capítulo 6/8 (lembrando que o original desta ficção é de 1943 quando Clarice Lispector estava aos 23 de idade e cursava Direito no RJ)
Lídia
que foi feliz nos tempos de um relacionamento com o primo Otávio. Agora Otávio tem outra família e Lídia
pensa:
“E quando seu filho nascesse – alisou o ventre que já se
arredondava – eles três seriam uma pequena família”.
Os primos Lídia e Otávio foram criados juntos. “Vivera perto de Otávio. Ninguém passará por sua vida senão ele”. ...Espera-o. Quando o alcançara, Joana viera e ele
fugira. Continuou esperando. Ele voltara. Um filho nasceria”.
Capítulo - O Encontro
de Otávio
Joana e Otávio juntos, mas sempre distantes nos
sentimentos. Ela sente que não há
sintonia entre ambos, o que lhe traz insônia e solidão.
Capítulo – Lídia
Otávio saiu de casa cedo em atividade de rotina. Joana ficou aliviada dele ter saído. Ela
recebeu um bilhete de Lídia convidando-a para visita-la.
...”E a mulher era o mistério em si mesmo, descobriu.”.
Joana e Lídia num encontro quase sem palavras. ...”as duas mulheres sentiram que não
estavam lutando”.
...”sou um bicho de plumas, Lídia, de pelos. Otávio se perde entre nós indefeso”.
“Compreendo por que Otávio não se desligou de Lídia: ele
está sempre disposto a se lançar aos pés daqueles que andam para frente”.
...”como sou pobre diante dela tão segura.” ...”Lídia, o que quer que seja, é imutável,
sempre com a mesma base clara.”
- “Energia? Mas onde
está a minha força? Na imprecisão, na
imprecisão, na imprecisão...”
Contou para Lídia seu tempo de internato e sua capacidade de
arrebatar as colegas com seus detalhes sobre a personalidade das pessoas. Era uma forma de domínio que exercia com
isso.
...”uma dizia: - Joana fica insuportável quando está alegre”.
... Lídia ao
convidar Joana esperara bondade dela por conta de Lídia estar esperando um
filho de Otávio. “Quer Otávio, o
pai. É compreensível. Por que não trabalha para sustentar o
guri? Certamente você estava esperando
de mim grandes bondades, apesar do que disse agora sobre minha maldade.
“Mas a bondade me dá realmente ânsias de vomitar. “Por que não trabalha? Assim não precisaria de Otávio.”
...”- Você gostaria de estar casada – casada de verdade com
ele? – indagou Joana.” - Gostaria.
Por quê? – Surpreendeu-se Joana. Não vê que nada se ganha com isso? Tudo o que há no casamento você já tem...
- “Aposto que você passou toda a vida querendo casar.”
Lídia teve um movimento de revolta: era tocada na ferida, friamente. – Sim.
Toda mulher... – assentiu.
Joana responde: “Isso
vem contra mim. Pois eu não pensava em
me casar. O mais engraçado é que ainda
tenho a certeza de que não me casei...
“Imagine: ter sempre
uma pessoa ao lado, não conhecer a solidão.
– Meu Deus! – não estar consigo mesma nunca, nunca. ...daí em diante é só esperar pela morte”.
...”assistindo a própria derrota na derrota do outro.”
Por que casou? – indaga Lídia.
- Não sei. Só sei que esse não sei é uma ignorância particular...
- Casei simplesmente porque quis casar. Porque Otávio quis casar comigo.
... O que importa é que já não há amor.
...”Fique com Otávio.
Tenha seu filho, seja feliz e me deixe em paz.
- Sabe o que está dizendo? – gritada Lídia.
- Sei, é claro.
- Não gosta dele...
- Gosto: Mas eu nunca sei o que fazer das pessoas ou das
coisas de que eu gosto, elas chegam a me pesar desde pequena”.
Lídia diz: não consigo
compreender. Joana fica corada de
leve: - Também eu. Nunca penetrei no
meu coração.
Alguma coisa estava dita.
Depois da divagação de Joana, ela disse a Lídia: - Eu também posso ter um filho, disse
alto. A voz soou bela e límpida. Eu terei um filho e depois lhe devolverei
Otávio.”
Continua no capítulo 7/8