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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

CAP. 08/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano MIA COUTO

 capítulo 08/10

  

         Os domesticadores de milagres   - cidade de Buzi, março de 2019

         Estão na vila do Buzi à margem do rio do mesmo nome.

         Na época da tentativa de suicídio da mãe de Liana, o pai de Almalinda (Ermelinda) ficou sabendo que ela foi salva por um pescador no distante rio Buzi e foi lá rever a filha.   Ela logo o acusou pela tentativa de suicídio e pelo suicídio do noivo dela (ele era preto), ela sendo mulata e o pai, branco.

         O pai resolve depois voltar para sua cidade e pagou para que os que a acharam se calassem.    A mãe de Almalinda teve que ser internada num hospício por conta da tragédia.

         O pai pensa em contar a ela que a filha não morreu e a esposa sararia e voltaria para casa.  “voltaria para casa para me atazanar o juízo”.

         Nos ventos que  prenunciam um furacão. “Há uma chuvinha que vai tombando sem saber onde cair”.

         Tradição local.   Enterrar as crianças perto do leito dos rios, em terras úmidas.    “Não se enterra em terra seca quem ainda não é pessoa”.

         “A vida é um percurso da água para a terra, do barro para o osso”.

         Capítulo 14    Os que nascem com raça.   (os papeis da PIDE-7)

         A PIDE é a polícia do colonizador.

         Anotações de viagem do meu pai a Inhaminga.   Viaja só Adriano e Benedito.   Diogo não foi daquela vez.   Benedito no banco da frente pela primeira vez.   O guarda da barreira (branco) fica bravo por causa do branco estar andando com um preto no banco da frente do carro.

         Deixou passar porque o motorista era jornalista, mas com muita má vontade por deixar um jornalista ir pra região do conflito e ainda essa de carregar um preto no banco da frente.

         Foram pra falar com Maniara, a madrasta de Benedito.

         A vizinhança da aldeia de Inhaminga onde vive Maniara e seu povo.

         “Havia ali tão pouca terra que a qualquer lagoa se dava o nome de mar.”    Ela exemplifica a vida de uma mãe na aldeia dela e os conflitos e riscos para os filhos.

         “Transitava de um filho morto para um outro que ia morrer”.    Maniara fala.   “Com esta mão abro a luz; com esta outra, fecho o escuro”.  O filho Benedito explicou:  - “Minha mãe está a dizer que tem dois serviços:  é parteira de  dia e enterradeira à noite”.

         O jornalista reparte o lanche com Benedito que estranha o gesto do patrão.   Depois vai lavar os pratos e Benedito, de novo, fica indignado.

         O jornalista avisa...  “hoje o teu serviço vai ser o de contares a história da sua mãe”.

         A mãe biológica de Benedito morreu ao pisar numa mina explosiva.  Daí ele ficou com a mãe adotiva, Maniara, com quem no passado o pai dele teve um caso.   Desse caso, nasceu um filho que já em seguida morreu.   Na casa de Maniara, o jornalista se reencontra com Sandro e este estava vestido de mulher e fazendo trejeitos femininos.

         Depois de breve conversa entre ambos, o jornalista resolve voltar para casa.   Vai dizer à esposa que Sandro se juntou à guerrilha da Frelimo Frente Nacional de Libertação de Moçambique.

         Capítulo 15 – Uma chaga na pele do tempo -  Beira, março de 2019

         Visitam a casa da cabeleireira Soraya em busca de pistas da mãe de Liana.   Ela vendo na TV a fala de um bispo protestante brasileiro.  Desliga a TV para falar com as visitas.  Diz que aprende português brasileiro com os pregadores e as novelas do Brasil.

         Soraya se gabando do corpo que ela julga em dia.  O segredo seria nunca beijar na boca os fregueses como as outras fazem.   E acrescenta o resultado negativo nas que beijam:   “Havia de as ver, andam com o corpo pendurado no pescoço”.

         Liana diz a Soraya que é filha de Almalinda, amiga e colega de prostituição de Soraya.   Do baú, Soraya tira um vestido que foi de Almalinda no tempo das danças na boate.

