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quarta-feira, 7 de abril de 2021

CAP. 04/08 - fichamento - livro - O FIO E AS MISSANGAS - autor moçambicano MIA COUTO (tem vários prêmios de destaque)

CAP. 04/08                leitura em abril de 2021

Página 59 – O Nome gordo de Isadorangela

Branca, gorda e todos faziam chacota dela.    “E havia razão para chacotear:  a miúda sobrava a si mesma...

“Como pedra no charco. Isadorangela fazia espraiar uma onda de zombaria”.   Filha do presidente da Câmara, era ela.  No baile, todas dançando e rodopiando.  Ninguém tirava a gorda para dançar.

“Só Isadorangela ficava sentada, chupando um interminável algodão doce”.    

O pai levou a filha para casa do presidente da câmara.   A menina iria para fazer companhia para a gorda.

Disse que pobre tem casa e rico tem residência.  Tocou baixo a campainha.   “Aqui nas residências finas, todo mínimo é logo um barulho”.

Encontram o dono da casa nas palavras cruzadas e cochilando.  A mulher dele dançando com o pai da narradora na casa.   A filha gorda do presidente dançando com a narradora.

 

Conto – Os olhos dos mortos

Ela apanhava do marido que frequentava bar.   “Chorando sem direito a soluço; rindo sem acesso a gargalhada.”

Um retrato estilhaçado na sala.   Ela apanha do marido de precisar ir ao pronto socorro.    “Eu estava mais estilhaçada que o retrato da sala”.

“O que eu fizera, ao dirigir-me por meu pé ao hospital, foi uma ofensa sem perdão.   Até ali eu fechara minhas feridas no escuro íntimo do lar.   Que é onde a mulher deve cicatrizar.   Mas desta vez, eu ousara fazer de cristo, exibir a cruz e a chaga pelas vistas alheias”.

         Conto – A Infinita Fiadeira

         Versos de abertura do conto:

    “A aranha ateia

Diz ao aranho na teia:

O nosso amor

Está por um fío!”

         Aranha fazendo teia indefinidamente.    “Tudo sem fim nem finalidade”.   A aranha rebelde diz aos pais que não tece teias, faz arte com elas.

Conto – Entrada no Céu

Garoto na catequese.  – A vida, Santo e Deus, tem segunda via?

O Padre Bento não queria nem escutar:  só a dúvida, em si, já era desobediência.

O preto morto pode ir pro céu direto da aldeia sem precisar passar na cidade carimbar documentos?

“Quem sabe agora, o porteiro do céu me confunda também e me deixe entrar, na crença que irei prestar serviço nos lugares da criadagem?”

... os santos são santificados pela morte...   Enquanto eu, eu é que santifiquei a vida.   Agora estou no fim.  Um santo começa quando acaba.  Eu nunca comecei.

 

Página 81 – Conto -  O mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial

... doutor: sou eu que invento minhas doenças.  Mas eu, velho e sozinho, o que posso fazer?  Estar doente é minha única maneira de provar que estou vivo”.

Na fila do hospital.   ...”me vem a ilusão de me vizinhar do mundo”.  Ao médico:  “Os doentes são a minha família, o hospital é o meu teto e o senhor é o meu pai...”

Mendigos na calçada vendo TV na vitrine da loja passando jogo da Copa.    ... os mendigos lá se reúnem todas as sextas feiras para captar as esmolas dos muçulmanos.   Ganhei o nome de Sexta Feira.  Um dia útil.

Veja bem: eu que sempre fui inútil, acabei adquirindo nome de dia útil.    Junto com os mendigos na calçada vendo TV da loja.

“É ali no passeio que assisto futebol, ali alcanço ilusão de ter familiares.

O mendigo fala que no jogo da TV o jogador cai e sua dor, qualquer

Que seja, faz o juiz parar.    “A dor dele faz parar o mundo”.    “As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum arbitro do mundo manda parar a vida para me atender...”

         ...Isso senhor árbitro, cartão vermelho!  Boa decisão!   Haja no jogo a justiça que nos falta na vida”.

                   Continua no capítulo 05/08 

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