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segunda-feira, 16 de maio de 2022

CAP. 24/27 - fichamento do livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS

 CAP. 24/27

 

         No decorrer dos dez dias de incomunicabilidade imposta aos sindicalistas presos do DOPS sob comando do Delegado Romeu Tuma, o advogado dos presos fez várias solicitações ao Delegado e ele autorizou.  Tipo banho de sol e alguns itens simples.   Conseguiram até uma TV só para verem um jogo do Corinthians.   

         Passados os dez dias, na visita do advogado, Tuma fez uma queixa tipo seus clientes pediram isso, mais isso, mais isso e eu atendi.   Olha  como eles agradecem.    Mostra um abaixo assinado dos servidores do DOPS  pedindo reajuste salarial.   Atribuiu isso à ação dos sindicalistas e acrescentou:   “Isto nunca aconteceu aqui antes”.

         Logo em seguida, a polícia da repressão prendeu trabalhadores que foram ao Estádio de Vila Euclides, onde haveria um show beneficente para arrecadar alimentos para o fundo de greve.   Artistas famosos, em apoio à causa, iriam dar o show de graça.   Pouco tempo antes do show, a polícia proibiu o evento.

         Uma noite, Lula foi acordado no meio da noite na prisão e levado a um compartimento pequeno abaixo de uma escadaria do prédio do DOPS onde havia um homem aguardando.   Esse senhor começou a interroga-lo.  Negociava o fim das greves e concedia, no caso, a soltura de Lula e os demais sindicalistas.    Lula argumentou:   a greve acaba quando as reivindicações dos grevistas forem atendidas.   A conversa terminou nisso.

         Depois de trinta anos, o ex Delegado Romeu Tuma, doente terminal, estava acompanhado pelo seu filho, médico neurologista e o jornalista Mino Carta da revista Carta Capital.    Mino perguntou ao ex delegado quem era o senhor que tentou negociar com Lula no DOPS.    Tuma relevou que a pessoa era o General Golbery do Couto e Silva, Ministro Chefe da Casa Civil do governo Figueiredo.   Ele era considerado o estrategista do governo militar.

         Em outra ocasião, nos dias de prisão, a mãe de Lula está doente terminal de câncer e Romeu Tuma tomou para si uma decisão.  Destacou dois policiais para irem às escondidas levar Lula para visitar a mãe.  Foram num carro da polícia descaracterizado para ficar tudo em absoluto sigilo.   Tuma presumia que se a mãe de Lula viesse falecer sem ele ve-la antes, iria revoltar os operários e seria mais dor de cabeça para o governo.

         Ao tomar essa decisão que resultou na visita, Tuma disse aos subordinados:  “Eu assumo a responsabilidade”.

         Após 41 dias de greve, ela terminou sem os grevistas conseguirem nada do que reivindicavam.  No dia seguinte ao fim da greve, Lula recebe a notícia do falecimento da mãe.   Ela morreu aos 64 anos.

         “Até depois de se eleger Presidente da República, Lula não se cansaria de repetir que tudo em seu caráter tinha como exemplo a mãe”.

         Dois policiais desarmados por orientação de Tuma fizeram a escolta dele para ir ao sepultamento da mãe.   Ao sepultamento compareceu uma multidão estimada em três mil pessoas.    Foi um desafio para a escolta de Lula mas correu tudo dentro da normalidade para a situação.   O povo gritava:  “Solta o Lula!!”.

         No período de prisão dos sindicalistas, Leonel Brizola que tinha retornado do exílio, tentou visita-los mas não foi autorizado.     Após encerrada a greve, os sindicalistas foram finalmente soltos.

         Ao chegar da prisão, Lula encontra uma multidão esperando sua chegada em casa.    Ele, num gesto simbólico, soltou um pássaro que mantinha na gaiola há anos.   O pássaro ganhou a liberdade.

