SEMINÁRIO INTERNACIONAL
– VIVA SEM VENENO – CURITIBA
Palestrante: Dr.
Medárdo Ávila Vázquez - Médico e
Professor da Universidade Nacional de Córdoba – Argentina
Local do evento: Anfiteatro da UTFPR em Curitiba – PR. 15-03-18
Anotações feitas pelo Eng.Agrônomo Orlando
Lisboa de Almeida
Eles fizeram pesquisa científica para
averiguar se está havendo danos à saúde de populações de pequenas localidades
(pueblos) cuja população tem como principal atividade a lavoura extensiva de
soja que atualmente é quase totalmente transgênica e recebe uma carga bem
elevada de herbicida à base de glifosato.
Produto este da mesma empresa que criou e vende a semente transgênica.
Ele chama as pessoas que vivem nessas
comunidades cercadas por lavouras de populações “fumegadas” porque recebem
resíduos de agrotóxicos inclusive através de pulverizações aéreas.
Tema da palestra: “Saúde
e Ambiente – Agrotóxicos e Saúde na Argentina”.
Da fala dele: O Brasil planta por ano 45 milhões de há.de
soja. A Argentina planta 25 milhões de
hectares de soja. Na Argentina vivem
em regiões densamente cultivadas com soja em torno de 12 milhões de
pessoas. O risco no contato com
agrotóxicos.
Houve indícios de elevação da ocorrência
de problemas de saúde nesses povos e a partir de 2010 fizeram uma série de pesquisas para comprovar
o que andava ocorrendo na região.
Recorrência crescente de abortos, má formação de fetos e câncer na
população.
Estudo de Saúde e Socioambiental de Monte Maiz, uma comunidade de 8.000 pessoas. (um Pueblo). Cidade pequena com algumas indústrias e
atividade de lavoura de soja no entorno.
Ele é da Cátedra de Pediatria da Universidade de Córdoba.
Em Monte Maiz se planta por ano 45 mil
hectares de soja no verão e no inverno 20 mil há de milho e 15 mil há de
trigo. Estudos revelaram que nessas áreas
se usa em média 15 kg de agrotóxicos por ano por hectare. Dessa soma, só em glifosato (herbicida para
matar mato) na soja transgênica se usa 10 kg de produto por há/ano.
Uso de agrotóxicos totais na
Argentina: 290.000.000 de litros.
Aqui no Brasil há um tipo de pulverizador
terrestre que o pessoal chama de gafanhoto.
Lá eles chamam o trator com pulverizador de barras acoplado de
mosquito. Na cidade de M.Maiz há uma
série de agricultores que após o trabalho de pulverização, trazem o “mosquito”
para guardar em casa na cidade.
Complica a contaminação das coisas e pessoas. Além disso há silos de estocagem de grãos
na zona urbana e também estoque de
agrotóxicos. Eles georreferenciaram
os silos e depósitos de agrotóxicos na cidade.
Fizeram análises e constataram que a
concentração de resíduos de agrotóxicos na zona urbana está 10 vezes superior
ao nível de resíduos nos campos de lavouras.
Média de ocorrência de asma em crianças no
País (Argentina) : 14%
Média de ocorrência de asma em crianças de
M.Maiz - 52,43%
Resultado de pesquisa entre 2009 e 2014 em
M. Maiz – Ocorrência de câncer no período citado: 104 casos.
Se seguisse a média do País seriam 44 casos. Usando o índice por 100.000 habitantes, a
média do país seria de 883 casos de câncer no período 2009/2014. Ocorreram proporcionalmente em M.Maiz
equivalentes a 2.122 casos/100.000 pessoas.
Ainda casos de câncer em 2014 na mesma
localidade M.Maiz: Se seguisse a média nacional seriam 11 a 13
casos. Houve de fato 35 casos.
Constataram que há mais casos de câncer
onde há mais depósitos de agrotóxicos na zona urbana.
Ocorrências de caso de câncer em pessoas
que trabalharam com agrotóxicos nas lavouras:
3 e ½ vezes acima da média em relação aos que não trabalharam com os
produtos.
Eles fizeram publicação do trabalho
científico num jornal internacional do setor.
Em outra comunidade chamada Maria Juana que também fica em região
de soja transgênica na Argentina, fizeram as pesquisas e os resultados foram
bem semelhantes aos de M.Maiz. Reforçou
a constatação da correlação entre o uso de glifosato (herbicida) e ocorrência
de câncer.
As mortes por câncer em regiões onde há
plantio extensivo de soja na Argentina são bem maiores que em outras
regiões. Eles tem números que atestam isso.
Voltando a M.Maiz, agora sobre crianças
nascidas com má formação física: 3% dos nascimentos foram com esse problema. A média da Argentina é de 1,4%. Eles tem o RENAC que é um órgão com
banco de dados.
Já na mesma localidade, há também 4% de
natimortos.
Citou dados do Dr. Paramo, da Província de
Misiones (região de soja): Em 200 partos
realizados, ocorreram 12 nascidos com má formação física, o que dá 6% sendo que
a média nacional é de 1,4%.
No Chaco também os problemas se repetem
pela mesma causa. Má formação física
dos bebês.
Vem crescendo o problema de câncer e má
formação com o uso da soja transgênica e o uso crescente de glifosato como
herbicida da soja.
Argentina e o percentual de abortos espontâneos em cinco anos: 3%
Em três regiões de soja
constataram índices de 21%, 19% e 23% respectivamente.
Ele disse que na crença popular o
glifosato não seria tão perigoso e que se a pessoa tomasse 1 copo do produto
(200 ml) não teria maiores danos. Disse
que a ciência documentou na Ásia pessoas que tomaram o glifosato como suicidas,
em dose aproximada de 200 ml morreram em 100% dos casos. Disse que está comprovado que a ingestão de
5 ml por uma pessoa adulta, ela vai a óbito.
Ele citou um artigo da Dra. Aiassa da
UNRC (Cordoba) sobre glifosato. Editado no Journal of Basic & Aploied
Genetics. (é possível busca pelo
Google).
Ele fez um paralelo interessante:
Os
humanos tem 40% dos genes iguais aos dos vegetais
Temos 60% dos genes iguais aos dos insetos
Temos 85% dos genes iguais aos do
rato (o pessoal lembrou dos políticos
de certo país e houve risos)
Ele disse: Se usamos agrotóxicos para matar vegetais
(mato) e animais (insetos, etc), como achar que o ser humano não seria afetado
por tais produtos?
Ele disse que na década mais recente na
qual se expandiu por lá a soja transgênica, deu um salto o uso de agrotóxicos
em geral e de forma particular o uso de glifosato. “Isto é uma loucura” – desabafou.
Os alemães já fizeram estudo de resíduos em
cerveja em Munique e constataram resíduos de glifosato na bebida. Estudos na Argentina e nos USA comprovam
que nas chuvas em regiões de soja, a água captada analisada contém resíduos de
agrotóxicos inclusive glofosato.
A fábrica da Monsanto (que vende sementes
transgênicas e o glifosato) foi expulsa de Córdoba – Argentina. Isto depois de muitos protestos.
UNC Universidade Nacional de Córdoba.