UMA TENTATIVA DE CONSTRUIR CENÁRIO
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sexta-feira, 18 de setembro de 2020
UMA TENTATIVA DE CONSTRUIR CENÁRIO - AMBIENTE POLÍTICO BRASILEIRO - DE ONDE VIEMOS, ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS - SET/2020
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
UM RESUMO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA - PLANOS SAFRAS - FINANCIAMENTOS, SEGUROS, ESTOQUES REGULADORES - SETEMBRO/2020
UM RESUMO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA
Engenheiro
Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida – 15-09-20
Comecei
na profissão em 1977 num banco privado, recém formado na ESALQ USP de
Piracicaba. O primeiro emprego me
remeteu de SP para o interior do Paraná, mais precisamente Umuarama. Deste, em 1981 passei para um banco público
federal que é o maior repassador de Crédito Rural do País desde sempre. Neste, foram 31 anos de atividade até me
aposentar em 2012, sempre trabalhando com o que chamamos de Política Agrícola
Nacional que na verdade é uma política de Estado, permanente, só variando
poucos pontos ao longo do tempo, sempre mantendo a estrutura principal que veremos
de forma sintética abaixo.
O
sistema pode ter suas vulnerabilidades, mas vem sendo um aparato que tem
ajudado o Brasil a colher safras expressivas e nos coloca como importante
exportador de produtos do setor.
Para se
ter uma ideia da dimensão da Política Agrícola, todo ano é lançado um novo
Plano Safra por volta no meio do ano e vigente até o meio do ano seguinte, isto
porque a safra se planta grosso modo no segundo semestre de um ano e se colhe
no primeiro do ano seguinte. Estamos no
início da Safra 2020/2021. Para este
ano agrícola o governo destinou 236
bilhões de reais para financiamentos entre custeio, investimento,
comercialização, etc. de dinheiro do Orçamento da União e também parte de
recursos que já são do movimento dos bancos junto aos clientes.
O setor
recebe recursos vultosos como financiamentos anualmente via bancos oficiais e
privados, além de cooperativas e os juros em geral são muito abaixo dos de
mercado, inclusive porque o governo anualmente embute uma quantia significativa
de subsídio nos financiamentos, via “equalização” de taxas junto aos bancos. (8, 9 bilhões de reais de subsidio em
2018 - https://www.google.com/search?q=(qual+o+valor+anual+de+subsidio+no+Credito+Rural+no+Brasil+2018)&rlz=1C1RLNS_pt-BRBR885BR885&oq=(qual+o+valor+anual+de+subsidio+no+Credito+Rural+no+Brasil+2018)&aqs=chrome..69i57.18654j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 )
Pouco se
fala nos subsídios, mas anualmente o valor que o setor recebe a fundo perdido
soma alguns bilhões de reais pagos pelo Tesouro com o nome de “equalização de
taxas”. Para um banco captar
recursos no mercado, tem que pagar um juro ao aplicador e para repassar a
terceiro via financiamento tem que cobrar um juro maior, além das despesas
operacionais, os riscos de inadimplência e o lucro na operação. Para garantir isso e o dinheiro chegar a
juro baixo ao produtor, só com o subsídio do governo.
Mais
adiante, veremos a taxa para financiamento e dá para se ter idéia do subsidio
que nela está embutido para que se possa fechar a conta.
As
modalidades mais comuns de elementos de política agrícola são as seguintes:
Financiamento
de Custeio, Investimento e Comercialização
Seguro
Rural (Proagro e Seguros Privados mais
recentes)
PGPM
Política de Garantia de Preços Mínimos. (com EGF e AGF)
Financiamento
de custeio - o governo divide os
produtores pela renda em Agricultor Familiar, Médio Produtor e Demais
Produtores. As taxas de juros são
crescentes para cada categoria acima.
Custeio
– para as atividades de rotina de plantar, cuidar e colher a safra.