         Os sindicalistas que estiveram presos foram demitidos por justa causa e perderam o emprego e também não poderiam nessa condição estar vinculados ao sindicato profissional de metalúrgicos.    Resolveram adotar uma solução.   Abriram uma pequena empresa, uma serralheria para fazer janelas, portas, portões e similares.  Um deles foi colocado como proprietário e este registrou em carteira os demais diretores, que retornaram à condição de metalúrgicos e podiam ser de novo sindicalizados.

         Nome da serralheria:  Doze de Maio.   O capital para a serralheria, parte veio de doação de sindicatos de metalúrgicos da Suécia e outra parte foi dada pelo Chico Buarque.    Doze de Maio é marco de aniversário de fundação do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1959) e também da primeira greve do setor na ditadura militar que se iniciou em 1964.  Essa primeira greve foi na Scania (fabricante de caminhões) em maio de 1978.

         Serralheria funcionando e um dia Lula, amigo de Chico Buarque, ligou a ele e brincou:   “Chico, agora você é patrão, é industrial.  Já pode ser candidato a presidente da FIESP”.  ( Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o mais forte sindicato patronal da indústria no Brasil).

     Uma ironia do destino.    Em plena ditadura militar na época, Lula preso conseguiu o direito de ir ao sepultamento da mãe.    Em tempo recente, o ex presidente perdeu o irmão Vavá enquanto estava preso pela Lava Jato, tendo esse direito reservado a todo preso, não foi autorizado a ir ao sepultamento do irmão.

          Capítulo 17 -   Surrado nas urnas, Lula entra em depressão e decide abandonar a política.   Vai a Cuba, ouve Fidel e volta ao Brasil para ser o deputado mais votado da história.

         Dois meses após libertado após as greves, Lula vai para a Nicarágua para a posse de Daniel Ortega, líder que combateu pela Frente Sandinista de Libertação Nacional o governo ditatorial de Anastasio Somoza.    Fidel foi também na comemoração e posse.   Cuba de Fidel ajudou os Sandinistas da Nicarágua cuja ditadura deposta por Ortega tinha apoio dos USA.

         No passado, foi na Nicaragua do então ditador Somoza que a CIA americana treinou parte dos mercenários que invadiram a Baia dos Porcos em Cuba na tentativa de derrubar o governo de Fidel em 1961 e foram derrotados.     Nesse evento, Fidel convidou Lula para visitar Cuba.   Depois de anos, essa visita foi feita por Lula a convite de Fidel.

        

                            Continua no capítulo 25/27

        


        

sábado, 14 de maio de 2022

CAP. 23/27 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista Fernando Morais - edição 2021

 Cap. 23/27

 

         Criação do PT e as etapas.     Já na grande reunião para formar o partido se apresentaram muitas lideranças da esquerda com diferentes formações e o partido que se iniciaria teria essa característica  de conciliar essa diversidade em sua formação e ação política.   Essas chamadas “correntes” dentro do partido participam das ações e decisões na proporção das respectivas representações em suas bases.

         Evento que foi bastante destacado pelos órgãos de imprensa – a criação de um partido dos trabalhadores.

         Certos políticos de destaque na oposição à ditadura eram contra a criação de um novo partido de esquerda por acharem que isso racharia a frente MDB que até então era um bloco contra a ditadura.   Temiam que o novo partido enfraqueceria a frente MDB e isso prolongaria a ditadura.

         Entre os líderes que apoiavam a formação do PT cita o livro Jacó Bitar, do sindicato dos petroleiros de Paulinia-SP.   Olivio Dutra, do sindicato dos bancários de Porto Alegre.

         Nessa trajetória de Lula e FHC (Lula ajudou voluntariamente na campanha de FHC ao Senado) sempre houve atos de “assopros e mordidas” entre ambos.

