CAP. 04/08 leitura em abril de 2021
Página 59 – O Nome gordo
de Isadorangela
Branca, gorda e todos
faziam chacota dela. “E havia razão
para chacotear: a miúda sobrava a si
mesma...
“Como pedra no charco.
Isadorangela fazia espraiar uma onda de zombaria”. Filha do presidente da Câmara, era ela. No baile, todas dançando e rodopiando. Ninguém tirava a gorda para dançar.
“Só Isadorangela ficava
sentada, chupando um interminável algodão doce”.
O pai levou a filha para
casa do presidente da câmara. A menina iria
para fazer companhia para a gorda.
Disse que pobre tem casa
e rico tem residência. Tocou baixo a
campainha. “Aqui nas residências finas,
todo mínimo é logo um barulho”.
Encontram o dono da casa
nas palavras cruzadas e cochilando. A
mulher dele dançando com o pai da narradora na casa. A filha gorda do presidente dançando com a
narradora.
Conto – Os olhos dos
mortos
Ela apanhava do marido
que frequentava bar. “Chorando sem
direito a soluço; rindo sem acesso a gargalhada.”
Um retrato estilhaçado na
sala. Ela apanha do marido de precisar
ir ao pronto socorro. “Eu estava mais
estilhaçada que o retrato da sala”.
“O que eu fizera, ao
dirigir-me por meu pé ao hospital, foi uma ofensa sem perdão. Até ali eu fechara minhas feridas no escuro
íntimo do lar. Que é onde a mulher deve
cicatrizar. Mas desta vez, eu ousara
fazer de cristo, exibir a cruz e a chaga pelas vistas alheias”.
Conto – A Infinita Fiadeira
Versos de abertura do conto:
“A aranha ateia
Diz ao aranho na teia:
O nosso amor
Está por um fío!”
Aranha fazendo teia indefinidamente. “Tudo sem fim nem finalidade”. A aranha rebelde diz aos pais que não tece
teias, faz arte com elas.
Conto – Entrada no Céu
Garoto na catequese. – A vida, Santo e Deus, tem segunda via?
O Padre Bento não queria
nem escutar: só a dúvida, em si, já era
desobediência.
O preto morto pode ir pro
céu direto da aldeia sem precisar passar na cidade carimbar documentos?
“Quem sabe agora, o porteiro
do céu me confunda também e me deixe entrar, na crença que irei prestar serviço
nos lugares da criadagem?”
... os santos são
santificados pela morte... Enquanto eu,
eu é que santifiquei a vida. Agora
estou no fim. Um santo começa quando
acaba. Eu nunca comecei.
Página 81 – Conto - O mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial
... doutor: sou eu que
invento minhas doenças. Mas eu, velho e
sozinho, o que posso fazer? Estar doente
é minha única maneira de provar que estou vivo”.
Na fila do hospital. ...”me vem a ilusão de me vizinhar do
mundo”. Ao médico: “Os doentes são a minha família, o hospital é
o meu teto e o senhor é o meu pai...”
Mendigos na calçada vendo
TV na vitrine da loja passando jogo da Copa.
... os mendigos lá se reúnem todas as sextas feiras para captar as
esmolas dos muçulmanos. Ganhei o nome
de Sexta Feira. Um dia útil.
Veja bem: eu que sempre
fui inútil, acabei adquirindo nome de dia útil. Junto com os mendigos na calçada vendo TV
da loja.
“É ali no passeio que
assisto futebol, ali alcanço ilusão de ter familiares.
O mendigo fala que no
jogo da TV o jogador cai e sua dor, qualquer
Que seja, faz o juiz parar. “A dor dele faz parar o mundo”. “As minhas mágoas que são tantas e tão
verdadeiras e nenhum arbitro do mundo manda parar a vida para me atender...”
...Isso
senhor árbitro, cartão vermelho! Boa
decisão! Haja no jogo a justiça que nos
falta na vida”.
Continua no capítulo 05/08
Nenhum comentário:
Postar um comentário