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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

UMA TENTATIVA DE CONSTRUIR CENÁRIO - AMBIENTE POLÍTICO BRASILEIRO - DE ONDE VIEMOS, ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS - SET/2020

 UMA TENTATIVA DE CONSTRUIR CENÁRIO

Nestes anos recentes, o ambiente político no Brasil, e mesmo no mundo, tem sido bastante conturbado. Mas vamos fazer um recorte para o Brasil para falar de cenário.
Como as águas andaram turvas e revoltadas no lado político, várias entidades da sociedade civil organizada tem procurado convocar especialistas para discorrerem e debaterem a problemática. Afinal, os Cientistas Políticos tem uma formação acadêmica bastante robusta para ver as questões e fenômenos em suas diferentes vertentes. E trazem geralmente um histórico da dinâmica da sociedade num período bem amplo, colocam os atores nos seus lugares, chega-se ao momento atual levando em conta os fatos relevantes do passado e como estes interagiram e interagem e com base nessa visão de conjunto, fazem o que se chama de Leitura de Cenário. Estudar o passado, entender o presente e buscar ler o Cenário e jogar alguma luz sobre o que está por vir. Para isso tudo, a pessoa tem que ter o preparo para ficar acima das paixões políticas, medir a relevância de cada centro de força e poder e estabelecer uma série de conjecturas sobre os próximos passos que poderão vir com maior probabilidade dentro dessa criteriosa análise de cenário. Nada de uma visão num recorte de 45 graus para o lado da preferência. Cenário se constroi olhando os 360 graus do ambiente completo com o que agrada e com o que não agrada pois não se trata de chegar ao que me agrada, mas ao que a ciência indica como tendência com base no estudo de Cenário. Isto é ciência , diferente de escolher o que agrada que é paixão.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

UM RESUMO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA - PLANOS SAFRAS - FINANCIAMENTOS, SEGUROS, ESTOQUES REGULADORES - SETEMBRO/2020

 

UM RESUMO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA

         Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida – 15-09-20

         Comecei na profissão em 1977 num banco privado, recém formado na ESALQ USP de Piracicaba.  O primeiro emprego me remeteu de SP para o interior do Paraná, mais precisamente Umuarama.   Deste, em 1981 passei para um banco público federal que é o maior repassador de Crédito Rural do País desde sempre.  Neste, foram 31 anos de atividade até me aposentar em 2012, sempre trabalhando com o que chamamos de Política Agrícola Nacional que na verdade é uma política de Estado, permanente, só variando poucos pontos ao longo do tempo, sempre mantendo a estrutura principal que veremos de forma sintética abaixo.

         O sistema pode ter suas vulnerabilidades, mas vem sendo um aparato que tem ajudado o Brasil a colher safras expressivas e nos coloca como importante exportador de produtos do setor.

         Para se ter uma ideia da dimensão da Política Agrícola, todo ano é lançado um novo Plano Safra por volta no meio do ano e vigente até o meio do ano seguinte, isto porque a safra se planta grosso modo no segundo semestre de um ano e se colhe no primeiro do ano seguinte.  Estamos no início da Safra 2020/2021.   Para este ano agrícola o governo destinou 236 bilhões de reais para financiamentos entre custeio, investimento, comercialização, etc. de dinheiro do Orçamento da União e também parte de recursos que já são do movimento dos bancos junto aos clientes.

         O setor recebe recursos vultosos como financiamentos anualmente via bancos oficiais e privados, além de cooperativas e os juros em geral são muito abaixo dos de mercado, inclusive porque o governo anualmente embute uma quantia significativa de subsídio nos financiamentos, via “equalização” de taxas junto aos bancos.      (8, 9 bilhões de reais de subsidio em 2018 - https://www.google.com/search?q=(qual+o+valor+anual+de+subsidio+no+Credito+Rural+no+Brasil+2018)&rlz=1C1RLNS_pt-BRBR885BR885&oq=(qual+o+valor+anual+de+subsidio+no+Credito+Rural+no+Brasil+2018)&aqs=chrome..69i57.18654j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8  )

         Pouco se fala nos subsídios, mas anualmente o valor que o setor recebe a fundo perdido soma alguns bilhões de reais pagos pelo Tesouro com o nome de “equalização de taxas”.      Para um banco captar recursos no mercado, tem que pagar um juro ao aplicador e para repassar a terceiro via financiamento tem que cobrar um juro maior, além das despesas operacionais, os riscos de inadimplência e o lucro na operação.   Para garantir isso e o dinheiro chegar a juro baixo ao produtor, só com o subsídio do governo.