Investimentos
– em maquinários, benfeitorias fixas, etc.
Comercialização
– para ajudar no escoamento da safra evitando preços muito ruins ao produtor na
época da colheita da safra.
O juro
fixo neste ano 2020/2021 para custeio do Agricultor Familiar está na faixa de 2,75% ao ano a 4% ao ano.
Para os
chamados Demais produtores, os maiores, juros
de 6% a 7% ao ano, juro fixo.
Comercialização
- Aqui entra a tal PGPM Política de Garantia de Preços Mínimos - Tem a figura do EGF Empréstimo do governo
federal ao produtor em caso de colher a safra e o mercado não estiver pagando
nem o chamado Preço Mínimo (igual ao custo aproximado). O produtor poderia oferecer como garantia a
produção colhida e ter prazo definido para esperar o mercado melhorar
(comumente prazo de até 6 meses). Se
o EGF for com opção de venda para o governo, findo o prazo e o preço no mercado
não melhorando, o produtor pode entregar o produto ao governo em seus armazéns
públicos e fica quitada a dívida.
Caso o
preço reaja no período, o produtor vende o produto ao mercado pelo melhor preço
e quita o financiamento e fica com o saldo do negócio.
AGF
Aquisição pelo governo Federal. Caso o
preço na colheita estiver ruim e o produtor não acredita que irá melhorar,
vende direto ao governo pelo preço mínimo que em geral empata com o custo e sai
sem perda nem ganho da safra e parte para esperar novo ano agrícola.
Junto
com a PGPM o governo tem meios de fazer os chamados Estoques Reguladores de Preço no Mercado para evitar
oscilações muito grandes de preços, que não são boas para os produtores, nem
para os consumidores. Se o governo
estoca nos preços baixos, quando os preços disparam, tem estoque para oferecer
no mercado e amenizar a alta.
Até aqui
teríamos duas ferramentas interessantes.
Na primeira, alguém que não tem capital para “tocar” a safra, faz
financiamento e planta sua safra ou faz seus investimentos conforme o
caso. Outra ferramenta é enfrentar as
oscilações de mercado para o produto colhido, isto geralmente para quem antes
financiou a safra em banco pelo Crédito Rural oficial.
Agora,
vamos ver sobre a questão do Seguro para
os riscos de clima, etc. que podem causar danos à safra, que podem ser parciais
ou totais.
Quem
financia sua safra tem direito de colocar sua safra no seguro tomando por base
o chamado Preço Mínimo (semelhante ao de custo) definido pelo governo. Aderindo ao seguro, caso haja sinistro, se
comunica, se faz perícia, se apura o dano total ou parcial e ocorre e
indenização devida. O objetivo do
Seguro é evitar o prejuízo e não proteger o lucro esperado, porque nesse caso o
seguro sairia muito caro.
O seguro
oficial do governo se chama PROAGRO Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária.
A fim de
que tudo isso funcione a contento, há uma série de normas e em geral os
financiamentos são precedidos de projetos agropecuários feitos por
profissionais habilitados, Engenheiros Agrônomos, Técnicos
Agrícolas/Agropecuários e similares. Estes
dosam o valor do crédito adequado, a tecnologia a ser empregada buscando
otimizar resultado e reduzir riscos.
Uma equipe maior tem como cliente os produtores e outra equipe menor de
técnicos está ligada aos Bancos, até por força de lei, para que os recursos e
subsídios sejam usados com rigor técnico.
Finalizando,
grosso modo o Paraná produz ao redor de 20% da safra nacional e demanda crédito
aproximado nessa proporção. Seriam
então só no Paraná, nesta safra 2020/2021 alocados em torno de 50 bilhões de
reais na safra. Em torno de uns 900
técnicos estão envolvidos na assistência técnica ao produtor e só no Banco
federal líder em crédito rural no Paraná teria uma equipe aproximada de duas
dezenas de técnicos do setor em seus quadros para orientar o banco na forma
correta de aplicar os recursos com racionalidade e dentro das normas legais que
são muitas.
