capítulo 8 leitura em junho de 2024
A favela não forma o caráter. A favela é o quarto de despejo. E as autoridades ignoram que tem o quarto de
despejo.
... um sapateiro perguntou se meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse que não é aconselhável escrever a
realidade.
Na fila da torneira para pegar água. “Tinha uma preta que parece que foi vacinada
com agulha de vitrola”.
Comprou um par de alpargatas para a filha Vera.
Levantar sempre de madrugada. Conseguiu comprar sanduiche para os
filhos. “A mãe está sempre pensando
que os filhos estão com fome”.
Ela compra tinta para caneta. Usa caneta tinteiro (“tinta molhada”)
“No frigorífico eles não põe mais lixo na rua por causa das
mulheres que catavam carne podre para comer”.
Conversando com uma branca. “Ela disse-me que nos Estados Unidos eles
não querem (ano 1958) negros na escola.
Fico pensando: Os
norte-americanos são considerados os mais civilizados do mundo e ainda não
convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol. O homem não pode lutar contra os produtos da
natureza”. “Deus criou as duas raças
na mesma época..”
... deixei o leito as cinco horas porque quero votar...
Na fila da torneira logo de manhã. ...”a língua das mulheres da favela é de
amargar. Não é de ossos, mas quebra
ossos”.
O filho João foi fazer compra de açúcar e acabou trazendo
arroz. “Ele passa o dia lendo gibi e
não presta atenção em nada”.
(eu, leitor, quando criança lia bastante gibi)
Carolina destaca que tem ponto de bonde perto da favela onde
mora.
...”Penso que uma mulher que separa-se do esposo não deve
prostituir-se. Deve procurar um
emprego. A prostituição é a derrota
moral de uma mulher. É como um edifício
que desaba”.
...”Quem paga as despesas das eleições é o povo.”
O filho mais velho, o João, apanhou por desobedecer a
mãe. “Surrei ... e rasguei-lhe os gibis desgraçados. Tipo de leitura que eu detesto.”
Almoçou com a Vera na
casa da dona Julita que sempre a acolhe.
“Que comida gostosa!
...ganhei dela arroz agulha. O
arroz das pessoas de posses”.
Carregar no carrinho de catar recicláveis até 100 kg de
papel. “Estava fazendo calor. E o corpo humano não presta. Quem trabalha como eu tem que feder!”.
Sonhando... “O povo
brasileiro, dizia dona Angelina, só é feliz quando está dormindo”.
A mãe favelada perde a filha criança. A mãe bebe.
Logo depois do enterro da filha, foi beber. “O que eu fico admirada é das almas da
favela. Bebem porque estão alegres. E bebem porque estão tristes. A bebida aqui é o paliativo”.
Carolina comprou um rádio e agora contratou com o Sr Orlando
e ele ligou a luz e vai cobrar a conta por bico de luz da casa dela. Três bicos de luz, no caso.
Continua no capítulo 9