         Almalinda quando bebê foi enviada para um orfanato em Moçambique depois que a mãe dela morreu em um manicômio.   Em seguida foi enviada para Lisboa.   Aos 15 anos, ela resolveu voltar para Moçambique para morar com o pai.   Ela era linda.   O pai não teve os cuidados paternos com ela, apesar de lhe pagar os estudos.   Era linda e de pele escura e cabelos encaracolados.

         Voltou depois do afogamento para o orfanato em Lisboa.  Ao completar 18 anos, os enfermeiros do orfanato tocaram nela e lá havia uma prática de uma vez por mês uns homens virem escolher as “mulheres de aparência” e levavam sem volta, não se sabia para onde.     Voltou mais uma vez para Moçambique depois de ter uma filha em Portugal e de fazer Secretariado.

         Continua no capítulo 09/10

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

cap. 07/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO

capítulo 07/10

 

         Papel 20 – Excerto do meu diário.  A avó, o mar e os fatos

         Diogo usava consumir flocos de aveia no café da manhã.

         Juliano, o preto velho que sempre foi empregado da avó Laura de Diogo.   A avó dizendo que o marido queria despedir o empregado porque ele estava muito velho e que por isso não ajudava em nada.    ...”este preto – que todos dizem não ser já de nenhum préstimo – todos os dias nos traz uma história”.   A patroa, avó Laura, vê isso como um grande serviço.

         “Não imaginas como preciso escutar essas histórias”.

          Capítulo 11 – Os domadores do caos   -  cidade da Beira, março de 2019

         O velho farmacêutico militante do passado, natural de Goa, que foi província portuguesa no sul da Índia.   Benedito levou o Diogo para visita-lo, estando então o velho acima dos noventa de idade.

         “Estou velho e tão magro que já tenho mais ossos do que palavras.”

         O velho Natalino que foi um dos agitadores da revolução e era comunista.

         Em 1962 a Índia tomou o governo de Goa e Natalino foi preso por uns tempos.   “Nunca Natalino disse uma palavra sobre o que tinha padecido no cárcere”.  Não há lamento mais digno que o silêncio.

         Era o que ele sempre dizia.     Em certo momento, Diogo esperando o barco.   – Que horas parte este barco?

         O marinheiro responde:   “O horário aqui, meu boss, é quando aparecer o último passageiro.  O barco fica cheio e nós arrancamos pontualmente”.

         O Diogo pergunta qual a lotação do barco e vem a resposta:   “O limite máximo pode chegar a uma média de vinte e tal pessoas.  Mas aguenta até cinquenta, dependendo da ventania”.    Esta viagem que vão fazer demora ao redor de três horas rio acima.    “No mar é como na caça: contam-se histórias”.

         Ventania, ondas fortes, água entrando no barco.   O piloto diz:   “Este barco é uma igreja flutuante, reza-se mais aqui que nas igrejas”.   “Um dia começo a cobrar o dízimo”.

         O guia que é da região da terra visitada vai parando para conversar com cada conhecido que não vê há tempos.  E a prosa tem assuntos de colheitas, saúde dos amigos etc.

         Na repartição pública “na parede lateral está suspenso um relógio antigo.   Está avariado, os ponteiros estão mortos”.

         Termo mizungo, equivale a mestiço.

         A viagem de barco foi de Beira até Buzi, sendo uma viagem por um rio e seu afluente.  Foram buscar informações sobre a mãe de Liana.    A que se atirou no mar junto com o namorado, ambos amarrados juntos para se suicidar porque os pais não deixavam eles se casarem.

         Capítulo 12 – Se os mortos não morrem.   Quem é dono do passado?

         Os papeis da PIDE – 6

         Adriano, pai de Diogo, era ateu.   “Estou a chegar aos cinquenta anos, altura em que a idade se vai tornando uma doença.”

         O desprezo da candidata a sogra portuguesa em relação a alguém (alguma pretendente) “de menor estatura”.    A sogra ao conhecer a futura nora:   “Tantas moças do nosso meio e foste buscar uma rapariga da aldeia!”

         A nora em carta à sogra depois de muitos anos.   Chorei e chorei muitos anos...  a senhora me obrigava a sentir vergonha de mim mesma”.

