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domingo, 13 de setembro de 2020

CAP. 3/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 

CAPITULO 3/10

         Página 50 -  No rodapé da página, cita o conde de Cunha que no passado descreveu casas de caipiras do interior paulista.

         52 – A cidade de Campinas já se chamou São Carlos.

         52 – Narra que Saint-Hilaire melhor descreve o povo que conheceu em suas andanças pelo interior.   ...”apresenta o paulista rústico – o caipira – um quadro pouco ameno.   Acha-o primitivo e brutal, macambuzio e desprovido de civilidade, em comparação com o mineiro”.    Paulista – mistura de branco com índio então.  O viajante citado constatou que em Minas Gerais a mistura era de branco com negro e estes mestiços, mais sociáveis.   O autor deste livro pondera que o paulista e o trato de lavoura meio nômade tinha “ambiente” para ser o que é.   Já o mineiro nas minas de ouro tinha mais contato com o meio urbano e por isso, mais facilidade de se relacionar com os estranhos que passassem pela região deles.

         53 – Ainda o viajante citado, dizendo do caboclo:   “Era coisa feia de  ver”.

         53 – Cita o termo capuava.    E diz que o caboclo parecia “criação”, comparando-o com animais.

         55 – Cita a descrição de um geógrafo explicando o dano das queimadas para o solo, empobrecendo-o e trazendo mais pobreza para o povo.    Queimada – perda de matéria orgânica, etc.

         57 – A capela como lugar de convergência do povo da zona rural.

         Costume de matar porco e dar pedaços para os vizinhos e esperar a roda girar e receber de volta um pedaço de carne quando algum vizinho agraciado matasse um porco também.

         Sobre isso, lembrar que o povo na época nem se pensava em ter geladeira e não dava para ficar estocando carne.   Nessa condição, essa cooperação entre os vizinhos tinha um lado prático interessante para todos.

         59 – Alimentação e Recursos Alimentares

         Cita um autor do passado que fala do Brasil remoto e a base alimentar – mandioca, algum feijão e arroz.

         O arroz some por longo tempo do cardápio do povo do povo comum, só tendo acesso a este os abastados.    O arroz é de origem asiática e antigamente era em maioria importado e caro.

         Por isso as bandeiras eram obrigadas a levar para semeadura no caminho, milho, feijão e mudas (ramas) de mandioca.    Isto para garantir a sobrevivência dos desbravadores.   Abóbora também entrava no pacote.

         61 – Mesmo nas cidades, carne, só algumas vezes por ano ou em dia de festa.

         62 – Caminhos das minas.   Levavam sementes de milho, abóbora e feijão e, quando muito, algumas batatas doces.

         63 – Consta que o arroz asiático entrou no Brasil desde logo a seguir a colonização, mas era em escala bem reduzida.   Quem generalizou a cultura internamente foi o Marques de Pombal, isto no século XVIII.

         66 – Desde o século XVI, a couve, a chicória e a serralha já entrava no cardápio do povo brasileiro.   Esta última, planta nativa daqui.

         Temperos – sal, gordura de porco e pimenta.

         67 – O leite era um luxo para poucos, pois dependia de haver espaço para ter vacas de leite e quem não tinha a terra e era apenas parceiro, geralmente não tinha capital para ter os animais nem espaço para pastagem.

         O açúcar o pessoal dava um jeito de ter cana e fazer açúcar mascavo artesanal para o gasto e também melado.    Quando havia pó de café, muitas vezes era adoçado com garapa de cana.

         O aguardente de cana era bem disseminado entre os caipiras e não raro as mulheres também tomarem a bebida.   (um dos produtos que tem mais apelidos – cachaça, marvada, matar o bicho, etc.

         Em Jandaia do Sul – PR conheci um alambique de um carioca e a cachaça dele tem o nome bem criativo de Companheira.

         67 – A partir do século XIX, se junta o café na dieta do brasileiro.

         O caipira dos anos 50 ainda fazia algo de coleta, caça e pesca para complemento da alimentação.    

