CAP. 24/27
No decorrer dos dez dias
de incomunicabilidade imposta aos sindicalistas presos do DOPS sob comando do
Delegado Romeu Tuma, o advogado dos presos fez várias solicitações ao Delegado
e ele autorizou. Tipo banho de sol e
alguns itens simples. Conseguiram até
uma TV só para verem um jogo do Corinthians.
Passados os dez dias, na
visita do advogado, Tuma fez uma queixa tipo seus clientes pediram isso, mais
isso, mais isso e eu atendi. Olha como eles agradecem. Mostra um abaixo assinado dos servidores do
DOPS pedindo reajuste salarial. Atribuiu isso à ação dos sindicalistas e
acrescentou: “Isto nunca aconteceu aqui
antes”.
Logo em seguida, a polícia
da repressão prendeu trabalhadores que foram ao Estádio de Vila Euclides, onde
haveria um show beneficente para arrecadar alimentos para o fundo de
greve. Artistas famosos, em apoio à
causa, iriam dar o show de graça. Pouco
tempo antes do show, a polícia proibiu o evento.
Uma noite, Lula foi
acordado no meio da noite na prisão e levado a um compartimento pequeno abaixo
de uma escadaria do prédio do DOPS onde havia um homem aguardando. Esse senhor começou a interroga-lo. Negociava o fim das greves e concedia, no
caso, a soltura de Lula e os demais sindicalistas. Lula argumentou: a greve acaba quando as reivindicações dos
grevistas forem atendidas. A conversa
terminou nisso.
Depois de trinta anos, o
ex Delegado Romeu Tuma, doente terminal, estava acompanhado pelo seu filho,
médico neurologista e o jornalista Mino Carta da revista Carta Capital. Mino perguntou ao ex delegado quem era o
senhor que tentou negociar com Lula no DOPS.
Tuma relevou que a pessoa era o General Golbery do Couto e Silva,
Ministro Chefe da Casa Civil do governo Figueiredo. Ele era considerado o estrategista do
governo militar.
Em outra ocasião, nos dias
de prisão, a mãe de Lula está doente terminal de câncer e Romeu Tuma tomou para
si uma decisão. Destacou dois policiais
para irem às escondidas levar Lula para visitar a mãe. Foram num carro da polícia descaracterizado
para ficar tudo em absoluto sigilo.
Tuma presumia que se a mãe de Lula viesse falecer sem ele ve-la antes,
iria revoltar os operários e seria mais dor de cabeça para o governo.
Ao tomar essa decisão que
resultou na visita, Tuma disse aos subordinados: “Eu assumo a responsabilidade”.
Após 41 dias de greve, ela
terminou sem os grevistas conseguirem nada do que reivindicavam. No dia seguinte ao fim da greve, Lula recebe
a notícia do falecimento da mãe. Ela morreu
aos 64 anos.
“Até depois de se eleger
Presidente da República, Lula não se cansaria de repetir que tudo em seu
caráter tinha como exemplo a mãe”.
Dois policiais desarmados
por orientação de Tuma fizeram a escolta dele para ir ao sepultamento da
mãe. Ao sepultamento compareceu uma
multidão estimada em três mil pessoas.
Foi um desafio para a escolta de Lula mas correu tudo dentro da
normalidade para a situação. O povo
gritava: “Solta o Lula!!”.
No período de prisão dos
sindicalistas, Leonel Brizola que tinha retornado do exílio, tentou visita-los
mas não foi autorizado. Após
encerrada a greve, os sindicalistas foram finalmente soltos.
Ao chegar da prisão, Lula
encontra uma multidão esperando sua chegada em casa. Ele, num gesto simbólico, soltou um pássaro
que mantinha na gaiola há anos. O
pássaro ganhou a liberdade.
Os sindicalistas que
estiveram presos foram demitidos por justa causa e perderam o emprego e também
não poderiam nessa condição estar vinculados ao sindicato profissional de metalúrgicos. Resolveram adotar uma solução. Abriram uma pequena empresa, uma serralheria
para fazer janelas, portas, portões e similares. Um deles foi colocado como proprietário e
este registrou em carteira os demais diretores, que retornaram à condição de
metalúrgicos e podiam ser de novo sindicalizados.
Nome da serralheria: Doze de Maio. O capital para a serralheria, parte veio de
doação de sindicatos de metalúrgicos da Suécia e outra parte foi dada pelo
Chico Buarque. Doze de Maio é marco de
aniversário de fundação do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
(1959) e também da primeira greve do setor na ditadura militar que se iniciou
em 1964. Essa primeira greve foi na
Scania (fabricante de caminhões) em maio de 1978.
Serralheria funcionando e
um dia Lula, amigo de Chico Buarque, ligou a ele e brincou: “Chico, agora você é patrão, é
industrial. Já pode ser candidato a
presidente da FIESP”. ( Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo, o mais forte sindicato patronal da indústria
no Brasil).
Uma ironia do destino. Em plena ditadura militar na época, Lula
preso conseguiu o direito de ir ao sepultamento da mãe. Em tempo recente, o ex presidente perdeu o
irmão Vavá enquanto estava preso pela Lava Jato, tendo esse direito reservado a
todo preso, não foi autorizado a ir ao sepultamento do irmão.
Capítulo 17 - Surrado nas urnas, Lula entra em depressão e
decide abandonar a política. Vai a
Cuba, ouve Fidel e volta ao Brasil para ser o deputado mais votado da história.
Dois meses após libertado
após as greves, Lula vai para a Nicarágua para a posse de Daniel Ortega, líder
que combateu pela Frente Sandinista de Libertação Nacional o governo ditatorial
de Anastasio Somoza. Fidel foi também
na comemoração e posse. Cuba de Fidel
ajudou os Sandinistas da Nicarágua cuja ditadura deposta por Ortega tinha apoio
dos USA.
No passado, foi na
Nicaragua do então ditador Somoza que a CIA americana treinou parte dos
mercenários que invadiram a Baia dos Porcos em Cuba na tentativa de derrubar o
governo de Fidel em 1961 e foram derrotados.
Nesse evento, Fidel convidou Lula para visitar Cuba. Depois de anos, essa visita foi feita por
Lula a convite de Fidel.
Continua
no capítulo 25/27