023

 

         Joana teve um caso com Otávio.  Depois, sentimentos controversos, alternando alegria, tristeza, certeza, dúvidas.     ...Serenamente vazia.  Estava pronta.

         Procurou-o então.  E a nova glória e o novo sofrimento foram mais intensos e de qualidade mais insuportável.    “Casou-se”.

         ...”a harmonia existente sob o que não entendia.     ...Falavam-lhe das próprias dores e ela, embora não ouvisse, não pensasse, não falasse, tinha um olhar bom – brilhante e misterioso como de uma mulher grávida”.

         “O que sucedia então?  Milagrosamente vivia liberta de todas as lembranças.  Todo o passado se esfumaçara.  E também o presente eram nevoas...

         “Aos poucos habituou-se ao novo estado, acostumou-se a respirar, a viver”.    Só não habituara a dormir... atravessar a escuridão. Morrer e renascer.”.

         ...”Uma vez terminado o momento de vida, a verdade correspondente também se esgota.”

         Segunda Parte do Livro

         Capítulo – O Casamento

         ... já casados...   “A culpa era dele, a culpa era dele.  Sua presença, e mais que sua presença: saber que ele existia, deixavam-na sem liberdade”.

         Otávio debruçado nos livros de Direito e Joana resolveu dar um basta na situação deles.   

         “Então... começou com ironia”.   Mas não sabia como continuar e esperou, olhando-o.   Ele disse um cômico ar severo:

         - Muito bem.  Agora a senhora faça o favor de se aproximar e encostar a cabeça nesse valoroso peito, porque estou precisando disso”.

         ...”Quantas vezes não dera uma gorjeta exagerada ao garçom só porque se lembrava de que ele iria morrer e não sabia”.

         “Olhava-o misteriosamente, séria e terna.  E agora procurava emocionar-se pensando nos dois futuros mortos”.

         No relacionamento com Otávio...   “Não o odeio, não o desprezo.   Por que procura-lo, mesmo que o ame? Não gosto tanto de mim a ponto de gostar das coisas de que gosto.

         Amo mais o que quero do que a mim mesma.      ...Adiar, só adiar, pensou Joana antes de deixar de pensar.   Porque os últimos cubos de gelo haviam-se derretido e agora ela era tristemente uma mulher feliz.

         Capítulo -  O Abrigo do Professor

         Ela queria encontrar o professor antes do casamento dela.   “Sabia que o professor adoecera, que fora abandonado pela esposa.    O professor recebera-a com ar sereno e distraído.

         ...”como dizer-lhe que iria se casar?   O encontro com o professor ficou só no conversar, mais dela do que dele.

         Capítulo -   A Pequena Família

         Joana na casa dela.   “O que fascinava e amedrontava em Joana era exatamente a liberdade em que ela vivia, amando repentinamente certas coisas ou, em relação a outras, cega, sem usa-las sequer.

         Pois ele se via obrigado diante do que existia.    Bem dissera Joana que ele se via obrigado diante do que existia.     ... que ele precisava ser possuído por alguém.     ...”Não se pode pensar impunemente”.

         No passado Lidia, prima de Otávio, chegou a ser noiva dele.  Depois ele se casou com Joana e a prima ficou como sua amante.

         Otávio com a amante.   “Mas afinal de nada tenho culpa, disse”.   Nem de ter nascido.

         ... sobre a recordação de um beijo de Otávio em Lidia...  “Ninguém saberia que um dia tinham se querido tanto que haviam permanecido mudos, sérios, parados”.

         Ele foi embora um dia.   Lidia tomaria parte na sua vida de qualquer forma.    ...”Depois que se fuja – e nunca se estará livre.”

         ...”Há coisas indestrutíveis que acompanham o corpo até a morte como se estivessem nascido com ele.   Uma delas é o que se criou entre um homem e uma mulher que viveram juntos certos momentos”.

 

         Continua no capítulo 6/8