CAP. 03/08 abril de 2021
“Sempre
fiquei entre o meio e a metade”. Maria
Metade. “Mas não me coube a metade de
um homem”.
O nome dele: Seis.
Seis empregos todos perdidos; seis amantes, todas atuais.
Ficou grávida, fez
aborto. “Sendo metade, sofria pelo
dobro”.
Ela presa, contando sua
história ao escritor. “A verdade é luxo
de rico. Eu aviso: minto até a Deus. Afinal, Deus me trata como meu marido: um nunca
me olha, o Outro nunca me vê”.
Ela apunhalou o
marido. “Na prisão, saio pelo pé do
meu pensamento”. Quando criança, entrava na matinê mas não podia entrar no
cinema à noite.
“Eu tinha a raça errada,
a idade errada, a vida errada”.
Conselho de mãe: - Sonhe com
cuidado, Mariazita. Não esqueça, você é
pobre. E um pobre não sonha tudo, nem
sonha depressa.
Em criança ficava na
calçada em frente ao cinema vendo a alegria das outras. Em pensamento... “volto onde eu não amei,
mas sonhei ser amada”.
“A cidade se foi
assemelhando a todas as outras. Nessa
parecença, o meu lugar foi falecendo.
Nessa morte foi levada minha lembrança de mim”.
“A única memória que me
resta: a migalha de um tempo, o único tempo que me deu sonhos”.
Matou o marido
bêbado. Já não tão vivo. “Por agora, prossigo metade, meio culpada,
meio desculpada”.
Conto – Na tal noite
A mãe, dois filhos, se
prepara com banho de loja para a visita de Natal do marido que trabalha no
exterior e vem de carro no Natal e traz presentes. “O marido senta-se à mesa, refastelado, dono. Cada vez que ele vem, ele usa mais correntes
e cordões. Para que Mariazinha não
pense que ele foi cavalo e não foi burro”.
Ele dez meses sem mandar
mesada a ela. Sabe que ela recebe ajuda
do vizinho Alves. Ele parte logo, o
filho avisa que o Alves está chegando...
ela manda o filho ir brincar no quintal para receber o Alves.
Página 51 - A despedideira
Há muito tempo, me casei,
também eu. Dispensei uma vida com esse
alguém. A magia do encontro.
“Vez e voz, os olhos e os
olhares. Ele, na minha frente, todo
chegado como se a sua única viagem tivesse sido para a minha vida”.
Um dia ele avisa: “Que a paixão dele desbrilhara”. “Ele se chegou e me beijou a testa. Como se faz a um filho, um beijo longe da
boca”.
“Recordar tudo, de uma só
vez, me dá sofrimento. Por isso, vou
lembrando aos poucos”. ... paixão. “Como a lua: o que brilho é por luz de
outro.”
“Toda a vida acreditei:
amor é os dois se duplicarem em um”.
55 – Conto – Maria
Celulina, a Esferográvida
Lá em Moçambique o
para-raios é chamado de apara-raios.
Continua no capítulo 04/08 (um por dia)