Este é
um resumo da atividade e estive envolvido no sistema nove anos em banco privado
e 31 no banco público federal até me aposentar em 2012.
domingo, 13 de setembro de 2020
CAP. 1/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)
O livro resulta de uma tese de Doutorado do autor com trabalhos de campo focados em Bofete-SP e a vida do caipira de então. O estudo de campo foi de 1947 a 1954
Li este
livro por hobby entre 25-08 e 06-09-2020
no grupinho de leitura familiar em tempo de epidemia da covid 19.
Há no
início do livro uma foto do autor então aos 29 anos em 1948. O livro teve como
origem o trabalho de campo do autor para a tese de doutorado dele na USP na
área de Sociologia. Foco na Fazenda
Bela Aliança no município de Bofete-SP.
Como eu
sou de Cerquilho-SP que tem esse nome por ser um dos antigos pousos de
boiadeiros no rumo de Sorocaba, fiz um fichamento mais voltado pelas expressões
que tem afinidade com minha origem que é da mesma região. Sou de 1950, nascido na zona rural.
Alusão
do autor ao Cururu que é um tipo de poesia cantada entre cantadores que fazem
uma forma de desafio, um criticando o outro.
Usam rima que chamam de carreira que muda a cada
rodada e tem obediência a certas normas religiosas de então. No tempo do estudo em pauta, os cantadores
de cururu já estavam menos presos aos ritos religiosos e mais à exaltação
individual e o confronto pessoal no desafio cantado.
(viria o
nome cururu do sapo na lagoa que um canta e outro “responde”). Morei na zona rural até os dez anos e ouvi
muito cururu pela rádio Voz Agrícola de Piracicaba.
O autor,
na busca pela contextualização, entrou na problemática do mundo social onde
está a pessoa em estudo. Enfoque
sociológico sobre os “meios de vida” das pessoas.
No final
do estudo o autor acabou se posicionando sobre a condição social do povo
estudado em seu recorte. A pesquisa
foi de 1947 a 1954.
Visitou
comunidades rurais em Piracicaba – 7 visitas; Tietê-SP, 2 ; Porto Feliz,1;
Conchas, 2; Anhembi,1; Botucatu, 3 e Bofete onde ficou mais tempo, somando uns
dois meses;
Em outra
ocasião, visitou comunidades rurais em Cuiabá e Varzea Grande MT. (do outro lado do Rio Cuiabá)
...”Verificar
a tradição oral comunicada pelos velhos caipiras”. A tese terminou em 1954 para Doutorado em
Ciências Sociais na USP. Ele foi
professor na USP de FHC Fernando Henrique Cardoso e foi Professor junto com
Florestan Fernandes.
O
cenário onde estudou foi mudando com tendência a ser formar latifúndios à custa
da aglutinação das pequenas propriedades e do sistema de parceria. Parceiro é aquele que planta na terra de
terceiros e numa parceria no papel ou “de boca” divide a produção e assim não
há vínculo de emprego entre ambos.
Busca o
estudo descrever “um processo e uma realidade humana”.
Sugere
se for fazer Reforma Agrária, levar em conta... “não se deve ser baseada apenas
em enunciados políticos... mas também no estudo da sua cultura e da sua
sociabilidade”. Teve como
companheiro de visitas de campo Edgard Carone que conhecia o modo de vida e o
povo da região e o conhecimento de agricultura do companheiro ajudava em
detalhes práticos da relação com o ambiente e o povo.
Página
15 – O autor fala de passagem na chamada língua geral do interior. Eu já tinha ouvido algo e caberia uma
busca no tema.
Pessoas
contatadas no estudo de campo... eram todos analfabetos...”sendo alguns
admiráveis pela acuidade e inteligência”.
15 –
Contato com a vizinha cidade de Torre de Pedra-SP. Pioneiros locais – Artur Marques e Joaquim
Batista de Quevedo.
