capítulo 14/20
O irmão dele chamado de
frei Chico é pelo tipo da careca dele que ganhou o apelido.
Lula praticamente não
conviveu com os avós e ao contrário de muitos nordestinos de sua época, dois
dos avós dele chegaram aos oitenta de idade.
O pai de Lula era
trabalhador, mas arranjou outra família quando dona Lindu estava grávida de
Lula. Ele pegou um pau de arara
(caminhão com teto de lona na carroceria)
e partiu para São Paulo com a nova companheira, que era prima da esposa
dele, uma moça de 16 anos, com quem veio a ter três filhos.
Dona Lindu teve que lutar
muito para criar os filhos. O pai dele,
depois de dar no pé com a outra companheira, ainda voltou para casa e teve mais
um filho com a mãe de Lula.
Dona Lindu ficou com o
sítio de dez alqueires da família no Pernambuco. Quando decidiu vir para o sul, vendeu o
sítio (em moeda corrigida para 2021, por 18,6 mil reais). Viagem de pau de arara (nos bancos de tábua
na carroceria do caminhão coberta com lona) por 13 dias e 13 noites para chegar
em Santos-SP. Lula morou em Vicente
de Carvalho-SP no litoral paulista. O
pai dele foi estivador no Porto de Santos.
Geralmente carregar e descarregar sacaria de café no porto. Ele era vaidoso e ia e voltava do trabalho
de terno e gravata. Era
analfabeto. Para disfarçar, andava
sempre com um pedaço de jornal debaixo do braço para impressionar os outros.
Ele conseguia a proeza de
carregar numa só vez 3 sacas de 60 kg de café, uma em cada ombro e uma na
cabeça. Era violento e ao menos era
trabalhador e não deixava faltar alimentos aos filhos nas duas famílias.
Regras ditatoriais dele
aos filhos. Filha não podia estudar,
namorar, nem dançar. Ninguém podia
fumar.
Na página 209 tem foto de
Lula menino com quatro anos.
Moraram em São Paulo, no
Ipiranga, num cortiço no fundo de um bar com um só banheiro para os clientes do
bar e para os moradores do cortiço.
Lula nascido em 1945,
passou todo o ano de 1959 (aos 14) com três peças de roupa: as calças marrons, uma camisa branca e um
calção como cueca.
Estudava, trabalhava e nas
poucas horas de folga, jogava futebol com os colegas operários.
Ele era uma liderança no
futebol pela redondeza e encarava as rixas e tretas do futebol. Socos e pontapés não eram raros.
Nos fins de semana,
engraxava sapatos para reforçar o orçamento.
TV era coisa rara na juventude de Lula.
Ele só comprou uma TV nos anos 70, já casado. Os sonhos de consumo mais simples: maçã
argentina naquela embalagem de papel azul e os chicletes de bola Ping Pong.
Aos 15 anos ele conseguiu
o primeiro emprego com carteira assinada no Armazém Colúmbia na função de
office boy. Entrou depois na
metalúrgica Parafusos Marte. Já
registrado e ganhando salário como aprendiz de torneiro mecânico.
O macacão de trabalho já
dava a ele algum status na redondeza.
No intervalo de almoço no emprego, uma hora, comiam e depois batiam bola
no pátio da empresa até a hora do retorno ao trabalho.
Os aprendizes de destaque
da empresa tinham a chance de uma vaga para curso na Escola do SENAI Serviço
Nacional de Aprendizado Industrial. No
caso dele, havia três opções de curso e ele optou por Torneiro Mecânico. Curso
de três anos em meio expediente e outro meio expediente era na fábrica onde
trabalhava. Dos três anos de SENAI,
dois foram numa unidade bem perto de onde atualmente há o Instituto Lula. O terceiro ano foi em outra unidade da mesma
instituição.
Quando Lula estava próximo
de assumir a presidência da república, recorda dos tempos de SENAI. “Foi o paraíso! O SENAI foi a melhor coisa que aconteceu na
minha vida. Por quê? Porque aí, eu fui o primeiro filho da minha
mãe a ter uma profissão, o primeiro a ganhar mais que um salário mínimo, o
primeiro a ter uma casa, o primeiro a ter carro, o primeiro a ter uma TV, o
primeiro a ter uma geladeira”.
Escola excelente,
inclusive com refeições e lanches diários.
A escola também proporcionava práticas de esportes. “Então era uma coisa grã-fina pra mim”. ...”passou a ser motivo de orgulho por
toda a vida”.
Continua no
capítulo 15/20