         Mais adiante, veremos a taxa para financiamento e dá para se ter idéia do subsidio que nela está embutido para que se possa fechar a conta.

         As modalidades mais comuns de elementos de política agrícola são as seguintes:

         Financiamento de Custeio, Investimento e Comercialização

         Seguro Rural  (Proagro e Seguros Privados mais recentes)

         PGPM Política de Garantia de Preços Mínimos. (com EGF e AGF)

         Financiamento de custeio -  o governo divide os produtores pela renda em Agricultor Familiar, Médio Produtor e Demais Produtores.  As taxas de juros são crescentes para cada categoria acima.

         Custeio – para as atividades de rotina de plantar, cuidar e colher a safra.

         Investimentos – em maquinários, benfeitorias fixas, etc.

         Comercialização – para ajudar no escoamento da safra evitando preços muito ruins ao produtor na época da colheita da safra.

         O juro fixo neste ano 2020/2021 para custeio do Agricultor Familiar está na faixa de 2,75% ao ano a 4% ao ano.

         Para os chamados Demais produtores, os maiores, juros de 6% a 7% ao ano, juro fixo.   

         Comercialização -  Aqui entra a tal PGPM  Política de Garantia de Preços Mínimos -  Tem a figura do EGF Empréstimo do governo federal ao produtor em caso de colher a safra e o mercado não estiver pagando nem o chamado Preço Mínimo (igual ao custo aproximado).   O produtor poderia oferecer como garantia a produção colhida e ter prazo definido para esperar o mercado melhorar (comumente prazo de até 6 meses).     Se o EGF for com opção de venda para o governo, findo o prazo e o preço no mercado não melhorando, o produtor pode entregar o produto ao governo em seus armazéns públicos e fica quitada a dívida.

         Caso o preço reaja no período, o produtor vende o produto ao mercado pelo melhor preço e quita o financiamento e fica com o saldo do negócio.

         AGF Aquisição pelo governo Federal.    Caso o preço na colheita estiver ruim e o produtor não acredita que irá melhorar, vende direto ao governo pelo preço mínimo que em geral empata com o custo e sai sem perda nem ganho da safra e parte para esperar novo ano agrícola.

         Junto com a PGPM o governo tem meios de fazer os chamados Estoques Reguladores de Preço no Mercado para evitar oscilações muito grandes de preços, que não são boas para os produtores, nem para os consumidores.   Se o governo estoca nos preços baixos, quando os preços disparam, tem estoque para oferecer no mercado e amenizar a alta.

         Até aqui teríamos duas ferramentas interessantes.  Na primeira, alguém que não tem capital para “tocar” a safra, faz financiamento e planta sua safra ou faz seus investimentos conforme o caso.     Outra ferramenta é enfrentar as oscilações de mercado para o produto colhido, isto geralmente para quem antes financiou a safra em banco pelo Crédito Rural oficial.

         Agora, vamos ver sobre a questão do Seguro para os riscos de clima, etc. que podem causar danos à safra, que podem ser parciais ou totais.

         Quem financia sua safra tem direito de colocar sua safra no seguro tomando por base o chamado Preço Mínimo (semelhante ao de custo) definido pelo governo.   Aderindo ao seguro, caso haja sinistro, se comunica, se faz perícia, se apura o dano total ou parcial e ocorre e indenização devida.   O objetivo do Seguro é evitar o prejuízo e não proteger o lucro esperado, porque nesse caso o seguro sairia muito caro.

         O seguro oficial do governo se chama PROAGRO Programa de Garantia da Atividade Agropecuária.  