         Carta do Inspetor de Polícia – Óscar Campos

         O inspetor vê na rua protestos de brancos contra o exército que está supostamente lutando para defende-los.    “Alguém disse que a esperança alimenta multidões.”   Pois eu digo:  “O desespero cria exércitos alucinados”.   Estes protestos atingiram a honra da corporação. (do exército).

         “A Beira nunca foi nossa.   Eles elegeram o candidato da oposição.   O quase cego da família, um octagenário  ... “ser quase cego é pior que ser completamente cego...   “a cegueira total inspira compaixão.   Mas não ameaça ninguém.  A cegueira incompleta suscita meto.   Entre os da nossa família, nós nos indagávamos o que é que esse nosso tio era capaz de ver”.

     Um paralelo do militar.   Entre nós militares neste tempo de guerra.   Quem é o inimigo?

         Um dia o Inspetor devolveu o caderno de poesias inédito que tinha confiscado do poeta.   Ele não estava em casa e a esposa dele recebeu o caderno.    Estava sendo pintada a casa dela e ela, irada, pegou o caderno e enfiou dentro da lata de tinta.

         Continua no capítulo 08/10 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

CAP. 06/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO

 capítulo 06/10                    (leitura em fevereiro de 2022)

  

         Voz do comando das tropas:    “Se derem atenção aos pretos, eles desatam a contar-nos histórias e acontece como nas Mil e Uma Noites:   nunca mais vocês os matam”.

         “Ainda bem que eles falam outra língua, disse o capitão.   Se os entendêssemos, nesse momento deixariam de ser inimigos”...

         Sandro que é gay e soldado quer como soldado deixar a causa dos colonizadores e passar para o lado da guerrinha armada pelo seu povo.

         Sandro em carta fala ao seu tio adotivo Adriano Santiago que é jornalista e poeta:    “Quando pensa poeticamente o tio diz coisas acertadas”.

         Papel 17 – Excerto do meu diário  - Teatro de sombras – ano 1973

         ...................     Capítulo 9 – Os fintadores do Destino

         Cidade da Beira, março de 2019

         Liana pede para o jornalista Diogo falar com o padre Martens no telefone.    – Como você descobriu o padre Martens?   Resposta dela:  Milagre chamado internet.    “É uma seita com mais seguidores que qualquer religião.   E já tem fanáticos...”

         As fotos secretas que eram para Adriano, lá no passado entregar a um revolucionário.   Adriano se enganou e entregou fotos de mulheres bonitas no lugar das fotos relativas à revolução.

         Benedito agora, 2019, é do Partido que está no poder na Moçambique independente.   “O seu amigo agora é uma pessoa importante”.     O reencontro entre Benedito Fungai e Diogo depois de mais de quarenta anos.

         Diogo em reflexão:   “E vejo nele como eu próprio envelheci”.   Homens andando de mão na mão é costume em nossa terra.

         Benedito, no passado, criado por patrões portugueses, tinha vontade de ir para a guerrilha.    “Foi assim que aconteceu – diz Benedito – Em casa de portugueses aprendi que era moçambicano.”

         Mais adiante, Benedito já na guerrilha, comunica ao pai que passou a lutar pela liberdade.   O pai diz:   - Pobre do povo que é oprimido – vaticinou Capitine – E mais pobre o povo que tem que ser libertado”.

         Diogo e Benedito recordando em 2019 na infância e os tempos das peladas de futebol.   Entravam em campo em fila como se houvesse torcida.   O Diogo puxava a fila e os meninos o aplaudiam muito.   “Na altura eu não percebia:  não aplaudiam o jogador, mas o dono da bola”.

         Um dia receberam um time de meninos ricos, todos brancos.   O time do Diogo era de povo simples, mesmo todos brancos, menos o Benedito, que jogou no gol.

         Passados muitos anos, Benedito já autoridade na cidade, no campinho pede para o Diogo contar um causo da infância deles num jogo de futebol.   Contar para o jovem sobrinho de Benedito.    O jovem ouve o causo e depois volta ao jogo.  Benedito diz ao amigo:  “Tenho inveja de ti.  E não é a fama, não é o sucesso.    Imagino um escritor como alguém que vive a vida dos outros.