Se
hospedou em Bofete-SP (que há se chamou
Samambaia e Rio Bonito). Hospedado
por Alcides Rodrigues Ramos, conhecido por Alcídio Machado e Cristino Bueno de
Campos Penteado, o Nego Carreiro, naturais de Bofete-SP.
Como
leitor, digo que o tema tem um recorte local, mas tem muito de como foi a vida
no interior do Brasil nos anos 40-50 e seus reflexos nos povos mais novos.
Continua
por capítulo 2/10...............
CAP. 2/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)
CAPITULO 2/10
Página
16 – O Professor Florestan Fernandes, contemporâneo do autor, foi colega de
docência deste na USP.
21 –
Período da pesquisa de campo em Bofete-SP
1947 a 1954 para a tese de doutorado.
22 -
..”a história se ocupa do que ficou documentado, e a documentação se refere
geralmente à vida das camadas dominantes”.
O autor
leu a história da região e conversou com os caipiras de lugares mais isolados
da região, inclusive para eles dizerem como era o “tempo dos antigos”.
23 -
...”conhecer o passado pela tradição... e o presente pela análise de pequenos
agrupamentos”. ....”fareja o ser
humano”. Não se contenta com as médias
das estatísticas, procurando ir mais além.
25 –
Recorte dele – um grupamento de parceiros agrícolas.
25
- A cultura rústica como é no local.
27 – o
termo caipira exprimindo sempre um modo de ser, um tipo de vida, nunca um tipo
racial.
27 –
Cita o Folclorista Cornélio Pires que era da região e tem várias publicações
sobre os caipiras.
28 – Os
níveis de vida e de sociabilidade.
43
- Foco do estudo... “teor geral da vida do velho paulista rural
das classes inferiores”.
44 – O
bandeirantismo, “como vasto processo de invasão ecológica...”
44 –
Fala de Monções, também livro de Sergio Buarque de Holanda.
45
- ... “origem nômade do precursor do
caipira paulista. ... prática de presa
(índios para trabalho escravo) e coleta...
no caráter do caipira, gravou-se para sempre o provisório da aventura.
Faziam
casa provisória no trecho, chamada de rancho.
“descritas em 1717 em Vila Rica pelo Conde de Assumar.
46
- Livro Viagem Pelo Brasil – de Spix e
Martius. Narra cenas do Brasil colonial
de então.
47 –
Fiar algodão e tecer camisolão até o joelho para meninos e meninas. Teciam chapéus de junco que duravam dois
anos.
Faziam
percatas ou alpargatas feitas em casa.
Comum era andar descalço.
47 –
“Assiste”. Ter casa de “assistência”
na Vila para algum dia de missa em fim de semana ou época de eleição. Isso é para os sitiantes e fazendeiros. O parceiro não tinha posse para tanto.
48 –
Utensilhos geralmente feitos em casa.
Gamela feita de madeira para servir comida para os da família numa
vasilha só. Era comum cada um com sua
colher, comer direto na gamela junto com os demais da família
simultaneamente. Vasilha e prato,
quando usavam, mais comum de porongo ou cabaça, tipo aquele material vegetal
com que se faz cuia para chimarrão no sul.
Colher
de pau, pote de barro, etc.
48 –
Faziam pólvora caseira para espingarda de caça.
Usavam salitre, enxofre e cinza de determinada madeira – crindiuva.
Compravam
barra de chumbo e faziam os chumbos redondos para o cartucho da espingarda em
casa.
Iluminação
em casa – lamparina com combustível à base de banha de porco ou óleo de mamona
local.
Faziam
açúcar mascavo de canavial próprio, além de melado e também faziam café com
garapa de cana quando tinham pó de café, coisa rara e cara para eles.
Distância
de Bofete a Tatui-SP – ao redor de 40 km.