         68 – A Jabuticaba era a mais popular das frutas silvestres disponíveis e comumente chamada de fruita.   Outras frutas que poderiam estar acessíveis no meio caipira: maracujá, ariticum (pinha), goiaba, jaracatiá, pitangas e sobretudo, banana.

         Caças – aves – macucos e nhambus.   Animais – paca, cutia, quati, porco-do-mato, capivara.  Nos brejos – saracura, perdiz, codorna, patos do mato, veados, lagartos, tatus.   “Não se come a carne do tatu canastra” (o autor não explica a razão mas eu, leitor, tenho informação de que tatus podem ocorrer em cemitérios e associam o mesmo a comer defuntos)

         69 – Içás torradas, comidas como iguaria no tempo das formigas ficarem aladas e voadoras para reprodução e formação de novos formigueiros.   (já comi quando morava na zona rural na região nos aos 50)

         69 – O teiú  (um tipo de lagarto) na cidade vizinha de Guareí é apreciada e em Bofete-SP é repugnante.   Tem esses detalhes de hábito.

         Macaco, apesar de dizerem que a carne seria saborosa, mas não comem alegando que é “muito parecido com a gente”.

         71 – Os tipos de povoamento.    O pequeno comércio.   Moradores da região procura o comércio quando precisa de sal, religião ou justiça.

         Geralmente tem história o povoado urbano.   Já o caipira na zona rural, sem posses, não tem história.     O autor vai tentar buscar a história dos dispersos, dos caipiras sem voz e vez.

............  continua– capítulo 4/10

CAP 4/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 CAPITULO 4/10

         75 – Sesmaria – Eram no começo do Brasil colonial concessões de grandes áreas de terras para quem se comprometesse em seis meses iniciar o trabalho de lavrar a terra concedida.

         75 – Costume dos sitiantes e fazendeiros que moravam na zona rural e tinham casa de “assistência” na Vila para épocas de festas religiosas ou período de eleições.

         75 – Descreve em 1797 que a Câmara de Atibaia requerendo que seja promovida à categoria de Freguesia para a Vila de Jaguari, atual Bragança Paulista.  No ofício diz que a citada Vila tem no povoado 25 casas e descreve cada família moradora e informa que na área de influência, na zona rural moram 4.400 pessoas.     Pessoas que por costume chamavam a Vila de “capital”.

         77 – Em documento administrativo oficial as divisões do mais simples ao mais complexo:   bairro < Freguesia < Vila.   Vila era sede de Câmara e Paróquia.   Tinha lá o Inspetor que tinha funções de polícia e de cuidar das estradas e caminhos.

         Quando estradas ou caminhos ficavam em estado degradado, o Inspetor convocava a população para realizarem de forma comunitária a restauração de estradas e caminhos em benefício dos mesmos.

         80 – Casa de caipira medindo 5 passos x 6 passos, feita em mutirão para moradia de Nha Maria Crispim.  (tem foto no livro).

         Casa de pau a pique.   Varas roliças em pé, uma ao lado da outra como paredes e cobertura com sapé.   Piso de chão batido.

         As formas de solidariedade

         81 – O mutirão, palavra de origem indiana, muchiron, fazer roça, tecer e fiar algodão, etc.  de forma colaborativa com os vizinhos que prestam o serviço para ajudar o que precisa no momento.       Uma variação seria a “espalhada” – colher milho em grupo e preparar pamonhas, por exemplo.   Eram feitas em grupo e distribuída aos que executaram as tarefas.

         No caso de mutirão de trabalho rural, quem recebe os colaboradores serve as refeições do dia.   No final do dia pode haver uma festa em agradecimento.

         83 – Havia uma variação da cooperação  que poderia ser combinada pelos vizinhos para se reunirem de surpresa para ajudar o que estava “apertado” de serviço.  Que não estava vencendo, por exemplo, capinar toda a roça em tempo adequado.   Nesse caso cada um trazia sua boia de casa e não tinha festividade no final da tarefa.