         A fim de que tudo isso funcione a contento, há uma série de normas e em geral os financiamentos são precedidos de projetos agropecuários feitos por profissionais habilitados, Engenheiros Agrônomos, Técnicos Agrícolas/Agropecuários e similares.   Estes dosam o valor do crédito adequado, a tecnologia a ser empregada buscando otimizar resultado e reduzir riscos.   Uma equipe maior tem como cliente os produtores e outra equipe menor de técnicos está ligada aos Bancos, até por força de lei, para que os recursos e subsídios sejam usados com rigor técnico.

         Finalizando, grosso modo o Paraná produz ao redor de 20% da safra nacional e demanda crédito aproximado nessa proporção.    Seriam então só no Paraná, nesta safra 2020/2021 alocados em torno de 50 bilhões de reais na safra.    Em torno de uns 900 técnicos estão envolvidos na assistência técnica ao produtor e só no Banco federal líder em crédito rural no Paraná teria uma equipe aproximada de duas dezenas de técnicos do setor em seus quadros para orientar o banco na forma correta de aplicar os recursos com racionalidade e dentro das normas legais que são muitas.

         Este é um resumo da atividade e estive envolvido no sistema nove anos em banco privado e 31 no banco público federal até me aposentar em 2012.  

domingo, 13 de setembro de 2020

CAP. 1/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 

        O livro resulta de uma tese de Doutorado do autor com trabalhos de campo focados em Bofete-SP e a vida do caipira de então.  O estudo de campo foi de 1947 a 1954

         Li este livro por hobby entre 25-08  e 06-09-2020 no grupinho de leitura familiar em tempo de epidemia da covid 19.

         Há no início do livro uma foto do autor então aos 29 anos em 1948. O livro teve como origem o trabalho de campo do autor para a tese de doutorado dele na USP na área de Sociologia.    Foco na Fazenda Bela Aliança no município de Bofete-SP.

         Como eu sou de Cerquilho-SP que tem esse nome por ser um dos antigos pousos de boiadeiros no rumo de Sorocaba, fiz um fichamento mais voltado pelas expressões que tem afinidade com minha origem que é da mesma região.  Sou de 1950, nascido na zona rural.

         Alusão do autor ao Cururu que é um tipo de poesia cantada entre cantadores que fazem uma forma de desafio, um criticando o outro.

         Usam  rima que chamam de carreira que muda a cada rodada e tem obediência a certas normas religiosas de então.     No tempo do estudo em pauta, os cantadores de cururu já estavam menos presos aos ritos religiosos e mais à exaltação individual e o confronto pessoal no desafio cantado.

         (viria o nome cururu do sapo na lagoa que um canta e outro “responde”).   Morei na zona rural até os dez anos e ouvi muito cururu pela rádio Voz Agrícola de Piracicaba.

         O autor, na busca pela contextualização, entrou na problemática do mundo social onde está a pessoa em estudo.   Enfoque sociológico sobre os “meios de vida” das pessoas.

         No final do estudo o autor acabou se posicionando sobre a condição social do povo estudado em seu recorte.    A pesquisa foi de 1947 a 1954.      

         Visitou comunidades rurais em Piracicaba – 7 visitas; Tietê-SP, 2 ; Porto Feliz,1; Conchas, 2; Anhembi,1; Botucatu, 3 e Bofete onde ficou mais tempo, somando uns dois meses;  

         Em outra ocasião, visitou comunidades rurais em Cuiabá e Varzea Grande MT.    (do outro lado do Rio Cuiabá)

         ...”Verificar a tradição oral comunicada pelos velhos caipiras”.   A tese terminou em 1954 para Doutorado em Ciências Sociais na USP.   Ele foi professor na USP de FHC Fernando Henrique Cardoso e foi Professor junto com Florestan Fernandes.

         O cenário onde estudou foi mudando com tendência a ser formar latifúndios à custa da aglutinação das pequenas propriedades e do sistema de parceria.     Parceiro é aquele que planta na terra de terceiros e numa parceria no papel ou “de boca” divide a produção e assim não há vínculo de emprego entre ambos.