49 – De
vez em quando um burro cargueiro com galinhas penduradas era levado para venda
das galinhas na Vila e compra de algum mantimento, principalmente sal. Poderia ser rumo a Itu ou Campinas.
Continua
capítulo 3/10
........................................
CAP. 3/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)
CAPITULO 3/10
Página
50 - No rodapé da página, cita o conde
de Cunha que no passado descreveu casas de caipiras do interior paulista.
52 – A
cidade de Campinas já se chamou São Carlos.
52 –
Narra que Saint-Hilaire melhor descreve o povo que conheceu em suas andanças
pelo interior. ...”apresenta o paulista
rústico – o caipira – um quadro pouco ameno.
Acha-o primitivo e brutal, macambuzio e desprovido de civilidade, em
comparação com o mineiro”. Paulista –
mistura de branco com índio então. O
viajante citado constatou que em Minas Gerais a mistura era de branco com negro
e estes mestiços, mais sociáveis. O
autor deste livro pondera que o paulista e o trato de lavoura meio nômade tinha
“ambiente” para ser o que é. Já o
mineiro nas minas de ouro tinha mais contato com o meio urbano e por isso, mais
facilidade de se relacionar com os estranhos que passassem pela região deles.
53 –
Ainda o viajante citado, dizendo do caboclo:
“Era coisa feia de ver”.
53 –
Cita o termo capuava. E diz que o
caboclo parecia “criação”, comparando-o com animais.
55 –
Cita a descrição de um geógrafo explicando o dano das queimadas para o solo,
empobrecendo-o e trazendo mais pobreza para o povo. Queimada – perda de matéria orgânica, etc.
57 – A
capela como lugar de convergência do povo da zona rural.
Costume
de matar porco e dar pedaços para os vizinhos e esperar a roda girar e receber
de volta um pedaço de carne quando algum vizinho agraciado matasse um porco
também.
Sobre
isso, lembrar que o povo na época nem se pensava em ter geladeira e não dava
para ficar estocando carne. Nessa
condição, essa cooperação entre os vizinhos tinha um lado prático interessante
para todos.
59 –
Alimentação e Recursos Alimentares
Cita um
autor do passado que fala do Brasil remoto e a base alimentar – mandioca, algum
feijão e arroz.
O arroz some
por longo tempo do cardápio do povo do povo comum, só tendo acesso a este os
abastados. O arroz é de origem
asiática e antigamente era em maioria importado e caro.
Por isso
as bandeiras eram obrigadas a levar para semeadura no caminho, milho, feijão e
mudas (ramas) de mandioca. Isto para
garantir a sobrevivência dos desbravadores.
Abóbora também entrava no pacote.
61 –
Mesmo nas cidades, carne, só algumas vezes por ano ou em dia de festa.
62 –
Caminhos das minas. Levavam sementes de
milho, abóbora e feijão e, quando muito, algumas batatas doces.
63 –
Consta que o arroz asiático entrou no Brasil desde logo a seguir a colonização,
mas era em escala bem reduzida. Quem
generalizou a cultura internamente foi o Marques de Pombal, isto no século
XVIII.
66 –
Desde o século XVI, a couve, a chicória e a serralha já entrava no cardápio do
povo brasileiro. Esta última, planta
nativa daqui.
Temperos
– sal, gordura de porco e pimenta.
67 – O
leite era um luxo para poucos, pois dependia de haver espaço para ter vacas de
leite e quem não tinha a terra e era apenas parceiro, geralmente não tinha
capital para ter os animais nem espaço para pastagem.
O açúcar
o pessoal dava um jeito de ter cana e fazer açúcar mascavo artesanal para o
gasto e também melado. Quando havia pó
de café, muitas vezes era adoçado com garapa de cana.
O
aguardente de cana era bem disseminado entre os caipiras e não raro as mulheres
também tomarem a bebida. (um dos
produtos que tem mais apelidos – cachaça, marvada, matar o bicho, etc.