         Os intelectuais do meio acadêmico conseguiram até o apoio para a criação do PT, do destacado Professor e Sociólogo Antonio Candido de Mello e Souza, autor de livros como Os Parceiros do Rio Bonito.  (livro que li, fiz fichamento e gostei muito)

         Candido, socialista, foi visitar no hospital um amigo médico socialista que estava doente terminal.   A esposa do doente pediu a Candido que dissesse algumas palavras que confortassem o amigo.    Candido trouxe a novidade da criação do PT, o primeiro partido operário do Brasil, construído pelos operários, pelo chamado “chão de fábrica”.       O doente ficou contente e pediu a Candido para não deixar de assinar a adesão ao partido que se iniciava.  Esse empurrão do amigo, que veio a falecer no dia seguinte, ajudou a Candido aderir e assinar o termo de apoio à criação do PT.   Candido depois declarou publicamente: 

 “Entrei sabendo que o PT não é um partido socialista; e eu sou socialista.   Mas acho que o PT tem uma energia operária que se confunde com os interesses do povo”.    (página 352 do livro)

         Destacados intelectuais (citados no livro) assinaram a adesão para a criação do partido.    Antes da criação em si, houve eventos com a finalidade na Bahia, em São Paulo e em Poços de Caldas-MG.

         “Só no dia 10-02-1980, no auditório do Colégio Sion em São Paulo, o PT seria formalmente apresentado aos brasileiros”.

         Tempo de inflação alta, tempo de greves.   No dia 14-04-1980... “no auge da greve, Lula seria abruptamente despertado em casa e trancafiado no DOPS, junto com seus companheiros de diretoria do sindicato”.

         Capítulo 16 -   No meio da madrugada, um educado senhor engravatado interroga Lula num cubículo do DOPS:  era o enviado de um general, codinome “Cacique”.

         Se os generais da cúpula da ditadura achavam que prendendo Lula iriam sufocar as greves, se enganaram.   O efeito foi o oposto.

         Lula e os demais dirigentes sindicais, já antevendo o risco de serem presos, articularam pequenos grupos de ativistas (operários) não conhecidos pelas autoridades, estes que comandariam em suas bases (nas fábricas) as lutas dos operários.

         Entre os apoiadores da luta operária por salários, bispos renomados como Dom Paulo Evaristo Arns, D. Claudio Hummes, D. Pedro Casaldaliga (que conheci após o ano 2000 numa visita a São Felix do Araguaia, aproveitando viagem de trabalho à cidade), D. Mauro Morelli.

         Os líderes sindicais foram enquadrados como “terroristas” e nos artigos da LSN Lei de Segurança Nacional sancionada pela ditadura.

         Prisão dos sindicalistas que foram colocados na condição de incomunicáveis por dez dias.   Nem os parentes podiam visitar os presos.

         O senador alagoano Teotônio Vilela conseguiu visitar Lula nessa fase incomunicável.   Teotônio, usineiro, foi da Arena e depois passou à oposição, ao MDB.   Já estava com câncer quando visitou os sindicalistas presos.

         Por essas e outras, o Senador virou um símbolo da luta pela redemocratização do Brasil.   (conheci o Memorial dele em Maceió-AL).

         Milton Nascimento e Fernando Brant, em homenagem ao senador, compuseram a canção “O Menestrel das Alagoas”, música que virou hino da campanha pela redemocratização do Brasil.

         Num gesto surpreendente, o conservador jornal O Estado de São Paulo, diante da prisão dos líderes sindicais, em editorial pediu a liberdade imediata deles.  Gesto acompanhado por setores dos bispos e outros líderes da sociedade civil organizada.

         A família Mesquita, controladora do “Estadão” como é conhecido o jornal O Estado de SP, manteve o jornal  apoiando a ditadura no seu começo  (1964) e seguiu até  que em 13-12-1968 quando os militares editaram o AI 5 Ato Institucional número cinco que retirou uma porção de direitos do cidadão e apertou ainda mais a repressão policial contra os ativistas pela redemocratização.    Da edição do AI 5 em diante, o Estadão deixou de apoiar a ditadura.    Os jornais passaram a ter na redação a imposição de censores que examinavam tudo o que estava para ser publicado e que vetavam aquilo que achavam inconveniente ao governo ditatorial.   A censura ficou de 68 a 1976.