         Busca o estudo descrever “um processo e uma realidade humana”.

         Sugere se for fazer Reforma Agrária, levar em conta... “não se deve ser baseada apenas em enunciados políticos... mas também no estudo da sua cultura e da sua sociabilidade”.       Teve como companheiro de visitas de campo Edgard Carone que conhecia o modo de vida e o povo da região e o conhecimento de agricultura do companheiro ajudava em detalhes práticos da relação com o ambiente e o povo.

         Página 15 – O autor fala de passagem na chamada língua geral do interior.     Eu já tinha ouvido algo e caberia uma busca no tema.

         Pessoas contatadas no estudo de campo... eram todos analfabetos...”sendo alguns admiráveis pela acuidade e inteligência”.

         15 – Contato com a vizinha cidade de Torre de Pedra-SP.   Pioneiros locais – Artur Marques e Joaquim Batista de Quevedo.

         Se hospedou em Bofete-SP  (que há se chamou Samambaia e Rio Bonito).     Hospedado por Alcides Rodrigues Ramos, conhecido por Alcídio Machado e Cristino Bueno de Campos Penteado, o Nego Carreiro, naturais de Bofete-SP.

         Como leitor, digo que o tema tem um recorte local, mas tem muito de como foi a vida no interior do Brasil nos anos 40-50 e seus reflexos nos povos mais novos.

         Continua por capítulo 2/10...............

CAP. 2/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 

CAPITULO 2/10

         Página 16 – O Professor Florestan Fernandes, contemporâneo do autor, foi colega de docência deste na USP.

         21 – Período da pesquisa de campo em Bofete-SP  1947 a 1954 para a tese de doutorado.

         22 - ..”a história se ocupa do que ficou documentado, e a documentação se refere geralmente à vida das camadas dominantes”.

         O autor leu a história da região e conversou com os caipiras de lugares mais isolados da região, inclusive para eles dizerem como era o “tempo dos antigos”.

         23 - ...”conhecer o passado pela tradição... e o presente pela análise de pequenos agrupamentos”.        ....”fareja o ser humano”.  Não se contenta com as médias das estatísticas, procurando ir mais além.

         25 – Recorte dele – um grupamento de parceiros agrícolas.

         25 -  A cultura rústica como é no local.

         27 – o termo caipira exprimindo sempre um modo de ser, um tipo de vida, nunca um tipo racial.

         27 – Cita o Folclorista Cornélio Pires que era da região e tem várias publicações sobre os caipiras.

         28 – Os níveis de vida e de sociabilidade.

         43 -  Foco do estudo...  “teor geral da vida do velho paulista rural das classes inferiores”.

         44 – O bandeirantismo, “como vasto processo de invasão ecológica...”

         44 – Fala de Monções, também livro de Sergio Buarque de Holanda.

         45 -  ... “origem nômade do precursor do caipira paulista.    ... prática de presa (índios para trabalho escravo) e coleta...   no caráter do caipira, gravou-se para sempre o provisório da aventura.

         Faziam casa provisória no trecho, chamada de rancho.   “descritas em 1717 em Vila Rica pelo Conde de Assumar.

         46 -  Livro Viagem Pelo Brasil – de Spix e Martius.   Narra cenas do Brasil colonial de então.

         47 – Fiar algodão e tecer camisolão até o joelho para meninos e meninas.   Teciam chapéus de junco que duravam dois anos.

         Faziam percatas ou alpargatas feitas em casa.   Comum era andar descalço.

         47 – “Assiste”.    Ter casa de “assistência” na Vila para algum dia de missa em fim de semana ou época de eleição.   Isso é para os sitiantes e fazendeiros.   O parceiro não tinha posse para tanto.

         48 – Utensilhos geralmente feitos em casa.   Gamela feita de madeira para servir comida para os da família numa vasilha só.   Era comum cada um com sua colher, comer direto na gamela junto com os demais da família simultaneamente.    Vasilha e prato, quando usavam, mais comum de porongo ou cabaça, tipo aquele material vegetal com que se faz cuia para chimarrão no sul.