         O mutirão é um gesto de amizade e já a ajuda é quando a situação de quem foi atendido era por motivo de precariedade.

         84 – Numa roçada – dividir uma quadra em “eitos”  (muito usado o nome na minha terra).   Cada pessoa pegava um eito para realizar o trabalho que poderia ser roçada, capina, colheita, etc.

         86 – Festejos de São Roque.    Fazer a capela e doar um pedaço de terra ao Santo.   Depois esse pedaço de terra é arrendado por algum vizinho e o valor da renda fica para a manutenção da capela. 

         Padroeiro São Roque – comemora-se dia 16 de agosto.     Obrigações nos festejos:

1)    – Festa anual ao padroeiro com uma semana de rezas e leilões, terminando em missa, reza e procissão;

2)    – rezas com leilão de prendas no primeiro e terceiro domingo do mês;

3)    – Missa uma vez por mês pelo Vigário.  

          Organização da festa – Há uma Irmandade de São Roque que cuida da organização anual.

         89 – Reza na casa, trazendo o santo da Capela.   Depois da reza, fandango (ou cateretê – geralmente dançam só homens) com dança.

         O bairro de Bofete que o autor analisou tem a capela do Socorro.  Há também capelas nos bairros do Peão; Capela São José e Capela do Bairro Três Pedras.

         91 – Bofete era dependente da freguesia de Tatui-SP.

         91 – Enterro.  Quando alguém de Bofete morria e podia dar um enterro “de Cristão”, tinha que seguir levando o morto por três dias de caminhada (ao redor de 40 km) em trilha no meio da mata.   Era muito comum a malária por lá na época.

         Bofete já se chamou Samambaia e também Rio Bonito.   O nome bofete viria do tempo dos boiadeiros que ao passar por lá, usavam um abrigo numa gruta de pedra para abrigo e guarda de alimentos.  Era um buffet e daí foi traduzido para o linguajar caipira como Bofete.

         92 – Muitos mineiros vieram para a região para abrir terras.  O autor cita inclusive a cidade mineira de Conquista e a ligação desta por migrantes que se estabeleceram em Ribeirão Claro no PR, próximo a Ourinhos-SP.

         93 – O Caipira e sua cultura.

         94 -  A região de Bofete não tem solos tão bons para agricultura e no fim do século XIX teve café que foi bem em terras novas, mas foi decaindo e também houve crises do café no começo dos anos 1900 e as lavouras grandes, com mão de obra escrava, foram decaindo.   Na época do estudo, década de 1950, as terras estavam fracas, quase já não tinham mais café e se fazia lavouras comumente por parceiros caipiras pobres.

............. continua no capítulo   5/10 

CAP. 5/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Prof.da USP (base 1954)

 

CAPITULO 5/10

     Página 97 – “A cultura do caipira, como a do primitivo, não foi feita para o progresso:  a sua mudança é o seu fim”,...

     101 – Ranchos de pau a pique como morada, feita pelos próprios caipiras.

     102 – Cultivavam em terras que poderiam ser tomadas à força.  Era plantar e cuidar, deixando tempo para a caça, pesca, fazer utensilhos, lazer, rezas e festas.

     “O lazer era parte integrante da cultura caipira”. 

     103 – Na região onde o autor fez o estudo, os caipiras guardavam certos santos (faziam feriado) que oficialmente não eram para ser feriado, mas pela tradição local, eles guardavam.

     Dia de São Paulo, de São Roque, São Lourenço  (contra tempestades e redemoinhos), São Benedito (contra picadas de cobras), São Bartolomeu protetor contra loucura e possessão demoníaca.   Isto além de santos como São João, Santo Antonio e São Pedro.    O 3 de maio, dia da Exaltação da Santa Cruz.

     105 – Capítulo II do livro – A situação presente (1954)

     Bairros Lagoa, São Roque Novo, São Roque Velho e São João, este já em Conchas-SP.