         Benedito conta ao amigo Diogo que Sandro era na verdade filho do pai de Diogo com uma amante.   E que ela era dançarina de cabaré.   Virgínia, mãe de Diogo inventou a história de acidente de automóvel dos pais de Sandro.   Isto foi para enganar os vizinhos sobre o caso.

         Sandro então, por parte de pai, era o único irmão de Diogo e ele não sabia.   Cresceram “primos” juntos.

         Capítulo 10 – A espera do fim do mundo

         Os papéis da PIDE – 5

         O Papa Paulo VI pediu aos padres que atuavam em Moçambique que não abandonassem o país quando este passou pela revolução de Independência.

         Parte 19 – Carta do Inspetor de Polícia – Campos

         Na rebelião popular  (anos 70) o exército prendeu todos os suspeitos em Inhaminga.  Era muita gente.    Mandavam os presos para trás do hospital.  Faziam os presos abrirem a própria cova e depois eram fuzilados.

         A família dos executados vinham à polícia em busca de informação e eram informadas de que os presos estavam “desaparecidos”.   Que tinham ido ao mato buscar lenha...

         Entre os executados...  “havia ali velhos, mulheres, rapazitos”.

         O agente em carta reclamou ao seu superior.   “Não poderíamos matar tanto e tão a eito”.

         As execuções começaram a causar mal estar nas tropas portuguesas.    Os soldados portugueses tinham colocado muitas minas terrestres na região do conflito em Moçambique.

        

         Continua no capítulo 07/10

        

domingo, 13 de fevereiro de 2022

CAP. 05/10 - fichamento - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor Moçambicano - MIA COUTO

capítulo 05/10

 

         Capítulo Seis do livro – O Corpo como Cemitério  (Os papeis da PIDE -3 – polícia da repressão)

         Um soldado fala ao jornalista no tempo que o narrador era garoto e estava na companhia do pai na conturbada Inhaminga.

         O soldado português diz que seus colegas são todos medrosos da guerra.   Que se pudessem, voltavam todos para casa.   E acrescenta:   “O que eles não sabem é que ninguém volta de uma guerra”.   (se volta fisicamente, mas a cabeça é outra, perturbada)

         Declaração da líder Maniara (a que é parteira e enterradeira de mortos do conflito)

         Foi ela que trocou a bandeira portuguesa pela capulana  (roupa típica de Moçambique).   O que deu toda a confusão na aldeia de Inhaminga.

         “Quem primeiro vê os mastros são os deuses.   Se mexi na vossa bandeira foi para agradar os antepassados”.    Ela lavava fardas dos soldados.    Ela, sobre os jovens soldados.   “É sempre assim com estes rapazes:  por mais tamanho que tenham, a farda fica-lhes sempre demasiado grande”.   “Não é o corpo que lhes falta.  É a idade”.

         Ela sobre os soldados portugueses:   “Que soldados são os deles que não cantam e não dançam?”

         O padre moçambicano que recebe na igreja o alferes que comandou as tropas que executaram várias pessoas em Inhaminga.  Ele, negro.

         Disse do seu dilema.  É padre, mas ninguém confessa com ele.   Para os portugueses, por ele ser preto e pelos locais por ele ser padre (cristão, fora das tradições religiosas deles)

         Ele diz que lá ele atende o Deus dos brancos de dia e os deuses da sua terra à noite.

         O Alferes tinha tatuagem no braço com “amor só de mãe”.   E após matarem os locais, Maniara protestou e disse que todos ali tinham pais e ela era a mãe de todos.   Aquilo abalou o alferes.

         A poeira na estrada.    “O carro brecou, os pneus deslizaram pela areia vermelha levantando uma imensa nuvem de poeira que engoliu o homem, o carro e a estrada.”

         Eles em Inhaminga, zona de conflito e terra de Benedito e sua gente.

         O pai de Benedito fala mais a língua local e já foi preso político várias vezes   Para falar em prisão, pronuncia o termo prisão na língua portuguesa porque na linguagem deles, nativos, não existe esta palavra.

         O pai de Benedito (ao ser preso) “Era o primeiro de sua aldeia a dormir numa casa de cimento”.

         Argumenta:    “que queriam tanto a sua companhia que até fecharam a porta à chave”.  (ele preso...)