         Colher de pau, pote de barro, etc.

         48 – Faziam pólvora caseira para espingarda de caça.  Usavam salitre, enxofre e cinza de determinada madeira – crindiuva.

         Compravam barra de chumbo e faziam os chumbos redondos para o cartucho da espingarda em casa.

         Iluminação em casa – lamparina com combustível à base de banha de porco ou óleo de mamona local.

         Faziam açúcar mascavo de canavial próprio, além de melado e também faziam café com garapa de cana quando tinham pó de café, coisa rara e cara para eles.

         Distância de Bofete a Tatui-SP – ao redor de 40 km.

         49 – De vez em quando um burro cargueiro com galinhas penduradas era levado para venda das galinhas na Vila e compra de algum mantimento, principalmente sal.    Poderia ser rumo a Itu ou Campinas.

         Continua  capítulo   3/10  ........................................

CAP. 3/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 

CAPITULO 3/10

         Página 50 -  No rodapé da página, cita o conde de Cunha que no passado descreveu casas de caipiras do interior paulista.

         52 – A cidade de Campinas já se chamou São Carlos.

         52 – Narra que Saint-Hilaire melhor descreve o povo que conheceu em suas andanças pelo interior.   ...”apresenta o paulista rústico – o caipira – um quadro pouco ameno.   Acha-o primitivo e brutal, macambuzio e desprovido de civilidade, em comparação com o mineiro”.    Paulista – mistura de branco com índio então.  O viajante citado constatou que em Minas Gerais a mistura era de branco com negro e estes mestiços, mais sociáveis.   O autor deste livro pondera que o paulista e o trato de lavoura meio nômade tinha “ambiente” para ser o que é.   Já o mineiro nas minas de ouro tinha mais contato com o meio urbano e por isso, mais facilidade de se relacionar com os estranhos que passassem pela região deles.

         53 – Ainda o viajante citado, dizendo do caboclo:   “Era coisa feia de  ver”.

         53 – Cita o termo capuava.    E diz que o caboclo parecia “criação”, comparando-o com animais.

         55 – Cita a descrição de um geógrafo explicando o dano das queimadas para o solo, empobrecendo-o e trazendo mais pobreza para o povo.    Queimada – perda de matéria orgânica, etc.

         57 – A capela como lugar de convergência do povo da zona rural.

         Costume de matar porco e dar pedaços para os vizinhos e esperar a roda girar e receber de volta um pedaço de carne quando algum vizinho agraciado matasse um porco também.

         Sobre isso, lembrar que o povo na época nem se pensava em ter geladeira e não dava para ficar estocando carne.   Nessa condição, essa cooperação entre os vizinhos tinha um lado prático interessante para todos.

         59 – Alimentação e Recursos Alimentares

         Cita um autor do passado que fala do Brasil remoto e a base alimentar – mandioca, algum feijão e arroz.

         O arroz some por longo tempo do cardápio do povo do povo comum, só tendo acesso a este os abastados.    O arroz é de origem asiática e antigamente era em maioria importado e caro.

         Por isso as bandeiras eram obrigadas a levar para semeadura no caminho, milho, feijão e mudas (ramas) de mandioca.    Isto para garantir a sobrevivência dos desbravadores.   Abóbora também entrava no pacote.

         61 – Mesmo nas cidades, carne, só algumas vezes por ano ou em dia de festa.

         62 – Caminhos das minas.   Levavam sementes de milho, abóbora e feijão e, quando muito, algumas batatas doces.

         63 – Consta que o arroz asiático entrou no Brasil desde logo a seguir a colonização, mas era em escala bem reduzida.   Quem generalizou a cultura internamente foi o Marques de Pombal, isto no século XVIII.

         66 – Desde o século XVI, a couve, a chicória e a serralha já entrava no cardápio do povo brasileiro.   Esta última, planta nativa daqui.

         Temperos – sal, gordura de porco e pimenta.

         67 – O leite era um luxo para poucos, pois dependia de haver espaço para ter vacas de leite e quem não tinha a terra e era apenas parceiro, geralmente não tinha capital para ter os animais nem espaço para pastagem.

