CAP. 01/08
Eu descobri
os livros do moçambicano Mia Couto através de uma das filhas que são tão
leitoras quanto eu. Tenho seguido
muitas dicas de leituras delas. Fora
os livros que me dão de presente dentro do meu perfil.
O Mia
Couto é médico, biólogo, poeta e escritor premiado. Trabalha inclusive com Auditoria de Impacto
Ambiental. É nascido em 1955.
O livro
é composto por vinte e nove contos concisos e ele gosta de trabalhar as
palavras com um jeito todo especial que veremos. É o terceiro livro dele que li. Gostei de todos.
No
português do Brasil a miçanga é grafada de outra forma. Livro de 150 páginas
Como
cito número de páginas, informo que li a 7ª reimpressão da primeira edição da
Companhia das Letras, de 2009.
Na
orelha da capa do livro: “A vida é um
colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as
missangas”
O autor
se declara fã da arte da escrita de Guimarães Rosa, um monumento na literatura
brasileira.
Suas
personagens: ...”dando voz e tessitura
a almas condenadas à não-existência, ao esquecimento”.
Um dos
destaques da sua obra é o livro Terra Sonâmbula.
Conto –
As três filhas. ...”as irmãs nem
deram conta de seu crescer: virgens, sem amores nem paixões. Cada uma feita para socorro: saudade, frio e
fome.”
As
três: uma rima, outra das receitas e a
terceira, bordadeira. A mais nova,
bordadeira. “Lhe doía se lhe dissessem
ser bonita”.
Bordava
aves, mas recurvada, nunca olhava o céu.
... sobre o pano pingavam cristalinas tristezas.
Chorava
a morte da mãe? Não. Evelina chorava a sua própria morte. “Três por todas e todas por nenhum”.
Aparece
um jovem e as filhas se encantam e se arrumam.
O pai ficou de olho. “Cortar o
mal e a raiz”. O velho pai agarra o
moço pelo pescoço. “E os dois se
beijam, terna e eternamente”.
Há
muitos sóis. Dias é que só há um. Rosaldo e o visitante, esse foi o dia. O derradeiro.
Conto: O Homem Cadente
Alguém
cai ou salta do prédio. “Que tropeço
derrubara sua vida?”.
O rapaz
caindo lentamente. “Fosse um político,
com o peso da consciência, desfechava logo de focinho”.
A
namorada chorando vendo ele caindo. “A
moça não tinha outra explicação senão a lágrima”.
“Onde
nada se passa, tudo pode acontecer”.
Zuzé caindo... formou-se
comércio no meio dos curiosos. O
policial graduado, no alto falante. –
Desça em nome da lei. Era um sonho.
No outro
dia foi lá no local para conferir. Tudo
na de sempre. E mais a praça bem
terrestre, desumanamente humana.
Conto: O cesto
Marido
há tempos no hospital. Ela já passada
de tantos sofrimentos. “Tínhamos não
camas separadas, mas somos apartados”.
No
hospital: “lhe falarei, junto ao leito,
mas ele não me escutará. Não será essa a
diferença. Ele nunca me escutou”.
Ele
moribundo. “Agora, pelo menos, já não
sou mais corrigida. Já não recebo mais
enxovalho, ordem de calar, de abafar o riso.
Continua,
um a cada dia, oito ao todo. Próximo
02/08