A visita foi no contexto do
curso oferecido no Solar do Rosário no centro histórico de Curitiba e que trata
de Patrimônio Histórico e Cultural da cidade. (1 aula por semana)
Anotações pelo Engenheiro
Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida (aluno do curso)
Guia do Teatro Guaira que nos
atendeu – Aldice, um senhor muito prestativo e
conhecedor profundo do acervo do Teatro e da cultura local.
Citando o governador Bento
Munhoz da Rocha que nos anos 50 definiu o projeto do atual Teatro Guaira,
destacou que algumas mobilias do governador estão no acervo do Teatro Calil
Haddad de Maringá-PR em reconhecimento por ele ter sido quem deu status de município
a Maringá.
O ano de 1953 na gestão do
Bento foi comemorado o primeiro centenário de emancipação política da Província
do PR que até então era a chamada quinta comarca da Província de São Paulo.
A construção do novo Teatro
Guaira estava no contexto das comemorações do centenário.
Já houve no passado teatro
Guayra no Paraná e muitos outros teatros na capital que sempre foi referência
importante na área. Paulo Goulart, Nicete Bruno, Ari
Fontoura são alguns dos destaques e realizaram extensa obra nesta
capital.
A primeira montagem da peça A
Megera Domada no Brasil foi feita aqui em Curitiba. Sempre houve intensa
atividade teatral em Curitiba e sempre com a casa lotada.
O Teatro Guaira tem três auditórios,
sendo que o maior é chamado de Guairão e um dos menores, de guairinha. Abriga
uma Orquestra com trinta e quatro anos que também tem o âmbito estadual. Esta
conta com 128 músicos na atualidade.
O teatro conta também com
um Corpo de Baile (de 1959) que está comemorando 50
anos e tem feito apresentações no nosso estado e fora dele.
Há também no teatro a Escola
de dança com curso de duração de nove anos. Geralmente crianças
na faixa dos 10 anos começam o curso em mais de uma centena e vai chegando a
juventude, muitos vão optando por outras alternativas, outras afinidades e em
geral terminam o curso menos de dez alunos. Alunos que, formados, estão
preparados para importantes atuações no setor. Lembrou que a dança exige
bastante fisicamente das pessoas e estima grosso modo que em razão disso, na
média o homem aos 40 já está velho para a dança de alta performance e a mulher,
aos 30. Por outro lado, havendo bailarinas/os de alto nível acima dessa
faixa, criaram o G2 que é um grupo de dança do mesmo
Teatro que tem a sua ação e atuação independente do Corpo de Baile local.
O Teatro Guaira conta
atualmente com aproximadamente 300 funcionários totais.
Fez uma referência ao Teatro Zé
Maria, no centro de Curitiba, que pertence ao Estado. O local era uma fábrica e
na administração estadual em que o Advogado Renê Dotti era secretário de
estado, com apoio deste, o governo comprou o prédio e nele foi instalado o
atual Teatro Zé Maria.
Já pelo ano de 1884 Curitiba já
tinha teatros. Um deles ficava num prédio histórico onde hoje é a Biblioteca
Pública. No prédio funcionava um teatro e uma biblioteca. O prédio teve
rachaduras e foi demolido e no local se fez a atual Biblioteca Pública.
O prédio demolido em 1930,
ficou então até a década de 50 a cidade de Curitiba sem um teatro público
oficial do Estado, o que foi retomado com o novo (e atual) Teatro Guaira. Por
outro lado, a atividade teatral como sempre esteve bastante ativa e relevante
por aqui.
Nos anos 50 o então governador
Moises Lupion lançou o edital para construção do novo teatro. Na sequencia veio
o mandato do Bento Munhoz no qual se comemorou em 1953 o primeiro centenário da
emancipação do Paraná, que até 1853 era a chamada quinta comarca da Província
de São Paulo.
Foram três os projetos munidos
de pseudônimos dos seus autores, destacados pela comissão formada para tal. O
Bento viu os projetos e escolheu um que achou Modernista como queria a Curitiba
de então e para o futuro. Ao relevarem o autor, era o arquiteto
Rubens Meister, então com 22 anos de idade, recém-formado e
paulista de Botucatu.
Uma obra arrojada, não tinha no
Brasil de então (anos 50) um guindaste para tocar a obra e foi trazido da
Alemanha o equipamento juntamente com um operador do mesmo.
