PARTE II RESENHA DE PALESTRA – SEMINÁRIO INTERNACIONAL
SOBRE AGROTÓXICOS – CURITIBA – PARANÁ
(BRASIL)
Tema:
Efeito dos Agrotóxicos à Saúde e
ao Meio Ambiente
Palestrante: Dr. WANDERLEI PIGNATI –
Médico – Doutorado pela Fiocruz – RJ e Professor da UFMT -
15-03-2018
O nome da palestra dele: Saúde e Ambiente – Pesquisas e Efeitos dos
Agrotóxicos
Anotações pelo Eng.Agr. Orlando Lisboa de
Almeida – Curitiba – PR
As nascentes do Rio Paraguai ficam no Mato
Grosso em região de vastas monoculturas de soja transgênica.
Havia em certo lugar na região de nascentes
sete lagoas que após ação humana se resumem agora a quatro. As demais foram assoreadas e hoje estão sendo
ocupadas também por soja.
Falou que no passado havia uma pressão
para instalar usinas de açúcar e álcool perto do pantanal e em regiões da
Amazonia e a pesquisadora da Embrapa de então, Debora Calheiros fez laudo que
contra indicava a cultura de cana no entorno do Pantanal. O chefe dela engavetou o laudo e ela não se
conformou, levou o caso para o Ministério Público, este que barrou as usinas de se instalarem por lá. Ela foi demitida da Embrapa por isso e
depois de um processo, conseguiu a reintegração no cargo. Atualmente ela faz parte da equipe da
Universidade Federal do Mato Grosso.
Agora o senador Blairo Maggi disse que é questão de honra e item da
campanha dele, de derrubar essa proibição das usinas no entorno do
Pantanal. Uma ameaça ambiental.
Disse que a cidade de Sorriso-MT que é
considerada a capital da soja por ter a maior área de soja num só
município, teria esse nome porque se
plantava muito arroz por lá. Era Só
Rizo, arroz. Hoje, arroz só no mercado
local. É soja e soja transgênica.
Alertou que a água está virando commodity,
mercadoria, o que é uma ameaça à cidadania.
O governo federal está articulando mudança na lei de exploração mineral
(o sub solo é da união e ela dá direito de lavra a terceiros) e aí se inclui a
água e os aquíferos. Ameaça de
privatização e grandes corporações estão interessadas, como Nestlé, Coca Cola,
etc.
Para complicar ainda mais, na nova lei de exploração mineral querem
incluir até terras indígenas, permitindo exploração mineral no sub solo delas,
o que é um absurdo.
Ele disse como médico que nós deveríamos estar
fazendo vigilância à saúde (cuidando inclusive da prevenção) e na prática
estamos fazendo vigilância à doença.
Disse que a empresa Nortox, grande
fabricante de herbicidas, mudou de Arapongas-PR para Rondonópolis-MT. O povo de lá está descontente com o risco
ambiental. E ironicamente conta que
não se seguiram os protocolos todos do ramo para a instalação ao lado da
cidade, na rodovia em frente a uma fábrica de cerveja (Itaipava) que está lá há
60 anos. Duas atividades incompatíveis
quase no mesmo lugar. Risco em dobro.
Por lá tem muito gado, abatedouros e
curtumes que usam no processo, muitos metais pesados que causam altos riscos ao
meio ambiente.
Destacou que houve recentemente aqui em
Curitiba uma vistoria do pessoal da área da Saúde a uma única fábrica de
agrotóxicos e nessa mesma inspeção houve 22 autuações diversas. Risco aos empregados, etc.
Aumentando demandas trabalhistas por
contaminação dos trabalhadores por agrotóxicos e outros produtos químicos.
Em toda a cadeia produtiva do agronegócio
há riscos ambientais. Desmatamento,
erosão, queimadas, agrotóxicos, acidentes, etc.
Ele tem e mostrou dados de contaminação
com resíduos de agrotóxicos no sangue de pessoas da região agrícola do MT. Inclusive indígenas de reservas estão com
contaminação.
Destacou que produtos primários do BR para
exportação não pagam impostos, incluindo o não pagamento de ICMS. Empresas e pessoas poucas enriquecem, o
meio ambiente e os trabalhadores sofrem e pouco sobra para as comunidades
agropecuárias além do dano ambiental.