         Lula foi interrogado por mais de quatro horas.  Trechinho do interrogatório:    “Que o interrogado não tinha outra expressão após ver o nosso Glorioso Exército passar em voos rasantes em cima da cabeça de cem mil trabalhadores, podendo assustá-los e acontecer uma tragédia; que nunca tinha visto uma coisa daquelas”.

         Os líderes sindicais foram presos e as greves continuaram.   Por pressão federal, o  Estádio de Vila Euclides, que tinha sido palco de grandes assembleias de metalúrgicos, foi interditado para essa finalidade.

 

         Continua no capítulo 24/27

 

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quinta-feira, 12 de maio de 2022

CAP. 22/27 - fichamento do livro LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 22/27

 

         Capítulo 14 do livro – Enquanto Lula enfrenta a polícia no ABC, Brizola ressuscita o PTB e leva a rasteira do General Golbery

         O autor do livro diz que o Palácio da Alvorada é inabitável porque o cheiro da cozinha se espalha pelos aposentos todos e não se consegue dormir no palácio.   Geisel reclamava.  Temer só aguentou sete dias no Alvorada.

         Voltando à biografia.     Lula numa mega assembleia de metalúrgicos que convocou para o Estádio de Vila Euclides.   Como palanque, mesas do tipo de bar, improvisadas.   Sem som porque a polícia tinha cortado o som.  Falava cada frase com pausa, a plateia de mais perto repetia a frase e em ondas a frase era repetida até chegar no fim do aglomerado.   Assim foi todo o discurso.  

         Em torno de 30 a 40 mil metalúrgicos presentes.  Depois, no sindicato, a espera da decisão de parar as fábricas.  Vem o mensageiro e vai avisando:

         A Schuler parou.   A Perkins parou.  A Volks parou.  A Ford parou...

         A greve se espalhou pelo interior, tendo  inclusive apoio dos artistas, intelectuais, universidades e das CEBs  Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica.

         Após a crise do petróleo de 1973, veio outra onda de aumento do preço do petróleo mais adiante quando foi deposto no Irã o Xá Reza Pahlevi (com ajuda dos USA), o que abalou a economia mundial.  

         “A segunda crise do petróleo detonada com a agitação política iraniana, estremeceu a economia internacional.   Entre 1978 e 1979 a inflação brasileira passou de 40,8% para 77,2% ao ano.   Aumento da nossa dívida pública, perda nos salários”.

         Políticos defensores da ditadura enfraquecidos, perdendo terreno e o sindicalismo se organizando e tendo força.   São Bernardo do Campo e a “Rota do Frango” na avenida M.S.Demarchi com restaurantes especializados em carne de frango.    Ponto de reuniões de lideranças sindicais em algumas ocasiões.

         Decretada a intervenção nos sindicatos dos metalúrgicos, foram colocados a força os interventores, funcionários do ministério do trabalho.

         Lula e demais diretores foram destituídos do cargo do sindicato mas na prática sua liderança continuava a mediar a luta por reajustes entre operários e patrões.  Perdeu o cargo mas mantinha a autoridade.

         A pedido de Lula, o Bispo Dom Claudio Hummes cedeu o salão paroquial para reuniões dos sindicalistas para decidirem dar sequência nas greves e nas demandas do movimento.

         Ocorreram na época enormes assembleias no Estádio de Vila Euclides.  Greve longa.   Feito show beneficente para angariar recursos para o fundo de greve para ajudar na compra de mantimentos às famílias dos grevistas com o salário cortado.    Artistas como Elis Regina, Gonzaguinha e outros mais, citados no livro.