A obra do Teatro Guaira se
iniciou em 1952 e teria durado ao todo 20 anos.
Nessa época nosso arquiteto
paranaense renomado e que fez obras aqui e em maior escala em São Paulo era o
Vilanova Artigas. Aqui uma das obras dele é o prédio do Hospital São Lucas e em
São Paulo uma das obras é o prédio da FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
A antiga rodoviária de Londrina estava sendo construida na década de 50 e era
uma das obras do Artigas, que como foi citado, não participou do projeto do
atual Teatro Guaira.
Em 1953 por ocasião do
Centenário do Paraná, na obra do Teatro Guaira em fase do concreto bruto, foi
feita uma apresentação teatral para marcar a data comemorativa. A primeira sala
de apresentação foi inaugurada em 1954.
Em 1969 pegou
fogo no atual Teatro Guaira e boa parte dele veio ao chão. Foi
depois restaurado e reinaugurado em 1974. Período do presidente General Ernesto
Geisel e aqui atuava o Ney Braga que seria um dos defensores de atividades
culturais inclusive dele seria a iniciativa de regulamentar em lei a profissão
de artista.
Um dos detalhes do Teatro
Guaira após o incêndio é que muito do que foi feito é anti chama e inclui um
enorme painel no fundo do palco, também anti chama, decorado pelo artista
plástico Potty Lazzarotto. O tema seria o teatro no mundo.
O Teatro Guaira abriga um forte
espaço de Criação em atividades de Teatro e Dança.
Sobre o entorno do Teatro
Guaira, destacou que a Praça Santos Andrade no passado era um lugar alagadiço
que foi depois saneado. Que o prédio histórico da UFPR nessa praça teria sido
concebido com vista para a Serra do Mar e atualmente o mesmo está em quase 90%
ocupado por espaços culturais. Que muitos prédios da década de 50 também foram
construidos com essa orientação e tendo à frente o monumental Teatro Guaira.
Destacou que os prédios da década de 50 eram ótimos para a época, mas não
tinham garagem e na atualidade fica isso como restrição à moradia nos mesmos.
Sobre o Calçadão
da XV ou Rua das Flores como também é chamada, teria sido
revitalizado pela administração do arquiteto Jaime Lerner. Disse que na época
que o Lerner resolveu revitalizar a rua e lançar de forma pioneira no Brasil um
calçadão, no contexto programou que os comerciantes da rua tirassem as enormes
placas que encobriam a beleza dos prédios locais. Os comerciantes não
aceitaram. Uma certa noite o pessoal da prefeitura veio e retirou tudo e então
as fachadas dos prédios ficaram de novo à vista do público, além do
embelezamento feito na rua em si pela administração.
Destacou que em várias partes é
comum a solução de revitalizar áreas urbanas decadentes criando espaços
culturais nas mesmas e assim o povo volta a adotar o espaço como lugar
agradável.
O guia disse que há bastante
visita guiada mediante agendamento ao Teatro Guaira e é comum visita de grupos
de estudantes de Arquitetura. Citou que revestimento em madeira ajuda na
acústica do ambiente. Ele destacou que é um artista “barroco” mas que em obras,
gosta da leveza dos prédios Modernistas.
Durante nossa visita de hora e
meia, estava a portas fechadas havendo um ensaio da Orquestra Sinfônica no
palco principal. Regida por um maestro convidado.
O Teatro Guaira tem 2.500
lugares entre seus três palcos, incluindo as galerias em mezzanino que são duas
e camarotes nas duas laterais do Guairão.
Sobre figurinista,
disse que Ney Souza foi um de renome nos aureos tempos em que se
fazia Baile de Gala no Copacabana Palace no RJ por ocasião dos carnavais. Esse
figurinista era daqui de Curitiba e foi de muita fama no setor. A cidade da
Lapa-PR (cidade histórica) está em vias de ter o seu Museu da Moda e o acervo
de Ney Souza deverá estar incluido nesse empreendimento.
Este foi o resumo que captei da
forma que consegui anotar. Espero que seja útil a quem gosta da cultura de modo
geral. Se puder dar um feed back, sempre será bem aceito. orlando_lisboa@terra.com.br (uso
bastante o Facebook também) e replico a matéria no blog www.resenhaorlando.blogspot.com.br