     Lugares onde tem latifúndios:  Bairro Roseira, Morro Grande e Óleo.    Ele estudou o Bairro Roseira.

     Como já foi citado, Bofete antes já foi Samambaia, depois Rio Bonito e finalmente, Bofete por causa de gruta onde tropeiros se abrigavam e guardavam mantimentos na gruta como num buffet e daí surgiu Bofete.    Virou cidade em 1906  (época que ainda tinha bastante cafezal).

     109 – Havia fazendas e rotas de Jesuitas no passado que passavam pela região no rumo de Sorocaba e Paranapanema.

     111 – Até a década de 1910 havia mais café na região, que vinha do tempo dos escravos.   Depois a mão de obra foi substituída pelo trabalho de imigrantes europeus, com foco nos italianos.     Houve abundância de café na região e resultou em crise em 1902.

     114 – Na época do estudo (1947-1954) a região de Bofete-SP já tinha as terras exauridas e houve a expansão da pecuária que tende ao sistema de latifúndios.

     118 – Na época do fracasso do café, muitos agricultores locais migraram rumo ao Paraná e a Sorocaba.

     119 – Em 1948, nenhum fazendeiro de Bofete tinha jeep ou automóvel.   Não se usava adubação para fertilizar as lavouras e nada de máquinas agrícolas, nada de geladeiras em bares, etc.

     Em 1954 na cidade, havia dois automóveis e quatro jipes.

     121 – População rural e parceria agrícola.

     122 – o Cientista Social Caio Prado Junior publicou trabalhos importantes sobre o sistema agrário brasileiro da época.

     Constata-se que os pequenos produtores e arrendatários geralmente estão nas terras mais fracas.

     124 – O Meeiro.  Nesse sistema de parceria, o dono da terra fica com a metade da produção e a outra metade com o Meeiro que planta e cuida da lavoura até a colheita feita.

     Arrendatário – é quando o dono da terra arrenda, tipo um aluguel, da terra para o arrendatário plantar.   Em geral se estipula um custo em dinheiro.    Aqui o risco é todo do arrendatário.    Diferente do meeiro, que o risco da lavoura é suportado meio a meio.

     Quem não tem terra própria, sempre que possível busca ser parceiro, meeiro ou arrendatário porque no caso o agricultor tem parte no negócio e não tem um patrão.  Faz do seu jeito e no seu ritmo, o que dá uma certa liberdade.    Esta que é valorizada inclusive pelos que já tiveram pequenas propriedades e perderam a posse e buscam ficar na atividade de lavoura.

     125 – Os “camaradas” que trabalham ganhando por mês e tem algumas regalias, incluindo casa para moradia na fazenda onde são empregados.

     131 – Os Trabalhos e os Dias

     A Fazenda onde o autor fez os estudos tem ao redor de 700 alqueires ou 1.700 hectares (cada hectare = 10.000 m2).  É uma fazenda grande.  Foi fundada no século XIX e já foi forte na produção de café.   Teve escravos.

     133 – Os banheiros do caipira na zona rural.  Quando tem, é a chamada “casinha” tipo 1 m x 1 m, de tábuas, em cima da fossa e no quintal, um pouco afastada da casa   (e do poço quando este está presente, até para a fossa não contaminar a água do poço).

     A tábua perto da bica de água para servir de batedor de roupas para as mulheres lavarem roupas.  Tábua larga e inclinada até chegar no solo.    Há em vários casos o forno de barro no quintal onde as pessoas assam pão, etc.

 

 

............ próxima – capitulo 6/10

CAP 6/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP - base 1954

 Capítulo 6/10 

     137 – tipos de feijão comuns na época – bico de ouro e mulatinho.   Quanto ao milho, escolhiam milhos mais duros porque eram menos atacados por caruncho, inseto que come o milho.

     Medida comum para sementes de plantio – em litros.   Unidade de medida comum para milho colhido (em palha) – “carros” de milho.

