capítulo 3
Uma vizinha brigando com o filho de seis anos de
Carolina. Ela trouxe o filho para dentro
de casa e perdeu a paciência porque a mulher continuou xingando. Respondeu:
- “Cala a boca, tuberculosa!”
“Não gosto de xingar os outros, mas quando a gente sai do
sério .... apela para as enfermidades”. (como leitor me lembro da minha infância
rural nos anos 50 no interior de SP.
Eram os palavrões: lazarento,
tísico, morfético... doenças). Lazarento – lepra. Tísico – tuberculoso. Morfético – hanseníase, lepra.
...”Amanheci contente.
Estou cantando. As únicas horas
que tenho sossego aqui na favela é de manhã.”
Ela recusa ir para o quarto de um conhecido que a
convidou. “Disse-lhe: Não!”
... “É que estou escrevendo um livro para
vende-lo. Viso com esse dinheiro do
livro comprar um terreno para eu sair da favela”.
...”Fiquei horrorizada.
Haviam queimado meus cinco sacos cheios de papel”. ...”Não estou ressentida. Já estou habituada com a maldade humana.”
Parte 2 - Diário de
1958
...”o que eu aviso aos pretendentes à política é que o povo
não tolera a fome. É preciso conhecer a
fome para saber descreve-la.
No diário – 09 de maio de 1958
...”eu cato papel mas não gosto. Então eu penso. Faz de conta que eu estou gostando.
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome é também professora”.
Matar pernilongo no barraco. Acender um jornal e passar pelas paredes.
13 de maio - “Que
Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz”.
Os filhos na escola mesmo com chuva. Os filhos comemoram o ter o que comer. “Mas eu já perdi o hábito de sorrir”.
13 de maio. Frio e
sem comida. “eu lutava contra a
escravatura atual: a fome. (1958)
...”a cidade é o jardim e a favela é o quintal onde jogam os
lixos.”
Barulho na favela. “É
o Ramiro que quer dar no senhor Binidito”.
“eu não posso descrever o efeito do álcool porque eu não
bebo.
“Eu quando estou com fome quero matar o Janio Quadros,
enforcar o Ademar de Barros, queimar o Juscelino. (políticos).
O apoio dos Vicentinos (grupo católico que faz caridade).
Dona Maria morreu.
...”era crente e dizia que os crentes antes de morrer já estão no céu”.
Carro vai levar o enterro.
“... vai para a verdadeira casa própria que é a sepultura.”
Cinco da manhã e os pardais já cantando. “As aves devem ser mais feliz que nós. Talvez entre eles reina a amizade e
igualdade”.
Fala do presidente Juscelino no palácio do Catete (RJ). Voz de sabiá – agradável. (ele era médico).
(Estive recentemente em Belo Horizonte e visitei a casa que
o Juscelino morou – uma casa confortável ao lado do lago da Pampulha projetada
por Oscar Niemeyer.)
Quem visitava a favela reclamava. “- Credo, para viver num lugar assim só os
porcos. Isto aqui é o chiqueiro de São
Paulo”.
“Começo a revoltar.
E a minha revolta é justa.”
Ela usando carrinho para catar/transportar o papel. Ela lembra versos do poeta Casemiro de Abreu: “Ri criança / a vida é bela. Carolina retruca: Chora criança, a vida é amarga”.
Continua no capítulo 4