RESENHA DO LIVRO - A ILHA - (CUBA) -
FERNANDO MORAIS
Resenha
elaborada pelo Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
Editora – Alfa
Ômega – São Paulo-SP, 21ª edição, 1984 – 200
páginas Leitura em fevereiro de 2013.
“Eu acredito que não há nenhum país no mundo, incluindo
qualquer e todo país sob dominação colonial, onde a humilhação da colonização
econômica e a exploração foram piores do que em Cuba, em parte devido às
políticas do meu país durante o regime de Batista. Eu aprovei a proclamação que
fez Fidel Castro em
Sierra Maestra, quando justificadamente clamou por justiça e,
especialmente, desejava livrar Cuba da corrupção. Vou até ir mais longe: em
certa medida, é como se Batista era a encarnação de uma série de pecados por
parte dos Estados Unidos. Agora vamos ter de pagar por esses pecados. Em
matéria do regime de Batista, eu estou de acordo com os primeiros
revolucionários cubanos. Isso é perfeitamente claro.
—
Presidente AmericanoJohn F. Kennedy, entrevista com Jean Daniel,
24 de outubro de 19638
A Resenha em si:
O autor Fernando Morais é mineiro de Mariana. Já conquistou o Prêmio Esso
por reportagem sobre a Amazonia. Tem escrito várias obras inclusive
biografias. Anteriormente li dele Olga e Chatô – O Rei do Brasil.
O livro A Ilha (Cuba) foi publicado em vários países.
O autor jornalista Fernando Morais tinha 29 anos de idade quando visitou
Cuba. A primeira edição do seu livro A Ilha é de 1976 e
nesse tempo a Revolução Cubana tinha 17 anos, pois ocorreu em 1959.
Seguem os pontos que destaquei da obra, citando as respectivas páginas,
inclusive as introdutórias, cuja marcação é em algarismo romano.
XV - ...”Cercado por todos os lados por amigos distantes e inimigos próximos
(estes, os americanos)”.
XVI - ...”trabalho e estudo não são atividades incompatíveis ou separadas, mas,
ao contrário, se completam.”
XVI - ...”é o único país latino americano que não tem favelas”.
XVI - ...”os noivos tem direito, cada um, no casamento, a 15 caixas de
cerveja, 12 garrafas de rum e 6 de champanha.” Carros para o
casamento são fornecidos o quanto necessários para o transporte dos
convidados. Os noivos pagam a gasolina gasta.”
(esta introdução é feita por Fernando Peixoto)
Em seguida, comentário de Antonio Callado.
XIX – “O traço talvez mais comum entre os países da América Latina é a busca da
identidade nacional.” “Cuba teve que em 1901 engolir um
“direito” dos USA intervirem militarmente lá e manter a ordem ou a independência
do jeito deles. A Lei de 1901 caiu, mas permaneceu o
“direito” dos USA manterem em Cuba a base de Guantánamo.
XX - ...”um povo empenhado na autoria de si mesmo”.
Daqui em diante, a obra em si, por Fernando Morais que foi o segundo jornalista
brasileiro a entrar em Cuba após a Revolução Cubana.
26 – Com a revolução caiu o número de turistas inclusive porque foram fechados
os cassinos e os grandes bordéis em Cuba. A praia de Varadero era a
“Copacabana” deles.
27 – Regra do jogo no turismo após a Revolução: “O que temos a
oferecer são praias lindas, preços muito baixos, clima bom o ano inteiro”.
Aqui ninguém vai encontrar prostitutas, drogas, cassinos.
28 – O autor notou que em Cuba, de barbudos, só alguns chefes da antiga
guerrilha. O povo, não.
29 – Heróis – Che Guevara , Camilo Cienfuegos e José Martí
29 – Aborto é livre até o terceiro mês de gravidez.
33 - Rum Bacardi – produto cubano de exportação.
A Jamaica registrou essa marca de rum internacionalmente e passou a ter o
direito sobre a marca.
34 – País do tamanho do Piauí
com 1.500 bibliotecas em escolas, sindicatos, etc.