     140 -  À tarde, o caipira lava as mãos, o rosto, os pés e janta...

     Lazer – jogo de malha, caça e pesca.   (caça e pesca também pela necessidade de reforço do rango)

     141 – Mês de outubro – inicia o preparo para plantar a nova safra.     Dia 24-06 comemora Dia de São João e o fim da colheita.     “O encerramento de uma safra é a certeza do que foi e a incerteza do que virá”.

     Poucos meeiros ou parceiros tem arado e a pareia (dois) burros ou cavalos para tração do arado.   Quando alguém precisa, paga 3 dias de serviço braçal por um dia de serviço do vizinho com o arado e a pareia de burros.    

     145 – Arado  com tração animal.  Os três dias de serviço para pagar um dia de serviço com arado, é no dizer do caipira uma diária para cada burro, dois puxando o arado e o que vai pilotando o arado.    Já ouvi isso pessoalmente em lidas como Engenheiro Agrônomo nos tempos passados.

     149 – Capítulo 9 – A Dieta

     Cedo o caipira toma raro o café puro adoçado com garapa de cana ou, mais comum, só a garapa fervida.   Café só para visita.

     Entre 8 e 9 h da manhã, almoço; as 12 h merenda

     90% das refeições – cedo, café ou garapa; almoço – arroz mais feijão mais farinha.   Janta – arroz, feijão e farinha.   Raras misturas como frango, porco ou caça.

     152 – Rezas e o preparo para a festa com cantoria de Cururu.

     ... farinha de trigo, artigo de luxo para o caipira.   1 kg para mais de um mês.   Carne de vaca mais ou menos uma vez por mês.

     153 – Misturas raras e prediletas – pão de trigo e carne de vaca.         Galinhas caipiras tem época do ano que botam mais ovos .  Botam mais de maio a dezembro.

     Uso da couve e menos da alface.   Uso de vegetais nativos como serralha e beldroega.

     Europeus e o costume de comer hortaliças, trouxeram esse costume para o caipira.    O nordestino come menos verduras que o povo do sul e sudeste.

     154 – Uso generalizado da aguardente.    Dia de ir na Vila é mais comum a pessoa tomar um porre.    As mulheres caipiras costumam, várias, também tomar aguardente.

     155 – Raro o acesso ao leite pelos caipiras pobres.   Não tem como comprar, não tem como ter os animais pelo custo destes e por não ter pasto suficiente.

     159 – Obtenção dos alimentos

     161 – Compra na venda – banha, aguardente, café, açúcar, sal, carne, trigo, macarrão, peixe seco.

     162 – Pinhão bravo para fazer sabão.   (na minha terra se chama pinhão paraguaio – planta arbustiva)

     163 – Carne de macaco.   Dizem ser saborosa, mas tem o tabu e justificam:  “é parecido demais com a gente”.

     166 – Depois das rezas, festa com dança e às vezes com cantorias.   Servem comumente café e pão duas vezes.   Servem aguardente para os que dançam e os que cantam.

     Algumas pessoas levam a garrafinha de cachaça num embornal (borná) e escondem perto da casa da festa.  De vez em quando a pessoa dá uma escapadinha para tomar mais um trago.    O dono da festa geralmente não deixa a bebida muito a vontade para evitar que a pessoa fique embriagada e inconveniente.

     167 – Dieta de parto.   Quarenta dias de “resguardo” após o parto, comendo canja de galinha.

     168 – Tabu alimentar.  As frutas se excluem mutuamente.  Comeu durante o dia um tipo, não come outro tipo.

     Valor Nutritivo da Dieta

     175 -  Cita o cará de árvore, o mangarito, marmelo, etc.   Cambuquira (ponta tenra da rama da abóbora).    Arroz com suã de porco.  

     176 – O refresco de marmelo.

     176 -  Na pesquisa sentiu falta da nutricionista, do Engenheiro Agrônomo, etc.

