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terça-feira, 9 de novembro de 2021

CAP. 16/35 - fichamento - livro - HUMANOS DE NEGÓCIOS - História de homens e mulheres que estão (re)humanizando o capitalismo - Autor: RICARDO V. CUNHA - Ed. Voo - 2020

 CAP. 16/35        livro lido nesta parte em novembro de 2021

         Outra Humana de Negócios:  Paula Dib     -  “design do tempo”

         Paulistana, filha de pai árabe (sírio) e mãe mineira.  Fez design industrial na FAAP Fundação Armando Alvares Penteado em São Paulo.  Ela nasceu sem o braço esquerdo.   Em 2002, menos de um ano após o atentado das Torres Gêmeas nos USA, ela trabalhava em Londres e havia risco de bombas por lá e  um dos suspeitos, argelino, trabalhava na equipe em que ela trabalhava num restaurante.   Ela, só por ter nome árabe, foi detida, interrogada e sumariamente deportada.

         Anteriormente, antes de terminar a faculdade, ela tinha feito um trabalho no sul da Bahia.   Nesse tempo ouviu sobre Sustentabilidade de que emergia com força no âmbito internacional.   “De volta de Londres... comecei a reconectar as peças, ampliando meu olhar e unindo aspectos da cultura e do meio ambiente no meu trabalho”.

 

 

 

         O pai dela, engenheiro e a mãe dela, psicóloga.   Na verdade os irmãos do pai dela nasceram na Síria e depois de migrarem para o Brasil, logo ele nasceu e assim só ele dos irmãos é brasileiro nato.

         No começo da vida dos pais dela, começaram como muitos de origem árabe na Rua 25 de Março em São Paulo, lugar de comércio popular.   Donos da loja Rei do Armarinho.

         Quando ela era criança, o médico chamado à casa deles sobre a questão da falta do braço da menina, ficou observando ela lidando com os brinquedos e executando tudo que precisava numa boa.  Viu que os pais dela achavam que ela precisaria de prótese, mas o médico concluiu que não.   “Ela está ótima e não precisa de nada disso”.

         Foi colocada aos três anos de idade numa escola Rudolf Steiner, método criado pelo educador na Alemanha em 1919.   O método da escola se mostrou tão eficaz que as escolas que usam o método se espalharam por muitos países e há também em São Paulo.    A criança se deu tão bem que os pais resolveram colocar as outras filhas na mesma escola.

         Tempos do Plano Real, Brasil com moeda forte, ela com 18 anos, facilitou para ela poder ir estudar inglês no exterior.   Ela optou pela Austrália.   Lá chegou para estudar e era uma cidade grande e não se encaixava na expectativa dela.   Conseguiu um lugar mais desafiador.  Foi para uma missão governamental junto a povos aborígenes do norte da Austrália.    Uma das ações era ajustar o descarte de embalagens de mantimentos que passaram a ser enviados aos aborígenes e que eles não sabiam como executar o descarte adequado de embalagens.  

         De volta ao Brasil, optou por estudar Design Industrial.   Escolheu esta profissão.. “porque queria criar algo para alguém usar”.

         Optou por pegar além do curso, no contraturno, uma monitoria (estágio) na própria FAAP e assim ia cedo para a faculdade e saia de lá à noite.

         Fez oficinas de litogravura, xilogravura, metal, madeira, cerâmica etc.

         Fez alguns trabalhos remunerados e deu para passar um tempo viajando pela Europa.   Nessa, em Londres, estava num trabalho quando foi deportada.

         Ela via a questão, de um lado, a pobreza e de outro, o consumismo.

         “Eu não via sentido em produzir mais um sofá ou uma cadeira e assinar com meu nome”.  Para quê?

         Um dia ela teve um episódio de serendipicidade (descobrir meio por acaso).   Numa loja de artesanato, viu um produto modelado em jornal e a pessoa queria pintar a peça.   Paula argumentou que se pintasse, a peça não mais poderia ser reciclada.    Daí ela foi convidada pela dona da loja para atuar numa entidade que lidasse com design social e comunidade.

         Ela achou ali o que queria.   Juntava observação, comunidades, sustentabilidade e processos manuais.

         No Instituto Super Eco (ligado à Companhia Suzano de Papel e Celulose).    Projeto Comunidade Produtiva, isto no sul da Bahia.

         Comunidades no entorno da fábrica da Suzano.    Ela trabalhou com as comunidades carentes nos municípios de São José da Alcobaça e Helvécia, na Bahia.

         Sugeriram que ela concorresse com seu projeto num concurso na Europa.   Ela colocou na justificativa para a banca examinadora...    “estou fortalecendo a noção de que não precisamos buscar o norte de fora, mas, sim, dentro de nós.    E o potencial transformador que esse resgate da auto estima desencadeia na pessoa é enorme”.

         O projeto dela foi classificado e ela foi para a premiação em Londres.   A turma do concurso foi almoçar num restaurante.   Justo o local onde ela no passado trabalhou até ser deportada.    Assim para ela foi muito simbólico voltar lá para ser premiada (reconhecida).     Havia várias modalidades concorrentes e ela foi premiada na modalidade compatível com seu projeto.

         O destaque que a premiação deu, gerou convites para ela se apresentar em universidades na Alemanha, Holanda, Hong Kong, Inglaterra, Suécia e Venezuela.