         O açúcar o pessoal dava um jeito de ter cana e fazer açúcar mascavo artesanal para o gasto e também melado.    Quando havia pó de café, muitas vezes era adoçado com garapa de cana.

         O aguardente de cana era bem disseminado entre os caipiras e não raro as mulheres também tomarem a bebida.   (um dos produtos que tem mais apelidos – cachaça, marvada, matar o bicho, etc.

         Em Jandaia do Sul – PR conheci um alambique de um carioca e a cachaça dele tem o nome bem criativo de Companheira.

         67 – A partir do século XIX, se junta o café na dieta do brasileiro.

         O caipira dos anos 50 ainda fazia algo de coleta, caça e pesca para complemento da alimentação.    

         68 – A Jabuticaba era a mais popular das frutas silvestres disponíveis e comumente chamada de fruita.   Outras frutas que poderiam estar acessíveis no meio caipira: maracujá, ariticum (pinha), goiaba, jaracatiá, pitangas e sobretudo, banana.

         Caças – aves – macucos e nhambus.   Animais – paca, cutia, quati, porco-do-mato, capivara.  Nos brejos – saracura, perdiz, codorna, patos do mato, veados, lagartos, tatus.   “Não se come a carne do tatu canastra” (o autor não explica a razão mas eu, leitor, tenho informação de que tatus podem ocorrer em cemitérios e associam o mesmo a comer defuntos)

         69 – Içás torradas, comidas como iguaria no tempo das formigas ficarem aladas e voadoras para reprodução e formação de novos formigueiros.   (já comi quando morava na zona rural na região nos aos 50)

         69 – O teiú  (um tipo de lagarto) na cidade vizinha de Guareí é apreciada e em Bofete-SP é repugnante.   Tem esses detalhes de hábito.

         Macaco, apesar de dizerem que a carne seria saborosa, mas não comem alegando que é “muito parecido com a gente”.

         71 – Os tipos de povoamento.    O pequeno comércio.   Moradores da região procura o comércio quando precisa de sal, religião ou justiça.

         Geralmente tem história o povoado urbano.   Já o caipira na zona rural, sem posses, não tem história.     O autor vai tentar buscar a história dos dispersos, dos caipiras sem voz e vez.

............  continua– capítulo 4/10

CAP 4/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 CAPITULO 4/10

         75 – Sesmaria – Eram no começo do Brasil colonial concessões de grandes áreas de terras para quem se comprometesse em seis meses iniciar o trabalho de lavrar a terra concedida.

         75 – Costume dos sitiantes e fazendeiros que moravam na zona rural e tinham casa de “assistência” na Vila para épocas de festas religiosas ou período de eleições.

         75 – Descreve em 1797 que a Câmara de Atibaia requerendo que seja promovida à categoria de Freguesia para a Vila de Jaguari, atual Bragança Paulista.  No ofício diz que a citada Vila tem no povoado 25 casas e descreve cada família moradora e informa que na área de influência, na zona rural moram 4.400 pessoas.     Pessoas que por costume chamavam a Vila de “capital”.

         77 – Em documento administrativo oficial as divisões do mais simples ao mais complexo:   bairro < Freguesia < Vila.   Vila era sede de Câmara e Paróquia.   Tinha lá o Inspetor que tinha funções de polícia e de cuidar das estradas e caminhos.

         Quando estradas ou caminhos ficavam em estado degradado, o Inspetor convocava a população para realizarem de forma comunitária a restauração de estradas e caminhos em benefício dos mesmos.

         80 – Casa de caipira medindo 5 passos x 6 passos, feita em mutirão para moradia de Nha Maria Crispim.  (tem foto no livro).

         Casa de pau a pique.   Varas roliças em pé, uma ao lado da outra como paredes e cobertura com sapé.   Piso de chão batido.