Em
Jandaia do Sul – PR conheci um alambique de um carioca e a cachaça dele tem o
nome bem criativo de Companheira.
67 – A
partir do século XIX, se junta o café na dieta do brasileiro.
O
caipira dos anos 50 ainda fazia algo de coleta, caça e pesca para complemento
da alimentação.
68 – A
Jabuticaba era a mais popular das frutas silvestres disponíveis e comumente
chamada de fruita. Outras frutas que
poderiam estar acessíveis no meio caipira: maracujá, ariticum (pinha), goiaba,
jaracatiá, pitangas e sobretudo, banana.
Caças –
aves – macucos e nhambus. Animais –
paca, cutia, quati, porco-do-mato, capivara.
Nos brejos – saracura, perdiz, codorna, patos do mato, veados, lagartos,
tatus. “Não se come a carne do tatu
canastra” (o autor não explica a razão mas eu, leitor, tenho informação de que
tatus podem ocorrer em cemitérios e associam o mesmo a comer defuntos)
69 –
Içás torradas, comidas como iguaria no tempo das formigas ficarem aladas e
voadoras para reprodução e formação de novos formigueiros. (já comi quando morava na zona rural na
região nos aos 50)
69 – O
teiú (um tipo de lagarto) na cidade
vizinha de Guareí é apreciada e em Bofete-SP é repugnante. Tem esses detalhes de hábito.
Macaco,
apesar de dizerem que a carne seria saborosa, mas não comem alegando que é
“muito parecido com a gente”.
71 – Os
tipos de povoamento. O pequeno
comércio. Moradores da região procura o
comércio quando precisa de sal, religião ou justiça.
Geralmente
tem história o povoado urbano. Já o caipira
na zona rural, sem posses, não tem história.
O autor vai tentar buscar a história dos dispersos, dos caipiras sem voz
e vez.
............
continua– capítulo 4/10
CAP 4/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)
CAPITULO 4/10
75 –
Sesmaria – Eram no começo do Brasil colonial concessões de grandes áreas de
terras para quem se comprometesse em seis meses iniciar o trabalho de lavrar a
terra concedida.
75 –
Costume dos sitiantes e fazendeiros que moravam na zona rural e tinham casa de
“assistência” na Vila para épocas de festas religiosas ou período de eleições.
75 –
Descreve em 1797 que a Câmara de Atibaia requerendo que seja promovida à
categoria de Freguesia para a Vila de Jaguari, atual Bragança Paulista. No ofício diz que a citada Vila tem no
povoado 25 casas e descreve cada família moradora e informa que na área de
influência, na zona rural moram 4.400 pessoas. Pessoas que por costume chamavam a Vila de
“capital”.
77 – Em
documento administrativo oficial as divisões do mais simples ao mais complexo: bairro < Freguesia < Vila. Vila era sede de Câmara e Paróquia. Tinha lá o Inspetor que tinha funções de
polícia e de cuidar das estradas e caminhos.
Quando
estradas ou caminhos ficavam em estado degradado, o Inspetor convocava a
população para realizarem de forma comunitária a restauração de estradas e
caminhos em benefício dos mesmos.
80 –
Casa de caipira medindo 5 passos x 6 passos, feita em mutirão para moradia de
Nha Maria Crispim. (tem foto no livro).
Casa de
pau a pique. Varas roliças em pé, uma
ao lado da outra como paredes e cobertura com sapé. Piso de chão batido.
As
formas de solidariedade
81 – O
mutirão, palavra de origem indiana, muchiron, fazer roça, tecer e fiar algodão,
etc. de forma colaborativa com os
vizinhos que prestam o serviço para ajudar o que precisa no momento. Uma variação seria a “espalhada” –
colher milho em grupo e preparar pamonhas, por exemplo. Eram feitas em grupo e distribuída aos que
executaram as tarefas.
No caso
de mutirão de trabalho rural, quem recebe os colaboradores serve as refeições
do dia. No final do dia pode haver uma
festa em agradecimento.