     178 -  Arroz integral não brunido.   O caipira em geral descasca o arroz socando no pilão e assim o arroz fica com a pele parda rica em proteína e é o arroz integral, mais rico em termos nutricionais.     Já o arroz “branco” é da indústria que descasca o produto e passa pelo brunidor que por abrasão retira a pele e o arroz fica branco, quase só amido e quase nada de proteína.

     181 – A vida do caipira se resume numa batalha constante para não passar fome. 

          Continua no capítulo 7/10   

CAP. 7/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP - base 1954

 Capítulo 7 /10...

     Página 181 – O caipira de então comumente usava cueca feita de pano de saco de açúcar, desses de 60 kg.      (me lembro que muitos compravam açúcar em saco de 60 kg para consumo doméstico e vinha com uma faixinha verde-amarela e o detalhe:  Peso bruto = 60 kg e até essa legenda poderia aparecer numa cueca) – se bem que o reuso está na moda de ajudar a salvar o planeta!

     III – Análise de Mudança

     185 – Capítulo 12 – Relações de Trabalho e Comércio

     198 – “Namoro”.    Comumente eram os pais que escolhiam os noivos.     O autor registrou uma conversa pitoresca entre duas moças caipiras:

     “A Didi, perguntada pela Helena, se tinha namorado, respondeu afirmativamente.   – Namoro o  Nardo do Nho Quim.  – E já falou com ele?    -  Não!!!

     Como namora então?

     Com os óio”.     (flagrante de 21-01-1954)

     13 – Ajuste Ecológico

     205 – A figura do mascate, vendedor de roupas e bugigangas ambulante que no lombo de um animal ou numa carrocinha tração animal visitava a zona rural “mascateando”.    

     (na minha terra nos anos 50 era popular o “turco da égua branca” como era conhecido)

     As vendas da Vila vendiam um pouco de tudo.   Secos e molhados, armarinhos, cortes de tecido (cortes de fazenda), ferragens e pequenos implementos agrícolas.

     205 – O bairro que o autor pesquisou mais de perto foi a Roseira em Bofete-SP.

     Sírios geralmente começavam como mascates, depois com venda, depois loja.

     206 – Nesta página, uma foto da capela de São Roque Novo.

     207 – Item 14 – Técnicas – Usos e Crenças

     211 – Benzedeiras e benzedores.  Havia outra categoria, a dos curadores (com remédios caseiros).     As quatro instâncias de busca de cura, não sempre acessadas nesta ordem e muitas vezes, simultâneas.     Benzedeira / curadores / farmacêutico da vila / o médico da cidade.

     O médico era disponível mais comumente em Conchas e Botucatu – SP.

     213 – As festas foram se acabando.    Dança de São Gonçalo, fandango e samba.   Depois veio a dança de baile onde se dança em “par entrelaçado” conforme registra o autor.

     O fandango é o cateretê, o bate-pé.    A principal dança dos caipiras, geralmente só dançada pelos homens.

     215 – Item 15 – Posição e Relações Sociais

     217 – Terras “velhas”.   Terras esgotadas pela falta de fertilidade natural, pelo uso sem repor fertilizantes e por não se cuidar adequadamente do solo, que sofre também com fogo e erosão.

     O autor coloca as terras locais na categoria descrita por Drouyn de Lhuys – sobre a parceria:   “é a associação, sobre um solo pobre, do trabalho lento e do capital tímido”.

     218 – O sistema de parceria e de arrendamento é menos ruim do que o latifúndio puro e simples.

     219 – O parceiro vê como perda de dignidade o sistema de trabalho dos camaradas, sujeitos ao toque do sino da fazenda (remanescente da escravatura).

     221 – Quase na totalidade os parceiros já foram proprietários, mas em outras fases, principalmente a do café, se concentrou a posse da terra e muitos perderam a condição de proprietário.

     222 – Um “terno” de pessoas.   Um grupinho para realizar um serviço.