         As formas de solidariedade

         81 – O mutirão, palavra de origem indiana, muchiron, fazer roça, tecer e fiar algodão, etc.  de forma colaborativa com os vizinhos que prestam o serviço para ajudar o que precisa no momento.       Uma variação seria a “espalhada” – colher milho em grupo e preparar pamonhas, por exemplo.   Eram feitas em grupo e distribuída aos que executaram as tarefas.

         No caso de mutirão de trabalho rural, quem recebe os colaboradores serve as refeições do dia.   No final do dia pode haver uma festa em agradecimento.

         83 – Havia uma variação da cooperação  que poderia ser combinada pelos vizinhos para se reunirem de surpresa para ajudar o que estava “apertado” de serviço.  Que não estava vencendo, por exemplo, capinar toda a roça em tempo adequado.   Nesse caso cada um trazia sua boia de casa e não tinha festividade no final da tarefa.

         O mutirão é um gesto de amizade e já a ajuda é quando a situação de quem foi atendido era por motivo de precariedade.

         84 – Numa roçada – dividir uma quadra em “eitos”  (muito usado o nome na minha terra).   Cada pessoa pegava um eito para realizar o trabalho que poderia ser roçada, capina, colheita, etc.

         86 – Festejos de São Roque.    Fazer a capela e doar um pedaço de terra ao Santo.   Depois esse pedaço de terra é arrendado por algum vizinho e o valor da renda fica para a manutenção da capela. 

         Padroeiro São Roque – comemora-se dia 16 de agosto.     Obrigações nos festejos:

1)    – Festa anual ao padroeiro com uma semana de rezas e leilões, terminando em missa, reza e procissão;

2)    – rezas com leilão de prendas no primeiro e terceiro domingo do mês;

3)    – Missa uma vez por mês pelo Vigário.  

          Organização da festa – Há uma Irmandade de São Roque que cuida da organização anual.

         89 – Reza na casa, trazendo o santo da Capela.   Depois da reza, fandango (ou cateretê – geralmente dançam só homens) com dança.

         O bairro de Bofete que o autor analisou tem a capela do Socorro.  Há também capelas nos bairros do Peão; Capela São José e Capela do Bairro Três Pedras.

         91 – Bofete era dependente da freguesia de Tatui-SP.

         91 – Enterro.  Quando alguém de Bofete morria e podia dar um enterro “de Cristão”, tinha que seguir levando o morto por três dias de caminhada (ao redor de 40 km) em trilha no meio da mata.   Era muito comum a malária por lá na época.

         Bofete já se chamou Samambaia e também Rio Bonito.   O nome bofete viria do tempo dos boiadeiros que ao passar por lá, usavam um abrigo numa gruta de pedra para abrigo e guarda de alimentos.  Era um buffet e daí foi traduzido para o linguajar caipira como Bofete.

         92 – Muitos mineiros vieram para a região para abrir terras.  O autor cita inclusive a cidade mineira de Conquista e a ligação desta por migrantes que se estabeleceram em Ribeirão Claro no PR, próximo a Ourinhos-SP.

         93 – O Caipira e sua cultura.

         94 -  A região de Bofete não tem solos tão bons para agricultura e no fim do século XIX teve café que foi bem em terras novas, mas foi decaindo e também houve crises do café no começo dos anos 1900 e as lavouras grandes, com mão de obra escrava, foram decaindo.   Na época do estudo, década de 1950, as terras estavam fracas, quase já não tinham mais café e se fazia lavouras comumente por parceiros caipiras pobres.

............. continua no capítulo   5/10 

CAP. 5/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Prof.da USP (base 1954)

 

CAPITULO 5/10

     Página 97 – “A cultura do caipira, como a do primitivo, não foi feita para o progresso:  a sua mudança é o seu fim”,...

     101 – Ranchos de pau a pique como morada, feita pelos próprios caipiras.

     102 – Cultivavam em terras que poderiam ser tomadas à força.  Era plantar e cuidar, deixando tempo para a caça, pesca, fazer utensilhos, lazer, rezas e festas.

     “O lazer era parte integrante da cultura caipira”. 

     103 – Na região onde o autor fez o estudo, os caipiras guardavam certos santos (faziam feriado) que oficialmente não eram para ser feriado, mas pela tradição local, eles guardavam.

