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segunda-feira, 16 de maio de 2022

CAP. 24/27 - fichamento do livro - LULA - BIOGRAFIA - Volume 1 - Autor: Jornalista FERNANDO MORAIS

 CAP. 24/27

 

         No decorrer dos dez dias de incomunicabilidade imposta aos sindicalistas presos do DOPS sob comando do Delegado Romeu Tuma, o advogado dos presos fez várias solicitações ao Delegado e ele autorizou.  Tipo banho de sol e alguns itens simples.   Conseguiram até uma TV só para verem um jogo do Corinthians.   

         Passados os dez dias, na visita do advogado, Tuma fez uma queixa tipo seus clientes pediram isso, mais isso, mais isso e eu atendi.   Olha  como eles agradecem.    Mostra um abaixo assinado dos servidores do DOPS  pedindo reajuste salarial.   Atribuiu isso à ação dos sindicalistas e acrescentou:   “Isto nunca aconteceu aqui antes”.

         Logo em seguida, a polícia da repressão prendeu trabalhadores que foram ao Estádio de Vila Euclides, onde haveria um show beneficente para arrecadar alimentos para o fundo de greve.   Artistas famosos, em apoio à causa, iriam dar o show de graça.   Pouco tempo antes do show, a polícia proibiu o evento.

         Uma noite, Lula foi acordado no meio da noite na prisão e levado a um compartimento pequeno abaixo de uma escadaria do prédio do DOPS onde havia um homem aguardando.   Esse senhor começou a interroga-lo.  Negociava o fim das greves e concedia, no caso, a soltura de Lula e os demais sindicalistas.    Lula argumentou:   a greve acaba quando as reivindicações dos grevistas forem atendidas.   A conversa terminou nisso.

         Depois de trinta anos, o ex Delegado Romeu Tuma, doente terminal, estava acompanhado pelo seu filho, médico neurologista e o jornalista Mino Carta da revista Carta Capital.    Mino perguntou ao ex delegado quem era o senhor que tentou negociar com Lula no DOPS.    Tuma relevou que a pessoa era o General Golbery do Couto e Silva, Ministro Chefe da Casa Civil do governo Figueiredo.   Ele era considerado o estrategista do governo militar.

         Em outra ocasião, nos dias de prisão, a mãe de Lula está doente terminal de câncer e Romeu Tuma tomou para si uma decisão.  Destacou dois policiais para irem às escondidas levar Lula para visitar a mãe.  Foram num carro da polícia descaracterizado para ficar tudo em absoluto sigilo.   Tuma presumia que se a mãe de Lula viesse falecer sem ele ve-la antes, iria revoltar os operários e seria mais dor de cabeça para o governo.

         Ao tomar essa decisão que resultou na visita, Tuma disse aos subordinados:  “Eu assumo a responsabilidade”.

         Após 41 dias de greve, ela terminou sem os grevistas conseguirem nada do que reivindicavam.  No dia seguinte ao fim da greve, Lula recebe a notícia do falecimento da mãe.   Ela morreu aos 64 anos.

         “Até depois de se eleger Presidente da República, Lula não se cansaria de repetir que tudo em seu caráter tinha como exemplo a mãe”.

         Dois policiais desarmados por orientação de Tuma fizeram a escolta dele para ir ao sepultamento da mãe.   Ao sepultamento compareceu uma multidão estimada em três mil pessoas.    Foi um desafio para a escolta de Lula mas correu tudo dentro da normalidade para a situação.   O povo gritava:  “Solta o Lula!!”.

         No período de prisão dos sindicalistas, Leonel Brizola que tinha retornado do exílio, tentou visita-los mas não foi autorizado.     Após encerrada a greve, os sindicalistas foram finalmente soltos.

         Ao chegar da prisão, Lula encontra uma multidão esperando sua chegada em casa.    Ele, num gesto simbólico, soltou um pássaro que mantinha na gaiola há anos.   O pássaro ganhou a liberdade.

         Os sindicalistas que estiveram presos foram demitidos por justa causa e perderam o emprego e também não poderiam nessa condição estar vinculados ao sindicato profissional de metalúrgicos.    Resolveram adotar uma solução.   Abriram uma pequena empresa, uma serralheria para fazer janelas, portas, portões e similares.  Um deles foi colocado como proprietário e este registrou em carteira os demais diretores, que retornaram à condição de metalúrgicos e podiam ser de novo sindicalizados.

         Nome da serralheria:  Doze de Maio.   O capital para a serralheria, parte veio de doação de sindicatos de metalúrgicos da Suécia e outra parte foi dada pelo Chico Buarque.    Doze de Maio é marco de aniversário de fundação do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1959) e também da primeira greve do setor na ditadura militar que se iniciou em 1964.  Essa primeira greve foi na Scania (fabricante de caminhões) em maio de 1978.

         Serralheria funcionando e um dia Lula, amigo de Chico Buarque, ligou a ele e brincou:   “Chico, agora você é patrão, é industrial.  Já pode ser candidato a presidente da FIESP”.  ( Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o mais forte sindicato patronal da indústria no Brasil).

     Uma ironia do destino.    Em plena ditadura militar na época, Lula preso conseguiu o direito de ir ao sepultamento da mãe.    Em tempo recente, o ex presidente perdeu o irmão Vavá enquanto estava preso pela Lava Jato, tendo esse direito reservado a todo preso, não foi autorizado a ir ao sepultamento do irmão.

          Capítulo 17 -   Surrado nas urnas, Lula entra em depressão e decide abandonar a política.   Vai a Cuba, ouve Fidel e volta ao Brasil para ser o deputado mais votado da história.

         Dois meses após libertado após as greves, Lula vai para a Nicarágua para a posse de Daniel Ortega, líder que combateu pela Frente Sandinista de Libertação Nacional o governo ditatorial de Anastasio Somoza.    Fidel foi também na comemoração e posse.   Cuba de Fidel ajudou os Sandinistas da Nicarágua cuja ditadura deposta por Ortega tinha apoio dos USA.

         No passado, foi na Nicaragua do então ditador Somoza que a CIA americana treinou parte dos mercenários que invadiram a Baia dos Porcos em Cuba na tentativa de derrubar o governo de Fidel em 1961 e foram derrotados.     Nesse evento, Fidel convidou Lula para visitar Cuba.   Depois de anos, essa visita foi feita por Lula a convite de Fidel.

        

                            Continua no capítulo 25/27

        


        

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