         Conseguiram finalmente negociar com os patrões na FIESP Federação das Indústrias do Estado de SP.

         MR-8  grupo comunista na linha Chê Guevara militava contra a ditadura militar.  Movimento Revolucionário Oito de Outubro, em homenagem à data da morte de Chê Guevara.    É uma citação e já foi dito e repetido que Lula nunca foi comunista e seu foco sempre foi a defesa dos operários.

         Até 1979 só eram permitidos dois partidos, desde 1964 quando houve o golpe militar.   O partido ARENA de situação e o MDB de oposição.

         O antropólogo Darcy Ribeiro foi um dos exilados na ditadura.

         Não há números precisos, mas estima-se que deixaram o Brasil na época da ditadura ao redor de dez mil pessoas entre adultos e crianças.   O sonho de voltar   ...”cada um trazia nos olhos e no coração a aspiração de voltar a ser brasileiro, de viver de novo num país democrático e civilizado”.

         Quinze anos após serem exilados, dez entre dez dos anistiados voltaram ao Brasil e continuaram a vida e a articulação política.

         Miguel Arraes foi um dos exilados.   Francisco Julião, que foi o ícone das Ligas Camponesas tinha se exilado no México.

         Leonel Brizola viveu no exílio treze anos no Uruguai.

         No governo do socialista Salvador Allende no Chile, muitos dos nossos exilados lá se concentraram.  Depois veio a ditadura do General Pinochet e os exilados tiveram que ir para outros países.

         O sociólogo Betinho, do Fome Zero, também foi exilado.

         Por pressão popular e articulação da sociedade civil organizada junto com os políticos de oposição, em 1979 por lei, acabou o bi partidarismo.

         Nessa leva, Brizola que era muito destacado no Brasil e no exterior, iria retomar o PTB de Vargas.   Numa manobra do General Golbery do Couto e Silva, a sigla foi articulada para ser “recriada” pela ex deputada Ivete Vargas, sobrinha neta de Getúlio Vargas.   Restou a Brizola criar o PDT Partido Democrata Trabalhista.

         Capítulo 15 -  Lula junta operários, políticos, intelectuais e ativistas de esquerda, cria o PT e, dois meses depois é levado à prisão.

         Ato da repressão aos sindicalistas.

 

 

         Continua no capítulo 23/27

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terça-feira, 10 de maio de 2022

CAP. 21/27 - fichamento do livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS

CAP. 21/27     - fichamento pelo leitor Eng.Agr. Orlando

 

         Lula ao visitar o Congresso - Na época eram 430 congressistas, sendo 66 senadores e 364 deputados federais.   Entre todos, Lula percebeu que só havia dois trabalhadores, ambos de São Paulo.

         Antes disso, Lula dizia que não gostava de política “e nem gosto de quem gosta de política”.    E isso valia para todo mundo que não era trabalhador.

         Um bordão de Lula que corria na região e na área sindical – “Lugar de estudante é na escola, de padre na igreja .  E se alguém quiser criar um partido de trabalhadores, tem que usar macacão”.

         Houve euforia inclusive nas universidades quando se soube que Lula começou a  flertar com a política convencional.   Na época que ele admitia fundar um partido, no meio estudantil era comum haver estudantes da linha comunista trotskista.

         Lula se recorda que naquela época ele tinha o apoio quase unânime da grande imprensa.   Isto na fase que ele dizia que não gostava de política.   Acrescentavam:  “Finalmente alguém que não está ligado ao Partido Comunista!”.    

         Década de 70, efervescência no Brasil.   “Naquele ano não passou uma semana sem greve”.   “Patrão gritava, peão parava”.

         Até 1974, pela violência da repressão, fazer greve era praticamente proibido.  Lider grevista seria preso e torturado.    “Os mais otimistas diziam que a punição mínima para grevista era o xadrez”.

