capítulo 08/10
Os domesticadores de milagres - cidade de Buzi, março de 2019
Estão na vila do Buzi à margem do rio
do mesmo nome.
Na época da tentativa de suicídio da
mãe de Liana, o pai de Almalinda (Ermelinda) ficou sabendo que ela foi salva
por um pescador no distante rio Buzi e foi lá rever a filha. Ela logo o acusou pela tentativa de suicídio
e pelo suicídio do noivo dela (ele era preto), ela sendo mulata e o pai,
branco.
O pai resolve depois voltar para sua
cidade e pagou para que os que a acharam se calassem. A mãe de Almalinda teve que ser internada
num hospício por conta da tragédia.
O pai pensa em contar a ela que a filha
não morreu e a esposa sararia e voltaria para casa. “voltaria para casa para me atazanar o juízo”.
Nos ventos que prenunciam um furacão. “Há uma chuvinha que
vai tombando sem saber onde cair”.
Tradição local. Enterrar as crianças perto do leito dos
rios, em terras úmidas. “Não se
enterra em terra seca quem ainda não é pessoa”.
“A vida é um percurso da água para a terra,
do barro para o osso”.
Capítulo 14 Os que nascem com raça. (os papeis da PIDE-7)
A PIDE é a polícia do colonizador.
Anotações de viagem do meu pai a
Inhaminga. Viaja só Adriano e
Benedito. Diogo não foi daquela
vez. Benedito no banco da frente pela
primeira vez. O guarda da barreira
(branco) fica bravo por causa do branco estar andando com um preto no banco da
frente do carro.
Deixou passar porque o motorista era
jornalista, mas com muita má vontade por deixar um jornalista ir pra região do
conflito e ainda essa de carregar um preto no banco da frente.
Foram pra falar com Maniara, a madrasta
de Benedito.
A vizinhança da aldeia de Inhaminga
onde vive Maniara e seu povo.
“Havia ali tão pouca terra que a
qualquer lagoa se dava o nome de mar.”
Ela exemplifica a vida de uma mãe na aldeia dela e os conflitos e riscos
para os filhos.
“Transitava de um filho morto para um
outro que ia morrer”. Maniara
fala. “Com esta mão abro a luz; com
esta outra, fecho o escuro”. O filho
Benedito explicou: - “Minha mãe está a
dizer que tem dois serviços: é parteira
de dia e enterradeira à noite”.
O jornalista reparte o lanche com
Benedito que estranha o gesto do patrão.
Depois vai lavar os pratos e Benedito, de novo, fica indignado.
O jornalista avisa... “hoje o teu serviço vai ser o de contares a
história da sua mãe”.
A mãe biológica de Benedito morreu ao
pisar numa mina explosiva. Daí ele ficou
com a mãe adotiva, Maniara, com quem no passado o pai dele teve um caso. Desse caso, nasceu um filho que já em
seguida morreu. Na casa de Maniara, o
jornalista se reencontra com Sandro e este estava vestido de mulher e fazendo trejeitos
femininos.
Depois de breve conversa entre ambos, o
jornalista resolve voltar para casa.
Vai dizer à esposa que Sandro se juntou à guerrilha da Frelimo Frente
Nacional de Libertação de Moçambique.
Capítulo 15 – Uma chaga na pele do
tempo - Beira, março de 2019
Visitam a casa da cabeleireira Soraya
em busca de pistas da mãe de Liana. Ela
vendo na TV a fala de um bispo protestante brasileiro. Desliga a TV para falar com as visitas. Diz que aprende português brasileiro com os
pregadores e as novelas do Brasil.
Soraya se gabando do corpo que ela
julga em dia. O segredo seria nunca
beijar na boca os fregueses como as outras fazem. E acrescenta o resultado negativo nas que
beijam: “Havia de as ver, andam com o
corpo pendurado no pescoço”.
Liana diz a Soraya que é filha de
Almalinda, amiga e colega de prostituição de Soraya. Do baú, Soraya tira um vestido que foi de
Almalinda no tempo das danças na boate.
Almalinda quando bebê foi enviada para
um orfanato em Moçambique depois que a mãe dela morreu em um manicômio. Em seguida foi enviada para Lisboa. Aos 15 anos, ela resolveu voltar para
Moçambique para morar com o pai. Ela era
linda. O pai não teve os cuidados
paternos com ela, apesar de lhe pagar os estudos. Era linda e de pele escura e cabelos
encaracolados.
Voltou depois do afogamento para o orfanato
em Lisboa. Ao completar 18 anos, os
enfermeiros do orfanato tocaram nela e lá havia uma prática de uma vez por mês
uns homens virem escolher as “mulheres de aparência” e levavam sem volta, não
se sabia para onde. Voltou mais uma
vez para Moçambique depois de ter uma filha em Portugal e de fazer
Secretariado.
Continua no capítulo 09/10