capítulo 5
“O meu corpo deixou de pesar. Comecei a andar mais depressa. Eu tinha a impressão de que eu deslizava no
espaço. E haverá espetáculo mais lindo
do que ter o que comer?”
Diário – 28 de maio.
Sem dinheiro em casa. “Quero
escrever, quero trabalhar, quero lavar roupa”.
Frio e chuva ....” o que quero
esclarecer sobre as pessoas que residem na favela é o seguinte: que tira proveito aqui são os nortistas (hoje
dizemos nordestinos). Que trabalham e
não dissipam. Compram casa ou retornam
para o Norte (Nordeste na nomenclatura atual).
Na favela tem barraco do morador e tem dos que fizeram para
vender e os que fizeram para alugar.
... “O que eu me
revolto é contra a ganância dos homens que espremem uns aos outros como se espremesse
uma laranja.”
Favela sem lugar para flores, abelhas, natureza. “O único perfume que exala da favela é
a lama podre, os excrementos e a pinga”.
Ela enfrentando um vizinho valentão. “Mas eu lhe ensinei que a é a e b é b. Ele é de ferro e eu sou de aço. Não tenho força, mas minhas palavras ferem
mais do que espada”.
“Hoje tem arroz, feijão, repolho e linguiça. Quando faço quatro pratos penso que sou
alguém.”
Apareceu um pretendente querendo casar com ela. ...”um homem não há de gostar de uma mulher
que não pode passar sem ler. E que
levanta para escrever...”
Mulheres da favela... são horríveis numa briga. O que podem resolver com palavras,
transformam em conflito”. ...”eu penso
que a violência não resolve nada. .... “Dona Domingas é uma preta boa igual pão.
...”um dia eu discutia com a Leila. Ela e o Arnaldo puseram fogo no meu
barracão. Os vizinhos apagaram”.
...”Mas eu já observei os nossos políticos. Para observá-los fui na Assembleia
Legislativa. ...”Só quem passa fome é
que dá valor à comida.”
A mãe dizia a ela quando
criança: “Nós somos pobres, viemos para
as margens do rio.” ...”São lugares de
lixo e marginais”. Gente da favela é
considerado marginais.
“Não mais se vê os corvos nas margens do rio, perto dos
lixos. Os homens desempregados substituíram
os corvos (urubus).
“Eu não danço. Acho
bobagem ficar dançando daqui pra ali. Eu
já rodo tanto para arranjar dinheiro para comer.”
“Já faz tempo que os meninos estão pedindo pasteis. ... “os
pasteis é um acontecimento aqui em casa”.
Os moradores perto da favela olham os favelados com desprezo. Esquecem eles que na morte todos ficam
pobres.
...”Já faz seis meses que eu não pago a água. ...”O José Carlos está mais calmo depois
que botou vermes, 21 vermes.
Acordei de madrugada e comecei escrever. Tipo sonho que estou num Castelo onde
moro... “É preciso criar este ambiente
de fantasia para esquecer que estou na favela”.
“As horas que sou feliz é quando estou residindo nos
castelos imaginários.”
...”li o jornal para as mulheres da favela ouvir... ...devo reservar as palavras suaves para os
operários, para os mendigos, que são escravos da miséria.”
(na biografia dela na página 255).
Motivo para ler um livro:
“Para adquirirmos boas maneiras e formarmos nosso caráter”.
Ela destaca o incentivo da professora dela para
leitura: “Que pessoas instruídas vivem
com mais facilidade”.
“Passei 23 anos mesclada com os marginais”.
Continua no capítulo 6