     Dia de São Paulo, de São Roque, São Lourenço  (contra tempestades e redemoinhos), São Benedito (contra picadas de cobras), São Bartolomeu protetor contra loucura e possessão demoníaca.   Isto além de santos como São João, Santo Antonio e São Pedro.    O 3 de maio, dia da Exaltação da Santa Cruz.

     105 – Capítulo II do livro – A situação presente (1954)

     Bairros Lagoa, São Roque Novo, São Roque Velho e São João, este já em Conchas-SP.

     Lugares onde tem latifúndios:  Bairro Roseira, Morro Grande e Óleo.    Ele estudou o Bairro Roseira.

     Como já foi citado, Bofete antes já foi Samambaia, depois Rio Bonito e finalmente, Bofete por causa de gruta onde tropeiros se abrigavam e guardavam mantimentos na gruta como num buffet e daí surgiu Bofete.    Virou cidade em 1906  (época que ainda tinha bastante cafezal).

     109 – Havia fazendas e rotas de Jesuitas no passado que passavam pela região no rumo de Sorocaba e Paranapanema.

     111 – Até a década de 1910 havia mais café na região, que vinha do tempo dos escravos.   Depois a mão de obra foi substituída pelo trabalho de imigrantes europeus, com foco nos italianos.     Houve abundância de café na região e resultou em crise em 1902.

     114 – Na época do estudo (1947-1954) a região de Bofete-SP já tinha as terras exauridas e houve a expansão da pecuária que tende ao sistema de latifúndios.

     118 – Na época do fracasso do café, muitos agricultores locais migraram rumo ao Paraná e a Sorocaba.

     119 – Em 1948, nenhum fazendeiro de Bofete tinha jeep ou automóvel.   Não se usava adubação para fertilizar as lavouras e nada de máquinas agrícolas, nada de geladeiras em bares, etc.

     Em 1954 na cidade, havia dois automóveis e quatro jipes.

     121 – População rural e parceria agrícola.

     122 – o Cientista Social Caio Prado Junior publicou trabalhos importantes sobre o sistema agrário brasileiro da época.

     Constata-se que os pequenos produtores e arrendatários geralmente estão nas terras mais fracas.

     124 – O Meeiro.  Nesse sistema de parceria, o dono da terra fica com a metade da produção e a outra metade com o Meeiro que planta e cuida da lavoura até a colheita feita.

     Arrendatário – é quando o dono da terra arrenda, tipo um aluguel, da terra para o arrendatário plantar.   Em geral se estipula um custo em dinheiro.    Aqui o risco é todo do arrendatário.    Diferente do meeiro, que o risco da lavoura é suportado meio a meio.

     Quem não tem terra própria, sempre que possível busca ser parceiro, meeiro ou arrendatário porque no caso o agricultor tem parte no negócio e não tem um patrão.  Faz do seu jeito e no seu ritmo, o que dá uma certa liberdade.    Esta que é valorizada inclusive pelos que já tiveram pequenas propriedades e perderam a posse e buscam ficar na atividade de lavoura.

     125 – Os “camaradas” que trabalham ganhando por mês e tem algumas regalias, incluindo casa para moradia na fazenda onde são empregados.

     131 – Os Trabalhos e os Dias

     A Fazenda onde o autor fez os estudos tem ao redor de 700 alqueires ou 1.700 hectares (cada hectare = 10.000 m2).  É uma fazenda grande.  Foi fundada no século XIX e já foi forte na produção de café.   Teve escravos.

     133 – Os banheiros do caipira na zona rural.  Quando tem, é a chamada “casinha” tipo 1 m x 1 m, de tábuas, em cima da fossa e no quintal, um pouco afastada da casa   (e do poço quando este está presente, até para a fossa não contaminar a água do poço).

     A tábua perto da bica de água para servir de batedor de roupas para as mulheres lavarem roupas.  Tábua larga e inclinada até chegar no solo.    Há em vários casos o forno de barro no quintal onde as pessoas assam pão, etc.

 

 

............ próxima – capitulo 6/10