83 –
Havia uma variação da cooperação que
poderia ser combinada pelos vizinhos para se reunirem de surpresa para ajudar o
que estava “apertado” de serviço. Que
não estava vencendo, por exemplo, capinar toda a roça em tempo adequado. Nesse caso cada um trazia sua boia de casa e
não tinha festividade no final da tarefa.
O
mutirão é um gesto de amizade e já a ajuda é quando a situação de quem foi
atendido era por motivo de precariedade.
84 –
Numa roçada – dividir uma quadra em “eitos”
(muito usado o nome na minha terra).
Cada pessoa pegava um eito para realizar o trabalho que poderia ser
roçada, capina, colheita, etc.
86 –
Festejos de São Roque. Fazer a capela
e doar um pedaço de terra ao Santo.
Depois esse pedaço de terra é arrendado por algum vizinho e o valor da
renda fica para a manutenção da capela.
Padroeiro
São Roque – comemora-se dia 16 de agosto.
Obrigações nos festejos:
1) –
Festa anual ao padroeiro com uma semana de rezas e leilões, terminando em missa,
reza e procissão;
2) –
rezas com leilão de prendas no primeiro e terceiro domingo do mês;
3) –
Missa uma vez por mês pelo Vigário.
Organização da festa – Há uma Irmandade de
São Roque que cuida da organização anual.
89 –
Reza na casa, trazendo o santo da Capela.
Depois da reza, fandango (ou cateretê – geralmente dançam só homens) com
dança.
O bairro
de Bofete que o autor analisou tem a capela do Socorro. Há também capelas nos bairros do Peão; Capela
São José e Capela do Bairro Três Pedras.
91 –
Bofete era dependente da freguesia de Tatui-SP.
91 –
Enterro. Quando alguém de Bofete morria
e podia dar um enterro “de Cristão”, tinha que seguir levando o morto por três
dias de caminhada (ao redor de 40 km) em trilha no meio da mata. Era muito comum a malária por lá na época.
Bofete
já se chamou Samambaia e também Rio Bonito.
O nome bofete viria do tempo dos boiadeiros que ao passar por lá, usavam
um abrigo numa gruta de pedra para abrigo e guarda de alimentos. Era um buffet e daí foi traduzido para o
linguajar caipira como Bofete.
92 –
Muitos mineiros vieram para a região para abrir terras. O autor cita inclusive a cidade mineira de
Conquista e a ligação desta por migrantes que se estabeleceram em Ribeirão
Claro no PR, próximo a Ourinhos-SP.
93 – O
Caipira e sua cultura.
94 - A região de Bofete não tem solos tão bons para
agricultura e no fim do século XIX teve café que foi bem em terras novas, mas
foi decaindo e também houve crises do café no começo dos anos 1900 e as
lavouras grandes, com mão de obra escrava, foram decaindo. Na época do estudo, década de 1950, as
terras estavam fracas, quase já não tinham mais café e se fazia lavouras
comumente por parceiros caipiras pobres.
CAP. 5/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Prof.da USP (base 1954)
CAPITULO 5/10
Página 97 – “A cultura do caipira, como a
do primitivo, não foi feita para o progresso:
a sua mudança é o seu fim”,...
101 – Ranchos de pau a pique como morada,
feita pelos próprios caipiras.
102 – Cultivavam em terras que poderiam ser
tomadas à força. Era plantar e cuidar,
deixando tempo para a caça, pesca, fazer utensilhos, lazer, rezas e festas.
“O lazer era parte integrante da cultura
caipira”.
103 – Na região onde o autor fez o estudo,
os caipiras guardavam certos santos (faziam feriado) que oficialmente não eram
para ser feriado, mas pela tradição local, eles guardavam.
Dia de São Paulo, de São Roque, São
Lourenço (contra tempestades e
redemoinhos), São Benedito (contra picadas de cobras), São Bartolomeu protetor
contra loucura e possessão demoníaca.