         O tom da coisa só foi mudando de 1978 em diante, quando os sindicatos tinham mais espaço para atuação.     Era agora o tempo do chamado “novo sindicalismo”.   O movimento estava nascendo no chão da fábrica, não dentro dos sindicatos”.   Vinha da base.    Os diretores dos sindicatos percorrendo as fábricas e na hora do almoço (1 h ou 1,5 h) faziam mini assembleias rápidas nos locais de trabalho.

         Lula lembra de ter liderado seu primeiro piquete  na frente de fábrica no ano de 1978 em Diadema-SP.    “Desde 1975 se multiplicavam pelo Brasil os comitês de defesa da anistia”.   Era o povo se movimentando contra a ditadura militar.   Comitê pela anistia – criado pela Assistente Social Terezinha Zerbini, casada com o General Euriale de Jesus Zerbini, cassado pelo golpe militar de 1964.

         Em 1978 o CBA Comitê Brasileiro pela Anistia presidido pelo jovem advogado Luiz Eduardo Greenhalgh.    O CBA atuava em várias frentes, inclusive encaminhando ao exílio, pessoas ameaçadas de prisão pela ditadura.  O CBA, para a ira de Geisel, chegou a ter uma madrinha informal, a primeira-dama americana, Rosalynn Carter, esposa de Jimmy Carter.

         Numa fase dura da repressão em 1968, os metalúrgicos da Cobrasma (fábrica de materiais ferroviários) de Osasco-SP fizeram greve.   A PM reprimiu com violência a greve e prendeu quatrocentos grevistas.

         (no livro há vários registros com fotos de eventos como esse).

         “Em 1978 Lula se ofereceu espontaneamente para fazer no ABC a campanha de FHC Fernando Henrique Cardoso para senador.  Menos de duas décadas depois, ambos se enfrentaram como candidatos à presidência da república, ganha então por FHC.

         Um desafio a mais para os militares.   Em 1978, haveria eleições para governadores, senadores, deputados federais e estaduais.   Os governadores eram eleitos de forma indireta, pelo colegiado dos deputados estaduais.   Dos senadores, cada 3 eleitos, um era por indicação do General presidente.  Estes indicados eram chamados de senadores “biônicos”.    Isto porque no voto o povo estava votando mais na oposição – o MDB era o partido único autorizado da oposição contra a ARENA que era atrelada aos militares.

         Regra do Pacote de Abril de 1977 editada por Geisel, depois de duas sovas do partido governista nas eleições de 1974 e 1976.

         Na ditadura militar, Fernando Henrique Cardoso era professor da USP e foi perseguido e se exilou na França.   Lá, foi Professor na Universidade de Sorbonne.    No passado, FHC foi um dos fundadores do CEBRAP que era um grupo de estudos.    Na eleição de 1978 em São Paulo a oposição ganhou de lavada para deputado federal e estadual.

        

 

         Continua no capítulo 22/27 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

CAP. 20/27 - fichamento - livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 20/27

 

         Em 1976 numa operação da repressão na Lapa, bairro de SP, mataram três integrantes do PCdoB, um deles, Pedro Pomar.  

         Capítulo 13 -   Após passar anos excomungando a classe política, Lula começa a preparar o caminho para criar o PT.

         Lula conseguiu depois  de muita negociação com o TST Tribunal Superior do Trabalho, o direito dos sindicatos poderem representar diretamente seus filiados.   Até então, cada sindicato passava um mandato para a Federação e esta negociava, nem sempre dentro do que pretendia cada sindicato.   Nesse acordo, as Federações só passaram a negociar em nome de empregados não filiados a sindicatos.    Isto deu muita força aos sindicatos.

         Lula com suas ações inovadoras passou a fazer mudanças nas comemorações do Dia do Trabalho inclusive.   “Em vez de celebrar o 1º de Maio com quermesses e atividades recreativas, iniciou as comemorações um mês antes, com sessões de cinema, teatro, tudo seguido de debates e discussões sobre a temática exibida”.

