CAP. 22/22 (final)
A nova esposa do marajá, esta que se suicidou, era quarenta
anos mais nova que ele. O marajá
perto do fim da vida e a Índia perto do fim de um ciclo. Fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e a
Inglaterra anuncia a decisão irrevogável de conceder a autonomia à Índia.
Gandhi e Nehru haviam conseguido mobilizar as massas através
do Partido do Congresso. Os marajás não
queriam perder poder mas estavam em desvantagem. Para os marajás... “Olhar para trás era mais reconfortante que
olhar para o futuro”.
O marajá de Kapurthala era justo com seu povo e modernizou
bastante seus domínios. “Queria ser
lembrado como o que era, um governante benévolo, aberto e justo”.
Na reunião solene dos britânicos com os rajás, estes ficaram
esclarecidos sobre os termos da desvinculação da Inglaterra em relação à Índia.
Os marajás que nas guerras ajudaram com tropas, dinheiro e
aviões, agora perdem poder, já que a Índia está ficando nas mãos do Partido do
Congresso.
Após a Segunda Guerra Mundial, o território indiano com
maior concentração de muçulmanos praticantes do islamismo ficou reunido como
Paquistão e outra parte, mais ao sul, com maior número de adeptos do hinduísmo,
ficou como Índia. Só três príncipes
(marajás) se negaram a assinar a ata da Independência da Índia.
Hari Singh, marajá da rica Caxemira, um hindu em terra de
muçulmanos. Ficou indeciso se optava
por pertencer à Índia ou ao Paquistão.
Ocorreu de guerrilheiros do Paquistão invadirem a Caxemira “saqueando,
incendiando e aterrorizando a população.”
O marajá se viu, para se proteger, buscar o socorro com a Índia que
mandou forças militares e aviões de combate para socorrer a Caxemira. Esta que virou uma zona de conflito. Mais adiante, Nehru nomeou o filho de
Hari, Karan, para governar a Caxemira.
Os astrólogos escolheram o dia para ser o marco da
independência da Índia para 15/08/1947.
O marajá de Kapurthala ouvindo o discurso de Nehru, que foi
colega de estudo do filho dele na Inglaterra. (Harrow University)
A divisão entre Paquistão e Índia na região do Punjab... “cortando em dois as terras e a população de
uma das comunidades mais militantes e mais unidas, os siques”. (sique é uma das religiões da região).
Bibi, a militante (sobrinha do marajá de Kapurthala) se
torna ministra da Saúde da Índia independente, para surpresa do seu tio. Ela foi a primeira mulher a ser ministro da
Índia.
Bibi no tempo da militância pela independência apanhou da
polícia várias vezes e foi presa duas vezes.
Em 1930 Gandhi comandou a que chamou de Marcha do Sal que
ficou famosa. Os britânicos proibiam os
indianos de coletar de forma ancestral e artesanal o sal para consumo próprio e
Gandhi como um dos gestos de desobediência civil contra o Império Britânico,
mobilizou a marcha. Bibi caminhou a pé
mais de 300 quilômetros nessa marcha em 1930.
Bibi foi uma jovem indiana que estudou na Europa, fumava,
gostava de equitação e se tornou uma personalidade na luta pela independência.
Logo que o Ocidente após a Segunda Guerra Mundial dividiu o
território da Índia, houve uma das maiores migrações da história. Praticantes do hinduísmo emigrando do
Paquistão para a Índia e indianos praticantes do islamismo, migrando para o
Paquistão, de maioria islâmica.
Muita gente morreu nessa enorme leva migratória. Gandhi tinha sido contrário a essa
separação de Índia e Paquistão.
O marajá de Kapurthala governou seu território com zelo por
55 anos e agora tende a complicar as coisas na nova forma de governo do país
como um todo. Ele aos 77 anos,
hospedado no hotel Taj Mahal de Bombaim, com vista para o Portal feito no
passado para comemorar a visita do Rei da Inglaterra à Índia em 1911. Agora o marajá já cansado, se preparando
para ir para a Europa.
Dois filhos dele morreram cedo e coube justo a Karan,
dedicado na administração dos bens da família, ficar responsável para cuidar
dos bens do marajá e família.
Falava-se que mesmo Nehru teve lá seu caso de amor secreto
com uma inglesa. Nobres indianos
costumavam ter um ponto fraco por europeias.
O marajá dormindo no hotel em Bombaim, ouvindo o grasnar dos
corvos muito comuns pela cidade. (eu,
leitor, quando estive nessa metrópole, ouvi e vi muitos corvos pela cidade).
O marajá pede o jantar no hotel na véspera de embarcar para
a Europa. Quando o garçom chega com a
comida, encontra o cliente já morto e sua expressão era serena. Ele foi o marajá que reinou por mais tempo
na Índia.
Anita ficou sabendo da morte do marido em seu apartamento em
Madri e ficou muitos instantes em oração vendo a foto dele em traje de
gala. Recebeu cumprimentos de todo canto
do mundo. O próprio General Franco que governava
a Espanha, concedeu a ela uma audiência no Palácio de El Pardo para transmitir
a ela as condolências.
“A saudade que sentia da Índia nunca a abandonou”. Anita nunca mais voltou à Índia até por
recomendação do filho dela.
O Partido do Congresso acabava de aprovar uma lei para
despojar os marajás de todos os seus privilégios e pensões de Estado. Isto em 1955.
Em 1962 Anita morreu.
Dia 07-07-1962. Morreu em casa em
Madri.
Morreu nos braços do filho que teve tempo de chegar de suas
rotineiras viagens e se despedir da mãe.
Ao sepultar a mãe, seu filho enfrentou um obstáculo da
Igreja Católica que não deixava ela, que ao casar com o marajá teria
supostamente renunciado ao cristianismo.
O filho apresentou testemunhas dos seus criados e o manto que ela doou
para a Igreja e que hoje é peça de museu na Espanha. Museu Catedralício de Málaga. Foi uma semana de embates até conseguir o
enterro dela em cemitério cristão.
Karan morreu em 1970 na capital da Índia, Nova Delhi. Seus dois filhos são ativistas políticos em
seu país.
O filho de Anita gostava de jazz, de mulheres e chegou a
morar em Hollywood e nunca se casou.
Morreu em 1982 de câncer aos 64 de idade.
Bibi morreu dois anos depois de Anita, aos 75 anos em 1964.
Gandhi foi assassinado em 1948 e ela sentiu pelo resto da
vida a perda do seu líder. Foi cremado
na margem do Rio Jamina em Nova Delhi diante de uma multidão.
Em 1975 Indira Gandhi aboliu os últimos privilégios dos
antigos marajás.
“Amor de Outono?”
Na época da primeira edição do livro, o autor recebeu um
telefonema de uma sobrinha de Anita, já octagenária. O pai dela, viúvo de uma parente de Anita, se
tornou seu secretário e passaram a viver, mesmo morando em casas diversas, um
relacionamento que durou até a morte de Anita.
A sobrinha dela ligou para o autor para resgatar esta faceta de Anita e
para mostrar o álbum de fotos de Anita que ajudou a elucidar passagens da vida
dela e também a ilustrar o livro.
Agradecimentos. Ele
é autor de outros livros, inclusive um sobre a Amazônia, resultado de três anos
na região. O livro se chama Caminhos da
Liberdade, editado em 1992. Ele é
Antropólogo. É autor também de um livro
sobre Dom Pedro I.
Fim. (gratidão por prestigiar o trabalho de construir o fichamento)
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