Isto além de santos como São João, Santo Antonio e São Pedro. O 3 de maio, dia da Exaltação da Santa
Cruz.
105 – Capítulo II do livro – A situação
presente (1954)
Bairros Lagoa, São Roque Novo, São Roque
Velho e São João, este já em Conchas-SP.
Lugares onde tem latifúndios: Bairro Roseira, Morro Grande e Óleo. Ele estudou o Bairro Roseira.
Como já foi citado, Bofete antes já foi
Samambaia, depois Rio Bonito e finalmente, Bofete por causa de gruta onde
tropeiros se abrigavam e guardavam mantimentos na gruta como num buffet e daí
surgiu Bofete. Virou cidade em
1906 (época que ainda tinha bastante
cafezal).
109 – Havia fazendas e rotas de Jesuitas no
passado que passavam pela região no rumo de Sorocaba e Paranapanema.
111 – Até a década de 1910 havia mais café
na região, que vinha do tempo dos escravos.
Depois a mão de obra foi substituída pelo trabalho de imigrantes
europeus, com foco nos italianos.
Houve abundância de café na região e resultou em crise em 1902.
114 – Na época do estudo (1947-1954) a
região de Bofete-SP já tinha as terras exauridas e houve a expansão da pecuária
que tende ao sistema de latifúndios.
118 – Na época do fracasso do café, muitos
agricultores locais migraram rumo ao Paraná e a Sorocaba.
119 – Em 1948, nenhum fazendeiro de Bofete
tinha jeep ou automóvel. Não se usava
adubação para fertilizar as lavouras e nada de máquinas agrícolas, nada de
geladeiras em bares, etc.
Em 1954 na cidade, havia dois automóveis e
quatro jipes.
121 – População rural e parceria agrícola.
122 – o Cientista Social Caio Prado Junior
publicou trabalhos importantes sobre o sistema agrário brasileiro da época.
Constata-se que os pequenos produtores e
arrendatários geralmente estão nas terras mais fracas.
124 – O Meeiro. Nesse sistema de parceria, o dono da terra
fica com a metade da produção e a outra metade com o Meeiro que planta e cuida
da lavoura até a colheita feita.
Arrendatário – é quando o dono da terra
arrenda, tipo um aluguel, da terra para o arrendatário plantar. Em geral se estipula um custo em
dinheiro. Aqui o risco é todo do
arrendatário. Diferente do meeiro, que
o risco da lavoura é suportado meio a meio.
Quem não tem terra própria, sempre que
possível busca ser parceiro, meeiro ou arrendatário porque no caso o agricultor
tem parte no negócio e não tem um patrão.
Faz do seu jeito e no seu ritmo, o que dá uma certa liberdade. Esta que é valorizada inclusive pelos que
já tiveram pequenas propriedades e perderam a posse e buscam ficar na atividade
de lavoura.
125 – Os “camaradas” que trabalham ganhando
por mês e tem algumas regalias, incluindo casa para moradia na fazenda onde são
empregados.
131 – Os Trabalhos e os Dias
A Fazenda onde o autor fez os estudos tem
ao redor de 700 alqueires ou 1.700 hectares (cada hectare = 10.000 m2). É uma fazenda grande. Foi fundada no século XIX e já foi forte na
produção de café. Teve escravos.
133 – Os banheiros do caipira na zona
rural. Quando tem, é a chamada “casinha”
tipo 1 m x 1 m, de tábuas, em cima da fossa e no quintal, um pouco afastada da
casa (e do poço quando este está
presente, até para a fossa não contaminar a água do poço).
A tábua perto da bica de água para servir
de batedor de roupas para as mulheres lavarem roupas. Tábua larga e inclinada até chegar no
solo. Há em vários casos o forno de
barro no quintal onde as pessoas assam pão, etc.
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próxima – capitulo 6/10