         Capítulo 7 – Há chumbo dentro de Camila

         Cidade da Beira, março de 2019   (ocasião que Diogo, filho de Adriano está de retorno após décadas, ao lugar onde viviam)

         Diogo (jornalista e poeta) no Hotel e recebe recado de que tem visita.   Pensa que era Liana e autoriza a portaria a deixar a visita entrar.    Chega Camila e não, Liana.   Usava vestido curto.    Agora Camila com 65 anos de idade.   Ele recordando.   O pai dela matou o namorado dela no dia que ela fez 15 anos.

         Camila depois na rua conversando com Diogo e pega uma pedra para atirar na delegacia de polícia.    Ela não se conforma pelo fato de Moçambique manter a polícia no mesmo prédio depois da Independência (1976), prédio este onde os repressores puniam seu povo.

         Capítulo Oito – As Notícias   (Os papéis da PIDE – 4)

         Anotações de meu pai.        A Encomenda – ano de 1973

         Falando a um líder revolucionário, o português Pacheco.

         “A nossa causa está a crescer, camarada”.   “Não sei qual é a sua causa, meu caro Pacheco – declarei – A minha causa é ter emprego, cuidar da minha família...”   (diz o jornalista Adriano, pai de Diogo)

         Carta do Soldado Sandro para minha mãe 

         Voz do comando das tropas:    “Se derem atenção aos pretos, eles desatam a contar-nos histórias e acontece como nas Mil e Uma Noites:   nunca mais vocês os matam”.

         “Ainda bem que eles falam outra língua, disse o capitão.   Se os entendêssemos, nesse momento deixariam de ser inimigos”...

 

         Continua no capítulo 06/10 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

CAP. 04/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO

 cap. 04/10

 

            O da polícia para saber dados de Adriano Santiago (pai de Diogo) foi procurar a mãe dele.   Disse a ela que iria visitar em Moçambique o lugar onde ele vivia e que se interessava por ouvir dados do local.    E deu corda para ela ir falando.   "Uma pessoa daquela idade troca tudo por um momento de atenção".   A velha sabia que ele era Inspetor de Polícia, da PIDE Polícia Internacional e de Defesa do Estado.   

         A mãe de Adriano:   “Não se preocupe com meu filho.   O meu filho é um sonhador.    “Sonha com a política como sonha com as mulheres”.

         “O Adriano acha que a poesia é o mais poderoso dos explosivos”.

         A mãe de Adriano acha que ele quis sempre ser criança.   “É por isso que o Adriano escreve versos.  É por medo.  O meu filho tem medo de olhar o grande vazio de sua vida”.

         O Inspetor da Polícia quis saber o que o levou a ir par Inhaminga.  (o lugar onde o conflito estava mais acirrado)

         Ela sabia que a FRELIMO Frente Nacional de Libertação de Moçambique atuava por lá inclusive.    A Frelimo matou um maquinista de trem branco.

         O Sandro fez serviço militar e atuava na terra dele pelo colonizador, contra a guerrilha da Frelimo.

         A mãe do poeta fala ao policial.   Sobre o filho adotivo dela, o Sandro, ser atualmente militar.    “Foi mandado para o serviço militar.  Acho graça que se chame ‘serviço’ a ocupação que consiste em matar pessoas”.      “Meu filho Adriano não é fiel na política...  O meu filho será um eterno amante da vida, das mulheres e de devaneios poéticos.   O regime dele só existe em sonhos”.

 

         Papel 8 – Depoimento da vizinha Rosinha – vizinha da família de Adriano.

         A vizinha dizendo que a família de Adriano é muito doida.    ...”dona Laura, sendo mulher, se põe a ler livros na varanda à frente de toda gente.  Exibe-se assim, sem pudor, de manhã à noite”.

         ...”os pretos lá na tradição deles, são muito dados a visitar os familiares e, para eles, os parentes são todos misturados, os vivos e os mortos”.

         A vizinha diz que faz reuniões na casa dela, mas não são de política.   Ela é espírita.  E diz:   “O inspetor sabe dos segredos dos vivos.  Pois eu conheço os segredos dos mortos”.