         Geisel, vindo a São Paulo para inaugurar uma fábrica de tratores da Ford.     Em São Paulo, o presidente anunciou que estava retirando o censor da Revista Veja, a última da grande imprensa que ainda era mantida com censor direto.   Restaram com censores três tabloides “nanicos”:  O Pasquim, o Movimento e o Opinião.

         Na eleição de 1974, o povo já furioso com os dez anos de ditadura, não podendo votar para governador (que era indicado pelos generais presidentes), votou em peso na oposição para o Congresso.    Votos no MDB que era oposição à ARENA (governista)  Aliança Renovadora Nacional.   Das 22 vagas para o senado, a oposição conquistou 16 cadeiras.

         Crise do petróleo.   O cartel da OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo (maioria por países árabes), criado em 1973, fez o preço do barril do petróleo saltar de dez dólares em 1973 para 110 dólares em 1979.   A economia do Brasil e do mundo levou um baque.   Para tentar amenizar o problema da energia, o governo brasileiro criou o Proalcool para ter combustível nacional em maior quantidade.    Investiu bilhões de dólares para construção da Hidrelétrica de Itaipu para reforço no abastecimento de energia.   Investiu na Usina Nuclear de Angra dos Reis, para a qual houve uma batalha comercial e diplomática entre a americana Westinghouse e a alemã Siemens KWU, vencendo a alemã.   Montante da obra:  8,4 bilhões de dólares.

         Geisel e o apoio para a Villares fabricar também locomotivas.  O empresário para entrar nessa atividade, precisava de empréstimos e de pedidos de locomotivas e o governo prometeu ambos e cumpriu apenas em parte, dando um verdadeiro tombo no empresário que construiu em Araraquara-SP uma nova fábrica para tal e que depois não chegou ao que foi planejado por falta de recursos financeiros e de pedidos de locomotivas.

         O fresador metalúrgico Pedro Okamoto, ficou surpreso um dia de madrugada na porta da fábrica onde trabalhava.  Viu Lula, já bastante popular e presidente do sindicato, ajudando a panfletar na madrugada.  Okamoto falou a um amigo, admirado:  - Puta merda, esse cara não é o Lula, presidente do sindicato?   - Parece que sim, acho que é ele mesmo.

         Okamoto foi puxar prosa com o Lula e ficaram amigos de muitos projetos e batalhas sindicais e partidárias.    

         Nos tempos passados, os sindicatos distribuíam panfletos que não eram atrativos no conteúdo e na forma aos sindicalizados.   Já no tempo de Lula, os materiais eram mais bem elaborados, inclusive com uso de quadrinhos e eram lidos e compreendidos pelos operários.

           O cartunista mineiro Henfil era um dos que desenhavam nos materiais dos folhetos.    Henfil – Henrique de Souza Filho, irmão do Sociólogo Betinho que foi idealizador do Programa Fome Zero.

         Okamoto ao longo dos anos passou a ser parceiro de Lula em várias iniciativas como o PT, a CUT Central Única dos Trabalhadores, no Instituto Lula.

         No governo Geisel o povo já estava fomentando o movimento por eleições diretas e pela “anistia ampla, geral e irrestrita”.

         Lula no Senado em Brasilia para audiência com o presidente da casa, o senador governista Petrônio Portela (da Arena).  Lula pelo gabinete com um paletó sempre no ombro.  Depois do evento, se reuniu com um grupo de pessoas num restaurante e um repórter da Veja questionou o caso do paletó.  Lula disse que não usava paletó e nem tinha um.   Ao saber da audiência no Senado, emprestou um paletó e levou.   Na hora h, o paletó não servia e o jeito foi andar com o tal pendurado no ombro.   

         Na época eram 430 congressistas, sendo 66 senadores e 364 deputados federais.   Entre todos, Lula percebeu que só havia dois trabalhadores, ambos de São Paulo.