     225 – Item 16 – Representações Mentais

     226 – Um tipo de “utopia” invertida.   Sonhar com o passado que teria sido melhor (e foi, no caso específico em que antes era terra nova, com matéria orgânica, produtiva e que teve a riqueza do café)

     Tópicos que o autor busca inclusive na comunidade em estudo, nas lembranças dos parceiros:  Abundância, solidariedade e sabedoria.

     226 – “No passado...  ninguém trabalhava alugado.  Para isso existiam os cativos”.    Era tempo das posses de terra.

     “Esta valorização do passado é constante”.   Terra virgem e abundante – gerava fartura.     O autor destaca que na vida real do passado, havia mais mortes e violência, mas no imaginário do povo as coisas se distorcem.

     227 – Muitos optam por lugares “novos” como o Paraná e mesmo o Mato Grosso e outros encaram a cidade.  (1954)

 

............... continua no capítulo 8/10 

CAP. 8/10 - FICHAMENTO - LIVRO - OS PARCEIROS DO RIO BONITO - Autor: Antonio Candido - Professor da USP (base 1954)

 CAPÍTULO 8/10

     228 – O desejo de comer carnes, banquete... até nas cantigas de cururu aparecem esses desejos.

     Item 17 – As formas de Persistência

     232 – Contatos com outras culturas, ex. caipira e os da cidade.

     Consequências variadas – envolvem Esquisitamento, desorganização e aculturação.   A aculturação é mais o caso, digamos, de americanos que povoam o Hawai, onde as culturas são muito díspares e envolvem inclusive miscigenação.

     235 – No curso da vida o parceiro muda/mora em quatro ou cinco bairros e no dobro desse número de fazendas em média.

     Tudo mais comumente numa própria região.

     243 – Convocado da comunidade para cantorias e o cururu.

     247 – O caipira em face da Civilização Urbana

     249 – Na zona rural, o poder estava em “equilíbrio” com os demais iguais.   Na cidade se sente um desajustado, desaquinhoado...   O poder aquisitivo não acompanha o aumento das necessidades.  Pagar água, aluguel de casa, luz, etc.

     250 – O caipira indo morar na cidade, se não assimilar-se, ao menos acomodar-se.  (conheço um ditado do gaúcho que chama seu torrão de “pago” e diz:   “eu fora do pago, me acalmo mas não me amanso”)

     255 – As cidades – sua cultura vai se impondo como cultura dominante, ditando técnicas, padrões, valores.

     257 – O sociólogo descreveu o problema e coloca a necessidade do político entrar em cena para dar encaminhamentos frente à situação de desalento dos pequenos da roça.

     RA Reforma Agrária.   Fala em RA como uma das saídas.

     265 -  Expressão caipira.     ...”cismou de casar com ela”.

     265 -  O autor pega alguns depoimentos do cantador de Cururu famoso na região, Sebastião Roque.    (por sinal, eu no tempo de criança, década de 50, ouvia ele cantando cururu na emissora de rádio de Piracicaba junto com os demais)

     267 – Casamentos eram geralmente arranjados.   Era bem comum se casar com parentes.   A moça dificilmente se casava com alguém que o pai não aprovava.  Usava-se a expressão de que teria que haver a benção do pai para aprovar o casamento.

     Nesse contexto, havia eventualmente a fuga dos apaixonados.  Uma das razões ela escapar desse jugo do pai e também das despesas da festa.

     A cor da pela poderia ser empecilho para a família aceitar a pessoa que pretendia casar com a filha.   Falava-se de repulsa à pele “tisnada”.     A resistência era menor quando ela era mais de pele tisnada do que o noivo.    No caso a iniciativa de aceitar a oferta era do noivo branco.

     267 – Mais um depoimento sobre o modo de pensar e de viver do caipira da região, pelo cururueiro Sebastião Roque.

     270 – Provas para candidatos a noivos, impostas pelo pai da noiva.    Nas conversas do povo havia uma série de provas, mas ficavam mais no imaginário popular e não se aplicavam de fato. Mas tinham a ver com disposição, agilidade, conhecimento das lidas de lavoura e criações, etc.