         Papel 9  - Diário de uma mãe, Virgínia Santiago (mãe de Adriano)

         A esposa de Adriano, jornalista e poeta, que não impediu o marido e o filho Diogo a irem para o local dos conflitos, Inhaminga.     “...fazer as malas e vou sair desta cidade.   Não sei para onde.   Não saber para onde fugir é tão triste como ficar em casa”.

         Capítulo 5 do livro – Uma alma esburacada.

         Cita Lao Tsé:   “A lembrança é um fio que nos condena ao passado”.

         Encontro do poeta Diogo (filho de Adriano)  com uma vizinha e amiga de infância.    Camila, que veio com sua mãe Rosinda.    “Esta mulher que me abraça é linda e sabe da sua beleza”.

         A velha parente recordando a mãe do jornalista.   “A tua mãe dizia que na nossa cidade, tão fechada e cinzenta, faltar à verdade não era um pecado.  Era uma generosidade”.      O marido da velha, Vitorino Sarmento, dizia sobre o povo seu e os da colônia.   “Estes pretos, mesmo sendo estranhos, são todos da mesma família.   Que inveja dessa gente.   Nosso caso é inverso.  Somos parentes e nunca chegamos a ser família”.

         Rosinda, viúva, mãe de Camila, declara:    “Esta cidade que vai te libertar é a minha prisão.  Passo a vida em casa.”

         Na saída, Camila de forma escondida da mãe, deixa o número do telefone para o jornalista Diogo.   A mãe entrega a Diogo uma carta.

         O guarda do cemitério é Capitane, pai adotivo de Benedito e Jerónimo.

         Vitorino Sarmento (pai de Camila) tinha como criado o Jerónimo, tinha um quê com essa filha e ficou possesso quando pegou ela no flagrante com o criado Jerónimo no passado.    Montou uma farsa e matou o criado e a outra filha dele.     Por causa do crime que cometeu e pelo caso que tinha com a filha Camila, Vitorino ficou louco.    Toda noite tinha a visão de que o morto estava na porta de sua casa e que ele tinha que remover o corpo de lá.   Pirou.

         Em Portugal já tinha terminado o tempo do ditador Salazar no poder e já era tempo do presidente Marcelo Caetano.  

         Logo após o crime,  Vitorino internou Camila num hospital psiquiátrico sem indicação médica.    Mais adiante, Vitorino já louco, foi internado no mesmo hospital.   Mais ou menos no mesmo tempo que Camila foi liberada do hospital.    Vitorino morreu na cela dois dias depois.

        

                            Continua no capítulo 05/10

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

cap. 03/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - Autor moçambicano - MIA COUTO

 capítulo – 03/10

 

Uma das línguas dos povos originários de Moçambique: chissena. 

Maniara é a mãe de Benedito.   Ela numa dança ritual na praça ao redor dos mortos.   Dança ritual, olhos fechados, pá na mão, recitou o nome dos mortos, todos conhecidos dela que é uma liderança em sua comunidade.

     No fim do rito ela disse:  "sou como eles, sou terra.  E morri junto com os meus irmãos".   Na língua dela, chama o deus de Mulungo.    Benedito é branco e foi criado por Maniara.   Ele ao se ajoelhar nos pés dela, ela declarou que ele não era filho dela.   "Eu não tenho filho branco".  (revoltada por causa da revolução e da opressão ao seu povo)

     Maniara disse que foi ela quem enterrou os homens de sua aldeia, mortos na guerra.   "Todos se tornam meus filhos".

     O alferes (chefe dos militares) deu ordem aos seus soltados para eles mesmos enterrarem os mortos para não dar moral ao povo local.   E assim fizeram.

    Capítulo 3 - Escrever nos panos -     cidade de Beira, março de 2019

     Depressão e suas muitas causas:   "Assim como a cidade colonial enlouquecera para se defender do caos, também eu adoecera para me defender do meu arruinado cotidiano".

     Lá na cidade grande, no Hotel de luxo, representantes e Ongs se reunem para se acercar dos povos locais.   "Uma vez mais, discutem a miséria do povo nos hoteis mais luxuosos da cidade".