A lei Kandir há anos isenta inclusive os
agrotóxicos de impostos e então fica para as comunidades só o ônus da
produção. Se houvesse impostos, estes
poderiam ser usados na defesa da saúde, do meio ambiente, das condições de
trabalho das pessoas.
Citou o caso do município de Querência-MT
que é adjacente à maior reserva indígena do Brasil. Xingu.
Por lá se usa a média de 17,7 litros de agrotóxicos por hectare de soja
por ano, além da soja ser transgênica.
Na gestão do Blairo Maggi como governador
do MT mudou a lei que preconizava o recuo da área de lavoura que não poderia
ser pulverizada no entorno da zona urbana.
Eram 300 m e passou para os atuais 90 metros. Insuficiente.
Citou o caso do Fipromil, um produto que
estava matando abelhas na região e que foi proibido. Houve pressão dos agropecuaristas e
voltaram atrás e o mesmo foi liberado de novo.
Houve caso até de falsificação de
homologação de agrotóxico que é potencialmente cancerígeno e foi liberado para
uso no MT. Há casos em investigação na
PF Polícia Federal.
Ele disse que a mudança da lei trabalhista
veio deixar ainda mais vulnerável o trabalhador rural.
Em Campo Verde-MT que é uma região de
muita soja, havia 12 revendas (e estocagem) de agrotóxicos na cidade e estavam
poluindo e pondo em risco a população.
O ministério público chamou as empresas e disso resultou um TAC Termo de
Ajuste de Conduta pelo qual elas mudariam para fora da cidade. As empresas compraram um terreno fora da
zona urbana e lá edificaram suas instalações.
Mas antes, as empresas trucaram o MP e queriam provas de que estavam
poluindo. Pesquisadores coletaram
amostra de solo nas revendas (pátio), a 100 m, 200 m, etc. e em todos os locais deu resíduo inclusive
em área onde há moradia de vereador, delegacia de polícia dentre outros. Daí convenceu as revendas a mudarem.
Disse que o “fumacê” para combate à dengue
tem sido feito com uso de Malation a 30% de concentração. É um produto pra lá de complicado.
Ele como médico diz que gosta de estudar a
água, até porque nosso corpo é 70% água.
Lembrou que não tem água nova no planeta.
Na UE União Européia a tolerância de
resíduo de glifosato na água é na casa de 0,5 micrograma por mililitro de
água. Aqui no Brasil é 500
microgramas. Tolerância mil vezes
maior.
Tomando por base em dados disponíveis, diz
que hoje o maior problema da água no
Brasil não é mais a questão de coliformes fecais na água de beber. O maior problema são os resíduos de
produtos químicos.
Disse que no PR com seus 399 municípios, dos
quais há relatório periódico de monitoramento de água potável, em 43 destes as
análises mostraram água fora do padrão e o documento publicado cita apenas os
que estão fora do padrão, mas não mostra dos que estão dentro, quais os índices
de poluentes, que sempre há. Os dados
deveriam ser acessíveis mas não são.
Mostrou uma foto denúncia de 2012 tirada
por um belga e que foi mostrada na Europa e causou indignação. Avião agrícola passando agrotóxicos em
lavouras de soja e jogando produto inclusive em cima de aldeias indígenas Xavantes
no Xingu. Lastimável.
Ele participa do Conselho de Saúde e como
tal já participou em Brasilia de vários eventos inclusive no Senado. Disse que uma vez ao apresentar o problema
de contaminação do Rio Paraguai e que o mesmo vai afetar os países vizinhos, um
senador teria dito algo tipo: Azar
deles! Assim a gente dá um chega pra lá
neles.
A decepção foi tanta que ele diz que envia
outro representante para Brasilia porque não tem mais estômago para aguentar
esse tipo de comportamento não cidadão.
Resumiu a coisa assim: Aquilo lá é um circo! – se referindo ao
Congresso Nacional. Muito triste.
Disse que no Paraná há casos notificados
de má formação fetal humana na casa dos 30/ 1.000 e há correlação com as
regiões de soja onde se usa agrotóxicos em escala e produtos transgênicos.
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