capítulo 2/20 leitura em dezembro de 2023
Férias na casa dos amigos de Recife que foram colegas de
turma do curso de Direito de Jorge no Rio de Janeiro. Colegas de curso e da militância na política
estudantil.
“Jorge não aderia às pescarias, nem às grandes
caminhadas. Seu divertimento era outro:
preferia descansar, deitado na rede do terraço, ouvindo histórias dos
empregados da casa e de pescadores que apareciam por lá na hora da preguiça”.
Entre os velhos amigos de prosa, aposentados e “operados”
não faziam nem serviços leves. “Tranquilos,
os pais da indolência, cansavam-se só de ver os outros trabalhar.”
Essas prosas inspiravam o romancista Jorge Amado. Em Salvador recebiam visitas frequentes,
famílias inteiras chegando de carro. A
casa tinha espaço para todo mundo.
Nesses encontros, os homens jogavam pôquer e as mulheres,
canastra. Zélia gostava de pescar no
mar. Um dia ela, pescando embarcada, “pescou”
a âncora do barco e lutou com ela pensando que era um peixe enorme.
Ao fim da pescaria, ao levantarem a âncora, viram lá o anzol
enroscado. Decepção.
Um dia ela pescou uma arraia de uns dez quilos, o que foi o
maior peixe que ela pescou.
Antes de mudarem do Rio, os pais de Jorge contrariados por
eles optarem por ir morar na Bahia.
Diziam ao casal que iriam deixar a cidade grande para ir morar no mato.
Para Zélia, foi um certo sacrifício ir morar em
Salvador. Valia a pena por conta do
lugar ser mais seguro para o casal de filhos.
Lá Jorge se sentia mais em casa, tendo nascido no sul da Bahia. Zélia, paulistana, filha de italianos, se
sentia meio peixe fora d´água em Salvador no começo.
Quando se mudaram para Salvador o casal já estava junto há
dez anos.
A reação dos sogros para tentar tirar da cabeça do casal a
ideia de morar em Salvador. A sogra: “Seus filhos lá em Salvador vão virar dois tabaréus” (Recruta mal exercitado. 2 Pessoa tímida. 3 V caipira , acepção 2. 4
obsoleto, Oficial desleixado e incompetente)
A sogra, dona Eulália,
dona Lalu, enfrentou no passado no sul da Bahia tempos e lugares violentos,
confrontos a bala, gente da família atingida.
O marido dela era Capitão.
Ela dizia que lá em
Salvador e região era o cú do mundo.
Os pais de Jorge Amado
tinham fazenda de cacau em Pirangi BA no sul do estado. Moravam no Rio de Janeiro na época.
Zélia diz: “Vivo me gabando de ser otimista. Acho apenas que tive sorte de ter nascido
otimista, não me apoquento com pouca coisa...”
Achou que ia ser fácil
encontrar uma boa casa para comprar em Salvador. Não foi fácil.
Zélia sempre no volante e Jorge
não dirigia e ainda palpitava.
Reclamava quando ela deixava os outros ficarem ultrapassando. “Ora, minha filha! Você parece que gosta de comer poeira, todo
mundo passa em sua frente!”
O carro deles tinha o
apelido de Sapão (um Citroen de faróis saltados)
E era um carro raro na
região. Nas viagens na rota
Rio-Salvador, nas paradas, juntava gente em volta do carro por
curiosidade. Em Milagres MG, um cego de
cuia na mão pedindo esmola, óculos
escuros, ao “ver” o carro se aproximou admirado. “Eta bichão porreta! Igual este eu nunca vi”. O carro fez esse milagre.
Salvador a vista
O artista plástico Carybé,
amigo do casal, também é adepto do Candomblé e mora em Salvador. Ao chegarem a Salvador logo mais, passaram
na casa do Carybé. Ele admirado, pôs o
apelido no carro de Mané Pato e o apelido pegou em definitivo.
Uma bela noite, o carro do
casal passou por cima de um bueiro destampado
e o motor do carro bateu no chão com força e lá se foi o óleo e tudo o
mais. Em Salvador não havia peça para
consertar o Citroen importado.
Colocaram o carro num caminhão e mandaram para o Rio e nem lá houve
conserto. A contragosto, teve que ir
para o ferro velho.
Continua no capítulo 3/20