 

     Na cidade grande o jornalista foi visitar o recanto boêmio com direito até a boate, entre outros, com nome de Moulin Rouge, o ícone do setor em Paris do passado.

     O professor e Liana a conversar na beira do Rio.   Ele recordando da juventude.   Brancos e pretos, originalmente, pescando.   Ele achava um momento justo, brancos e pretos tendo nisso, na pesca, a mesma chance.   "A vida era justa por escassas horas".

 

Lá na região há uma superstição.  Não se pode responder se uma pescaria no mar foi boa.   Se o pescador responder que sim, o mar se revolta e esse pescador não consegue mais boas pescarias.

     Vestido de Liana se prendeu numa pedra beira mar e rasgou.    Subiram ao hotel e eles conversando no pátio.   "Estamos próximos, os nossos joelhos tocam-se.   O rasgão do vestido está agora completamente a serviço dos meus olhos".  

     Do pátio viam as águas e ela disse que foi lá para que a mãe dela e o namorado (raças segregadas) impedidos de viver juntos se amarraram no passado e se suicidaram se atirando no rio.    Só que a mãe dela conseguiu se desatar e foi salva.   O noivo morreu afogado.

     A filha Liana morou em Portugal e voltou para sua terra em busca da mãe Ermelinda (Almalinda).   E o poeta Diogo voltou para rever seu passado.    Liana é mulata.

     O empregado do hotel pergunta ao professor/poeta se ele sabe quem é aquela moça, a Liana.   "Essa sua amiga, professor, é a noiva de um comandante da polícia."

     Capital de Moçambique - cidade de Maputo.      O Oceano Índico banha Moçambique.    O paradoxo.   Liana busca traços da própria história de vida.   Já o professor sofre o excesso de sua história de vida.

     Ele diz:   "Tenho demasiada história, sofro um excesso de passado".    "Quero livrar-me desse tempo que não me deixa existir".

     Quando os pais do professor adotaram os meninos, o Benedito e o irmão Sandro, eles eram pequenos.     A mãe dele costurando roupas para os meninos adotados.   Ela diz:   "Gosto de costurar.  Ocupada, não tenho tempo para adoecer".

     Sandro, garoto, ajudava por gosto, a mãe adotiva a costurar.   "Não eram as roupas que os dois costuravam:  eram pedaços rasgados de suas almas".

      Capítulo 4 -  Juras, Promessas e Outras Mentiras

     (Os papeis da PIDE -2 - a polícia de repressão)

     Papel 6 - Anotações do Inspetor de polícia - 1973

     "Diz-se que as polícias são como caçadores: sonham com as presas e, aos poucos, vão se transformando nelas".

     O da polícia para saber dados de Adriano Santiago (pai de Diogo) foi procurar a mãe dele.   Disse a ela que iria visitar em Moçambique o lugar onde ele vivia e que se interessava por ouvir dados do local.    E deu corda para ela ir falando.   "Uma pessoa daquela idade troca tudo por um momento de atenção".   A velha sabia que ele era Inspetor de Polícia, da PIDE Polícia Internacional e de Defesa do Estado.   

           continua no capítulo 4/10

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

CAP. 02/10 - fichamento - livro - O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS - autor moçambicano - MIA COUTO - leitura fevereiro de 2022

 capítulo 02/10

 

         Universo Descarrilado  (Os papeis da PIDE – 1)

         Os comunistas portugueses, por baixo do pano, apoiavam o movimento de liberação do Moçambique.   Este que fazia ações de guerrilha para derrubar o poder português. 

         Carta de 1973 a Adriano Santiago, vinda de líder comunista de Portugal.    Adriano é jornalista, poeta e revolucionário.   Havia na época o PCP Partido Comunista Português em Portugal.

         Sobre o apoio dos padres holandeses na região do Moçambique.   O dirigente do PCP na carta a Adriano Santiago.     “Os padres holandeses nesta vila, abrir-lhe-ão as portas para chegar à verdade.   Esses missionários serão imprescindíveis, mas não se deixe iludir:  padres são padres e os compromissos dessa gente são diferentes dos nossos.   Falam em nome do povo sofredor, mas enganam os mais humildes com promessas de um paraiso celestial”.