 

 

                   Continua no capítulo 21/27       

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domingo, 8 de maio de 2022

CAP. 19/27 - fichamento do livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Escritor: Jornalista FERNANDO MORAIS - edição 2021

 CAP. 19/27 

 

         O PCB, o Partidão, “era contra toda forma de luta armada, fosse urbana ou rural”.    A ditadura por esse tempo matou o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.

         Lula que estava no evento sindical em Tóquio, teve que abandonar o evento no meio e retornar ao Brasil para tentar acudir o irmão, frei Chico que foi preso pela repressão militar e estava sendo torturado na prisão.    Foi torturado no DOI CODI no número 921 da Rua Tutoia no Bairro Paraiso em São Paulo, local que ficou famoso pela crueldade da tortura.

         Torturaram frei Chico e outros presos por acusação de subversão.   Usavam choques e muito mais.   (detalhes na página 277 do livro)

         Lula foi procurar o irmão dele no DOPS.   Mais tarde, afirmou:   “Naquele tempo, ir ao DOPS atrás de um preso político, ou era advogado ou era doido.   Eu não era nenhum dos dois”.

         Frei Chico ficou duas semanas levando choques e demais formas de tortura e interrogatório.     Naqueles dias prenderam o jornalista Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de SP.  Foi preso e torturado e depois foi assassinado na prisão.   Simularam que o preso se enforcou com o próprio cinto na cela.

         Repressão pesada pelo governo militar.  Nesse período o Ministro do Exército era o general Silvio Frota, um linha dura.

         No evento do assassinato do jornalista, as alas mais radicais dos militares estavam divididas com aquela ala pouco mais branda.    A circunstância da morte do jornalista causou grande comoção na Nação.

         Herzog era jornalista e foi indicado para diretor da TV Cultura “pelo insuspeito secretário da cultura do estado de SP, o bibliófilo e abastado industrial José Mindlin.   (Herzog e Mindlin eram judeus).

         O crime mexeu com a comunidade judaica paulista.   Houve celebração ecumênica na Praça da Sé por Dom Paulo Evaristo Arns, pelo Rabino Henry Sobel e pelo Pastor Presbiteriano Jaime Wright.   Os militares dificultaram o acesso ao evento, mas mesmo assim teve ao redor de dez mil pessoas na Catedral da sé e entorno.

         Era tempo de governo do presidente general Ernesto Geisel que desaprovou esse exagero de assassinarem o jornalista.   Pegou mal para a ditadura militar.    Geisel deu uma ordem contundente, mantendo o governador como testemunha.   Que ninguém mais fosse preso por questões políticas sem antes ter o ciente de auxiliar do presidente ou do próprio presidente.

         Depois disso, contra a ordem de Geisel, os militares invadiram a indústria Metal Arte e de lá levaram o operário alagoano Manoel Fiel Filho, 49 anos, suspeito de ser comunista.   Ele foi pego distribuindo o jornal clandestino do PCB.  Jornal chamado Voz Operária.   Foi torturado e assassinado no DOI CODI.    Deu forte repercussão negativa para o governo.

         Os militares registraram que o operário se suicidou se enforcando com as próprias meias.     E testemunhas presas disseram que o operário foi preso calçando havaianas, portanto, sem meias.

         Após esse assassinato Geisel substituiu imediatamente o Comandante do II Exército (com sede em SP), sob cuja jurisdição estava o mais cruel aparato de repressão.    Depois disso não houve mais assassinatos de presos políticos na temporada.    Geisel passou a ser visto como um general brando na ditadura, porém  documentos dos arquivos da CIA (dos USA), acessados por pesquisador brasileiro em 2018 captou declaração de Geisel ao general Figueiredo no tempo da repressão.   “A política deve continuar, mas deve-se tomar muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados”.  (o documento é de 1974 e revelado em 2018)

         Essa revelação documental mudou a biografia de Geisel para bem pior.

 

                   Continua no capítulo 20/27