     Nessa do imaginário popular, o autor cita o escritor francês Gabriel Germain em sua obra de 1945 denominada A Odisseia, o Fantástico e o Sagrado.   “A noite dos tempos cai depressa nos povos sem escrita”.

 

........... continua no capítulo 9 de 10.    

CAPÍTULO 9/10 – FICHAMENTO – LIVRO OS PARCEIROS DO RIO BONITO - autor: Antonio Candido (Professor da USP)

 

   Local e anos da pesquisa - Tese de Doutorado do autor:  Bofete-SP, anos 1947 a 1954

     Página 271 – Naqueles tempos o caipira regional não se namorava; depois era noivar no máximo um ano e casar.

     Nesse tempo os caipiras tinham birra com os italianos que namoravam até quatro ou cinco anos antes de casar...

     Idade mais comum para as moças se casarem era dos 15 aos 16 anos.   Idades extremas, dos 13 aos 20.

     Idade do noivo – Média dos 18 aos 22 anos.  Depois dos 30 era difícil arranjar casamento.

     272 – Nho Bicudo, o capelão sexagenário está na quarta esposa.  

     273 -  No depoimento.   Ele mais jovem do que ela, foi ficando “enleado” depois não teve como escapar do casamento.

     274 – Cururu – só cita a cantoria mais uma vez.

     275 – O recém nascido e o “mal dos sete dias”, amarelo, icterícia.   Não deixavam nesses dias o bebê ver a luz do sol.

     Quando o bebê era menina, furavam a orelha logo após o nascimento e colocavam brincos de ouro.

     277 – Nomes -  comumente nomes de santos. A Padroeira de Bofete-SP é Nossa Senhora da Conceição.

     Capela de São Roque – o santo de mais antiga devoção do povoado.

     Menino – dentro do nome, era comum colocar algo do nome do pai ou de um antepassado.    (eu, leitor, tenho o nome de um tio)

     Normalmente os nomes tinham sobrenome paterno mas se a família da mãe fosse mais de destaque na região, poderia ter o sobrenome da mãe eventualmente.

     283 – Batizado logo aos 15 a 20 dias após o nascimento do bebê.    Os pais geralmente não iam à Vila para o batizado.  Os padrinhos seguiam o rito de “levar” e “trazer” a criança.     Comum a mulher ficar de dieta por quarenta dias no “resguardo” e na base de comida de canja de galinha.     Para o pai, traziam aguardente pra ele beber e comemorar.

     285 – o “pareio” roupa de passeio, terno de roupa.

     Costume do afilhado ter que dar “louvado” aos pais e padrinhos.  O louvado é a forma abreviada de Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.    O outro responde com “louvado” também no sentido de Para Sempre Seja Louvado.

     285 – Varas de surrar a criança, quando estas “reinavam”.  Embirravam.   Comumente os castigos eram severos e poderiam às vezes serem com relhos, varas ou correias.   As moças apanhavam até o matrimônio.   O garoto, até começar a trabalhar na roça em torno dos 13 a 14 anos.     Isto quando já tinha força física para o trabalho, para “pegar no eito” junto com os adultos, o que era um rito de passagem.  Parava de apanhar e já podia ir até a Vila e também tomar uma cachacinha e procurar noiva...

     Uma regra usual até então.   Deflorou a moça, tem que casar.

     Os termos usuais pelos filhos era pai e mãe.  Nada de papai e mamãe.

     288 -  Coito com animais.   Prática que vem de longe, inclusive de civilizações milenares.   Estatuas de seres híbridos entre humanos e animais poderiam inclusive indicar a prática ao longo dos tempos.

     290 -  No Brasil, Gilberto Freyre faz referência ao erotismo zoofílico.   A expressão popular do “encostar no barranco”.

     293 – Lobisomem, crença popular inclusive na região teria ligação com o incesto que eventualmente ocorria por lá.   

 

          Continua ainda hoje, domingo, capítulo final 10/10