34 – Basebal é o esporte nacional deles.
37 – O autor notou que Ho Chi Min parece ser a autoridade mundial mais
respeitada pelos cubanos.
(toda percepção está baseada na visão de 1976 quando o autor esteve em Cuba)
41 – Racionamento, mas até os Ministros seguem e tem suas “cadernetas”.
41 – Na época, 9,2 milhões de habitantes em Cuba. (1976)
No começo do governo da Revolução, o governo não tinha o controle da
produção de alimentos e havia um forte mercado negro. Depois foi sendo
eliminado pelo controle do governo. (Lembrar que desde a Revolução,
os americanos decretaram bloqueio a Cuba exigindo que todos os países que tem
comércio com os americanos são obrigados a também manter o bloqueio a
Cuba). O bloqueio existe até hoje.
42 – O rum é um produto quase que da cesta básica do povo cubano. No maço
de cigarro, o alerta impresso: “Fumar faz mal à saúde”.
42 – O governo controlava (como no Vietnã) o mercado negro de cigarro e bebida,
já que não podia acabar com os mesmos. Alegam evitar o mal maior disso ficar
nas mãos do crime organizado. Grosso modo, cigarro e bebidas no
cambio negro custam dez vezes mais. Por outro
lado, criança até dez anos de idade e idoso a partir de 65 anos tem, por lei,
direito a 1 litro
de leite por dia por pessoa.
43 – Seus principais produtos de exportação – rum, charuto, cigarros e açúcar.
44 – Refeições fornecidas aos trabalhadores no trabalho a preço bem
baixo. Três refeições grátis por dia para todos os estudantes.
44 – Gasolina cara (transporte individual) e ônibus barato.
44 – Na época, uma dúzia de bob para as moças prenderem o cabelo era um bom
presente. Caro e raro. Vaidosas, chegam a usar
como bob o canudo do rolo de papel higiênico e até saem às ruas com tal
aparato.
45 – Rodovia Carretera Central, com quatro pistas, com mais de 1.000 km na costa do país,
de ponta a ponta.
46 – Muitos itens essenciais gratuitos, inclusive ensino, assistência médica e
remédios.
46 – Não pagam impostos e pagam 6% do salário para manter os benefícios.
46 – Muitos poupam e guardam as economias no banco, mas a grande maioria acaba
optando por gastar bebendo, comendo, dançando, divertindo-se de variadas
formas. Boates e restaurantes lotados nos fins de
semana. Pode ser necessário agendar com dois dias de antecedência.
46 – Salário Mínimo. 720 cruzeiros (na nossa moeda de 1976)
46 – Os americanos influenciaram Cuba por 60 anos e em 1961, de um dia para
outro, cortaram tudo. Para agravar a situação no novo regime,
os americanos atraíram com grandes salários profissionais como médicos, técnicos
e cientistas cubanos. O país ficou numa situação muito
crítica. Sem peças de reposição, etc, etc.
51 – Diferença pouca entre os maiores e menores salários: 350 pesos
e 80 pesos. (1975)
51 – salário de 1 lixeiro – 950 cruzeiros (em moeda brasileira de 1975)
1 motorista –
1.500 cruzeiros
1 jornalista –
2.000 cruzeiros
1 Ministro de
Estado – 2.700 cruzeiros
Notar que há pouca diferença entre os menores e os
maiores salários.
52 – Um dos primeiros atos da Revolução
foi a Revolução Urbana – todos passaram a ser donos das casas onde moravam.
Antigos proprietários de casas alugadas recebem uma indenização mensal do
governo pelas casas desapropriadas. E
os antigos inquilinos passaram a pagar para o Estado uma prestação módica para
ficarem donos do que agora é deles para moradia.
55 – Foram criadas muitas brigadas para
construir casas, apartamentos e infraestrutura como escolas, hospitais,
etc. Não há favela em Cuba. (1976)
EDUCAÇÃO
59 – Em 1961 o povo cubano tinha 35% de
analfabetos. Houve uma operação enorme
para reverter isso. Trouxeram na primeira etapa, de 35% para 5% de analfabetos
e depois (1975) para 2%.