         No interior onde haverá missão lá no tempo revolucionário, o povo originário não fala o português em Moçambique.   Então, levar o empregado para servir de intérprete.

         O líder orienta o jornalista na missão.    “O seu maior inimigo não são os outros.   Quem atrapalha é o seu lado poético”.

         Lider:  Faustino Pacheco.   (reside em Portugal)

         O risco do revolucionário:   “Mas se a vida nunca me pertenceu, ao menos que eu tome posse da minha morte”.

         Parte 2 – A Viagem a Inhaminga   (excerto do meu diário – 1)

         Cidade de Beira, fevereiro de 1973.   Tempo de guerrilha com foco em Inhaminga.

         O empregado de Diogo, o negro Benedito Fungai é nascido em Inhaminga.   É o intérprete entre Diogo e seu povoado.

         O filho Benedito ao pai ao partir em missão:   - Não nos despedimos da mãe?  O pai diz:  - Quem se despede da tua mãe arrisca-se a nunca mais partir.

         O pai:  Vamos para Inhaminga.     O nome do povoado tem origem na língua regional de terra de espinheiros.

         O jornalista poeta:   “As terras são mulheres, foram feitas para abraçar”.     O guia Benedito fala baixo só para o filho do jornalista.   Terra de espinhos.   Nem os bichos se deitam naquela terra.     

         O primo Sandro, criado pelo jornalista.   Os pais de Sandro morreram num acidente de automóvel.

         Quando Sandro ficava bravo dizia que iria sumir lá para Inhaminga.

         “Em África não há distâncias.   Há apenas profundezas”.   Inhaminga é a terra natal de Benedito, o empregado dos pais de Diogo.

         Havia aldeamentos em Inhaminga onde os portugueses obrigavam povos originários (que chamavam de índios) a morarem nesses aldeamentos.

         Esse lugar já tinha sofrido muito com a Guerra.

         O pai de Diogo, no passado, dirigindo o carro, recitando versos e gesticulando com as mãos.   E diz ao filho:    “É o que tenho para oferecer à tua mãe – palavras e versos...”

         Mas a tua mãe não entende, ela é uma mulher demasiado prática.

         O carro enguiçou no caminho, no meio da estrada ladeada pela mata.   Entraram no carro enguiçado por segurança.   Adriano perguntou   - Temos medo de bichos ou das pessoas? 

         - Bichos e pessoas, aqui é tudo o mesmo – respondeu Benedito.   Eram tempo de guerrilhas para agravar tudo.

         No passado o jornalista mentiu para a esposa que estava com câncer.   A esposa rezando para São Braz, protetor das doenças do peito.   E ele deixou de fumar nesse dia.

         “O poeta Adriano era um homem feliz, tão feliz que nem sabia que vivia”.

         Papel 3 – Ofício Interno da PIDE/DGS  - Polícia da repressão política.

         Beira, fevereiro de 1973   (tempos de guerrilha pela Independência)

         O pai de Benedito era informante para os dois lados do conflito, da revolução.    E o poeta jornalista não sabia disso.

         Em Inhaminga, soldados com fuzis ao lado da linha do trem e mulheres com seus guarda-sois.    As brancas.   Elas, funcionárias da estrada de ferro.   Estão em greve e estão bloqueando os trilhos.

         Um empresário europeu tinha por lá a fábrica de cimento, plantações, serrarias e muitos outros empreendimentos.   “Tudo nas mãos de um só homem”.

         O Estado construiu uma barragem e uma usina elétrica e o empresário aproveitou essa infraestrutura para expandir seus negócios na região.

         Na praça da cidade de Inhaminga, uma pilha de mortos (negros – povos originários) e guardas vigiando os mortos.    A ordem era para deixa-los sem enterrar, para servirem de exemplo e intimidar os outros que tendiam a apoiar a guerrilha.

         Uma placa de madeira alertando:   “Isto é o que acontece com quem ajuda os terroristas”.

         Os padres pedem para os militares autorizarem eles a enterrarem os mortos.   Os militares retiveram os mortos na praça para intimidar a população.   E disse um dos soldados:    “Há quem trabalha melhor depois de morto”.   (ali servindo de exemplo para o povo ficar intimidado)

         Continua no capítulo – 03/10