59 – A Revolução derrubou a Ditadura de
Fulgêncio Batista.
A Revolução colocou o ensino grátis, por
conta do Estado até o sexto grau obrigatório.
60 – Escolas até o 10º grau na zona
rural. O aluno estuda parte do tempo e
lida no campo no contra turno.
Começou-se inclusive a produzir hortaliças e citros. (laranja, etc.) Com 500 há de laranja, vendendo a produção
no mercado internacional, cobriram os custos das escolas rurais. Meio período estudando e meio, trabalhando.
61 – Após o trabalho e estudo nas escolas
rurais, cada aluno tem que fazer 1 hora de esporte obrigatório. Rotina de 150 escolas desse tipo pelo país,
com alunos de 12 a
16 anos de idade.
63 – Fases dos estudos:
Pré
escolar 2 anos de duração
Primário 6 anos
Secund. básica 4 anos
Pré Univers. 3 anos
Universitário 4
a 11 anos
SAÚDE
68 -
Só se toma remédio lá com receita médica, consulta e remédio de graça.
69 – Quando houve a Revolução, dos seis
mil médicos cubanos, ao redor da metade se asilou nos USA.
69 – Médico de excelente qualidade na
formação. Após entrar na universidade,
fica 11 anos entre trabalho (estágio) e estudos, inclusive trabalhos na zona
rural.
Na época (1975) ao redor de 40% dos
cubanos moravam na zona rural.
70 – O autor faz uma descrição da mudança
radical pela qual passou o tratamento psiquiátrico em Cuba após a
Revolução. É bom ler na íntegra.
75 – Sobre liberdade de imprensa em
Cuba. À pergunta do autor deste livro
(que é jornalista) um jornalista cubano
respondeu:
“Nunca houve liberdade de imprensa em
lugar algum. A imprensa serve ao
poder. Em Cuba, o poder está nas mãos do
proletariado.”
107 – Os pró revolução são chamados de
compañeros. Os contra, de gusanos
(vermes).
110 – Os CDR Conselhos de Defesa da
Revolução. Um por quarteirão.
Verdadeiros síndicos de quarteirão.
111 – Mercenários invadiram a Baia dos
Porcos e o Exército e o povo (que tem treinamento militar) em 72 h rechaçaram o
ataque. Muitos dos invasores eram
mercenários da Nicarágua, etc.
112 – USA – distância de 90 milhas de Cuba.
115 – Livro escrito por Fidel Castro
(1953): “A história me Absolverá”. (tenho, vou ler e fazer resenha em breve)
154 -
Parte da entrevista com Fidel onde ele critica Nixon (presidente
americano) e acha que o atual (1975) – Carter, é sincero. Mas...
e então ele elenca muitos problemas do mundo subdesenvolvido e acha que
os USA “não sabem disso”.
156 – Fidel e os direitos humanos. Respondeu que o Capitalismo e o
Colonialismo são os maiores agressores aos direitos humanos pois há fome, miséria,
doenças, desnutrição, subdesenvolvimento,etc.
156 - ...
a exploração do homem pelo homem.
“Penso, portanto, que ninguém de
um país capitalista , tem autoridade para falar de direitos humanos.”
157 – Há presos políticos em Cuba.
No início da Revolução eram ao redor de 15.000. Na atualidade (1975), são ao redor de 3.000 presos políticos que agiram contra a
Revolução. São presos, mas nunca foram
torturados.
158 – Os líderes contra a Revolução foram
presos, julgados e vários foram fuzilados.
Não há um só caso de preso político
desaparecido em Cuba.
160 – Sobre a ajuda à Etiópia, um dos
países mais pobres do mundo. Com 35
milhões de habitantes, tinha 125 médicos apenas. Cuba mandou médicos e outras formas de ajuda
humanitária para lá. Quase a metade do
povo etíope sofria com doença nos olhos – a tracoma que pode cegar.
Comentários são bem vindos. orlando_lisboa@terra.com.br